Invasão do Iraque |
Parte da Guerra do Iraque |
Dois tanques de guerra americanos M1 Abrams das forças de ocupação da Coalizão em frente ao monumento das "Mãos da Vitória", no centro de Bagdá, em 2003. |
Data |
20 de março – 1 de maio de 2003 |
Local |
Iraque |
Desfecho |
Vitória da Coalizão
- O regime baathista de Saddam Hussein é derrubado do poder;
- Ocupação do Iraque e estabelecimento de um novo governo;
- Tensões religiosas e sectárias levam ao surgimento de movimentos insurgentes que mergulham o país em uma guerra civil;
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Combatentes |
Forças da Coalizão:
Estados Unidos
Reino Unido
Austrália
Polônia
Apoio militar:
Congresso Nacional Iraquiano
- PDC UPC
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Iraque
- Voluntários árabes estrangeiros
Ansar al-Islam |
Principais líderes |
George W. Bush
Tommy Franks
Tony Blair
Brian Burridge
John Howard
Aleksander Kwaśniewski
Leszek Miller
Massoud Barzani
Babakir Zebari
Jalal Talabani
Kosrat Rasul Ali
Ahmad Chalabi |
Saddam Hussein
Qusay Hussein
Uday Hussein
Abid Hamid Mahmud
Ali Hassan al-Majid
Barzan Ibrahim
Izzat Ibrahim al-Douri
Ra'ad al-Hamdani
Abu Musab al-Zarqawi |
Forças |
380 000 combatentes:
192 000 soldados
45 000 soldados
2 000 soldados
194 soldados
70 000 combatentes |
Forças Armadas Iraquianas: 375 000 soldados
Guarda Republicana: 70 000 – 90 000 soldados
Fedayeen Saddam: 30 000 combatentes
Ansar al-Islam: 600 - 800 combatentes |
Vítimas |
Coalizão:
172 soldados mortos (139 americanos, 33 britânicos)
551 feridos (americanos)
Peshmerga:
+ 24 mortos |
Militares:
30 000 combatentes mortos (segundo os americanos)
7 600 – 11 000 combatentes mortos (segundo um estudo alternativo)
13 500 – 45 000 combatentes mortos (outra estimativa)
Perdas civis:
7 269 iraquianos mortos
3 200 - 4 300 (segundo um estudo alternativo) |
A
Invasão do Iraque em 2003, que começou a 19 de março de 2003
e terminou em 1 de maio do mesmo ano, foi a primeira etapa do que se
tornaria um longo conflito, a Guerra do Iraque. Foi lançada com o nome de "Operação Liberdade do Iraque" pelos Estados Unidos e aconteceu no contexto da Guerra Global contra o Terrorismo. A invasão durou apenas 21 dias e foi bem sucedida. Os americanos receberam apoio militar do Reino Unido, da Austrália e da Polônia. O objetivo era derrubar o regime baathista de Saddam Hussein. A fase da invasão do conflito foi curta e consistiu em combate convencional e na ocupação de boa parte do Iraque, resultando na destituição do governo que estava no poder. A ditadura de Saddam entrou em colapso logo após a queda de Bagdá.
Apenas quatro países enviaram tropas na fase de invasão, que foi de
19 de março a 1 de maio de 2003. Os Estados Unidos contribuiu com a
maior força (148 000 soldados) que formavam a vanguarda da Coalizão. O
Reino Unido enviou 45 000 militares a frente de batalha, a Austrália 2
000 e a Polônia apenas 194 soldados (a maioria forças especiais). Outras
36 nações contribuíram com tropas e observadores após a invasão ter
sido concluída. O Kuwait e a Arábia Saudita ofereceram seus territórios
para apoiar as forças aliadas.No norte do Iraque, a milícia curda conhecida como Peshmerga também apoiou a invasão incondicionalmente.
De acordo com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e com o primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair,
a missão da coalizão era "desarmar o regime iraquiano, encerrar o apoio
de Saddam Hussein a organizações terroristas e libertar o povo
iraquiano". Os motivos citados para a guerra, contudo, foram controversos. O general americano Wesley Clark, um ex comandante da OTAN e diretor do Gabinete de Estratégia e Política, descreveu no se livro
Winning Modern Wars ("Vencendo Guerras Modernas", lançado em 2003), conversas com oficiais de alta patente do Pentágono após os atentados terroristas de 11 de setembro, sobre o planejamento de invadir sete países do Oriente Médio
em um período de cinco anos. Ele falou: "enquanto eu caminhava pelo
Pentágono em novembro de 2001, um dos oficiais graduados das forças
armadas tinha um tempo para conversar. 'Sim, nós ainda estamos seguindo
com os planos para o Iraque', ele me disse. Mas ele foi além. Isso tudo
era parte de uma campanha de cinco anos, ele falou, e havia planos para
atacar sete países, começando pelo Iraque, então a Síria, o Líbano, a
Líbia, o Irã, a Somália e o Sudão".
Nada disso foi confirmado, mas a liderança militar americana realmente
lançou uma agenda de campanhas militares após o 11 de setembro, com o
intuito de combater o terrorismo.
De acordo com os britânicos, o que impulsionou o conflito foi o
fracasso do Iraque em se dispor a se desarmar de todo o seu arsenal
nuclear, químico e biológico, que os americanos e seus aliados ingleses
acreditavam ser uma ameaça a paz global. Em 2005, um relatório divulgado pela Central Intelligence Agency (CIA) reportou que, desde 1991, o Iraque não tinha nenhum programa ativo para construção de armas de destruição em massa.
Além dos supostos programas de armas de destruição em massa, outra
acusação feita contra o Iraque era de que o regime de Saddam apoiava e
financiava grupos terroristas, como a al Qaeda. Apesar da ausência de provas que realmente comprovassem tal ligação, em uma pesquisa de opinião feita em janeiro de 2003 pela rede CBS afirmava que 64% dos americanos apoiavam uma ação militar contra o regime iraquiano.
Contudo, 63% dos entrevistados afirmavam que preferiram que Bush
tivesse buscado uma saída diplomática e pelo menos 62% acreditavam que
esta guerra aumentaria a ameaça do terrorismo contra o país.
A invasão do Iraque foi fortemente criticada por velhos aliados dos
Estados Unidos, como a França, a Alemanha e a Nova Zelândia, e muitos
países da OTAN se recusaram a enviar tropas em apoio aos americanos. Os líderes dessas nações argumentaram que não haviam provas que
comprovassem que as acusações feitas pelos americanos eram reais e que
um ataque ao país seria uma violação da lei internacional.
Nos meses anteriores ao conflito houve grandes protestos por várias
cidades do mundo. Estas acabaram sendo as maiores manifestações
anti-guerra da história até então.
Mesmo com todas as controvérsias, a invasão começou em março de 2003 com enormes bombardeios aéreos
contra Bagdá (mirando especialmente os ostentosos palácios presidências
de Saddam), além de outros alvos de importância militar pelo país. Após
apenas um dia de ataques aéreos, a Coalizão lançou uma incursão
terrestre em larga escala pelo sul, avançando principalmente pela província de Basra, através da fronteira kuwaitiana. Os campos petrolíferos do sul foram uma das prioridades iniciais, com tropas especiais sendo enviadas para toma-los. A força de ataque principal, formado primordialmente pelo exército dos Estados Unidos e do Reino Unido,
ocupou o sul e partiu para a região central do Iraque, onde a capital
do país ficava. Várias batalhas de pequena, média e até grande
intensidade foram travadas no caminho. Um dos maiores confrontos
aconteceram em Nassíria,
onde houve pesadas baixas em ambos os lados. Porém, na maioria das
batalhas, a resistência foi menor que a esperada, especialmente devido a
superioridade tecnológica dos países ocidentais. Os ataques aéreos
foram muito bem sucedidos, destruindo a infraestrutura militar iraquiana
e assim desarticulando as forças do regime. No norte, mais unidades de
elite americanas atuaram em missões especiais, apoiados por milícias curdas, e tomaram importantes cidades da região, como Kirkuk e Tikrit.
A principal coluna dos exércitos aliados focaram na região central do Iraque e partiram em direção a capital, Bagdá.
A resistência foi abaixo da esperada. A maioria das unidades militares
iraquianas foram rapidamente sobrepujadas e a capital caiu a 9 de abril
de 2003. Outras operações aconteceram no norte e no oeste iraquianos e
foram igualmente bem sucedidas. Com o colapso do regime, Saddam Hussein,
seus dois filhos (Uday e Qusay)
e as principais cabeças do seu governo fugiram e se esconderam para
evitar a captura pelas forças de ocupação da Coalizão. Em 1 de maio, o
presidente Bush
declarou encerradas as principais operações militares no Iraque.
Contudo, a guerra não se encerraria, com o país sendo engolido em um mar
de violência sectária e religiosa que ceifaria centenas de milhares de
vidas.
Em dezembro de 2011, os Estados Unidos retirou suas tropas do
território iraquiano depois de oito anos de ocupação. A invasão de 2003
do Iraque foi uma das maiores guerras entre exércitos convencionais da
história recente, onde pelo menos 1 000 soldados foram mortos em
batalhas.
Prelúdio
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O general Anthony C. Zinni durante uma coletiva de imprensa no Pentágono
falando sobre a Operação Desert Fox, em 21 de dezembro de 1998. |
A primeira Guerra do Golfo terminou em 28 de fevereiro de 1991, com um cessar-fogo negociado entre a Coalizão da ONU e o Iraque. Os Estados Unidos e seus aliados queriam manter as forças militares de Saddam sob pressão e debilitadas através das operações
Southern Wach e
Northern Watch,
que foi conduzido por uma força tarefa com aviões americanos,
britânicos, sauditas e franceses. Para enfraquecer ainda mais o regime,
foram impostas severas sanções econômicas ao país. O Iraque conduzia,
desde os anos 80, um programa de armas biológicas.
De início, os Estados Unidos e a Europa apoiaram Saddam em suas
pesquisas. Detalhes sobre os programas de armas de destruição em massa
do Iraque foram revelados após a guerra do Golfo (1990–91) após uma
investigação feita pela Comissão Especial das Nações Unidas
(UNSCOM) que também foi responsável por tentar forçar o desarmamento de
Hussein. Investigações feitas pela UNSCOM afirmaram que o Iraque
abandonou seu programa de armas químicas e biológicas nos anos 90. Os
Estados Unidos e seus aliados então mantiveram uma política de "contenção" contra o Iraque. Foi adotada uma política de sanções econômicas, aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU; aeronaves ocidentais e árabes impuseram zonas de exclusão aéreas
no norte e sul para evitar massacres étnicos contra curdos e xiitas.
Várias tentativas de inspeções de instalações militares e de pesquisa
foram feitas. Aviões e helicópteros militares iraquianos ocasionalmente
desafiavam a zona de exclusão, e algumas destas aeronaves acabaram sendo
abatidas. Esporadicamente, os americanos e britânicos bombardeavam
alvos pelo Iraque, durante toda a década de 1990.
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Inspetores da ONU no Iraq, em 2002. |
Em outubro de 1998, os Estados Unidos fizeram de remover Hussein do poder uma de suas prioridades de política externa, através do
Iraq Liberation Act ("Ato de Libertação do Iraque"). Aprovado após a expulsão dos inspetores de armas da ONU
(que os iraquianos acusaram de espionagem), o ato autorizou um programa
de ajuda, na forma de US$ 97 milhões de dólares a "organizações de
oposição democrática" no Iraque a fim de estabelecer um programa de
apoio para uma "transição para democracia". Esta legislação não era
apoiada pela Resolução 687 da ONU, que focava apenas em desarmar o
regime e não mencionava mudanças no governo daquele país. Um mês após a provação da 'lei de libertação do Iraque', os Estados
Unidos lançaram uma enorme campanha de bombardeios contra o centro do
Iraque, na chamada Operação Desert Fox. A campanha focava em debilitar o governo de Saddam Hussein e seus programas de criação de armas destruição em massa.
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Caças F-15C durante a Operação Southern Watch, em 2000. |
Com a eleição de George W. Bush para o cargo de presidente em 2000, os Estados Unidos mudaram sua política para o Iraque, se tornando mais agressivos. Durante a campanha, o Partido Republicano prometeu uma postura mais dura com Saddam e que colocariam em movimento planos para derruba-lo em definitivo do poder. Após deixar a administração Bush,
o então secretário do tesouro, Paul O'Neill, disse que já haviam planos
de derrubar o governo de Hussein do poder desde antes de Bush tomar
posse e que já na primeira reunião do Conselho de Segurança Nacional
já haviam discussões sobre invadir o Iraque. O'Neill depois meio que
voltou atrás, afirmando que essas discussões faziam parte de um contínuo
processo da politica externa americana, inciada durante a administração Clinton.
Apesar do claro desejo da administração Bush de invadir o Iraque, o
país não foi a prioridade inicial do governo americano nos primeiros
meses de 2001. Contudo, tudo mudou após os atentados terroristas de 11 de setembro. De acordo com Richard A. Clarke, ex conselheiro de segurança nacional, o governo Bush estava determinado a provar uma relação entre a organização terrorista al-Qaeda
(que havia perpetrado os ataques de 11 de setembro) e o regime de
Saddam Hussein. Clarke e outros analistas e especialistas em
contra-terrorismo afirmaram que, com quase toda a certeza, não havia
envolvimento iraquiano nos atentados. O Secretário de defesa americano, Donald Rumsfeld, não acatou os dados disponibilizados pela Agência de Segurança Nacional (NSA) de que a al-Qaeda era a única responsável pelos a tentados e ordenou que o Pentágono começasse a preparar planos de invasão do Iraque.
De acordo com funcionários do Comando Central Militar, Rumsfeld apenas
perguntava: "melhor informação, rápido. Pense se é boa o bastante para
atingir Saddam Hussein ao mesmo tempo. Não apenas Osama bin Laden".
Um memorando escrito pelo secretário de defesa Rumsfeld, em novembro de 2001, já considerava um ataque ao Iraque como parte da Guerra ao Terror.
A racionalização de invadir o Iraque como uma resposta aos atentados de
11 de setembro foi altamente criticada, especialmente devido a ausência
de provas concretas que ligassem Saddam Hussein a al-Qaeda.
Logo após os atentados de 11 de setembro de 2001 (precisamente nove dias depois), o presidente Bush fez um discurso perante o Congresso dos Estados Unidos (transmitido pela televisão) em que ele anunciou o lançamento da "Guerra Global ao Terrorismo".
No discurso, ele afirmou que não hesitaria em ordenar "ataques
preventivos" contra organizações inimigas ao ocidente e que não faria
distinção entre os terroristas e as nações que os apoiavam. Isso ficou
mais tarde conhecido como a "Doutrina Bush". Alegações de que Saddam Hussein e a al-Qaeda seriam aliados foram feitas por membros do governo americano, que afirmavam que havia informações suficientes que provavam que a
Mukhabarat
(o serviço secreto iraquiano) tinha mantido contato com terroristas
islâmicos entre 1992 e 2003. Alguns conselheiros da administração Bush
haviam defendido uma imediata invasão do Iraque como reposta ao 11 de
setembro, enquanto outros defendiam a criação de uma coalizão
internacional para ajudar os Estados Unidos e que eles só deveriam
agiriam com autorização da ONU. Bush preferiu ir devagar e colaborar com
as Nações Unidas, enquanto não descartava a possibilidade de invadir
sem consentimento da comunidade internacional.
Preparações para a guerra
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O então presidente americano George W. Bush falando no plenário da
Assembleia Geral das Nações Unidas em 12 de setembro de 2002. No
discurso ele falava sobre as queixas dos americanos sobre as atitudes do
governo iraquiano. |
Apesar de conversas sobre ações contra o Iraque, a administração Bush
esperou até setembro de 2002 para começar a argumentar por uma invasão
ao território iraquiano. O Chefe de Gabinete da Casa Branca, Andrew Card afirmou que "de um ponto de vista de marketing, você não introduz novos produtos em agosto". Em um discurso no Conselho de Segurança das Nações Unidas,
o presidente Bush começou formalmente a defender perante a Comunidade
Internacional diversas ações energéticas contra o Iraque.
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Os chefes de Estado das principais potências do G8 durante uma reunião
na França. Da esquerda para a direita: o presidente francês Jacques
Chirac, o americano George W. Bush e os primeiros ministros Tony Blair,
do Reino Unido, e Silvio Berlusconi, da Itália. Deste, apenas Chirac não
apoiou a invasão. |
Aliados chave dos Estados Unidos dentro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), como o Reino Unido,
concordaram com os planos americanos, enquanto a França e a Alemanha se
posicionaram contra uma eventual invasão ao Iraque, argumentando que as
inspeções e a diplomacia deveriam ter prioridade. Após muito debate, o
Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução (de número 1441), que
autorizava o retorno dos inspetores ao país e prometeu "sérias
consequências" caso o regime não aceitasse. A França e a Rússia
haviam deixado claro que eles não consideravam que uma ação militar
direta para derrubar Saddam do poder como uma dessas consequências. Tanto o embaixador americano na ONU, John Negroponte, e o do Reino Unido, Jeremy Greenstock, acreditavam que a Resolução 1441 não aprovava diretamente uma invasão, sem outra resolução em separado.
A Resolução 1441 dava ao Iraque uma "oportunidade final para cumprir
sua obrigação de desarmamento" e estabeleceu o retorno das inspeções
feitas pela Comissão das Nações Unidas de Vigilância, Verificação e Inspeção (UNMOVIC) e pela Agência Internacional de Energia Atómica
(AIEA). Hussein aceitou a resolução a 13 de novembro e os inspetores
retornaram ao Iraque, sob coordenação do chefe da UNMOVIC, Hans Blix, e do diretor geral da AIEA, Mohamed ElBaradei.
Em fevereiro de 2003, a AIEA afirmou que não havia encontrado qualquer
evidência de que os iraquianos tinham um programa nuclear em andamento.
Eles ainda completaram dizendo que itens que poderiam ser usados para
fabricação de bombas atômicas, como tubos de alumínio, estavam sendo
usados para outros fins.
Já a UNMOVIC disse que igualmente não havia provas de que o Iraque
havia recomeçado seu programa de armas de destruição em massa. A UNMOVIC
havia supervisionado, na década de 1990, a destruição dos últimos
arsenais de armamento químico e biológico de Saddam.
Em outubro de 2002, o Congresso dos Estados Unidos
passou a "Resolução Conjunta para Autorizar a utilização das Forças
Armadas dos Estados Unidos contra o Iraque". Esta resolução autorizava o
presidente a "usar todos os meios necessários" contra o Iraque. Naquele
momento, graças a mídia (que era em sua maioria favorável a invasão), a
maioria dos americanos acreditavam que uma invasão do Iraque era no
melhor interesse do país. Em fevereiro de 2003 (um mês antes da guerra
começar), cerca de 64% dos americanos apoiavam uma ação militar para
derrubar Hussein do poder.
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Manifestantes anti-guerra em Londres, 2002.
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No Discurso sobre o Estado da União
de 2003, o presidente Bush afirmou: "nós sabemos que o Iraque, no fim
da década de 1990, tinha vários laboratórios móveis de armas
biológicas".A 5 de fevereiro de 2003, o Secretário de Estado Colin Powell falou a Assembléia Geral da ONU,
continuando o esforço americano de conseguir apoio da comunidade
internacional para apoiar uma invasão. Na apresentação ele mostrou
imagens digitais de caminhões que seriam os laboratórios móveis, dados
de que Saddam havia tentado comprar equipamentos no exterior para
construção de material nuclear e outras provas. Já na época, a
conclusividade dessas evidências foi muito questionada. Posteriormente,
muitos dos dados apresentados seriam até completamente desacreditados.
Nesse meio tempo, protestos anti-guerra aconteceram em dezenas de países
no mundo.
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Em fevereiro de 2003, ocorreu em São Francisco, Califórnia, um dos
maiores protestos anti-guerra nos Estados Unidos. Entre 60 000 e 200 000
pessoas se manifestaram contra o conflito.a |
Na ONU, Powell também falou sobre a relação entre o Iraque e a al-Qaeda
e apresentou provas para sustentar sua argumentação. Após o discurso de
Powell, os Estados Unidos, a Polônia, a Itália, a Austrália, a
Dinamarca, o Japão e a Espanha propuseram uma nova resolução nas Nações
Unidas, que dessa vez autorizasse o uso da força contra o Iraque.
Contudo, alguns membros da OTAN, como o Canadá, a França e a Alemanha
fortemente se opuseram. A Rússia, outra superpotência e com um assento
permanente no Conselho de Segurança, afirmou que vetaria qualquer
resolução que aprovasse a guerra. Esses países pediram que a diplomacia
fosse a prioridade. Frente a tão forte oposição, os países da Coalizão,
liderada pelos americanos, desistiram de tentar outra resolução. O
presidente Bush então afirmou que poderia agir, com ou sem o
consentimento da comunidade internacional.
A oposição a guerra não só aconteceu no campo diplomático. Milhares
de pessoas foram as ruas entre fevereiro e março de 2003 para protestar
contra o conflito. No dia 15 de fevereiro, entre 6 e 10 milhões de
pessoas saíram para protestar em mais de 800 cidades pelo mundo, fazendo
deste o maior protesto em escala global da história até então.
Em março de 2003, os Estados Unidos, o Reino Unido, a Polônia, a
Austrália, a Espanha, a Dinamarca e a Itália começaram a se preparar
para a guerra, tanto no campo diplomático quanto no militar. A 17 de
março de 2003, falando em rede nacional de televisão, o presidente Bush
exigiu que Saddam Hussein e seus dois filhos, Uday e Qusay, deixassem o Iraque em 48 horas ou enfrentariam uma ação militar direta.
Contudo, os Estados Unidos e seus aliados começariam a bombardear o
Iraque um dia antes do fim desta data limite, precisamente a 18 de
março. Diferente da primeira Guerra do Golfo, a ONU não deu nenhum tipo
de parecer ou resolução autorizando a guerra.
No Reino Unido, a Câmara dos Comuns
debateu incessantemente se aprovaria ou não a participação britânica na
guerra. Finalmente, a 18 de março de 2003 a moção foi aprovada por 412
votos a favor e 149 contra. Esta votação foi um dos momentos decisivos no governo do primeiro-ministro Tony Blair,
onde ele apostou um enorme capital político na causa, arriscando o seu
governo também, já que alguns parlamentares do seu próprio partido
votaram contra e ainda havia uma enorme rejeição dentre a população
britânica sobre o conflito no Iraque. Três ministros de Estado de Blair
renunciaram em protesto contra a guerra: John Denham, Philip Hunt e o
líder da Câmara dos Comuns Robin Cook.
Aspectos militares
A missão dos Estados Unidos foi feita, inicialmente, sob o codinome
Operation Iraqi Liberation ("Operação Libertação do Iraque). O nome foi depois mudado para
Operation Iraqi Freedom
("Operação Liberdade do Iraque"), devido a similaridade do acrônimo do
primeiro nome (OIL) com a palavra "petróleo" em inglês ("oil"). O Reino
Unido chamou sua parte no conflito de
Operação Telic.
Apoio multilateral
Em novembro de 2002, o presidente George W. Bush, durante uma reunião da OTAN, afirmou que se Saddam Hussein escolhesse não se desarmar, os Estados Unidos iriam liderar a chamada "coalizão dos dispostos" para desarma-lo a força.
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O primeiro-ministro britânico Tony Blair (esquerda) e o presidente
americano George W. Bush se reunindo em Camp David, em março de 2003. O
Reino Unido foi o principal aliado dos Estados Unidos durante a invasão e
no conflito posterior. |
Nos meses seguintes, a administração Bush usou o termo 'coalizão dos dispostos' ("
Coalition of the Willing")
para se referir aos países que apoiariam a invasão, militar ou
verbalmente. A lista completa com o nome das nações aliadas foi
apresentada ao público em março de 2003 e tinha 49 membros. Destes, somente 6 (além dos Estados Unidos) enviaram tropas na fase de invasão da Guerra do Iraque (foram eles: Reino Unido, Austrália, Polônia, Espanha, Portugal e Dinamarca).
Os outros 33 enviaram soldados ou observadores apenas durante a fase de
ocupação. Destes países da Coalizão, seis não tinham um exército
formal.
Força de invasão
Os Estados Unidos mobilizaram cerca de 148 000 soldados para a
invasão. O Reino Unido disponibilizou 45 000 combatentes, os
australianos 2 000 e os espanhóis mais 1 300, além de 194 militares
poloneses das forças especiais (GROM).
A invasão foi apoiada por milícias curdas iraquianas no norte, que tinham cerca de 70 000 paramilitares em suas fileiras.
Alguns grupos dissidentes armados no sul do Iraque também deram apoio aos Aliados.
O Comando Central das Forças Armadas dos Estados Unidos
afirmou, a 30 de abril de 2003, que o país havia, no total, mobilizado
466 985 militares para a Operação Liberdade do Iraque. Neste número
incluía 54 955 da força aérea (mais 2 084 da reserva), 7 207 da guarda aérea nacional, 74 405 fuzileiros navais, 9 501 da força de reserva dos fuzileiros, cerca de 61 296 da marinha de guerra (incluindo 681 da guarda costeira), 2 056 da reserva da marinha, além de 233 342 do exército, além de 10 683 reservistas, e 8 866 homens da guarda nacional.
Planos para abrir uma segunda frente de batalha com infantaria pesada acabaram sendo canceladas após o governo da Turquia
negar aos Estados Unidos o uso do seu território para atacar o Iraque.
Os americanos tiveram então que lançar centenas de paraquedistas no
norte do Iraque que, apoiados por uma divisão de infantaria, chegou a
ter 15 000 homens no combate.
Preparações finais
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Modernos helicópteros UH-60 do exército dos Estados Unidos durante a invasão. |
A Divisão de Operações Especiais da CIA
já estavam no Iraque desde julho de 2002, meses antes da invasão. Sua
missão era 'pavimentar o caminho' (através de várias atividades) para as
forças armadas americanas. Os esforços dos agentes da CIA eram apoiados
por membros das Forças Especiais americanas. Uma das principais missões era prepara e organizar as tropas curdas chamadas de Peshmerga. Além do regime, os curdos foram alistados para ajudar os aliados a lutar contra o grupo Ansar al-Islam, organização filiada a Al Qaeda, na região noroeste iraquiana.
Os membros das equipes especiais aliadas realizaram missões de
reconhecimento atrás das linhas inimigas para identificar alvos e
oficiais valiosos. Os primeiros ataques aéreos miraram principalmente na
liderança iraquiana, especialmente Saddam Hussein e seus generais.
Apesar dos primeiros bombardeios não terem conseguido pegar Hussein ou
seus comandantes, eles conseguiram atingir seus postos de controle e
comando. Alguns generais, contudo, foram de fato mortos e isso
atrapalhou a capacidade do exército iraquiano de reagir e manobrar
contra as forças invasoras.
Uma das missões das forças especiais de infiltração era convencer
(através de ameaças ou subornos) oficiais e comandantes do exército de
Saddam a se render e dispersar suas unidades. Muitos aceitaram
simplesmente ignorar a força invasora e não acatar ordens vindas do QG
em Bagdá. A Turquia,
apesar de membro da OTAN, se recusou a aceitar que seu território fosse
usado para a invasão. Por causa disso, as unidades especiais do
exército e os paraquedistas americanos tiveram de usar o território
curdo como base de operações, apoiados pela milícia Peshmerga,
a fim de ter por onde atacar as tropas de Hussein no norte. Isso acabou
tendo exito, já que o 5º Corpo da infantaria do exército iraquiano
decidiu permanecer perto da região curda, ao invés de partir para o sul
para ajudar a defender a capital.
De acordo com o general Tommy Franks,
um espião americano em Bagdá trabalhando como diplomata, ao ser
abordado pela inteligência iraquiana, forneceu dados falsos ao regime. O
espião (codinome
April Fool) disse aos oficiais do governo que
ele tinha informações sigilosas e aceitou dinheiro para revela-las. A
informação era, na verdade, um engodo e os iraquianos acabaram, baseado
nos dados falsos, enviando tropas para o norte e para o oeste, ao invés
do sul (de onde a invasão de fato veio). Isso acabou reduzindo muito a
capacidade do Iraque de responder e facilitou o avanço das forças
aliadas, via Kuwait.
Força oposta
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Um tanque de guerra T-72 (Asad Babil, ou "Leão de Bagdá) do exército iraquiano. |
O número total de militares servindo nas Forças Armadas do Iraque antes da guerra era incerto, mas acreditava-se que eram muito mal armados.
O Instituto Internacional para Estudos Estratégicos estimou que as
forças de Saddam contavam com pelo menos 538 000 combatentes (375 000 no
exército, 2 000 na marinha, 20 000 na força aérea e 17 000 na defesa anti-aérea). Eram apoiados por forças paramilitares como os Fedayeen Saddam (com 44 000 combatentes) e a Guarda Republicana (80 000 soldados).
Outras estimativas afirmavam que o exército tinham entre 280 000 e 350 000 e a guarda republicana tinha entre 50 000 e 75 000, enquanto as forças paramilitares tinham entre 20 000 e 40 000 combatentes. Havia pelo menos treze divisões de infantaria, dez mecanizadas e
blindadas, além de algumas forças especiais. A força aérea e a marinha
iraquiana tiveram um papel pífio no conflito.
Durante a invasão, combatentes estrangeiros foram ao Iraque, muitos através da Síria,
para combater do lado dos Fedayeens. Não se sabe ao certo quantos
guerrilheiros estrangeiros foram lutar em solo iraquiano em 2003, mas
acreditava-se que metade dos combatentes no centro do Iraque não seriam
originários do país.
Além disso, militantes islâmicos curdos, como o grupo Ansar al-Islam
controlavam algumas pequenas regiões no norte do Iraque, em áreas fora
do controle de Saddam. A Ansar al-Islam havia lutado contra forças
seculares do Curdistão desde 2001. Na época da invasão eles possuíam entre 600 e 800 combatentes.
O líder dos insurgentes islamitas era Abu Musab al-Zarqawi, que mais tarde se tornaria um dos grandes líderes da insurgência iraquiana.
A invasão
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Os movimentos e avanços das forças aliadas durante a invasão. |
Desde o fim da Guerra do Golfo
em 1991, os Estados Unidos e o Reino Unido lançavam esporádicos
pequenos ataques mirando as defesas anti-aéreas de Saddam para impor as zonas de exclusão aéreas.
Estas zonas, e os bombardeios aéreos feitos para implementa-la, foram descritas pelo ex secretário geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali, e pelo então ministro de relações exteriores da França, Hubert Vedrine, como ilegais. Outros países, como a Rússia e a China, também condenaram as zonas como uma violação da soberania do Iraque.
Em meados de 2002, os americanos começaram a bombardear de forma mais
seletiva o sul, mirando alvos importantes na estrutura de comando do
exército iraquiano.
A quantidade de bombas e mísseis jogados no Iraque pela Coalizão
entre 2001 e 2002 foi menor que no período entre 1999 e 2000 (os dois
últimos anos da administração Clinton).
Essa informação foi usado por apoiadores da administração Bush para
contradizer os que dizem que o seu governo pretendia invadir o Iraque
antes mesmo deles tomarem posse. Contudo, informações sugerem que aviões
britânicos lançaram o dobro de bombas sobre o Iraque na segunda metade
de 2002 do que eles tinham feito durante todo o ano de 2001. O governo
dos dois países negou que bombardeios feitos antes da invasão tinham
como objetivo 'pavimentar o caminho' para a ofensiva.
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O porta-aviões USS Enterprise (CVN-65), acompanhado pelos navios de guerra USS Philippine Sea (CG-58) e USS Gettysburg (CG-64), em operação no Golfo Pérsico. |
A 5 de setembro de 2002, ataques feitos por mais de 100 aviões
atingiram um dos principais postos de defesa do Iraque, no oeste do
país. O bombardeio, segundo a revista
New Statesman,
teria como objetivo limpar o caminho para as unidades Aliadas que
viriam pela Jordânia e não proteger a população xiita da região (que
deveria ser o propósito da zona de exclusão aérea).
O general Tommy Franks,
que comandou a invasão do Iraque, admitiu que os bombardeios feitos
dois anos antes da guerra tinham o objetivo de enfraquecer as defesas
iraquianas. Essas "atividades acentuadas", nas palavras do secretário de
defesa britânico Geoff Hoon, eram feitas para 'colocar pressão encima do regime iraquiano' ou, como o
The Times reportou, tentar "provocar Saddam Hussein a retaliar e provocar uma guerra".
Uma outra tentativa de provocar uma resposta iraquiana que pudesse
levar a guerra foi revelada em um memorando que relata uma conversa
entre George W. Bush e Tony Blair em 31 de janeiro de 2003, onde Bush
supostamente teria dito ao premier britânico que os Estados Unidos
estava pensando em pintar um dos seus aviões U2 com as cores da ONU. Se Saddam disparasse contra a aeronave, isso daria uma justificativa para o conflito.
A 17 de março de 2003, o presidente americano, George W. Bush,
foi ao ar na televisão e deu um ultimato a Saddam, exigindo que ele e
seus dois filhos (Uday e Qusay) partissem do Iraque nas próximas 48
horas seguintes ou haveria guerra.
As primeiras bombas
Nas primeiras horas do dia 19 de março de 2003, os americanos
receberam informações de que Saddam Hussein estaria visitando seus dois
filhos, Uday e Qusay, nas fazendas Dora, nas cercanias de Bagdá. Precisamente as 05:30 UTC, duas aeronaves F-117 Nighthawk da força aérea dos Estados Unidos lançaram quatro bombas GBU-27 de 900 kg no complexo. Para complementar o bombardeio na área, foram disparados 40 mísseis BGM-109 Tomahawk de pelo menos quatro navios, incluindo o USS
Cowpens (CG-63) (um cruzador da classe Ticonderoga), que foi creditado com o primeiro ataque, o contratorpedeiro USS
Donald Cook (DDG-75) (da classe Arleigh Burke) e dois submarinos também se uniram ao primeiro dia de ataques. Os mísseis foram disparados a partir do Mar Vermelho e do Golfo Pérsico.
Das quatro bombas lançadas pelos F-117, uma errou o complexo
completamente e as outras três também não atingiram seus alvos, caindo
do outro lado dos muros do palácio. Logo depois, foi descoberto que Saddam Hussein não estava presente no local, assim como nenhuma outra cabeça do regime.
O ataque causou a morte de um civil e feriou outros quatorze, incluindo nove mulheres e uma criança.
Investigações posteriores descobririam que Saddam não visitava aquele complexo desde 1995.
Ataque inicial
Em 20 de março de 2003, precisamente as 02:30 UTC
ou cerca de 90 minutos perto do fim do prazo de 48 horas que Bush deu
para que Saddam deixasse o Iraque, as primeiras explosões eram ouvidas
em Bagdá. Membros das forças especiais americanas e da CIA
já estavam em solo iraquiano. Um dos seus objetivos era direcionar
alguns dos ataques aéreos. Os bombardeios atingiram principalmente os
palácios de Hussein e os centros de comando e controle. As 03:15 UTC, o
presidente George W. Bush autorizou que as aeronaves da Coalizão
atacassem "alvos de oportunidade" no Iraque, bombardeando alvos de
importância militar nos principais centros urbanos do país.
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Um caça F-15E americano sendo reabastecido por um KC-10 durante a Operação Liberdade do Iraque. |
Antes da invasão terrestre começar, imaginava-se que a campanha aérea
tomaria tempo, assim como havia acontecido na primeira guerra do golfo
de 1991 e na invasão do Afeganistão em 2001.
Porém foram pouquíssimos dias de bombardeio aéreo sozinho, com a
infantaria anglo-americana avançando rápido, com o objetivo de
sobrepujar o inimigo rapidamente, querendo derrubar Saddam e encerrar a
guerra o mais rápido possível. A tática de surpreender o inimigo com
maciço poderio aéreo e imponente força terrestre ficou conhecido como
Shock and Awe
("Choque e Pavor"). As unidades militares americanas e britânicas
focaram-se em regiões estratégicas e cidades chave, não perdendo tempo
em lutar contra tropas iraquianas alocadas em áreas sem importância. Com
a superioridade de mobilidade e coordenação das forças aliadas,
esperava-se que a vitória viesse o mais rápido possível com o mínimo de
baixas civis e danos a infraestrutura do país. Também era esperado que,
se a liderança política em Bagdá fosse eliminada, as forças armadas iraquianas
e o governo iriam entrar em colapso. Outro fator antecipado era de que a
maioria da população iraquiana saudaria os invasores como libertadores,
uma vez que vissem que o regime estava enfraquecido. Ocupação de
cidades e ataques a unidades militares nas periferias do país era visto
como desnecessário.
A decisão da Turquia
de não permitir que seu território fosse usado como base para uma
incursão no norte acabou forçando a Coalizão a mudar parte dos seus
planos, que incluía atacar o Iraque pelas duas pontas simultaneamente. Membros das forças especiais da CIA e do exército americano tiveram de usar os territórios controlados pela milícia curda Peshmerga como base para atacar pelo norte. Os curdos iraquianos,
que sofreram com a repressão do regime, apoiaram incondicionalmente a
Coalizão e até lutaram ao seu lado. No sul, o principal apoio veio do Kuwait e de outras nações do Golfo Pérsico, como a Arábia Saudita.
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Imagem de Bagdá feita pelo satélite Landsat 7, da NASA.
Na fotografia pode se ver as enormes colunas de fumaça se erguendo da
cidade. A foto foi tirada a 2 de abril de 2003, durante um dos mais
pesados bombardeios aéreos da guerra. |
A invasão terrestre foi rápida, levando ao colapso do governo e das
forças armadas iraquianas em apenas três semanas. Uma das prioridades
era tomar as principais refinarias de petróleo do Iraque e garantir que
elas sofressem poucos danos. Durante a guerra do golfo, enquanto
recuavam do Kuwait, o exército iraquiano incendiou vários poços
petrolíferos da região, como retaliação e para distrair as forças
aliadas. Antes da guerra de 2003, os militares iraquianos minaram mais
de 400 campos de petróleo ao redor de Basra e colocou explosivos nos campos da península de Al-Faw. A Coalizão foi cuidadosa ao realizar surtidas aéreas e lançar unidades anfíbias
em Al-Faw durante as primeiras horas de 19 de março, para garantir que
os campos petrolíferos da região não fossem danificados. Navios de
guerra americanos, britânicos, poloneses e australianos apoiaram a operação.
Soldados de brigadas especiais dos fuzileiros navais britânicos e americanos, apoiados pela unidade de elite polonesa (a JW GROM), atacaram os importantes portos de Umm Qasr.
A batalha foi feroz, com as tropas iraquianas oferecendo forte
resistência. Cerca de 14 militares da Coalizão e pelo menos 30 a 40
soldados iraquianos foram mortos. Outros 450 combatentes iraquianos
foram feitos prisioneiros. Já a 16ª Brigada aerotransportada do exército britânico
partiu para os campos petrolíferos do sul, especialmente perto de
Rumaila, apoiado por outras tropas aliadas, para garantir a integridade
dos poços de petróleo da região e dos portos também. Apesar do rápido
avanço das forças terrestres da Coalizão, pelo menos 44 refinarias foram
destruídas ou parcialmente incendiadas pelos iraquianos. Contudo, os
focos de incêndio foram rapidamente controlados e vários poços foram
salvos.
Mantendo o plano de avançar de forma rápida e avassaladora, a 3ª
Divisão de Infantaria americana moveu-se para a região norte e para o
oeste do deserto iraquiano, próximo a Bagdá, enquanto a 1ª Grupo
Expedicionário do Corpo de Fuzileiros avançava pela Autoestrada 1, no
centro do país. Nesse meio tempo, a 1ª Divisão Blindada inglesa avançava
pelo leste.
Durante a primeira semana de invasão, as forças iraquianas dispararam alguns Scuds
contra os Aliados, sendo que um desses mísseis tentou acertar a base
americana no Campo Doha, Kuwait. O míssil, contudo, foi interceptado por
uma bateria de mísseis MIM-104 Patriot que protegia o complexo. Subsequentemente, duas aeronaves A-10 Warthogs bombardearam as bases de lançamento dos Scuds, removendo esta ameaça.
Batalha de Nassíria
Inicialmente, a 1ª Divisão de Fuzileiros americanos avançou pelos campos petrolíferos de Rumaila e partiu para a região de Nassíria.
Esta cidade, de maioria xiita, tinha grande importância estratégica
devido as estradas que cruzam o município e ficava perto da base aérea
de Talil. Também estava situado perto de algumas pontes estratégicas
sobre o rio Eufrates.
A cidade era defendida por unidades militares regulares do Iraque e por
milícias sunitas baathistas (os Fedayeens). A 3ª Divisão de Infantaria
do exército dos Estados Unidos derrotou as tropas do regime entrincheiradas ao redor de Nassíria e no aeroporto local, ignorando o oeste da cidade.
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Um blindado americano danificado durante a batalha pela cidade de Nassíria. |
A 23 de março, um comboio da 3ª Divisão de Infantaria americana, incluindo duas soldados mulheres (Jessica Lynch e Lori Piestewa),
foi emboscado quando eles pegaram o caminho errado. Cerca de 11
soldados americanos foram mortos e sete outros, incluindo Lynch e
Piestewa, foram capturados.
Piestewa acabou morrendo devido a ferimentos sofridos durante a
batalha, enquanto os outros prisioneiros foram mais tarde libertos em
uma missão de resgate.
No mesmo dia, fuzileiros americanos reentraram em Nassíria e
enfrentaram forte resistência de milicianos locais e se moveram rápido
para capturar duas importantes pontes da cidade. Alguns combatentes
americanos foram mortos em combate com os Fedayeens na luta urbana. No chamado Canal Saddam, pelo menos 18 fuzileiros foram mortos em combate com soldados iraquianos. Um caça A-10 se envolveu em caso de fogo amigo que resultou na morte de mais seis marines
quando o seu veículo acabou sendo atingido. Ainda perto de Nassíria,
tiros de bazucas e armas pequenas infligiram mais baixas entre as tropas
da coalizão.
Em um caso específico, um fuzileiro foi morto por fogo inimigo enquanto
outros dois morriam afogados no Canal Saddam. Depois de muita luta, as
pontes foram tomadas e a 2ª Divisão de Fuzileiros firmaram suas posições
no perímetro.
No anoitecer do dia 24 de março, um batalhão do 1ª Regimento de
Fuzileiros americanos continuou avançando por áreas hostis de Nassíria,
para estabelecer suas posições no norte da cidade. Os iraquianos
enviaram reforços na madrugada seguinte e lançaram vários
contra-ataques. Os marines conseguiram repelir tais ataques, com apoio de artilharia e helicópteros de combate (como o AH-64 Apache).
No anoitecer do dia seguinte, as forças de Saddam já estavam em
retirada. Foi estimado que entre 200 e 300 iraquianos foram mortos
nesses contra-ataques, sem que os Estados Unidos tivessem uma única
perda. Por fim, Nassíria foi declarada segura, mas os Fedayeens
continuaram atacando. Estes embates eram lançados sem coordenação,
terminando em intensos tiroteios mas com pouco resultado, enquanto
vários milicianos morriam. Devido a importância estratégia da cidade, os
americanos moveram-se rápido para garantir que os arredores de Nassíria
também fossem tomados. Houve muita luta na região, mas os aliados se
saíram vitoriosos, infligindo grandes perdas ao inimigo.
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Um soldado americano perto de um campo de petróleo pegando fogo, em Rumaila, a 2 de abril de 2003. |
Com a cidade de Nassíria tomada e o aeroporto de Talil também
conquistado, as forças da Coalizão ganharam um importante centro
logístico no sul do Iraque. Tropas adicionais e suprimentos passaram por
lá enquanto avançavam rumo ao norte. A 101ª Divisão Aerotransportada
americana foi uma das primeiras a lançar ataques em larga escala em
direção a Bagdá, apoiados pela 3ª Divisão de Infantaria e pelos
fuzileiros.
A 28 de março, uma tempestade de areia atrasou o avanço das forças da
Coalizão e a 3ª Divisão de Infantaria do exército americano teve que
parar seu avanço para o norte, se estacionando entre as cidades de Najaf
e Karbala. Chuva forte após essa tempestade acabou por dificultar o
transito nas estradas e atrasou ainda mais o avanço das tropas aliadas
rumo ao norte. Por três dias, helicópteros de ataque tiveram de pausar
suas missões. Nesse meio tempo, houve pesados combates na cidade de Kufl
e demorou um pouco para a Coalizão controlar essa região.
Batalha de Najaf
Outra grande batalha da guerra aconteceu em Najaf,
onde paraquedistas e blindados americanos, apoiado por unidades aéreas
britânicas, travaram uma intensa luta contra forças regulares e
paramilitares iraquianos, além da própria Guarda Republicana (a elite do exército de Saddam). A batalha começou quando um helicóptero AH-64 Apache partiu para atacar blindados iraquianos perto dessa cidade. Houve muito fogo de armas anti-aéreas, fuzis e RPGs,
danificando várias aeronaves e abatendo pelo menos uma. Os ataques
aéreos foram mais bem sucedidos em 26 de março, com os helicópteros e
caças F/A-18 Hornet recebendo apoio da artilharia de longa distância. Não houve perdas dessa vez para a Coalizão.
A infantaria americana então avançou e, após violentos combates, eles
conseguiram expulsar os soldados iraquianos e os milicianos fedayeen
dos arredores de uma ponte vital em Najaf. As forças de Saddam
contra-atacaram com ímpeto no dia seguinte, mas não conseguiram reaver
suas posições. Depois de 36 horas de luta quase que contínua, a ponte
foi finalmente declarada segura e as tropas iraquianas debandaram,
isolando assim Najaf do norte.
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Um tanque T-72 iraquiano destruído em combate contra as forças da Coalizão. |
No dia 29 de março, a 101ª Divisão Aerotransportada americana,
apoiadas por uma divisão de blindados, atacaram as forças iraquianas no
sul de Najaf, perto da Mesquita de Imam Ali, capturando também o aeroporto da cidade. Quatro americanos morreram ali perto na explosão de um homem-bomba.
A 31 de março, 101ª Divisão enviou patrulhas a áreas ainda hostis de
Najaf. Então o 70º Regimento de blindados atacou a região central do
município e, após pesados combates, tomaram a cidade por completo em 4
de abril. As forças iraquianas remanescente ou se renderam ou fugiram.
Batalha de Basra
A cidade portuária iraquiana de Umm Qasr
foi o primeiro grande obstáculo para os britânicos. Uma força
anglo-americana, apoiada pelos poloneses, avançaram para lá mas
enfrentaram feroz resistência no caminho e levou vários dias para
chegarem no perímetro. Mais ao norte, a 7ª Brigada de Blindados inglesa
("Os Ratos do Deserto"), prosseguiam um implacável avanço em direção a
cidade de Basra
(o ponto estratégico mais importante do sul do Iraque). A 6 de abril,
os britânicos travaram ferozes lutas contra soldados e milicianos leais a
Saddam avançando em direção ao centro da cidade em áreas urbanas de
difícil acesso. A luta por Basra durou quase três semanas e teve a maior
luta entre blindados na história do Reino Unido desde a Segunda Guerra
mundial. Só no dia 27 de março, 14 tanques de guerra iraquianos foram
destruídos pelos veículos britânicos.
Então, elementos da 1ª Divisão Blindada britânica avançaram rumo ao norte para apoiar os americanos em Al Amarah
a 9 de abril. Enquanto as forças iraquianas recuavam e abandonavam suas
posições, as cidades evacuadas ficavam desprotegidas e casas, lojas e
outros estabelecimentos foram saqueados por cidadãos locais. Falta de
mantimentos e luz elétrica também era comum. As forças aliadas tentaram
então suprir as demandas de segurança, mas não foram tão bem sucedidas
no longo prazo. Com a tomada de Umm Qasr,
que aconteceu no fim de março, garantiu uma rota de suprimentos vitais
para as tropas aliadas que combatiam no norte. Os portos desta cidade
também permitiu a chegada de ajuda humanitária.
Pelo menos onze militares britânicos foram mortos nestes combates.
Pelo menos entre 395 e 515 soldados e milicianos iraquianos foram mortos
também.
Após os avanços iniciais rápidos, as forças da Coalizão se depararam com a importante e bem defendida cidade de Karbala.
Lá, os americanos enfrentaram feroz resistência de soldados e
paramilitares de Saddam, que defendiam esta vital região próxima as
margens do Eufrates.
Esta cidade era importante, não só pela sua localização, mas também
pelas estradas que a cortavam, que faziam com que suprimentos pudessem
escoar para o norte com mais facilidade. Eventualmente, três divisões do
exército dos Estados Unidos tiveram que partir para tentar tomar
Karbala e Najaf (que caiu antes), para evitar que os iraquianos usassem a
região para contra-atacar e tentar interromper o avanço aliado em
direção a Bagdá.
Batalha de Karbala
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Um blindado Type 69 do Iraque destruído pela aviação militar americana. |
A cidade de Karbala
fica a leste do rio eufrates e a oeste do lago Razazah. Os iraquianos
sabiam que esta região era muito importante taticamente, pois continha
as principais rotas em direção a Bagdá. Então, para proteger a área, foram enviadas algumas das melhores unidades da Guarda Republicana Iraquiana (a tropa de elite de Saddam). Duas de suas divisões estavam na principal abertura de Karbala.
Quando as forças da Coalizão chegaram eles lutaram bravamente mas
sofreram pesadas baixas, sem infligir muitos danos aos aliados.
A Coalizão havia conduzido operações no norte do Iraque tentando
confundir as forças de Saddam. As tropas do regime engoliram o engodo e
pensaram que o ataque principal a capital iraquiana viria pelo norte, na
fronteira com a Turquia. Seguindo ordens expressas do presidente
iraquiano, Qusay Hussein
(herdeiro de Saddam e comandante da Guarda Republicana) realocou várias
unidades militares que estavam no sul para ir lutar no norte, achando
que o avanço aliado ao sul era apenas uma distração. O comandante das
tropas iraquianas na região central, o tenente-general Raad al-Hamdani,
protestou contra essa ordem, afirmando que defender Karbala era vital
para proteger Bagdá e pediu por reforços para que ele tentasse segurar a
linha. Ele argumentou que, se Karbala caísse, os americanos chegariam
na capital em menos de 48 horas. O Quartel-general de Saddam, contudo,
se recusou a ouvir e negou seu pedido de ajuda. As tropas dos Estados
Unidos avançaram pela brecha nas linhas iraquianas e chegaram as margens
do rio eufrates, esmagando qualquer resistência no caminho e logo em
seguida tomando a cidade de Musayib. Lá, os estadunidenses cruzaram o eufrates em vários barcos e tomaram a importante ponte de al-Kaed, expulsando as unidades inimigas da região.
Uma brigada mecanizada da Divisão Medina e outra da Divisão
Nebuchadnezzar, duas das unidades de elite do exército do Iraque,
apoiado por artilharia, lançaram uma grande contra-ofensiva noturna em
Musayib, no começo de abril, para tentar quebrar as linhas da Coalizão e
reaver Karbala no processo. O ataque foi repelido pelos tanques
americanos, com apoio da artilharia e de foguetes, com as tropas
iraquianas sofrendo pesadas baixas. Na manhã seguinte, aviões e
helicópteros aliados abriram fogo pesado contra as unidades
remanescentes da Guarda Republicana iraquiana, destroçando o que sobrou
de suas forças na região. A infraestrutura e as linhas de comunicação do
exército iraquiano no local também foram estraçalhadas. Sem condições
de enfrentar o poder de fogo avassalador da Coalizão, o que sobrou das
tropas de Saddam debandou em desordem. Com a conquista de Karbala e das
áreas vizinhas, o caminho para Bagdá estava completamente aberto.
Operações especiais
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Militares britânicos no Iraque
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As forças especiais aliadas cumpriram um papel fundamental em
diversos aspectos da invasão. O 2º batalhão das forças especiais do
Exército americano, compostos pelos famosos "Boinas Verdes" (
Green Berets) conduziram missões de reconhecimento em Basra, Karbala e em várias outras regiões, especialmente no norte e no oeste.
No norte, o 10º Grupo de Operações Especiais e paramilitares da CIA (membros da 'Divisão Especial') receberam a missão de ajudar as forças curdas, como a União Patriótica do Curdistão e o Partido Democrático do Curdistão, que eram os de facto governantes do Curdistão Iraquiano desde 1991, e auxiliaram a Coalizão na luta pelas cidades nortenhas, como Kirkuk e Mossul. Como a Turquia
havia proibido o uso de seu território pelas forças Aliadas, os grupos
especiais americanos tiveram de usar rotas alternativas ou,
primordialmente, jogaram-se de paraquedas em pontos estratégicos. Um dos
primeiros objetivos dos batalhões de operações especiais americanos era
eliminar a base do grupo terrorista Ansar al-Islam
do território curdo, acreditando que estes tinham uma conexão com a
al-Qaeda. Posteriormente, posições do exército iraquiana também foram
atacadas, com o propósito de impedir que elas fossem combater no sul,
onde o grosso da ofensiva estava acontecendo.
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Fuzileiros americanos durante uma missão de combate no Iraque, em março de 2003. |
A 26 de março de 2003, a 173ª Brigada Paraquedista americana reforçou
as tropas da Coalizão no norte do Iraque, lançando-se perto do campo
aéreo de Bashur, que era controlado pelas forças especiais
estadunidenses e pelas tropas curdas da Peshmerga.
Em 10 de abril, Kirkuk caiu em mãos aliadas, cortando assim as linhas
de comunicação e transporte iraquianas, isolando o norte do sul.
O sucesso da ocupação de Kirkuk aconteceu após duas semanas de
batalha, onde os curdos e americanos derrotaram as forças de Saddam na
região. Logo em seguida, a Coalizão derrotou os iraquianos na batalha de
Kani Domlan. A 173ª Brigada eventualmente assumiu a responsabilidade de
defender Kirkuk e seguiu lutando contra a insurgência até o fim do ano, quando foi realocada para outro lugar.
Outras batalhas foram travadas no norte pelas forças especiais do exército e do corpo de fuzileiros americanos. Uma das bases de operações da Coalizão na região era a cidade curda de Erbil. Outra base foi montada após os marines conquistarem Mossul.
Após conquistar a cidade de Sargat, as forças especiais do exército
americano e da CIA, apoiado por guerrilheiros curdos, avançaram em
direção a Tikrit,
importante município perto de Bagdá e terra natal de Saddam. Um
batalhão de infantaria iraquiano protegia a área mas foram derrotados
facilmente. Tikrit caiu logo em seguida, assim como outras cidades
vizinhas. A Guerra do Iraque foi onde as forças especiais americanas viram mais ação desde o conflito no Vietnã, nas décadas de 60 e 70.
A queda de Bagdá (Abril de 2003)
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Um tanque T-72 Asad Babil iraquiano abandonado em uma estrada perto de Bagdá. |
Com quase três semanas de invasão, as forças da Coalizão avançaram sobre Bagdá, a capital do Iraque. Os iraquianos dispunham de várias unidades do batalhão de forças especiais, milicianos (os Fedayeen Saddam) e soldados regulares do exército, além de vários grupamentos da Guarda Republicana. Haviam também voluntários de outras nações árabes.
A Coalizão inicialmente planejava cercar a cidade e eventualmente ir
tomando bairro por bairro, forçando as unidades iraquianas a se agrupar
no centro, onde não teriam como fugir dos ataques aéreos e da
artilharia. Este plano acabou se tornando desnecessário, já que no lado
sul da capital, várias unidades blindadas da Guarda Republicana travaram
combate com soldados americanos, que destruíram incontáveis tanques
iraquianos. O que sobrou das forças mecanizadas não tinha mais condições
de lutar. A periferia da capital acabou se tornando um estacionamento
para veículos e outros equipamentos militares iraquianos abandonados
pelos defensores em fuga. A 5 de abril, tropas de infantaria americana,
apoiado por blindados leves, avançaram sobre o Aeroporto Internacional de Bagdá,
um ponto central da cidade. Eles encontraram feroz resistência, mas
acabaram conseguindo sobrepujar os defensores e conquistar o aeroporto.
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Um blindado americano M1 Abrams destruído nas cercanias da capital iraquiana. |
A 6 de abril, uma outra divisão de infantaria dos Estados Unidos atacou o centro de Bagdá e ocupou um dos palácios de Saddam Hussein.
Enquanto isso, os combates na região se tornaram mais intensos.
Fuzileiros navais americanos também enfrentaram resistência e foram
recebidos a tiros de artilharia enquanto tentavam cruzar uma ponte no
centro. Eles acabaram sendo bem sucedidos. Através de posições
defensivas altas, os iraquianos ainda conseguiram infligir algumas
baixas nas tropas da Coalizão que ocupavam o aeroporto, mas quando o
apoio aéreo aliado foi chamado eles acabaram sendo destroçados. Com o
aeroporto e um dos principais palácios de Saddam ocupados, os americanos
lançaram um ultimato as forças do regime, exigindo a rendição da
cidade, ou sofreriam as consequências de um ataque em larga escala por
todos os lados. A luta por Bagdá então caiu de intensidade e boa parte
dos oficiais de alta patente do exército, além de cabeças do regime,
fugiram. Muitos soldados optaram por se render. A 9 de abril de 2003, a
capital iraquiana foi declarada oficialmente segura e nas mãos das
tropas da Coalizão. Contudo, combates em pequena escala prosseguiam. A
violência se tornou evidente especialmente na periferia. Enquanto os
palácios presidenciais de Saddam eram vasculhados um a um, o ditador
acabou não sendo encontrado. Seus filhos e parentes próximos, que
praticamente governavam o país com ele, também desapareceram.
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Militares dos Estados Unidos lutando em Bagdá, em abril de 2003. |
Em 10 de abril, houve um rumor de que Saddam Hussein e alguns
ajudantes estariam escondidos no complexo de uma mesquita, no distrito
de Al Az'Amiyah, em Bagdá. Três companhias de fuzileiros navais
americanos foram enviados para a área imediatamente e no momento que
chegaram foram recebidos com disparos de armas pequenas, fuzis,
morteiros e bazucas. Um soldado foi morto e outros 20 ficaram feridos,
mas nem Saddam e nem qualquer outra pessoa ligada ao seu regime foi
capturada. As forças americanas, apoiadas por disparos de artilharia e
por aeronaves de combate, lutaram contra os últimos guerrilheiros e
milicianos leais a Hussein que ainda estavam entrincheirados na capital.
Um avião aliado teria sido derrubado por fogo anti-aéreo. A 12 de
abril, o barulho dos tiros cessou. Cerca de 34 soldados americanos
morreram na luta pela capital. Pelo menos 2 320 iraquianos também
perderam a vida.
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Em uma das imagens mais icônicas do conflito, uma enorme estátua do
ditador iraquiano Saddam Hussein é derrubada na praça Firdos, no centro
de Bagdá. A estátua foi posta a baixo por civis que habitavam a região,
com apoio de militares americanos. |
Houve muita comemoração entre a população iraquiana após a conquista
de Bagdá pela Coalizão e o efetivo colapso do regime. A excitação foi
maior entre a população xiita, que fora marginalizada durante as duas
décadas do seu governo. Estátuas e retratos do ditador espalhados pela
capital foram vandalizados. Em um dos eventos mais icônicos da guerra,
uma grande estátua em honra a Saddam Hussein, no centro da cidade (na
praça Firdos), foi derrubada. Tal evento foi transmitido ao vivo para o
mundo. Em uma de suas colunas, o jornal britânico
Daily Mirror:
"Para um povo oprimido, este ato final no cair do dia, a derrubada deste símbolo do regime, é o momento 'Muro de Berlim'."
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O sargento americano Brian Plesich reportou em
On Point: The United States Army in Operation Iraqi Freedom:
"Um coronel do corpo de fuzileiros (americano) viu a grande estátua
de Saddam como um alvo de oportunidade [para destruir] e decidiu
derruba-la. Como nós já estávamos lá, subimos nela com alto falantes e
conclamamos o povo iraquiano a vir e ver o que estávamos fazendo...
Enquanto isso, alguém teve a ideia de pegar um bando de crianças
iraquianas para pisar encima dos destroços da estátua que estávamos para
derrubar. Quando a estátua finalmente veio abaixo, eles pularam encima
dela".
|
A queda de Bagdá e o eventual colapso do regime não trouxe uma paz
imediata, como era de se esperar. Violência sectária rapidamente se
alastrou pelo país. Primeiro pelas partes mais pobres das cidades e
depois até os centros urbanos. Tribos e pequenos grupos começaram a se
digladiar por controle e por velhas desavenças. As cidades de Al-Kut e Nassíria
lançaram ataques uma contra a outra, logo após a queda de Bagdá. Grupos
sectários e religiosos começaram a lutar por poder em suas respectivas
regiões. As forças da Coalizão, liderada pelos Estados Unidos, viu-se no
meio de uma potencial guerra civil.
As tropas aliadas, agora no controle de boa parte do país, começaram a
tentar por um fim nas hostilidades regionais, evitando a fragmentação do
país. Calma foi pedida para a população em geral. Nassíria respondeu
favoravelmente ao pedido americano e começou a maneirar na belicosidade,
mas o povo do município de Al-Kut colocou atiradores e barricadas nas
ruas da cidade com objetivo de lutar contra qualquer invasor. Após
vários pequenos confrontos, os milicianos recuaram, mas a tensão nas
províncias e cidades de todo o Iraque continuaram. Antigas desavenças
tribais, religiosas e étnicas voltaram a tona com força, algo que os
americanos não tinham previsto.
O general americano Tommy Franks
assumiu o de facto controle do Iraque como o comandante supremo das
forças de ocupação da Coalizão. Logo após a queda de Bagdá, rumores
circularam pelo país de que comandantes e oficiais do velho regime e das
forças armadas estariam recebendo incentivos financeiros para que se
entregassem. Em maio de 2003, quando o general Franks se aposentou, ele
confirmou a informação e falou que vários proeminentes membros do
exército baathista receberam dinheiro para se render.
|
Fuzileiros navais americanos transportando prisioneiros iraquianos, em março de 2003. |
Enquanto assumiam a difícil tarefa de administrar o Iraque, as forças
de ocupação começaram uma busca implacável pelas principais lideranças
do regime de Saddam. Um baralho de cartaz com o rosto das principais
figuras do governo baathista foi distribuído entre os soldados da
Coalizão. Mais tarde, durante a ocupação militar
subsequente a invasão, precisamente a 22 de julho de 2003, membros da
101ª Divisão Paraquedista atacaram uma pequena casa no centro de Mossul e após um tiroteio de quatro horas, foi constatado que quem estava na residência era de fato os filhos de Saddam, Uday e Qusay, e seu neto. Todos os três foram mortos, junto com um segurança da família.
Saddam Hussein, que fugira para Tikrit
(que fica 170 km ao norte de Bagdá), só foi capturado a 13 de dezembro
de 2003, em uma pequena casinha em uma remota fazenda nas cercanias da
cidade. Soldados americanos da 4ª Divisão de infantaria do exército
foram os responsáveis por sua captura, durante a chamada Operação Red Dawn. Saddam seria então levado a julgamento por crimes contra a humanidade
cometidos durante as duas décadas que durou o seu regime. Ele foi então
sentenciado a morte e eventualmente enforcado, a 30 de dezembro de
2006. Mesmo com sua execução, a violência no Iraque não deu trégua. A
esperança americana de ver o país estável e seguro demoraria tempos para
acontecer, enquanto a nação mergulhava em uma violenta guerra civil.
Combates em outras regiões
No norte do Iraque, forças curdas
que se opunham a Saddam começaram a ocupar áreas e posições controladas
pelo regime. Eles receberam apoio das tropas especiais americanas. Os
Estados Unidos também lançaram ataques aéreos na região, enfraquecendo
as forças do governo central na área. Os aliados rapidamente se moveram
em direção a Kirkuk,
que caiu rapidamente a 10 de abril. Esta cidade e suas regiões
vizinhas, ricas em petróleo, eram consideradas muito importante
estrategicamente.
Soldados das forças especiais dos Estados Unidos também se envolveram
em lutas no sul e no oeste do Iraque, ocupando várias estradas que
davam acesso a Síria. Bases aéreas e quartéis militares abandonados também foram tomados.
A 15 de abril, tropas americanas assumiram o controle de Tikrit, importante cidade na região central do Iraque, localizada ao norte de Bagdá.
Declarado o fim do conflito (Maio de 2003)
|
O porta-aviões USS Abraham Lincoln retornando para os Estados Unidos após executar sua missão no Iraque. Nota-se que ele ainda carregava o banner com a frase "Mission Accomplished"
("Missão Cumprida"). Mais tarde, a administração Bush foi duramente
criticada por 'cantar vitória' cedo demais, já que os grandes combates
do conflito estavam apenas começando. |
A 1 de maio de 2003, o presidente George Bush visitou o super porta-aviões USS
Abraham Lincoln, que estava voltando para os Estados Unidos depois de cumprir um turno no Golfo Pérsico. Bush pousou no deck do porta-aviões em um caça Lockheed S-3 Viking.
Logo depois ele fez um discurso para a tripulação do navio, para o povo
americano e para o mundo, onde ele anunciou que "as principais
operações de combate no Iraque terminaram" e ele completou dizendo que
"os Estados Unidos e seus aliados haviam prevalecido". O presidente
acabou sendo duramente criticado por oponentes políticos que disseram
que sua passagem pelo USS
Abraham Lincoln era nada mais que uma
cara peça publicitária teatral. Enquanto ele discursava, notava-se,
atrás dele, um enorme banner escrito "
Mission Accomplished" (em português "Missão Cumprida"). O banner fora feito pelo pessoal da Casa Branca e colocado lá pelos marinheiros do navio.
O cartaz foi, mais tarde, duramente criticado e foi considerado
prematuro. Membros do governo americano falaram que a visita de Bush
fazia referência a vitória da invasão apenas e eles constaram que tudo
foi feito de forma teatral. Uma parte do discurso dizia: "Nós ainda
temos uma dura missão pela frente. Nós estamos trazendo ordem para
regiões do país que continua perigosas".
Os anos seguintes a invasão seriam particularmente sangrentos. O Iraque
viveu períodos violentos, enquanto o país afundava numa violenta guerra civil de caráter religioso e sectário.
Análise
|
Aeronaves americanas, britânicas e australianas sobrevoando o Golfo Pérsico durante o conflito. Na imagem, aeronaves KC-135 Stratotanker, F-15E Strike Eagle, F-117 Nighthawk, F-16CJ Falcon, GR-4 Tornado e F/A-18 Hornet. |
A invasão aliada do Iraque durou apenas 21 dias (de combate) e terminou com duas décadas de governo baathista. Apesar da Coalizão ter mobilizado o maior exército já reunido desde a Guerra do Golfo
de 1991, não foram todas as unidades que viram combate e muitas foram
quase que imediatamente mandadas para casa após o fim das hostilidades.
Isso se provaria um grave erro pois, questão de dias após a declaração
do fim do conflito, violentos combates irromperam por todo o país
(alguns mais intensos do que os travados durante a invasão), inciando uma nova fase da guerra. O general Eric Shinseki,
chefe do Estado-Maior das forças armadas americanas, recomendou logo
após a invasão que uma enorme força de combate ficasse para atrás para
manter a ordem, contudo o secretário de defesa Donald Rumsfeld e seu vice Paul Wolfowitz fortemente se opuseram a esta ideia. Mais tarde, o general John Abizaid afirmou que o plano de Shinseki era correto.
O exército iraquiano de Saddam estava armado na época com
equipamentos soviéticos ultrapassados, era mal preparado e equipado se
comparado com as forças anglo-americanas.
A milícia conhecida como "Saddam Fedayeen" lutou ferozmente em algumas
batalhas, mas em outras acabou sendo ineficiente. A artilharia também se
mostrou muito pouco eficiente, assim como as defesas antiaéreas do
Iraque. Os tanques T-72
do regime eram os melhores em seu arsenal, mas careciam de peças de
reposição e estavam ficando velhos. Muitos blindados iraquianos acabaram
sendo destruídos pelo poder aéreo da Coalizão ou em combate direto
contra os tanques de guerra anglo-americanos. Vários carros de combate
foram também abandonados sem nem mesmo terem disparado um tiro. A força aérea dos Estados Unidos e do Reino Unido
agiram com impunidade e seus aviões voavam várias missões por dia,
enfrentando pequena resistência. Os tanques dos Aliados também eram
vastamente superiores tecnologicamente falando, como o americano M1 Abrams e o britânico Challenger 2,
e avançaram rapidamente pelo interior do país, massacrando qualquer
oposição que encontravam. Apesar das forças paramilitares iraquianas
terem disparados incontáveis foguetes RPG poucos blindados da Coalizão foram perdidos e nenhum tripulante de tanque aliado foi morto por fogo inimigo.
Os soldados iraquianos também sofriam com a moral baixo, mesmo entre a
Guarda Republicana (considerada a elite das forças de Saddam). Várias
unidades debandaram e desertaram frente ao avanço das tropas invasoras,
sendo que vários batalhões optaram por se render. Oficiais de patentes
medianas e altas foram subornados pela CIA ou coagidos a se render. A liderança das forças armadas também era incompetente. Foi reportado que Qusay Hussein,
encarregado com a defesa de Bagdá, drasticamente mudava a posição de
suas tropas na região, confundindo seus soldados e oficiais. No geral,
as unidades militares americanas e britânicas evitaram combates
desnecessários, preferindo focar seus esforços em seus objetivos de
conquistar as principais cidades do país e capturar sua liderança. Com
isso, várias unidades militares iraquianas acabaram saindo do conflito
relativamente intactas, especialmente aquelas que estavam alocadas no
sul. Na época, foi assumido que essas unidades simplesmente debandaram
como as outras.
De acordo com documentos do Pentágono,
um dos principais fatores que contribuíram para a rápida derrota
iraquiana foi a "constante interferência de Saddam Hussein nas questões
militares". Além da inabilidade do ditador em comandar e da
incompetência de alguns de seus generais, havia ainda o sentimento por
parte do governo do Iraque de que a ameaça de invasão poderia ser na
verdade um blefe. De acordo com uma matéria da BBC,
documentos relatavam que Saddam estava "com a cabeça fora da realidade,
mais preocupado com a possibilidade de uma insurreição interna ou com
um ataque do Irã".
Após a ocupação, a paz e a estabilidade não reinou sobre o Iraque,
como a Coalizão esperava. Saques e ondas de crimes se tornaram comuns
nos dias após o colapso do regime.
Nos anos seguintes, a violência sectária e religiosa se intensificou e o
país acabou mergulhando em uma brutal guerra civil que acabaria
ceifando a vida de mais de 500 mil iraquianos. As forças de ocupação, em
sua maioria do exército dos Estados Unidos,
viu-se preso naquele país por mais tempo do que haviam antecipado,
pagando um alto preço em vidas e dinheiro devido a uma série de erros de
cálculo. O conflito como um todo viria a ficar conhecido como a Guerra do Iraque.
Perdas
Mortes
|
Um civil iraquiano sendo tratado após ter sido ferido em Umm Qasr, no Iraque, em março de 2003.
|
As estimativas do número de mortes na guerra varia de fonte para fonte. De acordo com o site
Iraq Body Count,
aproximadamente 7 500 civis foram mortos no conflito. Outras
referências estimam que entre 3 200 e 4 300 civis perderam a vida
durante a invasão.
Pelo menos 180 militares da Coalizão perderam a vida em combate. Já
entre forças armadas iraquianas, estima-se que em torno de 30 000
combatentes foram mortos ou feridos.
Alegações de crimes de guerras
A milícia Saddam Fedayeen, a Guarda Republicana e outras forças de
segurança do Iraque foram acusadas de cometerem diversos crimes, entre
eles estava a execução de soldados iraquianos que não queriam lutar ou
que pretendiam se render. Eles também ameaçavam a família dos
combatentes que não queriam ir para a linha de frente.
Também foi reportado o uso de civis pelos Fedayeens como escudos humanos durante os combates.
Estas acusações também se estenderam a Guarda Republicana. Alguns
relatórios afirmaram que os Fedayeen usaram ambulâncias para enviar
mensagens e transportar combatentes para as linhas de frente. Em um
caso, milicianos leais a Saddam usaram um carro com o símbolo da Cruz Vermelha em uma emboscada na cidade de Nassíria, que terminou com três soldados americanos feridos.
Durante a batalha por Basra,
forças britânicas reportaram, a 28 de março, que combatentes Fedayeen
estavam disparando a contra grupos de civis que tentavam deixar a
cidade.
Após a batalha de Nasiriyah,
em 23 de março, corpos de soldados americanos mortos foram exibidos na
tv estatal iraquiana. Isto por si só já caracteriza crimes de guerra,
mas as imagens também evidenciavam que alguns desses soldados tinham
visivelmente marcas de tiro na cabeça, o que leva a acreditar que eles
foram executados. Além disso, cinco prisioneiros americanos também
apareceram sendo interrogados na televisão, sendo outra violação das Convenções de Genebra.
Em um caso similar ao que aconteceu em Nassíria, ao fim de março, uma
unidade de engenheiros militares britânicos pegou a rota errada e
entraram na cidade de Az Zubayr,
que ainda estava sob controle de forças leais a Hussein. O grupo foi
emboscado e o engenheiro Luke Allsopp e o sargento Simon Cullingworth
acabaram sendo capturados e posteriormente executados por milicianos
iraquianos.
Cobertura da mídia
Nos Estados Unidos
|
Estudos e pesquisas feitas antes e durante a operação mostravam que a
maioria da população apoiava a invasão. Com o passar do tempo, com a
guerra indo mal, a opinião pública acabou se voltando contra a guerra. |
A invasão do Iraque foi possivelmente a guerra mais noticiada e coberta midiaticamente na história.
Nos Estados Unidos a mídia era praticamente toda em favor da guerra e a
maioria da população que acompanhava a guerra pela televisão afirmava
ser igualmente em favor do conflito. O jornal
The New York Times
fez vários artigos falando sobre como Saddam Hussein estaria de fato
tentando construir uma arma nuclear. Em 8 de setembro de 2002, eles
fizeram uma matéria chamada "
U.S. Says Hussein Intensifies Quest for A-Bomb Parts"
("Estados Unidos dizem que Hussein intensifica a busca por partes para
Bombas Atômicas") que mais tarde seria amplamente desacreditada e o
The New York Times foi forçado a fazer uma declaração pública admitindo o erro e afirmando que não foi rigorosa em checar os fatos.
Quando a guerra começou, em março de 2003, pelo menos 775 repórteres e fotógrafos foram para a região. Esses jornalistas assinaram contratos com os militares, limitando o que eles poderiam reportar.
Quando perguntaram o motivo de tanto controle, o tenente-coronel Rick
Long, do corpo de fuzileiros, disse: "Francamente, nossa tarefa é vencer
a guerra. Parte disso é a guerra de informações. Então nós vamos tentar
dominar o ambiente das informações".
Em 2003, um estudo feito pela
Fairness and Accuracy in Reporting
afirmou que a mídia em geral focou apenas em fontes favoráveis ao
conflito e deixou de lado o movimento anti-guerra. De acordo com um
estudo, 64% das fontes pesquisadas no começo da Guerra do Iraque eram
favoráveis ao conflito, com apenas 10% da mídia usando fontes
anti-guerra. O estudo observou apenas seis canais de mídia americanas. Foi também observado que os telespectadores tinham maior tendência a também usarem fontes pró-guerra.
Em setembro de 2003, uma pesquisa de opinião revelou que 70% dos
americanos acreditavam que haviam uma ligação entre Saddam Hussein e os
atentados terroristas de 2001 em Nova Iorque. Já entre os telespectadores da rede de televisão Fox News (um canal conservador e pró-partido republicano) mais de 80% compartilhava esta crença, bem abaixo dos 23% da rede PBS (canal considerado de linha progressista).
Ted Turner, fundador do canal de notícias CNN, acusou o magnata Rupert Murdoch de usar a Fox News para apoiar e defender a invasão.
Críticos afirmaram que tais visões favoráveis ao conflito eram fruto da
parcialidade da mídia nos Estados Unidos. Fora da América do Norte, o
apoio ao conflito era muito menor.
Em uma pesquisa de opinião feita em junho de 2014, onze anos após a
invasão, mostrava que a maioria da população americana afirmava que a
decisão do país de ir a guerra no Iraque foi um "grande erro".
Mídia independente
A mídia independente também cobriu intensamente o conflito. A rede Indymedia,
junto com vários outros meios de comunicação independentes, fizeram
várias matérias sobre a Guerra do Iraque. Nos Estados Unidos, o grupo
Democracy Now!, cujo a âncora era Amy Goodman,
foram especialmente críticos sobre os motivos que levaram os americanos
a invadirem o Iraque em 2003 e também investigaram denúncias de crimes
de guerra feitos pelos estadunidenses.
Por outro lado, entre os elementos na mídia que não se opunham a invasão, o
The Economist
afirmou em um artigo que "a política de sansões, persuasão, pressão e
as resoluções da ONU foram tentadas, mas falharam". Eles completaram
dizendo que "se o Sr. Hussein se recusa a se desarmar, seria certo ir a
guerra".
A internet acabou também proporcionando uma nova forma de se cobrir
um conflito, mostrando ao grande público, burlando a censura, a
realidade na frente de batalha. Blogs e sites alternativos mostravam a
guerra sem ressalvas. A mídia eletrônica
estava dividida, com alguns apoiando a guerra e outros sendo contra.
Muitos tentaram ser imparciais, focando na história dos soldados que de
fato estavam lutando.
Cobertura internacional
A cobertura da mídia internacional foi muito diferente da que
aconteceu nos Estados Unidos, onde prevaleceu, pelo menos no começo,
visões majoritariamente favoráveis a guerra. Pelo mundo, os programas
jornalísticos eram mais críticos a respeito da invasão.
A rede de televisão árabe Al Jazeera e o canal de satélite alemão Deutsche Welle
focaram principalmente nos aspectos políticos que motivaram a decisão
de invadir o Iraque. A Al Jazeera também mostrava com frequência imagens
de civis mortos e feridos na guerra, algo que a mídia nos Estados
Unidos tentavam evitar. A Casa Branca
também havia emitido um blackout dos meios de comunicação impedindo que
eles cobrissem e mostrassem imagens de corpos e caixões de soldados
americanos mortos no Iraque.
Mudam os governos, os séculos passam, mas a ganância do "Ter" não passa! Talvez quem sabe, com o avanço da ciência e a conscientização popular, muito em breve, não tenhamos de volta para seus lares esses assassinos frios e sem Deus, que ganham salários polpudos pagos pelos grandes fabricantes de armas para matarem seres humanos e puderem sobreviver à falta de empregos em seus países.
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