Estamos à vossa espera. Vamos gostar de vos receber nesta cidade antiga que um dia, há muito tempo, se chamou Ebora Liberalitas Iulia. Hoje chama-se Évora. Se quiserem acompanhar-nos neste roteiro, vão ver antigas ruas, antigos palácios, antigos monumentos que falam da nossa História. Assim, estamos a convidar-vos para uma viagem no tempo. Uma viagem a outros épocas, em que pessoas como vocês aqui trabalharam, aqui viveram, aqui construíram as casas onde moravam e os monumentos de que se orgulhavam. Romanos, árabes e portugueses fizeram desta cidade o que ela é hoje. Assim, vamos convidá-los a acompanharem 1500 anos da História de Évora. E estamos convencidos de que vão gostar…
Período Romano
PORTA DE D. ISABEL
Nestas coisas o melhor é começar pelo princípio. Vamos passar então por esta velha porta onde vocês agora estão. Chama-se Porta de D. Isabel, mas esse nome só foi dado há 400 anos, pois antes chamava-se “Porta do Talho do Mouro”. Esta porta é mais antiga. Foi construída pelos romanos há cerca de 1800 anos. Era uma das principais portas da cidade, e situa-se nas muralhas que os romanos construíram para proteger Évora: a Cerca Velha. Havia, nessa muralha, quatro portas, mas hoje só resta esta. Diga-se que a muralha romana, construída no século III, era grande, para aquele tempo. Tinha cerca de 1200 metros de extensão, e tinha ainda várias torres para defesa. Por vezes, a muralha não resistia a ataques mais fortes. A meio do século XII, tropas árabes venceram a resistência destes muros, e invadiram a cidade. Porém, Évora recompôs-se. Observem agora o resto de empedrado logo após a entrada. Era uma estrada romana. Quantas pessoas terão pisado estas pedras e passado por baixo desta porta?!...
TERMAS ROMANAS
As cidades onde os romanos moravam tinham vários serviços para garantir a higiene, a limpeza e o conforto dos seus habitantes. Por isso os romanos se preocuparam tanto com o abastecimento de água. Construíam aquedutos para levar a água e tinham termas onde os cidadãos podiam tomar banho, conversar, conviver. As termas que aqui estão são a prova dessa preocupação com a higiene. Em latim designavam-se “Therma”, daí provindo a palavra portuguesa “Termas”. Em 1987 os trabalhadores que faziam obras neste edifício - que é a Câmara Municipal (Paços do Concelho) - descobriram alguns vestígios antigos. Após vários estudos, os investigadores concluíram que se tratava das termas romanas. Com o passar dos anos, mais estudos e escavações foram sendo feitos, até se pôr a descoberto o que está presente. Mas, como eram estas termas? As termas tinham vários espaços diferentes sempre organizados em 3 áreas diferentes: quente, tépida e fria. Os romanos tomavam os seus banhos quentes nesta sala circular a que chamavam Laconicum. O espaço ao lado era o Praefurnium. Aqui estava a fornalha que aquecia todos as outras salas. O terceiro espaço chamava-se Natatio, constituído por uma piscina rectangular de ar livre. Esta é uma área que não pode ser visitada. Nestas termas os romanos, além de se banharem, conviviam, conversavam, negociavam. Era por isso um local de higiene e convívio.
TEMPLO ROMANO
O centro da cidade romana, o seu espaço mais importante, chamava-se Forum. Era aí que os romanos tinham o seu principal templo, bem como os locais onde se exercia a administração e justiça. Este é o lugar mais alto da Ebora Liberalitas Iulia, como lhe chamavam os romanos. Vejamos então este templo que aqui temos perante nós. Durante muitos anos foi chamado de “Templo de Diana”, pois dizia-se que era dedicado à deusa romana da caça, Diana. Pensa-se hoje, todavia, que este templo foi construído há quase dois mil anos para servir de culto ao imperador. Recorde-se que os romanos, nessa época, adoravam vários deuses e também prestavam culto aos seus imperadores. Este templo estava rodeado de lojas e o chão da praça era de mármore. Envolvendo o templo romano, havia um bonito espelho de água. Claro que o templo que aqui vemos, mais não é que as ruínas do que os romanos construíram no século I, e os vestígios do pequeno lago em forma U que o rodeava estão enterrados debaixo da calçada. Ao longo dos tempos, este templo serviu de torre militar e até de talho. Em 1870, os eborenses decidiram limpar o templo de tudo o que não lhe pertencesse de origem. Fizeram-se obras, e surgiu então o que aqui vemos, sendo hoje o monumento mais conhecido da cidade de Évora.
A Idade Média
A CATEDRAL DE ÉVORA
Quando o Império Romano desapareceu, há cerca de 1600 anos, os povos “bárbaros” ocuparam grande parte da Europa. Na Península Ibérica foram os Visigodos que se instalaram. O seu reinado durou quase trezentos anos. No século VIII, vieram os Árabes e, no século XII, formou-se o reino de Portugal. Évora foi conquistada por Giraldo Sem Pavor e entregue ao nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques. Assim se tornou uma cidade cristã. Agora o monumento principal e central de uma cidade cristã, se transformou numa catedral. A catedral de Évora foi construída entre 1283 e 1308. Se pensarmos que naquele tempo todo o trabalho era feito sobretudo à força de braços, podemos dizer que esta catedral foi construída em relativamente pouco tempo. No seu exterior observem as estátuas dos homens que enfeitam o portal. Quem são? São os apóstolos. Com livros sagrados nas mãos, recebem quem entra. E na base de cada apóstolo pequenas esculturas contam histórias. Naquele tempo, a grande maioria das pessoas não sabia ler. Por isso a Igreja educava a população mandando esculpir histórias nas pedras dos templos, como se fossem lições. No interior da igreja, em cima, à direita, entre os pequenos arcos, podemos observar uma estátua. É um busto do arquitecto da catedral, que exibe duas letras, C E. O que significam? São as iniciais da expressão latina Constructor Edit, isto é “o Construtor que Fez”. A catedral de Évora tem vários estilos e muitos espaços, sinal de muitas obras ao longo dos tempos. Podes visitar o “Tesouro da Sé” que contém pinturas e jóias em prata e ouro, e o claustro, onde está sepultado o bispo fundador, D. Pedro.
PRAÇA DE GIRALDO
Ao longo da Idade Média, Évora cresce. A muralha romana já não protege toda a cidade. Torna-se necessário construir uma nova muralha que defenda os novos bairros (arrabaldes). A nova muralha será construída no tempo do rei D. Fernando, no século XIV. É nesta época que surge a Praça de Giraldo. Inicialmente aqui se fazia a primeira feira da cidade, ainda no tempo do rei D. Dinis (fim do século XIII, principio do século XIV). Com o passar dos anos, a Praça de Giraldo tornar-se-á na praça principal da cidade, conhecida então por Praça Grande. De um lado situavam-se os Paços do Concelho (Câmara Municipal), do outro lado, a igreja de Stª. Antão. Aqui havia o pelourinho, a “Casa de Ver o Peso” (instituição que verificava se os pesos e medidas não eram falsificados), os Estáus da Coroa (estalagem real) e a fonte. Em toda a volta, as lojas serviam os habitantes. Esta praça assistiu a muitos acontecimentos da História de Évora. Foi aqui que se fizeram festas, torneios de cavaleiros - as justas - e touradas; e foi aqui que se fizeram os tristemente célebres autos-de-fé. Ainda hoje, esta praça é a principal Praça da cidade de Évora. Como o era há vários séculos, quando a cidade começou a crescer.
No fim da Idade Média
IGREJA REAL DE S. FRANCISCO
A igreja e de S. Francisco, foi construída há cerca de 500 anos no local onde antes havia uma pequena igreja gótica. Nessa altura, o nosso país estava lançado nos Descobrimentos. Por isso podemos ver à entrada da igreja um dos símbolos da nossa expansão, a esfera armilar (emblema do rei D. Manuel I). Como igreja real, era aqui que os reis portugueses e a sua família assistiam à missa quando estavam em Évora. Para isso existem duas janelinhas à direita do altar. Mas onde ficavam os reis quando vinham a Évora? Ora ao lado desta igreja, na zona do claustro foi construído um palácio real: os Paços Reais. Durante muitos anos os reis portugueses aqui passaram largas temporadas, e aqui se fizeram importantes cerimónias. Como, em 1490, o casamento entre o príncipe Afonso, filho de D. João II e uma princesa espanhola, celebrado num pavilhão de madeira em frente à igreja. Poucos anos depois, Vasco da Gama terá recebido aqui o cargo de comandante da frota que descobriu o caminho marítimo para a Índia. Foi ainda nestes paços que Gil Vicente apresentou algumas das suas peças de teatro - os autos -, que estão na origem do teatro em Portugal.
O Renascimento
IGREJA E CONVENTO DA GRAÇA
Continuemos o nosso caminho pela História e Património de Évora. Continuemos a ver os locais preferidos dos nossos reis, quando aqui ficavam. Em 1540, o rei D. João III ordenou ao arquitecto Miguel de Arruda, que construísse esta igreja. Aqui também trabalhou o célebre escultor francês Nicolau de Chanterene. Assim se fez. A Igreja foi feita num estilo novo para a época, dedicando-se a Nossa Senhora da Graça. Hoje é considerada um dos mais importantes monumentos do Renascimento em Portugal. Mas reparem nas quatro estátuas que estão logo acima da porta. Chamam-se os “meninos da Graça” e carregam às costas as “quatro partes do mundo” onde os portugueses chegaram. De resto, orgulhoso pelo império português, o rei D. João III mandou escrever na fachada o título de “Pai da Pátria”, à imitação dos antigos romanos.
LARGO DA PORTA DA MOURA
Mas não pensem que em Évora só há palácios e igrejas. Por toda a cidade há outros monumentos que nos foram deixados e que ajudavam as pessoas no seu dia-a-dia. Como aqui, no largo da Porta da Moura, onde podemos ver esta bonita fonte de 1556. Num tempo em que a água pública era escassa, fontes como esta eram muito importantes para as populações. Esta fonte de forma esférica foi mandada erguer pelo cardeal e futuro rei D. Henrique, e foi construída pelo arquitecto Diogo de Torralva, com donativos dos vizinhos do largo. Agora olhemos em torno. Casas e pequenos palacetes rodeiam este largo, como a casa Cordovil com o seu belo mirante. Ao lado, temos a casa de foi de um célebre estudioso do século XVIII, Severim de Faria. Aí funcionou uma academia, onde grupos de amigos falavam de História e Literatura. E entre as torres que guardam a antiga Porta da Moura, vemos uma janela num estilo artístico tipicamente português, o “manuelino”. Chama-se “Janela de Garcia de Resende”, como homenagem ao célebre poeta português do século XVI, que em Évora nasceu e viveu, e que foi o autor do ‘Cancioneiro Geral’, livro onde se reúne poesia portuguesa dos séculos XV e XVI.
UNIVERSIDADE DE ÉVORA / COLÉGIO DO ESPÍRITO SANTO
Durante muitos séculos, os jovens estudavam em escolas que pertenciam à Igreja. Se quisessem depois continuar estudos, podiam ir para a Universidade. Em Portugal só existiam duas: a de Coimbra e a de Évora. A Universidade de Évora, onde agora estamos, foi construída em 1551, por ordem do cardeal D. Henrique, futuro rei de Portugal (1578-80). Mas o que é que se estudava nesta universidade? Os jovens estudantes podiam aqui frequentar cursos de Filosofia, Matemática, Teologia (estudos religiosos) e Retórica (artes ligadas à linguagem. A Universidade de Évora aqui se manteve durante cerca de 200 anos, sendo depois extinta. Só em 1979 é que regressou a Évora, onde ainda hoje se mantém usando estas e outras instalações.
PORTA DO MOINHO DE VENTO
Estamos perto do fim do nosso percurso. Estamos na chamada porta do Moinho de Vento, cujo nome tem cerca de 800 anos. Sabemos que por aqui perto existia um moinho de vento, que deu o nome a uma outra porta. Com o passar do tempo essa ‘antiga porta’ desapareceu, e o nome foi dado a esta porta onde agora nós estamos. Não foi por acaso que se escolheu este local para terminar a nossa viagem pela História de Évora. Lembram-se por onde começámos? Foi aqui perto, na Porta do Arco de D. Isabel, ali à frente, uns metros à esquerda. Ora sucede que é neste local, que se cruzam as duas portas das velhas muralhas: a Porta de D. Isabel, da muralha romana (a Cerca Velha); a Porta do Moinho de Vento, da muralha construída pelo rei D. Fernando no século XIV . Esta nova muralha - a Cerca Nova- tinha 3 km de extensão, e possuía 10 portas. Neste ponto de encontro, a nossa viagem chega ao fim. Uma viagem ao passado de Évora, ao passado de Portugal.
Évora está situada no Alentejo (sul de Portugal), a uma distância de cerca de 130 km de Lisboa. A parte entre muralhas conserva bastantes traços dos seus tempos mais antigos, incluindo monumentos de várias épocas. O centro histórico de Évora faz parte da lista da UNESCO das cidades património mundial. Foi habitada no tempo dos romanos, tendo sido chamada Liberalitas Julia, e deste período restam inúmeros vestígios dos quais se destaca o templo romano conhecido por ''Templo de Diana''. Durante as invasões barbaras, Évora esteve sobre domínio visigodo. Em 715 D.C. a cidade foi conquistada pelos mouros. Évora foi tomada aos mouros por Geraldo Sempavor em 1166 (foral concedido por D. Afonso Henriques no ano seguinte) e tornou-se durante a Idade Média uma das mais prosperas cidades do reino, principalmente durante a dinastia de Avis (1385-1580). Em 1551 foi fundada pelos Jesuítas a universidade, e por cá passaram grandes mestres do saber da época como por exemplo Clenardo e Molina. Em 1759 foi encerrada por ordem do Marques do Pombal, aquando da expulsão do Jesuítas (universidade voltou a ser reaberta apenas em 1973). O século 18 marco o inicio do declínio da cidade de Évora. A testemunhar a dinâmica histórica e cultural das várias épocas, ficaram os muitos e belos monumentos realizados por diferentes artistas, que hoje podem ser admirados em todo o seu esplendor.
Évora, cidade Património da Humanidade, não se despede dos seus amigos. Apenas lhes diz: “Até breve.”
Continue acessando nosso Blog, pois a matéria está só no começo...
Período Romano
PORTA DE D. ISABEL
Nestas coisas o melhor é começar pelo princípio. Vamos passar então por esta velha porta onde vocês agora estão. Chama-se Porta de D. Isabel, mas esse nome só foi dado há 400 anos, pois antes chamava-se “Porta do Talho do Mouro”. Esta porta é mais antiga. Foi construída pelos romanos há cerca de 1800 anos. Era uma das principais portas da cidade, e situa-se nas muralhas que os romanos construíram para proteger Évora: a Cerca Velha. Havia, nessa muralha, quatro portas, mas hoje só resta esta. Diga-se que a muralha romana, construída no século III, era grande, para aquele tempo. Tinha cerca de 1200 metros de extensão, e tinha ainda várias torres para defesa. Por vezes, a muralha não resistia a ataques mais fortes. A meio do século XII, tropas árabes venceram a resistência destes muros, e invadiram a cidade. Porém, Évora recompôs-se. Observem agora o resto de empedrado logo após a entrada. Era uma estrada romana. Quantas pessoas terão pisado estas pedras e passado por baixo desta porta?!...
TERMAS ROMANAS
As cidades onde os romanos moravam tinham vários serviços para garantir a higiene, a limpeza e o conforto dos seus habitantes. Por isso os romanos se preocuparam tanto com o abastecimento de água. Construíam aquedutos para levar a água e tinham termas onde os cidadãos podiam tomar banho, conversar, conviver. As termas que aqui estão são a prova dessa preocupação com a higiene. Em latim designavam-se “Therma”, daí provindo a palavra portuguesa “Termas”. Em 1987 os trabalhadores que faziam obras neste edifício - que é a Câmara Municipal (Paços do Concelho) - descobriram alguns vestígios antigos. Após vários estudos, os investigadores concluíram que se tratava das termas romanas. Com o passar dos anos, mais estudos e escavações foram sendo feitos, até se pôr a descoberto o que está presente. Mas, como eram estas termas? As termas tinham vários espaços diferentes sempre organizados em 3 áreas diferentes: quente, tépida e fria. Os romanos tomavam os seus banhos quentes nesta sala circular a que chamavam Laconicum. O espaço ao lado era o Praefurnium. Aqui estava a fornalha que aquecia todos as outras salas. O terceiro espaço chamava-se Natatio, constituído por uma piscina rectangular de ar livre. Esta é uma área que não pode ser visitada. Nestas termas os romanos, além de se banharem, conviviam, conversavam, negociavam. Era por isso um local de higiene e convívio.
TEMPLO ROMANO
O centro da cidade romana, o seu espaço mais importante, chamava-se Forum. Era aí que os romanos tinham o seu principal templo, bem como os locais onde se exercia a administração e justiça. Este é o lugar mais alto da Ebora Liberalitas Iulia, como lhe chamavam os romanos. Vejamos então este templo que aqui temos perante nós. Durante muitos anos foi chamado de “Templo de Diana”, pois dizia-se que era dedicado à deusa romana da caça, Diana. Pensa-se hoje, todavia, que este templo foi construído há quase dois mil anos para servir de culto ao imperador. Recorde-se que os romanos, nessa época, adoravam vários deuses e também prestavam culto aos seus imperadores. Este templo estava rodeado de lojas e o chão da praça era de mármore. Envolvendo o templo romano, havia um bonito espelho de água. Claro que o templo que aqui vemos, mais não é que as ruínas do que os romanos construíram no século I, e os vestígios do pequeno lago em forma U que o rodeava estão enterrados debaixo da calçada. Ao longo dos tempos, este templo serviu de torre militar e até de talho. Em 1870, os eborenses decidiram limpar o templo de tudo o que não lhe pertencesse de origem. Fizeram-se obras, e surgiu então o que aqui vemos, sendo hoje o monumento mais conhecido da cidade de Évora.
A Idade Média
A CATEDRAL DE ÉVORA
Quando o Império Romano desapareceu, há cerca de 1600 anos, os povos “bárbaros” ocuparam grande parte da Europa. Na Península Ibérica foram os Visigodos que se instalaram. O seu reinado durou quase trezentos anos. No século VIII, vieram os Árabes e, no século XII, formou-se o reino de Portugal. Évora foi conquistada por Giraldo Sem Pavor e entregue ao nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques. Assim se tornou uma cidade cristã. Agora o monumento principal e central de uma cidade cristã, se transformou numa catedral. A catedral de Évora foi construída entre 1283 e 1308. Se pensarmos que naquele tempo todo o trabalho era feito sobretudo à força de braços, podemos dizer que esta catedral foi construída em relativamente pouco tempo. No seu exterior observem as estátuas dos homens que enfeitam o portal. Quem são? São os apóstolos. Com livros sagrados nas mãos, recebem quem entra. E na base de cada apóstolo pequenas esculturas contam histórias. Naquele tempo, a grande maioria das pessoas não sabia ler. Por isso a Igreja educava a população mandando esculpir histórias nas pedras dos templos, como se fossem lições. No interior da igreja, em cima, à direita, entre os pequenos arcos, podemos observar uma estátua. É um busto do arquitecto da catedral, que exibe duas letras, C E. O que significam? São as iniciais da expressão latina Constructor Edit, isto é “o Construtor que Fez”. A catedral de Évora tem vários estilos e muitos espaços, sinal de muitas obras ao longo dos tempos. Podes visitar o “Tesouro da Sé” que contém pinturas e jóias em prata e ouro, e o claustro, onde está sepultado o bispo fundador, D. Pedro.
PRAÇA DE GIRALDO
Ao longo da Idade Média, Évora cresce. A muralha romana já não protege toda a cidade. Torna-se necessário construir uma nova muralha que defenda os novos bairros (arrabaldes). A nova muralha será construída no tempo do rei D. Fernando, no século XIV. É nesta época que surge a Praça de Giraldo. Inicialmente aqui se fazia a primeira feira da cidade, ainda no tempo do rei D. Dinis (fim do século XIII, principio do século XIV). Com o passar dos anos, a Praça de Giraldo tornar-se-á na praça principal da cidade, conhecida então por Praça Grande. De um lado situavam-se os Paços do Concelho (Câmara Municipal), do outro lado, a igreja de Stª. Antão. Aqui havia o pelourinho, a “Casa de Ver o Peso” (instituição que verificava se os pesos e medidas não eram falsificados), os Estáus da Coroa (estalagem real) e a fonte. Em toda a volta, as lojas serviam os habitantes. Esta praça assistiu a muitos acontecimentos da História de Évora. Foi aqui que se fizeram festas, torneios de cavaleiros - as justas - e touradas; e foi aqui que se fizeram os tristemente célebres autos-de-fé. Ainda hoje, esta praça é a principal Praça da cidade de Évora. Como o era há vários séculos, quando a cidade começou a crescer.
No fim da Idade Média
IGREJA REAL DE S. FRANCISCO
A igreja e de S. Francisco, foi construída há cerca de 500 anos no local onde antes havia uma pequena igreja gótica. Nessa altura, o nosso país estava lançado nos Descobrimentos. Por isso podemos ver à entrada da igreja um dos símbolos da nossa expansão, a esfera armilar (emblema do rei D. Manuel I). Como igreja real, era aqui que os reis portugueses e a sua família assistiam à missa quando estavam em Évora. Para isso existem duas janelinhas à direita do altar. Mas onde ficavam os reis quando vinham a Évora? Ora ao lado desta igreja, na zona do claustro foi construído um palácio real: os Paços Reais. Durante muitos anos os reis portugueses aqui passaram largas temporadas, e aqui se fizeram importantes cerimónias. Como, em 1490, o casamento entre o príncipe Afonso, filho de D. João II e uma princesa espanhola, celebrado num pavilhão de madeira em frente à igreja. Poucos anos depois, Vasco da Gama terá recebido aqui o cargo de comandante da frota que descobriu o caminho marítimo para a Índia. Foi ainda nestes paços que Gil Vicente apresentou algumas das suas peças de teatro - os autos -, que estão na origem do teatro em Portugal.
O Renascimento
IGREJA E CONVENTO DA GRAÇA
Continuemos o nosso caminho pela História e Património de Évora. Continuemos a ver os locais preferidos dos nossos reis, quando aqui ficavam. Em 1540, o rei D. João III ordenou ao arquitecto Miguel de Arruda, que construísse esta igreja. Aqui também trabalhou o célebre escultor francês Nicolau de Chanterene. Assim se fez. A Igreja foi feita num estilo novo para a época, dedicando-se a Nossa Senhora da Graça. Hoje é considerada um dos mais importantes monumentos do Renascimento em Portugal. Mas reparem nas quatro estátuas que estão logo acima da porta. Chamam-se os “meninos da Graça” e carregam às costas as “quatro partes do mundo” onde os portugueses chegaram. De resto, orgulhoso pelo império português, o rei D. João III mandou escrever na fachada o título de “Pai da Pátria”, à imitação dos antigos romanos.
LARGO DA PORTA DA MOURA
Mas não pensem que em Évora só há palácios e igrejas. Por toda a cidade há outros monumentos que nos foram deixados e que ajudavam as pessoas no seu dia-a-dia. Como aqui, no largo da Porta da Moura, onde podemos ver esta bonita fonte de 1556. Num tempo em que a água pública era escassa, fontes como esta eram muito importantes para as populações. Esta fonte de forma esférica foi mandada erguer pelo cardeal e futuro rei D. Henrique, e foi construída pelo arquitecto Diogo de Torralva, com donativos dos vizinhos do largo. Agora olhemos em torno. Casas e pequenos palacetes rodeiam este largo, como a casa Cordovil com o seu belo mirante. Ao lado, temos a casa de foi de um célebre estudioso do século XVIII, Severim de Faria. Aí funcionou uma academia, onde grupos de amigos falavam de História e Literatura. E entre as torres que guardam a antiga Porta da Moura, vemos uma janela num estilo artístico tipicamente português, o “manuelino”. Chama-se “Janela de Garcia de Resende”, como homenagem ao célebre poeta português do século XVI, que em Évora nasceu e viveu, e que foi o autor do ‘Cancioneiro Geral’, livro onde se reúne poesia portuguesa dos séculos XV e XVI.
UNIVERSIDADE DE ÉVORA / COLÉGIO DO ESPÍRITO SANTO
Durante muitos séculos, os jovens estudavam em escolas que pertenciam à Igreja. Se quisessem depois continuar estudos, podiam ir para a Universidade. Em Portugal só existiam duas: a de Coimbra e a de Évora. A Universidade de Évora, onde agora estamos, foi construída em 1551, por ordem do cardeal D. Henrique, futuro rei de Portugal (1578-80). Mas o que é que se estudava nesta universidade? Os jovens estudantes podiam aqui frequentar cursos de Filosofia, Matemática, Teologia (estudos religiosos) e Retórica (artes ligadas à linguagem. A Universidade de Évora aqui se manteve durante cerca de 200 anos, sendo depois extinta. Só em 1979 é que regressou a Évora, onde ainda hoje se mantém usando estas e outras instalações.
PORTA DO MOINHO DE VENTO
Estamos perto do fim do nosso percurso. Estamos na chamada porta do Moinho de Vento, cujo nome tem cerca de 800 anos. Sabemos que por aqui perto existia um moinho de vento, que deu o nome a uma outra porta. Com o passar do tempo essa ‘antiga porta’ desapareceu, e o nome foi dado a esta porta onde agora nós estamos. Não foi por acaso que se escolheu este local para terminar a nossa viagem pela História de Évora. Lembram-se por onde começámos? Foi aqui perto, na Porta do Arco de D. Isabel, ali à frente, uns metros à esquerda. Ora sucede que é neste local, que se cruzam as duas portas das velhas muralhas: a Porta de D. Isabel, da muralha romana (a Cerca Velha); a Porta do Moinho de Vento, da muralha construída pelo rei D. Fernando no século XIV . Esta nova muralha - a Cerca Nova- tinha 3 km de extensão, e possuía 10 portas. Neste ponto de encontro, a nossa viagem chega ao fim. Uma viagem ao passado de Évora, ao passado de Portugal.
Évora está situada no Alentejo (sul de Portugal), a uma distância de cerca de 130 km de Lisboa. A parte entre muralhas conserva bastantes traços dos seus tempos mais antigos, incluindo monumentos de várias épocas. O centro histórico de Évora faz parte da lista da UNESCO das cidades património mundial. Foi habitada no tempo dos romanos, tendo sido chamada Liberalitas Julia, e deste período restam inúmeros vestígios dos quais se destaca o templo romano conhecido por ''Templo de Diana''. Durante as invasões barbaras, Évora esteve sobre domínio visigodo. Em 715 D.C. a cidade foi conquistada pelos mouros. Évora foi tomada aos mouros por Geraldo Sempavor em 1166 (foral concedido por D. Afonso Henriques no ano seguinte) e tornou-se durante a Idade Média uma das mais prosperas cidades do reino, principalmente durante a dinastia de Avis (1385-1580). Em 1551 foi fundada pelos Jesuítas a universidade, e por cá passaram grandes mestres do saber da época como por exemplo Clenardo e Molina. Em 1759 foi encerrada por ordem do Marques do Pombal, aquando da expulsão do Jesuítas (universidade voltou a ser reaberta apenas em 1973). O século 18 marco o inicio do declínio da cidade de Évora. A testemunhar a dinâmica histórica e cultural das várias épocas, ficaram os muitos e belos monumentos realizados por diferentes artistas, que hoje podem ser admirados em todo o seu esplendor.
Évora, cidade Património da Humanidade, não se despede dos seus amigos. Apenas lhes diz: “Até breve.”
Continue acessando nosso Blog, pois a matéria está só no começo...
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