março 11, 2015 23:19
por Igor Fuser (*)
Uma simples menção a Hugo Chávez ou ao MST, em separado, já é suficiente para fazer os porta-vozes da mídia conservadora espumarem de ódio. Quando aparecem juntos, a raiva se junta ao medo diante do que representa a força social simbolicamente expressa por esses dois nomes, o de um homem e o de uma organização de trabalhadores.
Nesta semana, ambos se tornaram o alvo de uma peça especialmente repulsiva do pseudo-jornalismo que se pratica numa revista outrora respeitada, hoje um decadente panfleto de extrema-direita, sem prestígio nem credibilidade, editado às margens sujas do rio Pinheiros em São Paulo.
Hugo Chávez, o estadista que teve sua memória achincalhada em artigo publicado por Augusto Nunes em seu blog no espaço virtual da Veja, governou a Venezuela – democraticamente – durante quatorze anos, de 1999 a 2013. Seus compatriotas o escolheram para o cargo de presidente quatro vezes seguidas, sempre por ampla maioria de votos, em eleições livres e limpas, certificadas por centenas de observadores internacionais, entre eles o ex-presidente estadunidense Jimmy Carter.
Durante o período em que Chávez governou a Venezuela, os índices de pobreza se reduziram à metade, o analfabetismo foi erradicado, milhões de moradores dos bairros pobres e das zonas rurais tiveram acesso, pela primeira vez, a um atendimento médico digno, aos cuidados de um dentista. O petróleo, explorado durante um século em proveito exclusivo do capital estrangeiro e da elite nativa, passou finalmente a beneficiar seu verdadeiro dono, o povo. Alimentos e outros produtos essenciais são fornecidos à população pela metade do preço de mercado, subsidiados com a renda petroleira. Hoje a Venezuela é o país do mundo com maior proporção de jovens na universidade, e o primeiro a cumprir as Metas do Milênio estabelecidas pela ONU como referência de bem-estar social.
Já o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, o MST, é a maior organização camponesa do mundo. Fundado há 35 anos, expressa a continuidade da luta secular no campo brasileiro pela “terra aos que nela trabalham”. Centenas de seus militantes foram assassinados por pistoleiros a soldo do latifúndio, ou agronegócio, como é chamado pela imprensa. Graças à luta heróica dos sem-terra, mais de 1 milhão de famílias brasileiras vivem atualmente em assentamentos da reforma agrária.
Mas o alcance do MST vai muito além da batalha pela terra. Em seu esforço de educação popular, o movimento construiu 1.500 escolas nos locais onde seus militantes acamparam ou se instalaram, educou 160 mil crianças e adolescentes e formou mais de 4 mil professores. Hoje conta com médicos, educadores, advogados e agrônomos nascidos em acampamentos ou assentamentos, e que tiveram acesso ao ensino superior por meio de convênios com instituições da rede pública. A agenda do MST também incorpora outras bandeiras justas, com destaque para a defesa de uma alimentação saudável, sem transgênicos nem agrotóxicos, para todos os brasileiros.
Informações básicas como essas, expostas nos parágrafos acima, deveriam ser suficientes para que qualquer pessoa decente adotasse, ao escrever sobre Hugo Chávez ou sobre o MST, uma atitude de respeito, independentemente de suas preferências ideológicas. Mas não.
O preconceito, a mentira, o cinismo e a mais cascuda ignorância são os traços que definem o tal post na revista da Marginal. Nunes expressou, aí, o quanto um pequeno e despretensioso vídeo, de apenas 16 minutos, produzido por comunicadores de movimentos sociais em homenagem a Chávez por ocasião do segundo aniversário do seu falecimento, foi capaz de desagradá-lo. Ao ofender tudo e todos os que viu diante de si, o autor ignorou, ou fingiu ignorar, que Rafael Correa é o presidente mais popular em toda a história do Equador, que João Pedro Stédile foi recebido recentemente pelo papa Francisco no Vaticano, com todas as honras, como representante – de quem mesmo? — do MST (clique aqui para saber mais sobre as ameaças de morte da extrema-direita a Stédile)
O escriba, pago pelos donos da revista da marginal, deveria se olhar no espelho antes de vomitar infâmias contra homens e mulheres de coragem, que não hesitaram em colocar seu talento e sua vida a serviço de um ideal coletivo de emancipação social. Enquanto Chávez, Maduro, Lula, Correa, Lugo e Stédile arriscavam a pele na luta contra tiranos e oligarcas, ele, o articulista que enche a boca para falar no “estado democrático de direito”, bajulava o ditador chileno Augusto Pinochet nas páginas de O Estado de S. Paulo, promovia demissões em massa no Zero Hora e provocava o riso dos colegas ao publicar na revista Época um inesquecível necrológio de Jorge Amado quando o escritor ainda estava vivo. Isso, para dar apenas uma noção de quem é esse jornalista de longa carreira, e dado a momentos de euforia inexplicável.
Os ataques destemperados contra governos, entidades e personagens que têm em comum o compromisso com o povo refletem, na realidade, um sentimento de pânico entre os magnatas da mídia brasileira – os patrões de Nunes. Só o pânico diante da organização política dos desprivilegiados e do avanço dos governos progressistas pode explicar, por exemplo, o que levou o herdeiro do clã dos Mesquita a sair do conforto do seu gabinete no Estadão para se fazer fotografar, num comício da campanha de Aécio Neves, segurando um cartaz onde se lia: “Foda-se a Venezuela”.
No caso de Nunes, um “democrata” que seleciona os entrevistadores do programa “Roda Viva” na TV Cultura (sim, ele trabalha, também, numa emissora mantida com dinheiro público) pelo critério da adesão às suas próprias idéias reacionárias, não é difícil detectar de onde provem o medo que se esconde por trás das piadinhas de mau gosto e das injúrias furibundas. Ele mesmo, numa sucessão de atos falhos freudianos, expõe à luz do dia os demônios que o apavoram.
O motivo de tanto temor, explicitado no seu texto, é a democracia participativa da Venezuela, o legado histórico de Chávez, as evidentes semelhanças entre o Brasil e a pátria de Bolívar, “a luta continental contra o inimigo comum”. Os “cucarachas”, como o escriba se refere a nós, latino-americanos que assumimos nossa identidade cultural, assustam a burguesia, isso é um fato.
Para finalizar, faço questão de ressaltar aqui, por uma questão de justiça, um único elemento positivo nesse post tão fétido quanto as margens do rio onde se situa a empresa que o publicou. Graças ao blog de Nunes, tomei conhecimento da existência desse interessante vídeo intitulado “Chávez vive no coração do Brasil” – uma justa e singela homenagem de lutadores do povo brasileiro ao maior líder da América Latina neste início de século 21.
Você pode conferir no link: https://www.youtube.com/watch?v=r4h52fwUemM
Se o vídeo incomodou tanto, é porque alcançou seu objetivo.
(*) Igor Fuser, doutor em Ciência Política pela USP, é professor no curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC. Foi coordenador do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero. Como jornalista, trabalhou no jornal Folha de S. Paulo e nas revistas Veja, Exame e Época, entre outras publicações. Participa atualmente do conselho editorial do “Le Monde Diplomatique Brasil” e do “Brasil de Fato”.
OBS. Embora a doutrina deste blog não seja de direita, centro ou esquerda, pois até hoje nenhuma destas doutrinas se identificou com as querências do povo brasileiro em termos culturais, sentimentais e mateiais, concordo com o comentário acima de Igor Fuser, mesmo levando-se em conta a neutralidade de nosso blog em relação a qualquer doutrina político/partidária. Nosso blog, busca, acima de tudo, é trazer para nosso povo o
conhecimento de suas raízes e consequentemente a melhoria de seu padrão de
vida o que até hoje nem direita nem centro, nem esquerda e nem a cúpula desta comunidade lusófila sempre tão perdida em almoços de confraternização e vaidades pessoais, tentou fazer.
Nosso Blog acredita, mais que nos partidos políticos ou cúpula das comunidades lusófonas, nessa missão difícil mas possível. Só o povo luso-brasileiro, "assumido," poderá libertar o Brasil e Portugal dessa direita liberal e unida e dessa esquerda estatizante e desunida. Para isso nosso blog, busca, acima de tudo, é trazer para nosso povo o conhecimento de suas raízes e consequentemente a melhoria de seu padrão de vida! Nossa cultura lusófila é maravilhosa, mas nem brasileiros nem portugueses a conhecem! Claro que houve certos erros e certas injustiças na construção de seus alicerces! E foram muitos! Mas, no total, o saldo foi positivo!!! Está aí um país que transformou mais de mil dialetos numa só língua, terríveis guerras tribais numa única e pacífica família, que tão bem recebe todas as outras minorias, que fogem das guerras em seus países!
Nosso Blog acredita, mais que nos partidos políticos ou cúpula das comunidades lusófonas, nessa missão difícil mas possível. Só o povo luso-brasileiro, "assumido," poderá libertar o Brasil e Portugal dessa direita liberal e unida e dessa esquerda estatizante e desunida. Para isso nosso blog, busca, acima de tudo, é trazer para nosso povo o conhecimento de suas raízes e consequentemente a melhoria de seu padrão de vida! Nossa cultura lusófila é maravilhosa, mas nem brasileiros nem portugueses a conhecem! Claro que houve certos erros e certas injustiças na construção de seus alicerces! E foram muitos! Mas, no total, o saldo foi positivo!!! Está aí um país que transformou mais de mil dialetos numa só língua, terríveis guerras tribais numa única e pacífica família, que tão bem recebe todas as outras minorias, que fogem das guerras em seus países!
Então sr. Igor, o que preocupa o povo brasileiro em geral, é este radicalismo da direita, mas também a incompetência de certa esquerda, que, uma vez no poder, também não cumpre as suas promessas de campanha!
Vemos aí essa Globo e a mídia em geral em mãos de estrangeiros, massificando e domesticando a mente de nossas famílias, destruindo-as com programas da mais baixa qualidade moral e cultural e os nossos governos de esquerda com tantos canais à sua disposição nada fazendo para reverter esta calamidade! Até os canais atuais do governo participam desta lixo-cultura, quando poderiam criar programas populares, que através de incentivos, prémios, etc., etc., poderiam atrair a atenção do povo em geral!
Enfim, concordo com seu comentário, mas com um povo tão despolitizado como é o povo luso-brasileiro daqui e de além-mar, por enquanto ainda está distante a nossa libertação dessa opressão imperialista como sempre comandada pela anglofonia!!!
Era preciso que este governo, endurece-se mais com estes illuminatis que há mais de 250 anos exploram este país!
Com o restante da nossa América espanhola não é diferente e a própria esquerda, que tanto enfatiza a obra de Simão Bolívar, O'Higgins e outros "libertadores" da América espanhola, deixa de enfatizar, que estes heróis também foram influenciados pelo evento da revolução industrial na Inglaterra em meados do século XVIII, cujo interesse maior era acabar com a mão de obra escrava para melhor poder vender suas ferramentas agrícolas e não com o sofrimento dos escravos propriamente dito.
Por isso é que afirmo, com toda a certeza, que, o Brasil português e a América espanhola, só serão definitivamente livres, quando assumirem suas respectivas identidades. Direita e esquerda, a meu ver, ainda são uma enorme serpente com cabeça em Washington e rabo em Moscou, respectivamente, que impedem a nossa verdadeira independência...
Nossa verdadeira Independẽncia só virá mesmo quando os heróis de nossas crianças forem um padre Nóbrega, um padre Anchieta, um Araribóia, um Mem de Sá, um Estácio de Sá, um Tomé de Sousa, um Henrique Dias, etc., etc.
Que belo exemplo o de Felipe Camarão, que bem poderia servir para um tema de novela no horário nobre, não somente para mostrar a nossas crianças a moral e o exemplo desses heróis, mas principalmente para servir de exemplo a esse congresso de direita e desnacionalizante, que não deixa o Brasil crescer! "Respondo às promessas de corrupção de vossos papéis com a moral da pólvora de meu canhão". Esta foi a reposta de Felipe Camarão às tentativas de corrupção dos holandeses em Pernambuco para que passasse para o lado destes, pois teria todas as regalias que quisesse!
Este é um dos episódios da nossa História-Comum que a direita, o centro e a cúpula da comunidade luso-brasileira sempre nos esconderam! E a esquerda também nunca se preocupou em nos mostrar!
JPL
Governo é o maior financiador das multinacionais do carro no Brasil
PEDRO KUTNEY
Especial para UOL Carros
Especial para UOL Carros
- Folhapress
O que as corporações envolvidas não gostam de comentar é que o maior volume, com raríssimas exceções, virá de fontes públicas, seja por meio de financiamentos de bancos públicos, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ou pela oferta de generosos incentivos orçamentários e tributários, dos governos estaduais e federal.
Basicamente, isso quer dizer que o Brasil está pagando para que essa indústria cresça aqui. Portanto, a discussão passa, ou deveria passar, sobre quanto incentivo deve ser concedido para que essas empresas façam investimentos no país. É nesse ponto que surge o problema da falta de transparência com o uso de dinheiro público (ou seja, de todos nós) para financiar empreendimentos privados.
As empresas são verdadeiras caixas-pretas protegidas em boa medida pelo próprio governo, que faz grande alarde sobre instalação de fábricas, com direito a recepções de executivos por presidentes e governadores em seus palácios para anúncios de investimentos, que tempos depois dão lugar a palanques montados para inaugurações, transformadas em eventos de captação de bônus políticos. Contudo, não se faz publicidade alguma quando se trata de revelar quais e quantos incentivos com dinheiro público são concedidos a esses empreendimentos, que muitas vezes superam o total a ser investido.
Ficam sem respostas algumas perguntas importantes. Quanto dinheiro público é dado a essas empresas? Por quê? Elas de fato precisam disso ou iriam fazer mais fábricas mesmo sem incentivos? O mercado brasileiro não é grande o suficiente para que as corporações possam viver sem tantos incentivos? Por que ninguém presta contas desse dinheiro? E se não há nada de errado com isso, por que os benefícios são negociados em gabinetes fechados?
Mais ainda: essa falta de transparência não vai diretamente contra os princípios de ética e responsabilidade social corporativa que todas essas companhias dizem seguir estritamente?
EXEMPLOS DO PASSADO
Como não existe transparência pública nem privada sobre os incentivos recebidos pelas montadoras, é impossível calcular exatamente o quanto elas recebem, mas é possível fazer aproximações por meio de algumas contas, baseadas nas leis que criaram esses benefícios (quase sempre incompreensíveis para a patuleia pagadora de impostos), e lançando mão da ajuda de pesquisadores que levantaram dados.
Em sua dissertação de mestrado na Unicamp, a economista Maria Abadia Silva Alves fez um interessante levantamento sobre a guerra fiscal entre Estados para atrair montadoras nos anos 1990. O trabalho foi apresentado há exatos dez anos, em novembro de 2001. A economista levantou que os incentivos estaduais fiscais (descontos em tributos) e orçamentários (infra-estrutura, terrenos, capital de giro etc.) oferecidos naquela época para instalação de fábricas da Mercedes-Benz em Juiz de Fora (MG), da Renault em São José dos Pinhais (PR) e General Motors em Gravataí (RS) somaram R$ 1,8 bilhão, enquanto os investimentos das três foram de R$ 1,65 bilhão.
Segundo os cálculos da economista, a Renault investiu R$ 1 bilhão na fábrica paranaense e recebeu incentivos de R$ 353 milhões, mais o investimento do governo do Paraná, que teria comprado US$ 300 milhões em ações da empresa -- o que não pode ser contabilizado como benefício. A GM colocou R$ 600 milhões em Gravataí, mas recebeu R$ 759 milhões.
AS MONTADORAS DE VEÍCULOS E OS INCENTIVOS
Empresa | Local da fábrica | Investimento | Incentivos |
RENAULT | S.J. dos Pinhais (PR) | R$ 1 bilhão | R$ 353 milhões* |
GM | Gravataí (RS) | R$ 600 milhões | R$ 759 milhões |
MERCEDES | Juiz de Fora (MG) | R$ 695 milhões | R$ 690 milhões |
FIAT | Goiana (PE) | R$ 4 bilhões (estimado) | R$ 5,8 bilhões** |
E a Mercedes-Benz aportou R$ 695 milhões em sua malsucedida linha de produção de automóveis mineira, mas obteve R$ 690 milhões de volta -- o que explica a opção de ter mantido a unidade aberta mesmo com prejuízo na operação. E nisso tudo não estão incluídos os benefícios fiscais federais do regime automotivo, que engordam bastante a conta.
O CASO FORD
A Ford exigiu um preço alto para ser a primeira montadora a se instalar no Nordeste brasileiro, uma região sem tradição industrial e sem infraestrutura formada para isso no fim da década de 1990. Depois de desistir, em 1999, de fazer sua fábrica em Guaíba (RS) -- justamente por falta de acordo com o governo Olívio Dutra (PT), que não quis honrar os incentivos oferecidos pelo governo anterior --, a Ford começou a negociar com a Bahia generosos benefícios para aportar o investimento de US$ 1,2 bilhão no Estado.
Primeiro, com apoio do então senador Antonio Carlos Magalhães (PFL/DEM), ex-governador da Bahia, conseguiu reabrir o regime automotivo por meio da aprovação da Lei 9.826, de 23 de agosto de 1999, que deu à empresa prazo de três anos e meio para começar a produzir e usufruir dos benefícios tributários. A lei garantiu desconto de 35% no IPI para os carros montados na região até o fim de 2010. Além disso a Ford ganhou abatimento de 65% do ICMS até 2013 e o BNDES concedeu financiamento de R$ 1,3 bilhão.
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Linha da Mercedes-Benz em Juiz de Fora, em 1999, quando fabricava o
Classe A nacional; depois do fracassado cupê CLC, unidade deixou de
produzir automóveis de passeio
Mas a Ford não desistiu de abocanhar mais incentivos e, durante 2006, articulou outro plano para ampliar os ganhos. Em 2 de janeiro de 2007 a empresa anunciou a compra da pequena fábrica cearense da Troller, mas não sem que, poucos dias antes, em 28 de dezembro de 2006, o governo tivesse aprovado a Lei 11.434, que no seu Artigo 8º prevê a transferência de incentivos fiscais a compradores das empresas adquiridas.
Assim a Ford herdou da Troller os benefícios da Lei 9.440, de 1997, com corte ainda maior no IPI para toda sua produção no Nordeste, equivalente a duas vezes o valor das contribuições devidas de PIS e Cofins.
No fim de 2009, em outra manobra política, com a promessa de investir R$ 4,5 bilhões em suas operações brasileiras, a Ford conseguiu prorrogar por mais cinco anos os incentivos fiscais que recebe na Bahia, depois de intensas articulações do governador baiano Jaques Wagner (PT) junto ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aprovou a extensão em escala decrescente.
Considerando somente o EcoSport mais barato fabricado em Camaçari, vendido no Brasil por cerca de R$ 54 mil, a Ford paga perto de R$ 16 mil em impostos, mas acumula R$ 15,6 mil em créditos tributários de IPI e ICMS -- ou seja, na prática quase não paga impostos pelos carros que produz na Bahia, mas cobra como se não tivesse benefícios, o que aumenta significativamente sua rentabilidade.
Como só neste ano a Ford já vendeu perto de 35 mil EcoSport, teria acumulado R$ 548 milhões em créditos tributários se tivesse vendido só a versão mais barata do modelo.
- Governador de Pernambuco, Eduardo Campos, cumprimenta 1ª funcionária da Fiat em Goiana; presidente da Fiat e da Anfavea, Cledorvino Belini observa e sorri: fábrica faz bem para a imagem
A Ford alega que necessita desse diferencial para compensar as desvantagens competitivas que tem no Nordeste, mas ninguém sabe ao certo qual seria o tamanho exato dessas desvantagens, nem se Camaçari continuaria a ser a unidade mais produtiva do mundo da empresa se não recebesse tantos incentivos. É fato que houve progresso econômico na região, com a geração de 8.000 empregos diretos e 80 mil indiretos, segundo informa a Ford -- mas não se sabe quanto isso custou.
O mesmo modelo foi utilizado para atrair a Fiat para Pernambuco. No apagar das luzes do governo Lula, o regime automotivo foi reaberto em dezembro de 2010, em uma janela só para beneficiar o acolhimento do projeto da montadora, que receberá os mesmos incentivos fiscais federais da Ford, mais os estaduais não revelados. De novo, tudo foi negociado às escuras. Com esse precedente, Jaques Wagner já disse que também quer reabrir o regime automotivo para receber novas indústrias em seu Estado.
Em julho passado a Fiat começou a levantar R$ 5,8 bilhões em fontes públicas para o financiamento do seu complexo industrial no Nordeste. Segundo informações extraoficiais do jornal Folha de Pernambuco, R$ 1,2 bilhão viria do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), administrado pela Sudene; R$ 800 milhões do Banco do Nordeste (BNB); e R$ 3,8 bilhões do BNDES. Além de financiar a própria fábrica em Goiana (PE), a Fiat também estaria reservando recursos para fornecedores e outras empresas do grupo, sem precisar buscar dinheiro no exterior.
ENTRA E SAI
Além dos generosos incentivos governamentais que recebem, as montadoras estão se financiando em larga medida com recursos do BNDES e entidades locais de fomento, como no caso de FDNE e BNB no Nordeste, que oferecem taxas e prazos para lá de camaradas no contexto nacional, em que prevalece há décadas a prática do maior juro do mundo.
Portanto, em última instância, é o governo o maior financiador do maior ciclo de investimento do setor automotivo já visto no Brasil, com vastos recursos no grosso destinados a grandes empresas multinacionais que, somente de janeiro a outubro deste ano, enviaram US$ 4,5 bilhões em remessas de lucro às matrizes no exterior -- atualmente, é o setor que mais remete dividendos a partir do Brasil.
Levando isso em consideração, para que este ciclo de investimento possa ser chamado de virtuoso, é preciso aumentar a transparência para que todos possam enxergar os reais benefícios ao Brasil. Que tal abrir esse debate?
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*Mais US$ 300 milhões pela venda de ações ao governo do PR; **Valores estimados, ainda não confirmados, e citados pelo autor com base na Folha de Pernambuco
Pedro Kutney é jornalista e escreve no Automotive Business, onde este artigo foi publicado originalmente.
Obs. Os governos brasileiros que quiseram acabar com esta situação, como por ex. João Goulart e Leonel Brizola, foram parar no exílio! Mas não são só as multinacionais automotivas que sugam o povo brasileiro. A indústria farmaceutica, de defensivos agrícolas, os veículos de comunicação em geral, de produtos alimentícios, de bebidas, também não ficam muito atrás!
Alegam os defensores das teorias liberais de Adam Shemitt, que as multinacionais geram progresso e emprego, o que de certa forma é verdade! Porém, esquecem-se de dizer, que, as multinacionais, além das alcatruas acima citadas por Pedro Kut, ainda interferem abertamente na política e cultura dos povos onde se instalam, derrubando, quando não matando seus goverantes que contrariam estas alcatruas e pretendem nacionalizar suas Economias! E pior ainda, maximizam seus lucros à custa da exploração de seus funcionários locais, que à mínima queda na sua capacidade produtiva não exitam em colocar no desemprego. E além de não transferirem tecnologias para os países onde se instalam ainda impoem a seus funcionários, através de palestras e outros meios de comunicação interna, uma aculturação extrínsica...
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