DOIS NAVIOS CARREGADOS DE MILHO PARA O IRÃ PARADOS NO PORTO DE PARANAGUÁ POR FALTA DE COMBUSTÍVEL

Bolsonaro diz que empresas brasileiras 'foram avisadas' sobre problemas envolvendo navios iranianos em Paranaguá

Presidente afirma que companhias 'sabem do risco' de sanções dos EUA; empresa exportadora garante que cumpre todas as regras e não vê motivo para não receber combustível da Petrobras

O navio iraniano MV Bavand, parado a cerca de 20 km do porto de Paranaguá (PR), aguarda decisão sobre abastecimento para seguir viagem rumo ao Irã. Foto: STRINGER / REUTERS
O navio iraniano MV Bavand, parado a cerca de 20 km do porto de Paranaguá (PR), aguarda decisão sobre abastecimento para seguir viagem rumo ao Irã. Foto: STRINGER / REUTERS

BRASÍLIA E RIO — O presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse nesta sexta-feira que o governo avisou às empresas exportadoras brasileiras sobre os riscos envolvendo o comércio com o Irã devido às sanções impostas pelos Estados Unidos ao país. O presidente comentava a situação dos dois navios iranianos que estão parados a cerca de 20 km do porto de Paranaguá (PR) , por conta de um impasse sobre o fornecimento de combustível às embarcações.

— Existe esse problema. Os Estados Unidos , de forma unilateral, pelo que me consta, têm embargos levantados contra o Irã. As empresas brasileiras foram avisadas por nós desse problema e estão correndo o risco nesse sentido, e o mundo está aí — declarou Bolsonaro.
Segundo reportagem da revista " Portos e Navios ", os cargueiros MV Termeh e MV Bavand , contratados para levar cargas com valor aproximado de R$ 105 milhões para o porto iraniano de Bandar Imam Khomeini, tiveram o abastecimento negado pela Petrobras . Um deles, o MV Bavand, já está carregado com 48 mil toneladas de milho e deveria ter partido rumo ao Irã no dia 8 de junho. O MV Termeh aguarda, desde o dia 9 de junho, o combustível para seguir rumo ao porto de Imbituba (SC), onde receberá a carga.
De acordo com a Petrobras, o abastecimento não pode ser feito por conta das sanções impostas pelo Departamento de Tesouro dos EUA, uma vez que as embarcações se encontram na lista da Agência de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA ( Ofac , na sigla em inglês), responsável por aplicar medidas a agentes estrangeiros. Além disso, segundo a estatal brasileira, os navios chegaram ao Brasil carregados com ureia, um produto que está sujeito a sanções. Por fim, afirma que "existem outras empresas capazes de atender à demanda por combustível ".

Empresa contesta Petrobras

Em e-mail enviado ao GLOBO , a empresa responsável pela exportação, que não teve o nome divulgado uma vez que o processo sobre o caso corre em segredo de Justiça, contesta a Petrobras e diz que “não há outras alternativas viáveis e seguras para o abastecimento das embarcações, que dependem de um tipo específico de combustível cujo fornecimento é monopólio da Petrobras”.
A empresa ainda afirma que  “toda a documentação de liberação dos navios já foi fornecida pelas autoridades brasileiras”. Além disso, alega que “o transporte de alimentos é uma das exceções previstas no que a lei americana chama de ‘ Humanitarian Exception ’, ou exceção humanitária, que é uma licença geral para o transporte de commodities agrícolas, comida, medicamentos e equipamentos médicos.”

Pelas regras da Ofac , quem mantiver relações comerciais com as empresas e pessoas incluídas na lista de sanções pode ser alvo de retaliações, incluindo multas, retenção de bens e a proibição de operar no mercado dos EUA. Desde maio de 2018, quando os EUA passaram a adotar a política de “pressão máxima” contra os iranianos, a aplicação das sanções foi ampliada, atingindo especialmente o setor do petróleo.

A companhia dona dos navios, a Sepid Shipping Company Limited, aparece na lista do Departamento do Tesouro. Os responsáveis não responderam aos pedidos de entrevista.

Sem entrar em detalhes sobre o caso dos navios iranianos, Bolsonaro reafirmou que tem se aproximado do presidente americano, Donald Trump , e disse entender que o Brasil tem que cuidar primeiro dos próprios problemas.

— Eu particularmente estou me aproximando cada vez mais do Trump, fui recebido duas vezes por ele. Ele é a primeira economia do mundo, segundo mercado econômico. E hoje abri, inclusive aos jornalistas estrangeiros, uns 20 presentes, que o Brasil está de braços abertos para fazermos acordos, parcerias. O Brasil é um país que não tem conflito em nenhum lugar do mundo, graças a Deus, pretendemos manter nessa linha, mas entendemos que outros países têm problemas e nós aqui temos que cuidar dos nossos em primeiro lugar — declarou.

Em segredo

Desde o começo do mês, corre um processo, em segredo de Justiça, tentando liberar o abastecimento. Segundo a "Portos e Navios", a empresa exportadora chegou a obter uma liminar na 2ª vara cível do Tribunal de Justiça do Paraná, ordenando que os cargueiros fossem abastecidos. A liminar acabou suspensa pelo Supremo Tribunal Federal , com uma decisão esperada para os próximos dias.
A empresa alega que o não fornecimento de combustível pode fazer com que as embarcações fiquem à deriva, “colocando em risco os tripulantes , o navio, a carga, o meio ambiente e as demais embarcações que estiverem fundeadas em Paranaguá”.

Segundo a “Portos e Navios”, os gastos diários com os navios chegariam a US$ 15 mil.

A Unimar, que aparece na lista de operações de Paranaguá como a agência contratada para as operações dos dois navios, foi contatada por O GLOBO , mas ainda não respondeu.

No processo, a Procuradoria da União no Paraná também se comprometeu a consultar outros órgãos para saber se poderia ou não intervir nesse caso. Entre os órgãos consultados estava o Ministério das Relações Exteriores . Em nota, o Itamaraty diz que “atendeu à solicitação de informação no marco do processo judicial em curso, que corre sob segredo de justiça”.

Dois navios do Irã em alerta

As autoridades portuárias agora acompanham a situação de duas outras embarcações iranianas, hoje próximas ao porto de Imbituba (SC). O MV Delruba e o Ganj, ambos da Sapid Shipping e incluídos na lista de sanções dos EUA, deveriam fazer a mesma rota dos dois navios hoje parados perto de Paranaguá. A empresa responsável pela operação deles no Brasil, a Friendship, disse não estar autorizada a informar detalhes sobre a situação das embarcaçoes. Os dois chegaram ao Brasil com uma carga de ureia.
Um quinto navio, o Daryabar, conseguiu deixar o Brasil com uma carga de milho ao Irã, hoje o maior importador do produto brasileiro. Não se sabe como a embarcaçao foi abastecida.

Segundo uma fonte da indústria da navegação, ouvida pela agência de notícias Reuters, "o governo iraniano está claramente assumindo um risco". A fonte completa dizendo que "eles enviaram todos esses navios para cá sem saber se eles conseguiriam reabastecer e retornar".


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