PADRÃO - FERNANDO PESSOA 13 - 09 - 1918

O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para adiante naveguei.

A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão assinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por - fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.

E a cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.

Complemento: - Fernando Pessoa nesta poesia, faz uma apologia a Diogo Cão, navegador nascido em Vila Real (do norte), que, a mando de D. João II, então rei de Portugal, em duas viagens sucessivas, 1482 e 1486, chegou respectivamente à foz do rio Zaire e à Namíbia na África.
Mesmo não conseguindo ultrapassar o Cabo das Tormentas (Cabo da Boa Esperança), feito completado em 1488 por Bartolomeu Dias, Diogo Cão foi um navegador inteligente e corajoso!..

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