Afro-brasileiros
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População total
"Pretos": 13.252.000, 6,9% da população brasileira
Museu Afro-Brasileiro
Regiões com população significativa: Sudeste e Nordeste
Língua: - Português
Religião: - Predominantemente o Cristianismo (maioria católica)
e uma pequena parcela pratica Religiões afro-americanas (protestantismo, etc.,etc.)
No Brasil, oficialmente, os termos preto, negro ou afro-brasileiro designam racialmente e de acordo com a cor as pessoas que se definem como pertencentes a esse grupo. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística usa o nome preto como nome oficial para essa cor/raça, sendo ela uma das cinco definições oficiais usadas pelo povo brasileiro para se definir, junto com branco, pardo, amarelo e indígena. De acordo com o IBGE, os brasileiros que se definiam como pertencentes a esse grupo em 2009 somavam 13.252.000 de pessoas, 6,9% da população.
Nos últimos anos, o IBGE, em suas análises de indicadores apenas socioeconômicos, vem agregando as categorias pardos e pretos numa categoria única denominada "negros". Esta forma de categorizar os brasileiros não está relacionada a questões de ordem racial, cultural, de cor, genética ou antropológica, mas apenas a avaliação das condições de vida dos brasileiros. A explicação dada pelo IBGE para isso é que os indicadores de condição de vida dos pardos e dos pretos são parecidos e que a origem da palavra "negro" faz com que ela possa ser usada em outros contextos e não só quando se trata de populações africanas. Porém, esta decisão tem causado muitas polêmicas, pois não é um consenso geral na sociedade brasileira. Os brasileiros, geralmente, utilizam-se dos mais variados "termos raciais" para denominarem uns aos outros numa perspectiva multirracial. Entre os brasileiros, a "raça" de um indivíduo é baseada mais na aparência, e alguns critérios subjetivos, do que propriamente na ancestralidade. Isto gera, obviamente, equívocos e ambiguidades, porém é um traço da cultura brasileira que não pode ser ignorado. Os enganos causados pelo desconhecimento dessa nova metodologia do IBGE são grandes, sendo cometidos até por jornais e políticos.
De acordo com uma pesquisa do IBGE realizada em 2008 nos estados do Amazonas, da Paraíba, de São Paulo, do Rio Grande do Sul, do Mato Grosso e no Distrito Federal, apenas 11,8% dos entrevistados reconheceram ter ascendência africana, enquanto que 43,5% disseram ter ancestralidade europeia, 21,4% indígena e 31,3% disseram não saber a sua própria ancestralidade. Quando indagados a dizer de forma espontânea a sua cor ou raça, 49% dos entrevistados se disseram brancos, 21,7% morenos, 13,6% pardos, 7,8% negros, 1,5% amarelos, 1,4% pretos, 0,4% indígenas e 4,6% deram outras respostas. Porém, quando a opção "afrodescendente" foi apresentada, 21,5% dos entrevistados se identificaram como tal. Quando a opção "negro" também foi apresentada, 27,8% dos entrevistados se identificaram com ela.
História
Diferentes escravos africanos vindos de diferentes origens. (Monjolo, Mina, Benguela, Calava e Moçambique).
Escravas africanas de diferentes origens com penteados seguindo a moda europeia.
O Brasil recebeu cerca de 38% de todos os escravos africanos que foram trazidos para a América A quantidade total de africanos subsaarianos que chegaram ao Brasil tem estimativas muito variadas: alguns citam mais de três milhões de pessoas, outros quatro milhões. O tráfico de negros da África começou por volta de 1550.
Durante o período colonial, os escravos de origem africana ou indígena eram a quase totalidade da mão-de-obra da economia do Brasil, utilizados principalmente na exploração de minas de ouro e na produção de açúcar.
Os homens eram a grande maioria dos escravos traficados, o que afetava o equilíbrio demográfico entre a população preta. No período 1837-1840, os homens constituíam 73,7% e as mulheres apenas 26,3% da população escrava. Além disto, os donos de escravos não se preocupavam com a reprodução natural da escravaria, porque era mais barato comprar escravos recém trazidos pelo tráfico internacional do que gastar com a alimentação de crianças. Em relação à grande quantidade de africanos que aqui chegaram, a sociedade brasileira têm até poucos de seus genes, possívelmente devido ao desequilíbrio que havia entre a quantidade de homens e mulheres, além da maior mortalidade entre a população de escravos.
Embora tenha sido proibido por várias leis anteriores, o tráfico internacional de escravos para o Brasil só passou a ser combatido através da lei Eusébio de Queirós de 1850, depois da pressão política e militar da Inglaterra.
A Inglaterra à época tinha forte interesse em proibir a escravidão para poder vender ao Brasil as máquinas agrícolas, que sua revolução industrial produzia, e não por razões humanitárias.
A escravidão foi diminuída no decorrer do século XIX com a Lei do Ventre Livre e a Lei dos Sexagenários, mas somente em 1888 foi definitivamente abolida através da Lei Áurea assinada pela Princesa Isabel.
No decorrer do século XX, muitas expressões culturais afro-brasileiras começaram a ser aceitas pelas elites brasileiras. As formas de música popular e danças afro-brasileiras tornaram-se então muito disseminadas, destacando-se a fama internacional do samba. Mestre Bimba apresentou, em 1953, a capoeira ao presidente Getúlio Vargas, que a chamou de "único esporte verdadeiramente nacional".
Também no decorrer do século XX, as perseguições às religiões afro-brasileiras diminuíram e a Umbanda carioca passou a ser seguida por alguns membros da classe média-branca. O futebol, esporte inicialmente dos brancos, passou a ter também jogadores pretos, graças ao ao Clube de Regatas Vasco da Gama, que, chegou a ser afastado da 1ª Liga Carioca, por ter colocado em seu time 04 atletas negros. Naquela época os grandes clubes do Brasil só aceitavam atletas brancos. Por isso votaram contra o Vasco. Flamengo, Fluminense, Botafogo, América e Andaraí.
Chegou-se assim ao paradoxo da situação atual, em que a cultura afro-brasileira ocupa uma posição de destaque no âmbito popular, mas a participação dos pretos é pequena na política, na literatura, nas ciências e na produção artística mais erudita das elites brasileiras.
O tráfico negreiro classificava os escravos utilizando vários termos como Nagôs, Jejes, Mina, Angolas, Congos e Fulas, os quais se referem mais propriamente à região de origem do que a nações ou culturas. Cada um destes termos inclui, portanto, diferentes etnias. Outra fonte de confusão é que muitas vezes os escravos eram classificados pelo tráfico negreiro de acordo com a língua que falavam ou entendiam como, por exemplo, Nagôs (que entendiam Iorubá) e Haúças (que entendiam a língua haúça, língua comercial espalhada por toda África Central, antigamente chamada de sudanês).
Os africanos mandados para o Brasil são divididos grosso modo em dois grandes grupos: os Bantu e os oeste-africanos.
Mulher africana banto com seu filho, a maioria dos africanos trazidos para o Brasil é de origem bantu
Os Bantus são descendentes de um grupo etnolingüístico que se espalhou rápida e recentemente desde a atual região de Camarões em direção ao sul, atingindo tanto o litoral oeste quanto o leste da África. Como esta expansão foi recente, as diferentes nações Bantus têm muitos aspectos étnico-culturais, linguísticos e genéticos em comum, apesar da grande área pela qual se espalharam.
Os Bantus trazidos para o Brasil vieram das regiões que atualmente são os países de Angola, República do Congo, República Democrática do Congo, Moçambique e, em menor escala, Tanzânia. Pertenciam a grupos étnicos que os traficantes dividiam em Cassangas, Benguelas, Cabindas, Dembos, Rebolo, Anjico, Macuas, Quiloas, etc.
Constituíram a maior parte dos escravos levados para o Rio de Janeiro, Minas Gerais e para a zona da mata do Nordeste.
Oeste-africanos
Os oeste-africanos provinham de uma vasta região litorânea que ia desde o Senegal até à Nigéria, além do interior adjacente. A faixa de terra fronteiriça ao sul da região do Sahel, que se estende no sentido oeste-leste atravessando toda a África, é denominada Sudão. Frequentemente, os escravos de origem oeste-africana são chamados de sudaneses, o que causa confusão com os habitantes do atual Sudão, que comprovadamente não teve sua população escravizada nas Américas. Além disto, apenas parte dos escravos de origem oeste-africana vieram da vasta região chamada Sudão. Os nativos do oeste-africano foram os primeiros escravos a serem levados para as Américas sendo chamados, nesta época, de negros da Guiné.
Os oeste-africanos eram principalmente nativos das regiões que atualmente são os países de Costa do Marfim, Benim, Togo, Gana e Nigéria. A região do golfo de Benim foi um dos principais pontos de embarque de escravos, tanto que era conhecida como Costa dos Escravos. Os oeste-africanos constituíram a maior parte dos escravos levados para a Bahia. Pertenciam a diversos grupos étnicos que o tráfico negreiro dividia, principalmente, em:
* Nagôs - os que falavam ou entendiam a língua dos Iorubás, o que incluía etnias como os Kètu, Egba, Egbado, Sabé, etc;
* Jejes - que incluía etnias como Fons, Ashanti, Ewés, Fanti, Mina e outros menores como Krumans, Agni, Nzema, Timini, etc.
Os Malês
Eram escravos de origem oeste-africana, na maior parte falantes da língua haúça, que seguiam a religião muçulmana. Muitos deles falavam e escreviam em língua árabe, ou usavam caracteres do Árabe para escrever em haúça. Além dos Hauçás, isto é, dos falantes de língua haúça, outras etnias islamizadas trazidas como escravos para o Brasil foram os Mandingas, Fulas, Tapa, Bornu, Gurunsi, etc.
Havia também oeste-africanos de outras etnias além das acima citadas como os Mahis, Savalu e vários outros grupos menores.
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Escravos de Cabinda, Quiloa, Rebola e Mina
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Escravos de Benguela, Angola, Congo e Monjolo
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Escravos de Benguela e Congo
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Escravos de Moçambique
Rotas do tráfico entre Brasil e África
Cada época da História do Brasil tem diferentes portos importantes de embarque de escravos, e cada porto recebia escravos provenientes de uma grande região que ia até de centenas de quilômetros para o interior da África. Portanto, a origem étnica dos escravos recebidos no Brasil é muito variada, além de se ter alterado ao longo dos séculos de tráfico negreiro.
Apesar disto, os grupos étnicos acabaram se dividindo por locais, com preponderância dos Bantos no Rio de Janeiro e dos escravos oeste-africanos na Bahia e norte do Brasil. Uma das razões foi o momento histórico em que ocorreu cada ciclo econômico em uma região diferente do Brasil (açúcar no nordeste, ouro em Minas Gerais e café no Rio de Janeiro) e a oferta maior de escravos em uma região da África.
Os portos de embarque na África concentravam escravos provenientes de uma grande região que ia até de centenas de quilômetros pelo litoral e para o interior do continente. De modo simplificado, podemos dizer que os escravos africanos trazidos para o Brasil originavam-se nos seguintes locais de embarque:
* Oeste-Africano: portos do Senegal e Gâmbia (em menor escala, a ilha de Gorée),
Mina (hoje Elmina) em Gana, Uidá em Benim e Calabar na Nigéria;
* Centro-oeste Africano: portos de Cabinda (próximo a foz do rio Congo) e Luanda, ambos na atual Angola;
* Leste Africano: portos de Ibo, Lourenço Marques e Inhambane em Moçambique; portos de Zanzibar e Quiloa na atual Tanzânia.
Cada época da História do Brasil tem diferentes portos importantes de embarque de escravos na África, portanto, a origem étnica dos escravos recebidos no Brasil é muito variada ao longo dos séculos de tráfico negreiro. Ao mesmo tempo, cada ciclo econômico (açúcar no nordeste, ouro em Minas Gerais e café no Rio de Janeiro) fazia com que uma região diferente do Brasil demandasse mais mão-de-obra escrava do que as outras. Assim temos:
* Séculos XVI e XVII: portos do Senegal e Gâmbia (em menor escala, a ilha de Gorée) enviando escravos da região oeste-africana (negros da Guiné) principalmente para Salvador e Recife;
* Século XVIII: Portos de Mina, Uidá, Calabar; Cabinda e Luanda; e Zanzibar enviando escravos que eram desembarcados principalmente em Salvador e Rio de Janeiro, de onde a maior parte ia para a Minas Gerais;
* Século XIX: Portos de Mina, Uidá e Calabar; Cabinda e Luanda; Zanzibar e Quiloa; Ibo, Lourenço Marques e Inhambane enviando escravos que eram desembarcados principalmente em Salvador e Rio de Janeiro, de onde a maior parte seguia para as plantações de café no vale do Paraíba do Sul e cana-de-açúcar do norte fluminense.
Na primeira metade do século XIX, em que ocorreu o apogeu do tráfico de escravos para o Brasil, os escravos do oeste-africano iam principalmente para Salvador, enquanto os centro-oeste e leste-africano iam principalmente para o Rio de Janeiro. A razão é simplesmente a distância menor entre portos de embarque e desembarque, transportando uma carga que literalmente perecia com as más condições da viagem. Deste modo, os grandes grupos étnicos acabaram predominando em alguns locais como os Bantos no Rio de Janeiro e dos escravos oeste-africanos na Bahia e norte do Brasil.
Retorno a África
Diversas comunidades de escravos libertos no Brasil (afro-brasileiros) retornaram à África entre os séculos XVIII e XIX. Entre eles destacam-se os Tabom, retornados ao Gana em 1835-36, e os Agudás ou Amarôs, no Benim, no Togo e na Nigéria. Numerosos, esses "brasileiros" estabeleceram-se na região da antiga costa dos Escravos - que abrangia todo o golfo de Benim, indo da atual cidade de Lagos, na Nigéria, até Acra, em Gana. Milton Guran em seu livro "Agudás – os “brasileiros” do Benin" resume: "Os “brasileiros” do Benim, Togo e Nigéria, também conhecidos como agudás, nas línguas locais, são descendentes dos antigos escravos do Brasil que retornaram à África durante o século XIX e dos comerciantes baianos lá estabelecidos nos séculos XVIII e XIX. Possuem nomes de família como Souza, Silva, Almeida, entre outros, festejam Nosso Senhor do Bonfim, dançam a burrinha (uma forma arcaica do bumba-meu-boi), fazem desfiles de Carnaval e se reúnem frequentemente em torno de uma feijoadá ou de um kousidou. Ainda hoje é comum os agudás mais velhos se cumprimentarem com um sonoro “Bom dia, como passou?” “Bem, ‘brigado’” é a resposta."
Imigração africana recente
Nas décadas recentes, africanos negros têm imigrado ao Brasil, especialmente de países que falam português como Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, em busca de oportunidades de trabalho ou comerciais.
Atualmente, há nas universidades públicas e particulares brasileiras um número expressivo de estudantes africanos, na maioria provenientes dos países lusófonos, muitos usufruindo de bolsas concedidas em projetos de cooperação internacional pelos órgãos financiadores do Brasil (CAPES, CNPq e outros) conforme informam os relatórios do MEC.
O papel africano na manutenção da escravidão
Por muito tempo, a historiografia brasileira ignorou o papel de africanos e seus descendentes na manutenção da escravidão, tanto no Brasil como na África. Apenas a partir da década de 1990 é que historiadores passaram a dar importância à influência africana nesse sistema, deixando as pessoas de origem africana de serem tratadas apenas como vítimas da escravidão, mas também como agentes ativos. A escravidão já era praticada na África muitos séculos antes da chegada dos europeus. Desde o século VIII reinos africanos ao sul do deserto do Saara promoviam a captura de pessoas para serem vendidas aos árabes ao norte do deserto. Seis grandes rotas ligavam nações ao sul do Saara aos povos árabes do norte. Os negros africanos atravessavam o deserto para vender aos islâmicos algodão, ouro, marfim e sobretudo escravos. Voltavam com sal, joias, objetos metálicos e tecidos para serem entregues à nobreza africana. Quando os portugueses chegaram ao reino de Kano, na atual Nigéria em 1471, encontraram um império enriquecido há pelo menos um século graças a venda de ouro, escravos, couro e sal. Em algumas regiões africanas a escravidão já estava tão enraizada que escravos eram usados como forma de pagamento de tributos.
A chegada dos europeus ao Continente Africano só fez aumentar um sistema pré-existente. Os reinos africanos, que já se enriqueciam com a venda de seus cidadãos ou de inimigos vizinhos como escravos para os árabes, lucraram ainda mais com a demanda de mão-de-obra dos europeus. Os africanos monopolizavam praticamente todo o sistema escravagista dentro da África. A participação europeia se limitava a fortes situados no litoral onde os escravos seriam embarcados para as Américas. A tarefa de capturar os futuros escravos e levá-los ao litoral para serem vendidos para os europeus era feita pelos próprios africanos, à mando da nobreza africana, que enriquecia seus reinos com esse comércio de pessoas. O rei africano Osei Kwame, do Império Ashanti, era conhecido por viver em palácios luxuosos construídos graças ao dinheiro que lucrava com a escravidão.
O repúdio à escravidão não surgiu na África, mas na Europa. Isso se deu a partir do século XVIII, através do iluminismo e suas ideias de liberdade e igualdade entre os homens. A escravidão só foi abolida no século XIX graças ao poder de intervenção da Inglaterra. O movimento abolicionista inglês surgiu em 1787, liderado por 22 líderes religiosos ingleses. Os abolicionistas se organizavam em comitês, que visavam espalhar para a sociedade inglesa as imagens dos horrores da escravidão, que causaram grande comoção na população. Esses grupos conseguiram conquistar muitos aderentes e simpatizantes, que passaram a promover boicotes no País. No ano de 1787, 300 mil ingleses aderiram ao boicote ao açúcar produzido por escravos. Para pressionar o Parlamento Britânico, os abolicionistas entravam com petições na Câmara dos Comuns para forçar a feitura de uma lei que protegesse o direito dos negros. Foram em média 170 petições por ano, entre 1788 e 1800, chegando a 900 petições em 1810. No ano de 1807, depois de anos de pressões populares, a Inglaterra extinguiu o tráfico de escravos, e em 1833 a escravidão foi abolida em território britânico. Durante todo esse período, foram mais de 5 mil as petições com milhares de assinaturas enviadas à Câmara dos Comuns por cidadãos britânicos pedindo o fim da escravidão. No século XIX, a Inglaterra, a superpotência da época, passou a pressionar o Brasil a abolir o tráfico negreiro e a escravidão, e esse poder de pressão foi decisivo para o fim da escravatura no Brasil.
A historiografia brasileira costuma explicar que a Inglaterra apenas quis o fim da escravidão pois o tráfico de escravos não estaria mais dando lucros e os ingleses pretendiam aumentar o mercado de consumidores de seus produtos nas Américas com a libertação dos escravos. Historiadores como o brasileiro Manolo Florentino e o americano Seymour Drescher refutam essa ideia. Para Drescher, a abolição da escravidão, ao invés de ajudar a economia inglesa, apenas a prejudicou. Cidades que concentravam abolicionistas, como Manchester e Liverpool, eram ironicamente as que mais lucravam vendendo seus produtos para Estados escravistas da África e das Américas. Florentino escreveu: "O tráfico seguia lucrativo e não passava pela cabeça de nenhum líder inglês sério que a demanda americana por bens britânicos pudesse aumentar com o fim da escravidão".
Enquanto a Inglaterra conseguiu acabar com o tráfico de escravos em 1807, na África a escravidão se perpetuou por muito mais tempo. Em Serra Leoa, a escravidão só foi abolida em 1928. No Sudão, somente em 1950. Na Mauritânia, até 1980 a escravidão era legal.
Africanos e descendentes como senhores de escravo
No Brasil, a participação de africanos e seus descendentes como agentes ativos do sistema escravista também foi crucial. Em determinados momentos da História brasileira era comum que, após conseguirem a liberdade, ex-escravos adquirissem um ou vários escravos. Isso se fez notar especialmente em Minas Gerais no século XVIII. A sociedade mineira era essencialmente urbana e isso proporcionava uma grande oportunidade de ascensão social para as pessoas, inclusive escravos. A extração do ouro enriqueceu a região e agitava a economia. Sapateiros, ferreiros, alfaiates, tecelões e chapeleiros conseguiam enriquecer. Mulheres escravas vendiam doces e refeições para os mineradores a mando de seu senhor e muitas vezes conseguiam comprar sua liberdade com o dinheiro que sobrava. A carta de alforria na época custava 150 mil réis, equivalente ao preço de uma casa simples. Também era comum que senhores estipulassem em seu testamento que seus escravos deveriam ser libertos após a sua morte. A participação de negros entre a população livre brasileira e entre os senhores de escravos era notável.
Em 1830, os negros compunham três quartos da população livre de Sabará e 43% das casas de pessoas negras tinham escravos. Na região de Salvador, a participação de negros e pardos entre a população senhorial também era notável. No vilarejo de São Gonçalo dos Campos, 29,8% dos escravos estavam nas mãos de negros e pardos forros. Em Santiago do Iguape, 46,5% dos escravos eram propriedade de negros livres. No estado do Rio de Janeiro não era diferente: em Campo dos Goytacazes, negros e mulatos compunham 30% dos senhores de escravos.
A imagem disseminada de que os senhores de escravos eram possuidores de grandes plantéis de escravos trabalhando nas plantações ou minérios do Brasil não condiz com a realidade da maioria no período escravagista. A ideia da rica e ociosa família senhorial, que delegava todo o trabalho para os escravos, descrita especialmente por Gilberto Freyre, não era tão comum como historicamente se propagou. Levantando dados sobre escravos na região de Salvador, o historiador Bert Barickman encontrou que, em média, 59% dos proprietários de escravos tinham até quatro escravos. Apenas 4,5% deles tinham mais de 20 escravos e só 1% tinha mais de 60 escravos. Para Barickman, a maioria dos donos de escravos estavam longe de fazer parte de uma aristocracia senhorial. A maioria deles era de classe baixa, que não conseguia comprar muitos cativos e tinha que trabalhar lado a lado com seus escravos para garantir o sustento da famíla. A presença de um ou alguns poucos escravos na casa não garantia aos membros da família a prerrogativa de deixar de trabalhar, apenas dava à família maior grau de segurança econômica através do aumento da produção tanto para consumo doméstico quanto para venda. Analisando o perfil do senhor escravista, Barickman escreveu: "nem na roça, onde empenha uma enxada, nem à mesa de jantar, onde come com as mãos e depois lambe os dedos, poderia se fazer passar por um grande e altivo senhor do tipo descrito por Gilberto Freyre".
Para o historiador Manolo Florentino, tratar os negros somente como vítimas indefesas da escravidão contribui apenas para uma inferiorização dessa parcela da população, pois "dificulta o processo de identificação social das nossas crianças com aquela figura que está sendo maltratada o tempo todo, sempre faminta, maltrapilha". O fato de o negro ser visto não apenas no papel do escravo, mas igualmente como um senhor de escravo, acaba por retirar um estigma histórico.
Demografia
Entrada de escravos africanos no Brasil(IBGE)
Período:- 1500-1700 1701-1760 1761-1829 1830-1855
Quantidade 510.000 958.000 1.720.000 718.000
Muitos pretos foram trazidos para o Brasil como escravos no período colonial e imperial e os pretos eram uma parcela grande da população, mas, o crescimento da população preta foi relativamente pequeno em comparação com a entrada de escravos da África subsaariana. Primeiro porque os homens eram a grande maioria dos escravos traficados para o Brasil, atingindo quantidades até oito vezes maiores do que a de mulheres. Segundo, porque a mortalidade era muito maior entre os escravos do que entre o resto da população brasileira. Em certos momentos da História do Brasil, o crescimento da população preta deveu-se somente ao crescimento do tráfico de escravos. A população preta cresceu com força com a melhoria de tratamento dos escravos, que ocorreu depois do fim do tráfico com a Lei Eusébio de Queirós de 1850.
No primeiro levantamento sobre a cor da população feito no Brasil, em 1872, os resultados foram os seguintes: 4.188.737 pardos, 3.787.289 brancos e 1.954.452 pretos, sendo assim, os pretos eram o terceiro maior grupo, como ainda são. No segundo levantamento feito, em 1890, houve um tímido aumento da população preta, os resultados foram os seguintes: 6.302.198 brancos, 5.934.291 pardos e 2.097.42 pretos, o que mostra que os pretos continuaram sendo o 3º maior grupo da população brasileira naquela época mas que não tiveram o mesmo rápido crescimento populacional que os brancos e pardos tiveram entre 1872 e 1890.
Evolução em valores absolutos da população de cada cor.
Evolução em porcentagem relativa à população total.
Os fatores que contribuíram para a brusca diminuição no número relativo de pretos foram diversos. Primeiro, houve a grande imigração européia para o Brasil na segunda metade do século XIX e na primeira metade do século XX. Segundo, a mortalidade era bem maior entre os pretos, que, em geral, não tinham acesso à boa alimentação, saneamento básico e serviços médicos.
Referindo-se à diminuição de pretos na população brasileira, João Batista de Lacerda, único latino-americano a apresentar um relatório no I Congresso Universal de Raças, em Londres, no ano de 1911, escreveu que: "no Brasil já se viram filhos de métis (mestiços, pardos) apresentarem, na terceira geração, todos os caracteres físicos da raça branca. Alguns retêm uns poucos traços da sua ascendência negra por influência do atavismo, mas, a influência da seleção sexual tende a neutralizar a do atavismo, e remover dos descendentes dos métis todos os traços da raça negra. Em virtude desse processo de redução étnica, é lógico esperar que no curso de mais um século os métis tenham desaparecido do Brasil. Isso coincidirá com a extinção paralela da raça negra em nosso meio".
A política de imigração brasileira no século XX não era somente um meio do governo de ocupar terras não ocupadas, conseguir mais mão-de-obra e desenvolver-se, mas também de "civilizar" e "embranquecer" o país com população européia. O decreto número 528 de 1890, assinado pelo presidente Deodoro da Fonseca e pelo ministro da Agricultura Francisco Glicério determinava que a entrada de imigrantes da África e da Ásia seria permitida apenas com autorização do Congresso Nacional. O mesmo decreto não restringia, até incentivava, a imigração de europeus. Até ser revogado em 1907, este decreto praticamente proibiu a imigração de africanos e asiáticos para o Brasil. Apesar de necessitar muito de mão-de-obra pouco qualificada em vários momentos históricos, depois do fim do tráfico de escravos para o Brasil nunca se pensou em trazer imigrantes livres da África.
Distribuição geográfica
Desde os tempos coloniais, há uma distribuição irregular da população preta no Brasil. Atualmente, porém, pode-se encontrar populações pretas em todas as regiões brasileiras.
Miscigenação
Além da imigração européia do final do século XIX e início do século XX, um dos fatores que causaram a diminuição estatística relativa da população preta no Brasil nos últimos dois séculos foi a intensa miscigenação ocorrida.
No período colonial e imperial, vários fatores, como a relativamente reduzida população de mulheres brancas, acabaram por fazer com que um grande número de relacionamentos entre brancos e africanas, assim como entre portugueses e índias, acontecessem. Alguns mulatos eram alforriados e, em grupos mais restritos, educados, todavia, a maioria deles continuava a ser escrava. Esse fenômeno não foi exclusivo da América Portuguesa, tendo ocorrido em toda a América Latina e, em menor escala, na América do Norte.
O papel das mulheres
A miscigenação de africanos no Brasil ocorreu sobretudo através de concubinatos envolvendo mulheres negras ou mulatas e homens brancos. Em um levantamento de pessoas acusadas de concubinato na Comarca do Rio das Velhas, em Minas Gerais, entre 1727 e 1756, os números mostram que entre os concubinos, 92% eram homens brancos. Porém, das concubinas, 52,1% eram africanas, 35,1% crioulas (negras brasileiras) ou mestiças, e apenas 11,8% eram brancas. Havia, portanto, um nítido predomínio de concubinato envolvendo um homem branco (92%) e uma mulher negra ou mulata (87,2%). Por muito tempo, a historiografia associava a prática disseminada da concubinagem no Brasil colonial à ausência de moral, à condição de extrema pobreza desses indivíduos, aos parcos recursos para realizar um casamento, à pouca disponibilidade de mulheres brancas etc. Estas explicações não levavam em conta a influência das culturas africana e indígena nesse contexto. As mulheres africanas e suas descendentes crioulas, pardas e mulatas tinham percepções culturais diferentes das europeias. Para muitas dessas mulheres, permanecer solteira não representava uma degradação, mas uma virtude. O casamento católico na igreja, tão valorizado na cultura portuguesa, ainda não era uma prioridade para as mulheres de origem africana no Brasil colonial. Apenas mais tarde é que houve uma valorização do casamento no Brasil, e as mulheres solteiras passaram a ser estigmatizadas. Isso se deu através da importação da cultura portuguesa, disseminando aspectos culturais como a devoção à Santo Antônio (santo casamenteiro). A Igreja Católica se esforçou para instituir o casamento monogâmico na Europa no século XIII. Foi um processo árduo de normatização de comportamento feito à base de grande repressão. No Brasil, este processo só se concretizou a partir da segunda metade do século XIX, após a transferência da corte portuguesa para o Brasil. Antes disso, proliferavam no Brasil formas heterodoxas de organização familiar, imperando o concubinato e as relações temporárias. O papel da mulher no Brasil também era mais dinâmico do que se esperava para os padrões católicos de mulher recatada e devota, que se tentava imprimir. Só no século XIX, através de enorme repressão sexual, é que a concepção de que o sexo servia apenas para reprodução se instalou no Brasil e o casamento passou a ser a norma a ser seguida. Tal concepção só viria a se dissolver a partir da revolução sexual que se disseminou pelo mundo ocidental na década de 1960.
Na concepção de muitas mulheres de origem africana no Brasil colonial, o concubinato não restringia a liberdade das mulheres como o casamento, e ainda era uma forma de ascensão social, pois muitas escravas conseguiam a liberdade ao se unirem a homens brancos. Estes, após a morte, costumavam deixar bens para os filhos tidos com a concubina. Mulheres de origem africana figuravam em relações endogâmicas, poligâmicas ou mesmo relações monogâmicas, onde elas eram o centro dessa estrutura. Muitas ex-escravas, após conseguirem a liberdade, caíam na pobreza, por não dominarem algum ofício, somado ao preconceito por serem mulheres, de cor e ex-escravas. Algumas forras viviam em situação mais degradante do que alguns escravos, como os domésticos. Outras, por sua vez, se inseriam no mercado de trabalho e conseguiam uma ascenção social, acumulando riquezas. Estas moravam sozinhas, adquiriam escravos e desenvolviam atividades econômicas. Há vários relatos de mulheres negras e pardas forras, durante o período colonial, que desfrutavam de um padrão de vida equiparado ao da elite, principalmente em Minas Gerais, onde a ascenção social era mais maleável. Gozavam da liberdade de decidir o futuro de suas vidas, contrastando com a situação de submissão de muitas mulheres brancas, que primeiro viviam sob o jugo dos seus pais, para depois terem que se submeter ao marido, passando a viver praticamente enclausuradas dentro de casa. A figura mais emblemática da ascenção social das mulheres de ascendência africana no Brasil colonial é Chica da Silva, mas muitas outras mulheres forras desconhecidas alcançaram ascenção social semelhante.
Daiane dos Santos
40,8% de ancestralidade européia, 39,7% africana e 19,6% ameríndia de acordo com um estudo de seu DNA
Pesquisas genéticas
Uma recente pesquisa genética, encomendada pela BBC Brasil, analisou a ancestralidade de 120 brasileiros auto-declarados pretos que vivem em São Paulo. Foram analisados o cromossomo Y, herdado do pai, e o DNA mitocondrial, herdado da mãe. Ambos permanecem intactos através de gerações porque não se misturam com outros materiais genéticos provenientes do pai ou da mãe, salvo as raras mutações que podem ocorrer. O DNA mitocondrial de cada pessoa é herdado da sua mãe, e esta o herdou do ancestral materno mais distante (a mãe da mãe da mãe etc). Já o cromossomo Y, presente apenas nos homens, é herdado do pai, e este o herdou do ancestral paterno mais distante (o pai do pai do pai etc).
Miscigenação racial dos brasileiros
Valores arredondados provenientes de duas pesquisas independentes feitas respectivamente com brasileiros pretos e com brasileiros brancos
Lado Origem Negros Porc.(%) Brancos Porc.(%)
Materno
(DNAmt) África subsaariana 85% 29%
Européia 2,5% 38%
Ameríndia 12,5% 33%
Paterno
(Cromossomo Y) África subsaariana 48% 2%
Européia 50% 98%
Ameríndia 1,6% 0%
Esta pesquisa mostrou proporções quase iguais de pessoas com cromossomo Y Provenientes da Europa (50%) e da África subsaariana (48%) no grupo de brasileiros pretos que foi analisado. Com segurança pode-se afirmar que metade (50%) desta amostra de pretos brasileiros são descendentes de pelo menos um europeu homem. Por outro lado, esta pesquisa mostrou que no grupo de brasileiros e brasileiras pretos analisados, cerca de 85% das pessoas tinham DNA mitocondrial originado de uma antepassada da África subsaariana e 12,5% de uma índia.
Se o grupo analisado representa uma boa amostra da população brasileira, pode-se dizer que os brasileiros pretos descendem pelo lado paterno tanto de europeus quanto de africanos subsaarianos, embora pelo lado materno sejam na maior parte descendentes de africanas subsaarianas (85%). Nota-se também que uma parte considerável (12,5%) deste grupo de brasileiros auto-declarados pretos é descendentes pelo lado materno de pelo menos uma ancestral índia.
A mesma pesquisa genética também analisou a ancestralidade de brasileiros pretos famosos. O resultado surpreendeu ao mostrar que pessoas auto-classificadas e consideradas pretas perante a sociedade apresentam alto grau de ancestralidade europeia. Alguns resultados obtidos foram:
* Daiane dos Santos, atleta : 40,8% de genes europeus, 39,7% da África subsaariana e 19,6% ameríndios;
* Neguinho da Beija-Flor, sambista : 67% de genes europeus e 32% da África subsaariana;
* Ildi Silva, atriz : 71,3% de genes europeus, 19,5% de genes da África subsaariana e 9,3% ameríndios;
* Sandra de Sá, cantora : 96,7% de genes da África subsaariana;
* Milton Nascimento, compositor e cantor : 99,3% de genes da África subsaariana.
Outra pesquisa genética sugere que uma quantidade considerável de brasileiros brancos não carregam em si apenas DNA proveniente de povos europeus, tendo também DNA proveniente de índios e africanos, devido a miscigenação. Como esperado, o ancestral não-europeu está mais comumente do lado materno. De acordo com essa pesquisa os brasileiros brancos seriam resultado mais da miscigenação com índias do que com africanas subsaarianas, embora a diferença seja pequena. Os resultados desta pesquisa foram colocados na mesma tabela com a pesquisa genética de brasileiros negros anteriormente mencionada. A mesma pesquisa permitiu comparar o grau de miscigenação dos brasileiros brancos com o de estadunidenses brancos, comprovando-se, como esperado, que os primeiros são mais miscigenados, embora também tenha havido miscigenação entre os segundos.
De acordo com esse mesmos estudo genético, 45% de todos os brasileiros, brancos e pretos, teriam cerca de 90% de genes africanos subsaarianos; e que cerca de 86% possuem 10% ou mais de genes africanos subsaarianos. Mas esse próprio estudo admite que seus limites de confiança são amplos e foram feitos por extrapolação (extrapolação de 173 amostras de Queixadinha, Norte de Minas Gerais, para todo o Brasil: "Obviamente estas estimativas foram feitas por extrapolação de resultados experimentais com amostras relativamente pequenas e, conseqüentemente, têm limites de confiança bastante amplos". Outro estudo genético autossômico, também levado a cabo pelo renomado geneticista brasileiro Sérgio Pena, em 2011, e contando desta vez com aproximadamente 1000 amostras (do Norte, do Nordeste, do Sudeste e do Sul do Brasil), demonstra que os Brasileiros "brancos" na maior parte das regiões brasileiras possuem ancestralidade africana, no geral, em nível inferior a 10%, sendo que os "pardos" brasileiros, no geral, possuem ancestralidade Européia em grau predominante, sendo o componente Europeu o principal na formação da população brasileira, junto com o Africano (em grau menor do que o Europeu, embora significante), e o Indígena (em grau inferior aos componentes Africano e Indígena). Em todas as regiões do Brasil, a ancestralidade Européia responde pela maior parte da ancestralidade da população: "Em todas as regiões estudadas, a ancestralidade Européia foi a predominante, com proporções variando de 60,60% no Nordeste a 77,70% no Sul do país". A ancestralidade Africana encontra-se presente em grau alto em todas as regiões do Brasil. E a Indígena, em grau menor, também encontra-se presente em todas as regiões do Brasil. Os "Negros" possuem significativo grau de ancestralidade Européia e, em menor grau, ancestralidade Indígena.
De acordo com um estudo genético autossômico feito em 2010 pela Universidade Católica de Brasília e publicado no American Journal of Human Biology, a herança genética europeia é a predominante no Brasil, respondendo por volta de 80% do total, sendo que no Sul esse percentual é mais alto e chega a 90%. Esse estudo se refere à população brasileira como um todo: "Um novo retrato das contribuições de cada etnia para o DNA dos brasileiros, obtido com amostras das cinco regiões do país, indica que, em média, ancestrais europeus respondem por quase 80% da herança genética da população. A variação entre regiões é pequena, com a possível exceção do Sul, onde a contribuição europeia chega perto dos 90%. Os resultados, publicados na revista científica "American Journal of Human Biology" por uma equipe da Universidade Católica de Brasília, dão mais peso a resultados anteriores, os quais também mostravam que, no Brasil, indicadores de aparência física como cor da pele, dos olhos e dos cabelos têm relativamente pouca relação com a ascendência de cada pessoa.
Outro estudo genético autossômico recente, de 2009, também indica que a ancestralidade Européia é mais importante, seguida da Africana, e depois da Ameríndia. "Todas as amostras (regiões) encontram-se mais perto dos Europeus do que dos Africanos, do ponto de vista genético.
De acordo com um estudo autossômico realizado em 2008, pela UnB, a população brasileira é formada pelos componentes Europeu, Africano, e Indígena, com as seguintes proporções: 65,90% de contribuição européia, 24,80% de contribuição africana e 9,30% de contribuição indígena.
Outros estudos, vieram a demonstrar a predominância da ancestralidade Européia, na população Brasileira. O que não quer dizer que ela seja Européia, já que a contribuição Africana é imensa, e a Indígena, significativa. O povo Brasileiro é, em verdade, o resultado do encontro de Europeus, Africanos e Indígenas: "A correlação entre cor e ancestralidade genômica é imperfeita: ao nível individual não se pode prever com segurança a cor da pele ou seu nível de ancestralidade Européia, Africana e Ameríndia nem o oposto. Independentemente da sua cor de pele, a grande maior parte dos Brasileiros possui um nível de ancestralidade Européia muito alto. Também, independentemente de sua cor de pele, a maior parte dos Brasileiros possui um grau significativo de ancestralidade Africana. Finalmente, a maior parte dos Brasileiros têm um grau significativo e muito uniforme de ancestralidade Indígena. A alta variabilidade observada em Brancos e Negros sugere que cada Brasileiro possui uma proporção única e singular de ancestralidades Européia, Africana e Indígena. Assim, a única maneira de se lidar com os Brasileiros não é considerando eles como membros de categorias segundo a cor da pele, mas sim em uma base de pessoa para pessoa, como 190 milhões de seres humanos com um genoma e histórias de vida singulares".
No Sudeste
De acordo com um estudo autossômico de 2009, a herança Européia é a dominante no Sudeste, embora a Africana também seja significativa. A composição do Sudeste foi assim encontrada: 60.7% Européia, 32.0% Africana 7.3% Ameríndia.
Um estudo de ancestralidade autôssomica, de 2009, em escola pública objeto da pesquisa, em Nilópolis, Baixada Fluminense: pessoas que se autoidentificaram como "pretas" nesse estudo, em média, acusaram ancestralidade em torno de 52% europeia, africana 41% e ameríndia 4%. Pessoas que se autoidentificaram como pardas revelaram ancestralidade, em média, 80% europeia, 12% africana e 8% ameríndia. Os pardos se achavam quase 1/3 ameríndios, 1/3 africanos e 1/3 europeus, e, no entanto, sua ancestralidade européia foi superior a 80%". Os brancos praticamente não apresentaram grau de miscigenação significativo. A maior parte dos brancos registrou ancestralidade européia superior a 90%, e 1/3 dos pardos também revelou ancestralidade superior a 90%. Os resultados desse importante estudo revelaram que o componente Europeu é muito mais importante do que aquilo que os estudantes pensavam que seria.
Em São Paulo, tanto brancos como negros apresentam grande ancestralidade africana. Um estudo encontrou média de 25% de ancestralidade africana nos "brancos" da cidade de São Paulo (entre 18-31%), e 65% nos "pretos" da mesma cidade (entre 55-76%). Em Campinas, um estudo encontrou ancestralidade 45% africana, 41% europeia e 14% indígena em pessoas com hemoglobina S (mais prevalente em africanos e seus descendentes). Este mesmo estudo revelou que em apenas 53% dos indivíduos a sua ancestralidade africana era visível no fenótipo.
O componente Europeu é o dominante no estado de São Paulo, e responde por 79% da herança genética da população, o restante sendo africano (14%) e indígena (7%), de acordo com um estudo autossômico de 2006.
Em Minas Gerais, os Brancos possuem ancestralidade predominante Européia, no geral, embora 89% dos brancos teriam mais de 10% de ancestralidade africana e 87% dos pretos têm mais de 10% de ancestralidade europeia, além da ancestralidade indígena. Os negros do Quilombo de Marinhos, em Minas, são 81% africanos, enquanto os habitantes do município são 59% africano, 37% europeu e 4% indígena, enquanto que em Belo Horizonte (incluindo pessoas de diversas cores, com maior proporção de brancos) a média da população é 66% europeia, 32% africana e 2% indígena. De acordo com esse estudo, a ancestralidade Européia é também a dominante em Minas Gerais, tendo havido considerável fluxo gênico Europeu para a comunidades quilombola objeto da pesquisa. A dominância da ancestralidade Européia em Minas Gerais foi explicada com base no fato de que a maior dos Africanos era do sexo masculino e com baixa expectativa de vida, tendo pouco sucesso reprodutivo, quanto comparado ao colonizador. Em Queixadinha, no Norte de Minas Gerais, foi encontrado índice de ancestralidade africana bastante próximo entre pessoas classificadas de acordo com seu fenótipo como brancas, pardas ou pretas. A partir, portanto, do seu fenótipo, os indivíduos foram classificados da seguinte forma: 30 pessoas como “pretas” (17,3%), 29 pessoas como “brancas” (16,8%) e 114 pessoas como “pardas” (65,9%). Os brancos de Queixadinha têm 32% de ancestralidade africana, os pardos 44% e os pretos 51%, estando os pardos mais próximos aos pretos do que aos brancos. Até o momento não foram feitos estudos na região mais densamente povoada de Minas Gerais, que é a região do Sul de Minas Gerais e Zona da Mata, onde o componente Europeu é significativamente maior.
No Nordeste
De acordo com um estudo genético autossômico de 2009, a herança Européia é a dominante no Nordeste, respondendo por 66,70% da população, o restante sendo africano (23,30%) e ameríndio (10%). O Nordeste encontra-se, assim, então constituído: 66,70% Europeu, 23,30% Africano e 10% Ameríndio.
De acordo com um estudo genético de 2011, "em todas as regiões estudadas, a ancestralidade Européia foi a predominante, com proporções variando de 60,60% no Nordeste a 77,70% no Sul do país".
Um estudo genético realizado no Recôncavo baiano confirmou o alto grau de ancestralidade africana na região. Foram analisadas pessoas da área urbana dos municípios de Cachoeira e Maragojipe, além de quilombolas da área rural de Cachoeira. A ancestralidade africana foi de 80,4%, a europeia 10,8% e a indígena 8,8%. Em Salvador a ancestralidade predominante é africana (49,2%), seguida pela europeia (36,3%) e indígena (14,5%). O estudo também concluiu que soteropolitanos que possuem sobrenome com conotação religiosa tendem a ter maior grau de ancestralidade africana (54,9%) e a pertencer a classes sociais menos favorecidas.
Nas capitais nordestinas analisadas (assim como no Nordeste em geral) a ancestralidade africana é expressiva em todas elas, embora a Européia seja a principal, na maior parte delas, e na região Nordeste como um todo. Sem especifiar a cor das pessoas analisadas, para a população de Aracaju chegou-se a um índice de 62% de ancestralidade europeia, 34% africana e 4% indígena. No caso de São Luís, a ancestralidade encontrada foi 42% Européia, 39% Ameríndia e 19% Africana. Para a população de Natal, também sem especificar a cor dos pesquisados, a ancestralidade encontrada foi 58% europeia, 25% africana e 8% indígena. Já a ancestralide de migrantes nordestinos que moram em São Paulo é 59% europeia, 30% africana e 11% indígena. Segundo outro estudo, de 1997, para toda a população nordestina, a ancestralidade estimada seria de 51% europeia, 36% africana e 13% indígena.
No Sul
De acordo com um estudo genético autossômico feito em 2010 pela Universidade Católica de Brasília e publicado no American Journal of Human Biology, a herança genética europeia é a predominante no Brasil, respondendo por volta de 80% do total, sendo que no Sul esse percentual é mais alto e chega a 90%. Assim, a ancestralidade Européia é a principal no Sul, e a Africana significativa, assim como a Ameríndia.
De acordo com outro estudo genético autossômico de 2009, a herança Européia é, sim, a dominante no Sul do país, respondendo por 81,50% do total, o restante sendo Ameríndio (9,2%) e Africano (9,3%).
Estudos genéticos realizados no estado do Paraná entre "afrodescendentes" (negros ou mulatos de diferentes tom de pele) mostram que o grau de mistura é muito variável. Os "mulatos claros" ou "mulatos médios" apresentam grau semelhante de ancestralidade africana e europeia (44% europeia, 42% africana e 14% indígena). Por sua vez, os "mulatos escuros" ou "negros" do Paraná são predominantemente africanos, sendo a ancestralidade 72% africana, 15% europeia e 6% indígena. Mesmo entre os "brancos" do Paraná, os índices de ancestralidade africana são expressivos, porém bastante variáveis, indo desde um mínimo de 3% em um estudo, a um máximo de 17% em outro.
No Centro-Oeste
De acordo com estudos autossômicos realizados, a Ancestralidade Africana responde por 21,70% da herança da população no Centro Oeste. A Européia, 66,30%; e a Indígena, 12,00%.
Percepção racial dos brasileiros
Uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2008 analisou a percepção racial dos brasileiros. A pesquisa contou com a participação de 15 mil famílias distribuídas em diferentes estados. Os dados mostraram que apenas 7,8% dos entrevistados afirmaram de forma espontânea que a sua cor ou raça é "negra" ou "preta". Curiosamente, 11,8% dos entrevistados disseram que a origem da sua família é "africana", embora 25,1% reconheceram-se como "afrodescendentes" e 27,8% como "negros" quando essas opções lhes foram apresentadas, denotando uma contradição entre as respostas.
Mais brasileiros reconheceram ter uma ancestralidade europeia (43,5%) ou indígena (21,4%) do que africana (11,8%). É salientável que, após a independência do Brasil, as elites nacionais iniciaram a construção das bases do Estado Nacional. Nesse contexto, o índio, embora tenha sido combatido no passado e ainda o era, foi alçado à condição de "símbolo da nacionalidade brasileira", numa busca da afirmação de uma identidade nacional nova que se formava após a separação de Portugal. A literatura brasileira pós-independência foi marcada por representações exaltadas e épicas do índio, como um símbolo nacionalista. O negro, por sua vez, nunca foi prestigiado, pois sua condição de escravo não era compatível com uma representação épica da nacionalidade brasileira que se tentava construir. O europeu, por sua vez, sempre foi considerado superior ao índio e ao negro. Antes da independência, o colonizador português era o símbolo da "pureza racial". Após a independência, a construção da identidade branca no Brasil passou a abarcar os mestiços e mulatos mais claros que podiam exibir os símbolos da "europeidade": formação cristã e domínio das letras. Assim, no Brasil, quem sofre inteiramente a discriminação e o preconceito são as pessoas que têm a pele realmente escura. Sobre essa população recai todo o tipo de esteriótipo, dos papéis sociais, das oportunidades de emprego e do estilo de vida. A ideia do "embranquecimento" da população, por meio do qual a população negra seria absorvida pela branca, passava pela concordância das pessoas de cor em renegar a sua ancestralidade.
Sobre o grupo "negro", ou seja, pessoas com pele realmente escura, recai todos os tipos de esteriótipos negativos e problemas de integração socio-econômica. No Brasil, o racismo nunca foi institucionalizado, como nos Estados Unidos ou na África do Sul, mas a sociedade brasileira criou mecanismos de exclusão social dos elementos de pele mais escura da sociedade. Florestan Fernandes denominou esse fenômeno de "metamorfose do escravo", no qual os termos "preto" e "negro" eram empregados para classificar a subclasse de brasileiros marcada pela subalternidade. Nesse contexto, a cidadania, pelo menos do ponto de vista formal, era extendida a quem escapasse dessa classe, incluindo aí grande número de mestiços e mulatos que, por terem a pele mais clara, conseguiam se integrar na "classe branca. No Brasil, a população "branca" sempre incluiu grande número de mestiços e mulatos de pele mais clara que, por serem educados e por terem absorvido uma "tradição cristã", nela se integrava. Isso contrastava com os Estados Unidos, onde a "cidadania branca" era exclusiva para pessoas de extirpe exclusivamente europeia. Assim, no Brasil, a cidadania era extendida a pessoas dependendo do seu tom de pele mais claro e do seu grau de instrução, enquanto que aqueles elementos mais escuros da sociedade tinham seus direitos muitas vezes ignorados, não cumpridos e limitados pela pobreza e violência cotidiana.
Segundo um pesquisador do IBGE, muitos brasileiros se autodeclaram como sendo "morenos" para evitar se declarar como negros. Nessa pesquisa, 21,7% dos entrevistados se disseram "morenos" e 13,6% como "pardos", enquanto que 49% disseram ser "brancos", 1,5% "amarelos", enquanto que o resto disse outras denominações, como "brasileiro", "mulato", "mestiço", "claro", "alemão", "italiano", "indígena", entre outras.
Apenas 39,5% dos negros e 31,3% dos pretos afirmaram como sendo "africana" a sua ancestralidade, enquanto que 63,8% dos brancos afirmaram ser de origem "europeia" e 86,7% dos índios apontaram ancestralidade indígena. A identificação dos brasileiros com uma ancestralidade africana é, portanto, bastante débil.
Apenas 5,7% dos brancos, 11% dos morenos, 18,6% dos pardos e 17,1% dos indígenas disseram ter ancestralidade africana. Por outro lado, 21,1% dos morenos, 27,4% dos pardos, 18,1% dos negros, 15,9% dos pretos e 22,8% dos indígenas disseram ter ancestralidade europeia. Na Paraíba, por exemplo, apenas 2,3% das pessoas que se disseram de origem europeia foram classificadas como "brancas". O resto estava em categorias não brancas, como morenos, pardos, negros, pretos, amarelos ou indígenas. Notável que, na Paraíba, toda a população classificada como indígena disse ter ancestralidade europeia.
De acordo com a pesquisa, para definir a sua própria raça, os brasileiros levam em conta a cor da pele (73,8%) e a origem familiar (61,6%), além dos traços físicos (cabelo, boca, nariz), citados por 53,5%. Para 24,9%, também contam a cultura e a tradição na hora de classificar, a origem econômica ou classe social (13,5%) e a opção política e ideológica (2,9%). 96% dos entrevistados disseram que sabem dizer qual é a sua raça, o que derruba o mito de que no Brasil muitas pessoas não enxergam o conceito de raça. A pesquisa também derrubou o mito de que os brasileiros usam dezenas de classificações raciais, pois quase todos os entrevistados usaram apenas sete classificações (branca, preta, parda, amarela, indígena, morena e negra).
Mais da metade dos entrevistados (63,7%) disseram que a cor ou a raça influenciam a vida dos brasileiros. 71% dos entrevistados disseram que a cor ou a raça influenciam no "trabalho". Em segundo lugar aparece a “relação com justiça/polícia”, citada por 68,3% dos entrevistados, seguida por “convívio social” (65%), “escola” (59,3%) e “repartições públicas” (51,3%).
Origem familiar declarada pelo entrevistado
Africana Europeia Indígena Não sabe
11,8% 43,5% 21,4% 31,3%
Autoidentificação da cor ou raça do entrevistado (múltiplas respostas)
Afrodescendente Indígena Negro Branco Preto Pardo
25,1% 21,8% 27,8% 68,4% 17,1% 43,2%
Autodeclaração da cor ou raça do entrevistado
Branca Morena Parda Negra Preta Amarela Indígena Outras
49% 21,7% 13,6% 7,8% 1,4% 1,5% 0,4% 4,6%
Percepção racial dos brasileiros (pesquisa de 2008 do IBGE) Estado Identifica espontaneamente que sua cor/raça é "negra" ou "preta" Considera que sua família é de origem africana Autoidentifica-se como "afrodescendente" quando essa categoria lhe é apresentada Autoidentifica-se como "negro" quando essa categoria lhe é apresentada
Amazonas 5,3% 6,1% 18,1% 23,9%
Paraíba 5% 6,2% 17,9% 24,6%
São Paulo 10,2% 13% 26,3% 29,2%
Rio Grande do Sul 6,6% 9,8% 20,9% 19,2%
Mato Grosso 11,7% 9,9% 30,2% 40,1%
Distrito Federal 11,6% 19,5% 36,8% 37,1%
Total 7,8% 11,8% 25,1% 27,8%
A influência da ideologia do branqueamento
No Brasil, o mestiço, dependendo do tom da sua pele, era classificado como quase-branco, semibranco ou sub-branco, e tinha tratamento diferenciado do negro retinto, porém nunca era classificado como quase-negro, seminegro ou sub-negro. Por isso, a mestiçagem no Brasil sempre foi vista como o "clareamento" da população, e não como o "enegrecimento" dela. A ideologia do branqueamento criou raízes profundas na sociedade brasileira no início do século XX. Muitos negros assimilaram os preconceitos, os valores sociais e morais dos brancos. Por isso, "desenvolveram um terrível preconceito em relação às raízes da negritude". A recusa da herança africana e o isolamento do convívio social com outros negros eram características desses negros "branqueados socialmente". Para se tornarem "brasileiros", os negros tinham que abdicar de sua ancestralidade africana e assumir os valores "positivos" dos brancos, pois o próprio "abrasileiramento" passava por uma assimilação dos valores e modos dos brancos. Nesse contexto, o racismo brasileiro é peculiar pois a própria vítima do racismo assume o papel de seu próprio algoz, ao reproduzir o discurso discriminatório do qual ela mesmo é vítima e ao interiorizar esses conceitos dentro de sua própria comunidade.
Assim, muitos negros brasileiros cultuaram o padrão de beleza branco, associando os traços africanos à fealdade e recorrendo a diversos métodos para "mascarar" suas próprias características físicas, criando uma obsessão nas mulheres negras em alisar o cabelo, estimulando a venda de produtos que prometiam "clarear a pele" e por meio de métodos excêntricos de tentar se branquear, como na crença de que beber muito leite daria esse resultado. Também por meio da assimilação dos valores morais e sociais das classes dominantes, fazendo com que toda a característica cultural que remetesse ao passado africano fosse considerada inferior e motivo de vergonha. Por meio do branqueamento biológico, muitos negros optaram por se casar com parceiros de pele mais clara, preferencialmente brancos. Quando o parceiro era branco e rico, simbolizava uma melhoria dupla: de raça e de classe social. A procura por parceiros de pele mais clara estava enraizada na mentalidade de muitos membros da comunidade negra, inclusive por pais negros que compeliam seus filhos a se casarem com pessoas de tom de pele mais claro, na esperança de que seus filhos e netos se parecessem cada vez menos com a filiação afro-negra. Na mentalidade dessas pessoas, quando o filho nascia mais claro que os pais, simbolizava uma vitória, mas quando nascia mais escuro, uma derrota. Ter um filho de pele mais clara simbolizava que ele teria menos chances de sofrer e mais oportunidades de vencer na vida.
A ideologia do branqueamento no Brasil teve consequências nefastas, a medida que parte da comunidade negra absorveu o branqueamento estético, biológico e social como metas. A historiadora Angela Figueiredo chega mesmo a afirmar que no Brasil "todos nós nascemos embranquecidos", pois há a predominância da cultura "branca", "e só enegrecem ou se tornam negros ao longo dos anos os que optam por incluir em suas vidas os aspectos identificados com a "cultura negra" e se tornam curiosos em conhecer o seu passado".
Muito se comparou os negros americanos com os brasileiros, fazendo uma crítica que a sociedade americana era marcada pelo ódio e segregação racial, enquanto que no Brasil havia uma harmonia e paz entre as raças. Porém, enquanto nos Estados Unidos o racismo estava escancarado e qualquer pessoa com uma gota de sangue africano era excluída socialmente, favorecendo a união desses excluídos que lutavam pelos seus direitos, no Brasil o racismo foi camuflado pela ideologia do branqueamento. Para a pessoa tentar conseguir ascender socialmente ela tinha que passar por um processo de "branqueamento" estético, biológico e social, criando um profundo complexo de inferioridade na população brasileira e uma consequente negação de qualquer elemento que remetesse à sua negritude.
Negros na mídia brasileira
Os afrodescendentes têm pouca visibilidade na mídia brasileira. Na televisão brasileira ainda impera o modelo hegemônico branco, refletindo um anseio por uma euro-norte-americanização do retrato social brasileiro. Apesar da resistência cultural e política de grupos negros, a televisão brasileira ainda não foi capaz de representar os valores, experiências e importância desse grupo formador da população brasileira. A telenovela, importante produto da indústria cultural brasileira, já representou várias classes sociais, mas os centros de suas tramas sempre rodam em torno de uma classe média branca e suas relações com os ricos. A "classe média da Zona Sul" é retratada nas novelas brasileiras de forma destacada e glamourizada, e os personagens negros são retratados a partir da visão dos brancos. Os personagens negros aparecem como "empregados fiéis e anjos da guarda dos protagonistas e personagens mais relevantes do horário nobre". Mesmo a classe média negra, quando retratada nas novelas, aparece de forma tão normal e assimilada, sem ligação com a cultura afro-brasileira, que poderia ser interpretada por atores brancos.
O Brasil produz telenovelas desde a década de 1960, porém só em 1996 é que uma atriz negra, Taís Araújo, se tornou protagonista, em Xica da Silva. Sobre os títulos de ter sido a primeira atriz negra a se destacar em diversas áreas da televisão, Taís Araújo declarou que dispensaria esses títulos pois "mostram o preconceito e o atraso existentes no meu país". Indagada sobre o porquê de haver tão poucos negros na televisão brasileira, a atriz declarou: "Porque vivemos num país recheado de preconceito. Existem muitos atores negros no mercado, bons profissionais e muito bem preparados para enfrentar qualquer personagem". Reflexo nítido disso aconteceu em 1970, na adaptação do livro americano Uncle Tom's Cabin para a televisão feita pela Rede Globo. Quem foi escalado para fazer o papel do Tio Tomás, que no livro era um personagem negro, foi o ator branco Sérgio Cardoso. Para parecer negro, Cardoso teve que pintar-se de preto durante toda a novela. Também na novela Gabriela, uma adaptação do livro Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado, quem foi escalada para fazer o papel principal foi Sonia Braga, embora no romance original a personagem fosse negra. Numa outra adaptação do livro de Jorge Amado, na novela Porto dos Milagres, de 2001, praticamente todos os atores eram brancos, embora no livro original a história se passasse na Bahia e o próprio autor descrevia que os personagens fossem em sua maioria negros. No Brasil, os personagens negros são frequentemente esteriotipados, normalmente em papéis submissos, de empregada doméstica, motorista, serviçal, guarda-costas ou favelado. As negras normalmente são retratadas como mulheres com grande apetite sexual e exarcebada sensualidade. Os homens negros, por sua vez, esteriotipados como malandros e criminosos.
Embora desde a década de 1970 os movimentos negros no Brasil lutem por uma maior representação de afrodescendentes na mídia, a televisão brasileira ainda segue o padrão do "branqueamento" e, apesar dos avanços, em muitas novelas os personagens negros são simplesmente ignorados. Com exceção de produções com temática escravagista, das 98 telenovelas produzidas pela Rede Globo na década de 1980 e de 1990, em 28 delas simplesmente não havia sequer um personagem negro. Em apenas 28% delas mais de 10% dos atores eram negros, em um país onde pelo menos 50% da população é formada por descendentes de africanos. A telenovela, ao não refletir a real composição étnica da população brasileira, concilia-se com a negação da diversidade racial do Brasil. Atores morenos ou mestiços também não são destacados. Telenovelas com uma temática que dê destaque à cultura ou às experiências específicas dos afro-brasileiros raramente são retratadas no horário nobre, ficando restritas a algumas minisséries.
No meio publicitário brasileiro a situação não é diferente. Há negros em apenas 3% dos comerciais de televisão. Na década de 1980, movimentos negros e publicitários renomados se reuniram para analisar a falta de negros na publicidade brasileira. Chegou-se à conclusão que o negro era ignorado pois a propaganda pretendia retratar um modelo de família da classe média brasileira, onde a presença negra seria escassa. Ademais, o negro não seria consumidor, os clientes não estariam aceitando a inclusão do negro em seu produto e, por fim, a publicidade seria um reflexo de uma sociedade preconceituosa. O cineasta mineiro Joel Zito Araújo, que fez um amplo trabalho sobre a representação do negro na mídia brasileira, afirmou: "na lógica dessa maioria, preto é igual a pobre, que é igual a consumo de subsistência". Como muitos brasileiros ainda vivem sob a égide do mito da democracia racial, muitos publicitários e produtores simplesmente acreditam que a questão racial não é importante, o que ilimina a preocupação em retratar a diversidade racial do Brasil.
Porém, nos últimos anos, a publicidade brasileira têm percebido que muitos negros vêm ascendendo socialmente, transformando-se em potenciais consumidores. Dos brasileiros que ganham mais de vinte salários mínimos, 28% são negros. Somado a isso, há anos há pressão de grupos e de políticos negros para que haja uma maior representação dessa parcela da população. Assim, de forma paulatina a visibilidade do negro na publicidade vem aumentando. Porém, em muitos casos, os publicitários escalam para as suas propagandas um único negro, rodeado de brancos, seguindo a linha do politicamente correto.
A "branquidade normativa", ou seja, os brancos tidos como o padrão a ser seguido, não é algo exclusivo dos meios de comunicação do Brasil, sendo também uma constante em diversos países da América Latina. Nesses países, negros, índios e mestiços, sobretudo, são desvalorizados. Na mídia latino-americana, ter um fenótipo branco e, preferencialmente, o nórdico, é associado com valores positivos, como inteligência, habilidade, educação, beleza, honradez e amabilidade. São países que vivem uma dualidade pois, apesar de haver uma promoção oficial da miscigenação e um orgulho em um contexto internacional, o padrão branco é aquele tido como normal, e os outros grupos são excluídos ou esteriotipados.
Negros nos livros didáticos
Nos livros didáticos brasileiros, há uma invisibilidade dos negros e uma disparidade em relação à representação de brancos. Em uma pesquisa, nos textos não verbais analisados, em apenas 11% há representação de negros, embora mais de 40% da população brasileira se defina como preta ou parda. A representação dos negros nos livros escolares acontece com uma ênfase no lado pejorativo e degradante dessas pessoas. Em mais de 72% das representações nos livros, o negro está exposto sob uma perspectiva negativa e em somente 30% de forma positiva. No meio escolar brasileiro, a representação dos negros no livro didático está normalmente associada com o que há de pior, com a deliquência, as drogas, a escravidão, a miséria, o lixo. Frequentemente fazem referências à cor do personagem de forma negativa. A maioria dos professores entrevistados dizem não perceber essa representação negativa do negro ou não dá a devida importância ao tema, muitas vezes delegando o preconceito ao próprio aluno negro. Para a maioria dos professores, o racismo existente na sociedade não adentra o meio escolar. A ótica dos alunos, por outro lado, se mostrou mais aguçada quanto à percepção dessa discriminação. A maioria dos estudantes relataram que percebem que nos livros didáticos há uma maior representação do grupo branco do que do negro, apenas 11,11% disseram que tanto brancos quanto negros são representados de forma igual. Porém uma minoria entende isso como uma manifestação de racismo. Os alunos, ao terem contato com o livro, associam os personagens ali contidos com os colegas de classe. Como a maioria dos negros são retratados de forma pejorativa no livro didático, os colegas negros passam a ser estigmatizados e ridicularizados, gerando sérios reflexos na sua formação.
A educadora Andreia Lisboa de Sousa, ao analisar a representação do negro na literatura infanto-juvenil, chegou à conclusão de que a representação negativa e degradante do negro leva a uma extrema baixa autoestima dos alunos negros: "Os instrumentos legitimadores como família, escola e mídias tendem a desqualificar os atributos do segmento étnico-racial negro", afirmou ela.
Municípios brasileiros com maior população afro-descendente
Segundo dados do recenseamento de 2000, feito pelo IBGE, dos dez municípios brasileiros com maior população preta, cinco estavam em Tocantins e três no Piauí. Mato Grosso e Bahia tiveram um município representado cada.
* 1) Riacho Frio (PI) – 61,71%
* 2) Pugmil (TO) – 41,35%
* 3) Silvanópolis (TO) – 41,25%
* 4) Pedrão (BA) – 39,42%
* 5) São Valério da Natividade (TO) – 36,17%
* 6) Vera Mendes (PI) – 35,92%
* 7) Nossa Senhora do Livramento (MT) – 35,67%
* 8) São Félix do Tocantins (TO) – 35,41%
* 9) Santa Rosa do Tocantins (TO) – 33,35%
* 10) Arraial (PI) – 32,86%
Influências na cultura brasileira
Ver artigo principal: Cultura afro-brasileira
Brasileiros pretos famosos
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Referências
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* RODRIGUES, Nina. Os Africanos no Brasil. 6.ed. São Paulo: Ed.Nacional; [Brasília]: Ed. Universidade de Brasília, 1982
Ver também
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Ligações externas
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