BATALHA DO CRICARÉ

Batalha do Cricaré





A Batalha do Cricaré constituiu-se em um dos mais sangrentos confrontos entre índios Tupis e portugueses. Ocorreu no século XVI, na região que hoje conhecemos como Meleiras, próximo ao encontro dos rios Cricaré e Mariricú. O famoso padre jesuíta José de Anchieta escreveu sobre essa batalha alguns anos depois do grande acontecimento. Segundo ele, meses antes da famosa batalha, Vasco Fernandes Coutinho, donatário da Capitania do Espírito Santo, escreveu uma carta desesperada ao Governador Geral do Brasil, Mem de Sá, pedindo que este lhe enviasse navios e homens para enfrentar os índios, que já haviam destruído, novamente, quase toda a Vila Velha e a Vila de Vitória. Em 1558, Mem de Sá, então, enviou seis navios e mais de duzentos homens armados com arcabuzes (espingarda antiga), sob o comando de seu filho, Fernão de Sá. Eles partiram de Salvador, em direção a Vitória, para socorrer o donatário e seus colonos portugueses. Antes, porém, pararam em Porto Seguro, para reabastecer e planejar melhor o ataque aos índios ao redor da Vila de Vitória. Foi lá que eles receberam a informação de que os índios estavam em grande número às margens do Rio Cricaré. Sabendo dessa informação valiosa, Fernão de Sá partiu imediatamente com seus homens. Chegando à foz do Cricaré, no dia 22 de maio de 1558, e entrou, com uma caravela, pelo rio, até onde o Rio Mariricu encontra-se com o Cricaré. Nesse local, a meio caminho de São Mateus, Fernão de Sá e seus homens puderam ver as fortificações dos índios. Os índios usavam para a guerra a tática dos mereriques, que eram uma espécie de fortaleza de palha e madeira. Eram seis enormes muralhas circulares de toras, uma dentro da outra, que formavam um imenso forte. Os índios fizeram três desses fortes, interligados por grandes corredores protegidos. Eles, realmente, estavam preparados para a guerra contra os portugueses. Do navio, os portugueses chegaram, em pequenos barcos, às margens de areia fofa do rio. Em grande número, os portugueses conseguiram destruir o primeiro forte dos índios, que se reorganizaram nos outros dois que ainda restavam. Os índios atacavam com centenas de flechas, matando muitos portugueses, e os portugueses atacavam com armas de fogo, matando muitos índios. Ao perceberem que as armas portuguesas estavam dificultando a vitória indígena, alguns índios foram enviados às tribos vizinhas para convocar mais guerreiros. Usando machados, os portugueses conseguiram destruir o segundo forte dos índios, fazendo com que estes lutassem mais bravamente pelo último forte. A desvantagem tecnológica das armas dos índios era evidente. Mas a vantagem numérica deles era bem maior, e mais guerreiros indígenas chegavam a cada minuto para a grande batalha. Percebendo que vários soldados não possuíam mais pólvora e que a luta corporal entre os tacapes indígenas e as espadas portuguesas não conseguiria derrotar a imensidão de índios que chegavam a todo instante das florestas, Fernão de Sá ordenou que soldados fossem, nos pequenos barcos, ao navio, que esperava no meio do rio, para trazer mais munição. Assim, os índios, que estavam no único forte restante, passaram a ficar em grande vantagem contra os portugueses, já que a pólvora não chegava e os portugueses não eram tão numerosos como os índios. Uma chuva de flechas cortava o céu em direção aos portugueses (que eram cada vez menos), na sua luta contra os índios (que eram cada vez mais). Com bravura, os índios foram derrotando todos os portugueses que restavam, e, com bravura maior ainda, os portugueses enfrentaram aquela situação desesperadora. Nos últimos instantes da batalha, Fernão de Sá tinha somente dez homens com ele para lutar. Percebendo a situação gravíssima, Fernão ordena que seus homens recuem, a nado, para o navio, que estava esperando no leito do Rio Cricaré. Com centenas de flechas sobre suas cabeças, Fernão de Sá foi atingido por várias flechas, e morreu. Somente três dos seus homens conseguiram escapar ao ataque final indígena. Os sobreviventes que conseguiram chegar ao navio partiram, rapidamente, em busca da proteção do oceano, pois, assim, os índios não podiam alcançá-los. Passando pela foz do rio Cricaré, juntaram-se aos outros navios da frota e partiram, com extrema tristeza e ódio, rumo a Vitória, por terem perdido a batalha e o seu comandante.
 Junto do filho do governador morreram Manuel Álvares e Diego Álvares, filho de Diogo Álvares, o Caramuru. Não se sabe exatamente o que aconteceu com o corpo de Fernão de Sá. Sua morte foi notícia em toda a Europa, e o sentimento de vingança entre os portugueses, contra os índios, aumentou ainda mais. Por outro lado, os índios conseguiram uma importantíssima vitória contra seus inimigos portugueses, que estavam invadindo suas terras, matando e escravizando seus parentes mais amados. Essa grande batalha entre portugueses e índios aconteceu entre as atuais cidades de São Mateus e Conceição da Barra, em 1558. Foi um marco na História da colonização portuguesa no Brasil e uma prova, para os portugueses daquela época, de que os nativos não eram tão inocentes e ignorantes como eles pensavam.

Marco Antônio Campo Dall'orto
http://www.historiaplena.com.br/p/historia-de-conceicao-da-barra-e-sao.html

1 comentários:

Renato Azevedo Moraes disse...

Bela pesquisa Marco Antônio, hoje aniversário da Batalha.

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