VIDA E OBRA DE PADRE MANUEL DA NÓBREGA


Manuel da Nóbrega
Jesuíta portuguẽs

18/10/1517, ? - Portugal
18/10/1570, Rio de Janeiro (RJ)

Acredita-se que, padre Manuel da Nóbrega tenha nascido na região do Minho, no norte de Portugal. Estudou na Universidade de Salamanca, Espanha, entre 1534 e 1538. Acabou transferindo-se para Coimbra, onde, em 1539, obteve o título de bacharel em direito canônico. Em 1544, entrou para a Companhia de Jesus, recém-fundada por Inácio de Loyola.

Cinco anos depois, foi designado pelo provincial dos jesuítas de Portugal para acompanhar Tomé de Sousa ao Brasil. Desenvolveu um intenso trabalho missionário, do qual resultou, em 1554, a fundação do colégio do planalto de Piratininga, que foi o núcleo de onde se desenvolveu a cidade de São Paulo. Em colaboração com Anchieta, conseguiu pacificar os tamoios em 1563.

Com a fundação da cidade do Rio de Janeiro, no mesmo ano, tornou-se superior do colégio jesuíta aí estabelecido. Nóbrega escreveu cartas, que são um relato detalhado da vida cotidiana na América portuguesa. A primeira carta é do início de abril de 1549. Escrita aproximadamente duas semanas após ter chegado a Salvador, traz observações sobre a moral dos habitantes da Bahia.

Logo os jesuítas iniciaram o trabalho de evangelização dos índios. Começaram com as crianças, aprendendo com eles a língua da terra. Aos adultos, pregavam contra a poligamia e a antropofagia. Para facilitar este trabalho buscaram principalmente a ajuda dos brancos, que viviam na Bahia antes da chegada de Tomé de Sousa. O primeiro é o célebre Diogo Álvares Correia, o Caramuru.

A preocupação com a nudez dos indígenas, levou Nóbrega a ensaiar os primeiros passos da especificidade do cristianismo brasileiro: o que dirão "os Irmãos de Coimbra, se souberem que por falta de algumas ceroulas deixa uma alma de ser cristã e conhecer a seu Criador e Senhor e dar-lhe glória?".

Para Nóbrega o problema não era a nudez dos indígenas: "Somente temo o mau exemplo que o nosso Cristianismo lhe dá, porque há homens que, há sete e dez anos, que se não confessam e parece-me que põem a felicidade em ter muitas mulheres".

Entre os escritos de Nóbrega destaca-se o "Diálogo sobre a Conversão do Gentio", escrito entre os anos 1556-1557, quando ele estava vivendo na aldeia São Paulo, próximo a Salvador. Como provincial dos jesuítas no Brasil, Nóbrega fez diversas solicitações ao 2º governador-geral Duarte da Costa para que proibisse os índios de comer carne humana e os reunisse em aldeias sob o controle da Coroa.

Foi nesse momento de profunda irritação com a inércia administrativa do governador Duarte da Costa, que não atendeu prontamente aos pedidos dos jesuítas - diversamente de Tomé de Sousa e, futuramente, de Mem de Sá -, que Nóbrega escreveu o "Diálogo".

Estava seriamente doente nessa época: em carta ao provincial de Portugal, escreveu que "a mim me devem já ter morto, porque no presente fico deitando muito sangue pela boca. O médico de cá ora diz que é veia quebrada, ora que pode ser da cabeça. Seja de onde for, eu o que mais sinto é ver-me a febre ir gastando pouco a pouco".

O crítico literário Alfredo Bosi lembra que o "Diálogo" é "um documento notável pelo equílibrio com que o sensato jesuíta apresentava os aspectos 'negativos' e positivos' do índio, do ponto de vista da sua abertura à conversão".


PADRE MANUEL DA NÓBREGA

O Padre Manuel da Nóbrega, nasceu em Portugal, em Sanfins do Douro a 18 de Outubro de 1517 e morreu no Rio de Janeiro a 18 de Outubro de 1570. Foi um sacerdote jesuíta português, chefe da primeira missão jesuítica à América do Sul. As cartas enviadas a seus superiores são documentos históricos sobre o Brasil colónia e a ação jesuítica no século XVI.

No livro da matrícula da Universidade de Coimbra, fl. 135, Nóbrega descreve ser filho do desembargador Balthazar da Nóbrega, já falecido. Seu pai foi muito estimado d'El-rei, D. João o Terceiro. Por ser homem de muita inteireza, El-rei lhe recomendava assuntos importantes. Em Coimbra, Nóbrega se graduou como Bacharel, mesmo sendo muito gago. Continuou seus estudos em Coimbra e tomou ordens de missa. Naquela época se lançavam os alicerces da Companhia de Jesus em Coimbra, havendo grandes fervores de espírito em todos pela salvação das almas. No tempo em que o Padre Nóbrega estava em missão na província da Beira, determinou El-rei D. João com os Superiores da Companhia, mandar padres ao Brasil para ajudar aos portugueses como para converter à nossa fé aos Brasis. Thomé de Souza, de partida para o Brasil, leva então Nóbrega consigo, além de alguns outros padres e Irmãos. Ele aporta na Bahia em 1549: "Chegamos a esta Bahia a 29 dias do mês de março de 1549. Andamos na viagem oito semanas. Achamos a terra de paz e 40 ou 50 moradores na povoação que antes era".

Em 1544, recebeu ordens na Companhia de Jesus. Antes de partir para a América e dedicar-se ao apostolado dos índios, fez a peregrinação a Santiago de Compostela. Em 1549 embarcou na armada de Tomé de Sousa, de quem foi amigo e conselheiro, como também o foi de Mem de Sá, prestando a ambos e à coroa portuguesa grande ajuda na colonização do Brasil.
Colaborou na fundação de Salvador e do Rio de Janeiro e também na luta contra os franceses. Convenceu os portugueses a não permanecer apenas no litoral, mas vencer os obstáculos da serra do Mar e penetrar no sertão. Foi o primeiro a dar o exemplo, ao subir ao planalto de Piratininga, para fundar a cidade de São Paulo. “Nomeado primeiro Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, Padre Manuel da Nóbrega resolve subir ao planalto. Chama o Padre Manoel de Paiva, primo de João Ramalho, o irmão António Rodrigues e chegam a Santo André da Borda do Campo, a primeira vila do altiplano. Em companhia do filho mais velho de Ramalho, André Ramalho, percorrem o vale do Tietê.

Nóbrega escolhe o alto da colina, entre o Anhangabaú e o Tamanduateí e, ali, a seu pedido, os índios de Tibiriçá levantam a casa de pau-a-pique coberta de folhas de palmeira, para servir de escola e abrigo dos jesuítas e, a 29 de Agosto de 1553, Padre Nóbrega celebra missa nesse local, hoje Pátio do Colégio e faz cinquenta catecúmenos.

Padre Manoel de Paiva, designado por Nóbrega, celebra a 25 de Janeiro a missa padroeira da inauguração do colégio. Serve-lhe coroinha, o Irmão José de Anchieta, indicado por Nóbrega, para seu secretário e primeiro professor de latim do colégio. Assim, Padre Manuel da Nóbrega funda o Colégio de Piratininga no dia de São Paulo, que deu o nome à povoação, à vila, à província, ao Estado”. Em constantes viagens por toda a costa, de São Vicente a Pernambuco, soube aliar ao dinamismo um profundo tino político.

Em 1559, é demitido do cargo de provincial no Brasil, sendo substituído pelo padre Luís da Graça. Mesmo assim, auxilia o governador Mem de Sá na expulsão dos franceses do Rio de Janeiro. Ainda nesse ano escreve Informações das Terras do Brasil, Cartas da Bahia e de Pernambuco, publicadas em Veneza entre 1559 a 1570.
Em 1570, é nomeado novamente para o cargo de provincial, mas morre no Rio de Janeiro antes de assumir o antigo posto.
Escreveu Diálogos sobre a conversão do gentio, primeira obra em prosa da literatura brasileira, reeditada em 1954 por Serafim Leite, e Cartas do Brasil (1549-1570), reunidas por Vale Cabral (1886) e depois anotadas por Afrânio Peixoto em edição promovida pela Academia Brasileira de Letras (1931). Seus escritos foram posteriormente reunidos nas Obras completas, publicadas em Coimbra em 1955. Manuel da Nóbrega morreu no Rio de Janeiro, em 18 de Outubro de 1570.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Os escritos do Padre Manuel da Nóbrega foram obra literária produzida no Brasil. Nas cartas, encontra-se o início da história do povo brasileiro, do ponto de vista de um catequizador. Contribuição ao estudo dos costumes da sociedade tupinambá, já em sua primeira carta do Brasil, ao padre Simão Rodrigues, provincial em Portugal, se nota a postura dos jesuítas a respeito da conversão do gentio e a tentativa de eliminar alguns hábitos, como o canibalismo.
"Diz, que quer ser cristão é não comer carne humana, nem ter mais de uma mulher e outras coisas.
Os desta Terra, andam sempre em guerra uns contra os outros e assim andam todos em discórdia. Comem-se uns aos outros, digo os contrários. É gente que nenhum conhecimento tem de Deus!

somente que há de ir à guerra e os que cativar vendê-los e servir-se deles, porque estes desta terra
sempre tem guerra com outros e assim andam todos em discórdia. Comem-se uns aos outros, digo os
contrários. É gente que nenhum conhecimento tem de Deus, nem ídolos, fazem tudo quanto lhe dizem."
Nesta luta entre cristãos e índios, os primeiros consideravam os segundos como um papel branco onde podiam inscrever as virtudes mais necessárias.
Ainda que Nóbrega não tenha alto voo lírico, estima-se que seu "Diálogo sobre a conversão do gentio", primeiro texto em prosa escrito no Brasil, tenha grande valor literário. O Padre Serafim Leite chega a afirmar ser a principal obra em prosa no século XVI no Brasil.
Frei Odúlio Van der Vat, em sua obra Princípios da Igreja no Brasil, diz na página 239:
"Quando em 1549 desembarcaram em Porto Seguro os primeiros jesuítas, encontraram a terra toda revirada por muitas inimizades. Graças, porém, à sua intervenção, muitos se reconciliaram publicamente com a igreja. O Padre Nóbrega continuou ali por alguns meses, dedicando-se às obras do apostolado e da caridade. Visitando os povos vizinhos desta terra, diz o Jesuíta, confessei a muitos e grande fruto se fez, porque muitos deixaram os pecados e tomaram por mulheres as concubinas ou as abandonaram, posto que entre estes se vêem muitos cristãos que estão aqui no Brasil, os quais têm não só uma concubina, mas muitas em casa, fazendo baptizar muitas escravas sob o pretexto do bom zelo e para se amancebar com elas, cuidado que por isso não seja pecado. E de par com estes estão muitos religiosos, que caem no mesmo erro, de modo que podemos dizer Omnes commixti sunt inter gentes et didicerunt opera eorum. Nesta terra , todos, ou a maior parte dos homens, têm a consciência pesada por causa dos escravos que possuem contra a razão, além de que muitos que eram resgatados aos pais não se isentam, mas ao contrário ficam escravos pela astúcia que empregam com eles, e por isso poucos há que possam ser absolvidos, não querendo abster-se de tal pecado nem de vender um a outro, posto que nisto muito os repreendo, dizendo que o pai não pode vender o filho, salvo em extrema necessidade, como permitem as leis imperiais. E nesta opinião tenho contra mim o povo e também os confessores daqui. E assim Satanás tem de todo presas as almas desta maneira, e muito difícil é tirar este abuso, porque os homens que aqui vêm não acham outro modo senão viver do trabalho dos escravos, que pescam e vão buscar-lhes o alimento; tanto os domina a preguiça e são dados a coisas sensuais e ócios diversos, e nem curam de estar excomungados, possuindo os ditos escravos. Pois que nenhum escrúpulo fazem os sacerdotes daqui, o melhor remédio destas coisas seria que o Rei mandasse inquisidores ou comissários para fazer libertar os escravos, ao menos os que são salteados, e obrigá-los a ficar com os cristãos até que larguem os maus costumes do gentio já baptizado, e que a nossa Companhia houvesse deles cuidado; amestrando-os na fé, da qual pouco ou nada podem aprender em casa dos senhores, e antes vivem como gentios, sem conhecimento algum de Deus."

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal






Biografia do Padre Manuel da Nóbrega
Fonte: Instituto Camões

Filho do desembargador Baltasar da Nóbrega, estudou humanidades no Porto e frequentou como bolseiro régio as faculdades de Cânones de Salamanca e Coimbra, onde obteve o grau de bacharel em 1541. Entrou na Companhia de Jesus, já sacerdote, em 1544, tendo efectuado missões pastorais na Beira e no Minho.

A pedido de D. João III, integrando a armada de Tomé de Sousa, chefiou o primeiro grupo de inacianos destinados ao Brasil, onde chegou em 1549.

Defendeu a liberdade dos índios; favoreceu os aldeamentos, em estreita colaboração com o governador; cultivou a música como auxiliar da evangelização; promoveu o ensino primário através das escolas de ler e escrever e fundou pessoalmente os colégios de Salvador, de Pernambuco, de São Paulo, origem da futura cidade, e do Rio de Janeiro, onde exerceu o cargo de reitor. Ajudou a expulsar os estrangeiros da baía da Guanabara, contribuindo para o robustecimento do poder central e para a unificação política do território.

O seu pensamento encontra-se expresso nas Cartas, nos Apontamentos e sobretudo no Diálogo sobre a Conversão do Gentio.

Faleceu no Rio de Janeiro, em 1570, no dia em que completava 53 anos de idade.
Seus restos mortais repousam numa cripta na Catedral da Sé em São Paulo.


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