A
Associação Comercial do Porto, entidade que funciona como uma câmara de
comércio na região norte de Portugal, quer o fim de todas as operações
da TAP no Brasil. A cobrança surge como reflexo da atual crise pela qual
passa a companhia aérea, que acaba de sofrer um tipo de estatização.
Para
impedir o colapso da TAP, o governo português teve que comprar a parte
que pertencia ao acionista David Neeleman, o dono da brasileira Azul,
por 55 milhões de euros (R$ 330 milhões). Com isso, Portugal passa a deter 72,5%
do capital da companhia, subindo dos 50% anteriores, e ainda vai
injetar 1,2 bilhão de euros (R$ 7,2 bilhões) como um empréstimo, já
autorizado pela Comissão Europeia, para as despesas mais imediatas.
O segundo acionista privado, o português Humberto Pedrosa, fica com
22,5% das ações da companhia e os 5% restantes são dos trabalhadores. A
solução, que não é uma estatização formal, embora o governo seja o
acionista maioritário agora, tem sido definida pelas autoridades como a
melhor saída que poderia ter sido encontrada. "Nos permite desbloquear o
empréstimo e evitar a falência de uma empresa que é essencial para o
país", disse o ministro das Finanças, João Leão, na coletiva de imprensa
na última quinta-feira (2), quando o acordo foi definido.
O
americano-brasileiro David Neeleman, dono da Azul Linhas Aéreas,
assinando, junto com o português Humberto Pedrosa, o contrato de compra
das ações da TAP, em junho de 2015
A primeira alteração já confirmada pelo governo na estrutura da
companhia é a saída do atual CEO, o brasileiro Antonoaldo Neves, e a
contratação de uma empresa especializada para selecionar o novo quadro
gestor.
Diante do alto custo das negociações, a
Associação Comercial do Porto considera que o governo deve aproveitar a
reestruturação que será feita na companhia para encerrar todas as
operações no Brasil. Em coletiva de imprensa na última sexta-feira (3), o
presidente da entidade, Nuno Botelho, disse que as atividades em solo
brasileiro são a "razão de ser, no meu entender, a ruína que é o grupo
TAP".
Atualmente, o grupo TAP mantém duas empresas no Brasil, focadas em
logística e manutenção, que empregam cerca de 750 funcionários. "A
operação no Brasil é a principal responsável pelos resultados negativos
do grupo TAP, em 540 milhões [de euros]", disse Nuno Botelho. "No nosso
entender, a viabilização do grupo TAP deveria ser resolvida em conjunto
com o governo brasileiro, por que os grandes problemas são a Aeropar e a
TAP Manutenção e Engenharia", completou o empresário.
Só no primeiro trimestre deste ano, já afetado pela pandemia, a TAP teve prejuízos de 395 milhões de euros (R$ 2,3 bilhões). O cenário agrava o quadro registrado desde 2008, com 2017 sendo o único ano em que houve saldo positivo.
Para o professor da Universidade Federal do Ceará Héber Oliveira,
doutor em engenharia de transportes que atua na área de planejamento
aéreo, a reestruturação na TAP vai focar na recuperação econômica.
"Devem equacionar, em um primeiro momento, os prejuízos que a pandemia
trouxe, mas não deve ser uma tomada de decisão definitiva e sim
acompanhado com a evolução do setor", diz à Sputnik Brasil.
O professor avalia que o encerramento de rotas e bases operacionais poderá ser uma opção momentânea.
"As empresas vão ter que fazer cortes
drásticos para tentar, de algum modo, recuperar e evitar prejuízos
maiores ou casos mais graves, de falência. A TAP tem um histórico de
empresa grande e de vencer algumas dificuldades. É claro que, em alguns
momentos, decisões drásticas vão ter que ser tomadas. Cancelamento de
rotas, fechar bases operacionais, tudo no intuito de redução de custos
para tentar equilibrar o caixa das empresas. O que teria um impacto
muito grande, mas talvez seja momentâneo", diz Oliveira.
Dos 91 destinos operados pela TAP, 11 são para o Brasil. Para o
professor, o peso do mercado brasileiro deve ser considerado nas
decisões. "Se você olhar para o Nordeste como um todo, por exemplo, você
tem uma posição estratégica que une esses dois continentes".
Esse papel estratégico de ligação
entre Portugal e o mundo também é reforçado pelo governo em defesa das
decisões tomadas. O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos,
declarou, durante uma audiência no Parlamento, que "do ponto de vista
econômico e social, seria um desastre para o país perder a TAP".
No entanto, as críticas ao processo têm sido muitas. Neste sábado (4), o Conselho de Finanças Públicas manifestou "preocupação".
"Temos que avaliar muito bem os impactos que isto pode vir a ter para
os contribuintes, não apenas agora, mas para os próximos anos", disse a
presidente da entidade, Nazaré Cabral, em entrevista à TVI.
Até agora, o governo não se manifestou sobre qualquer tipo de alteração das atividades da companhia no Brasil.
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