Foram
decididas em Bruxelas as quotas pesqueiras para 2019 e Portugal poderá
pescar 131 mil toneladas de peixe, com as principais espécies a
beneficiar de aumentos importantes.
De acordo com o Governo português, trata-se de um aumento de 24% nas quotas nacionais.
Entre
as espécies que poderão ser mais pescadas encontram-se o tamboril, o
atum rabilho, a raia e o bacalhau, mas especialmente o carapau. A
pesca do carapau sobe quase 70%.
Reduzidas ficam as quotas da sarda e do
verdinho e por saber resta a quota aplicada à sardinha.
No entanto, como membro da União, Portugal deverá cumprir com o chamado rendimento máximo sustentável das espécies para 2020.
Militares leais a Maduro tentam conter as investidas colombianas em Táchira
Sobre a ponte internacional Las Tienditas, que divide os dois países, circulam drones e helicópteros durante todo o dia
Drones,
helicópteros e um batalhão de jornalistas estrangeiros. Esse é o
cenário do lado colombiano da ponte internacional Las Tenditas, no
Município de Ureña, na tarde deste sábado (23). Do lado venezuelano,
generais da Força Armada Nacional Bolivariana apenas observam, na linha
de frente e desarmados, em missão de paz. Um deles leva em mãos a
Bíblia.
"Não quero armas aqui", brada um dos coroneis venezuelanos, quando um
opositor do lado colombiano se aproxima. Era um porta-voz, supostamente
enviado para diálogar com os militares. O cumprimento foi cordial. O
porta-voz reiterou a intenção de entrar em território venezuelano com
"ajuda humanitária" – o que é encarado pelos chavistas como um "cavalo
de Troia" para abrir caminho para intervenção estadunidense e derubar o
governo do presidente eleito Nicolás Maduro. "O general Bernal disse que
se isso ocorrer haverá um derramamento de sangue. Somos irmãos. Não
façam isso". O colombiano apenas ouviu e se afastou.
Horas antes, a Colômbia havia enviado um "explorador", vestido com um
colete branco com a identificação da Organização dos Estados Americanos
(OEA), para "reconhecer o terreno". O enviado se aproximou da grade de
proteção que delimita fronteira entre os dois países. Uma jornalista do
canal estatal venezuelano Telesur pergunta: "O que pretendem fazer?". Ao
que o homem de colete responde, com desdém: "Vocês sabem".
Ainda no sábado, opositores venezuelanos tomaram o aeroporto da
cidade, no estado de Táchira, mas os militares bolivarianos recuperaram o
controle. Em todo o estado, próximo à Colômbia, manifestantes
contrários a Maduro têm fechado rodovias: sequestraram três ônibus
públicos e queimaram um.
No centro do povoado de Ureña, a poucos quilômetros da ponte Las
Tienditas, seguem os protestos contra Maduro. Militares foram acionados e
tentam controlar a zona. Na localidade de San Antonio, um militar teve o
rosto queimado durante o manifestação de opositores.
Na ponte Simón Bolívar, em outro ponto da fronteira, mais um ônibus
foi incendiado no final da tarde. A oposição atribui a queima dos dois
veículos aos militares pró-Maduro. Vídeos que circulam na internet
mostram ação violenta de colombianos e opositores de Maduro
mascarados, que tentam cruzar a ponte e entrar na Venezuela a qualquer
custo. Acompanhe no Brasil de Fato a cobertura completa dos conflitos na Venezuela.
António Guterres defende criar uma regulação internacional “para evitar riscos que são reais”
O secretário-geral da ONU, António Guterres, defendeu a criação de regras globais para minimizar o impacto da ciberguerra sobre os civis. “Já existem episódios de guerra cibernética entre Estados.
E o pior é que não há um esquema de regulamentação para esse tipo de
guerra, não está claro se aí se aplica a Convenção de Genebra ou se o
Direito Internacional pode ser aplicado nesses casos”, reconheceu o
principal dirigente da ONU, que recebeu na capital portuguesa o título
de doutor honoris causa pela Universidade de Lisboa.
O português se mostrou preocupado com os novos desafios do mundo, como a mudança climática e a revolução tecnológica. E também com os novos sistemas de fazer guerras no mundo.
“Ao contrário das grandes batalhas do passado, que se iniciaram com um
bombardeio de artilharia ou aéreo, a próxima guerra começará com um
ciberataque maciço para destruir a capacidade militar, sobretudo do
comando, do controle e da comunicação, com a finalidade de paralisar as
tropas e a infraestrutura básica, como as redes elétricas”, disse,
depois de receber o título.
O secretário-geral da ONU defende um marco legal mais específico
“para evitar riscos reais”. “Estamos totalmente desprotegidos de
mecanismos regulatórios que garantam que esse novo tipo de guerra
obedeça àquele progressivo desdobramento de leis de guerra, que garanta
um caráter mais humano naquilo que é sempre uma tragédia de proporções
extraordinariamente dramáticas”, afirmou.
Guterres ofereceu a ONU como mediadora de Governos e empresas,
cientistas e universidades para estabelecer protocolos de modo que o uso
da web seja feito com benefícios para a humanidade. “Nós todos temos de
nos unir, não só os Estados, para garantir que a Internet
seja um bem para a humanidade. As normas tradicionais, por intermédio
de Estados ou convenções internacionais, não estão hoje adaptadas à nova
realidade porque são lentas.”
Nos últimos anos, os Estados Unidos e o Reino Unido
alertaram sobre cibertaques para influenciar na opinião pública de seus
cidadãos ou introduzir vírus informáticos nos computadores, e apontaram
como responsáveis a Rússia e a Coreia do Norte. Moscou sempre negou
qualquer ataque desse tipo.
Guterres, que foi primeiro-ministro de Portugal entre 1995 e 2002, é secretário-geral da ONU desde janeiro do ano passado.
Melhoria observada na economia não chega como devia aos trabalhadores
CGTP-IN Baixos salários, desproteção social e precariedade persistem apesar da evolução favorável da economia e dos rendimentos, alerta Intersindical Nacional.
A
Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP-IN) adverte que a
evolução favorável do emprego e do desemprego, não podendo ser
desligada da melhoria da economia e dos aumentos de rendimentos de
trabalhadores e pensionistas, não é «suficiente para iludir que além dos
desempregados contabilizados nas estatísticas oficiais continuam a
existir milhares de trabalhadores subempregados e desencorajados».
Estes, sustenta, contribuem para uma taxa de subutilização do trabalho
de cerca de 14 por cento, ou seja, o dobro da percentagem de desemprego
calculada oficialmente para 2018. Acresce que «o desemprego de longa
duração é ainda superior a 50 por cento, mas as prestações não abrangem
sequer um terço do número real de desempregados e o seu valor é pouco
superior ao limiar de pobreza». Ao desemprego e à desproteção social
persistentes, acrescem, entre os empregados, a manutenção dos baixos
salários e da precariedade, denuncia ainda a central sindical, que em
comunicado, datado de dia 6, cruza estatísticas do INE com as produzidas
por outras fontes para afirmar que cerca de 1,2 milhões de
trabalhadores por conta de outrem, 31 por cento dos assalariados, não
tinham contratos permanentes.
Os principais atingidos pela
precariedade dos vínculos são trabalhadores com menos de 35 anos, entre
os quais a percentagem de contratos não permanentes ascende a 41,5 por
cento do total. Se se considerarem os trabalhadores com menos de 25
anos, então a precariedade ultrapassa os 66 por cento, indica também a
CGTP-IN, que qualifica a situação de «injusta e intolerável, dado que a
maioria dos postos de trabalho assim ocupados são permanentes».
Lutar
Nos últimos cinco anos, recorda ainda a
Intersindical Nacional, 63 por cento dos postos de trabalho criados e
que se mantêm têm vínculos precários ou a tempo parcial. Tal mostra que a
instabilidade dos vínculos e os baixos salários correspondem a «uma
política deliberada que alimenta a exploração e os lucros das empresas».
Tal
é igualmente evidente no nível dos rendimentos do trabalho, já que
«cerca de 960 mil assalariados(23,6 por cento) recebem menos de 600
euros», números para os quais contribui o fato de 40 por cento dos
postos de trabalho criados nos primeiro seis meses de 2018 terem «como
salário o mínimo garantido por lei, situação que não pode ser desligada
do bloqueio existente na contratação coletiva».
A Intersindical
Nacional considera, assim, que «num momento em que o Governo do PS quer
agravar a legislação laboral, fragilizando ainda mais o combate à
precariedade, é urgente responder com intervenção e ação», afirmando
que «a um posto de trabalho permanente tem de corresponder um vínculo de
trabalho efetivo».
O Vasco da Gama acaba de ganhar o 12º título da taça Guanabara contra o Fluminense, num jogo em que individualmente até foi melhor, mas no preparo físico foi sempre inferior ao Fluminense.daí esse índice maior de toque de bola, quase o dobro da do Vasco. O jogo foi realizado com os portões fechados durante todo primeiro tempo.
Uma decisão da madrugada deste domingo manteve a ordem do jogo ser realizado com portões fechados. No entanto, o Vasco decidiu assumir o risco de um processo e de multa de R$ 500 mil e declarou que sua torcida poderia ir ao jogo.
Entenda a disputa
Um acordo feito pelo Fluminense e o Consórcio Maracanã em 2013, quando o estádio foi reaberto após obras para a Copa, definiu que a torcida tricolor ia ser alocada no Setor Sul do Maracanã nos jogos do time.
Nesta sexta, o Vasco anunciou, porém, que sua torcida ia ocupar o Setor Sul do estádio. O clube alegou que o local é usado tradicionalmente pelo clube desde a inauguração do Maracanã, em 1950
No mesmo dia, o Fluminense foi à Justiça, que concedeu uma liminar garantindo o Setor Sul do Maracanã à torcida do Fluminense, sob pena de multa de R$ 50 mil por hora de venda de ingresso
O Vasco recorreu e, neste domingo, uma nova decisão da Justiça determinou a decisão com portões fechados, sob pena de multa de R$ 500 mil
Após a última decisão, o Vasco se reuniu na Federação de Futebol do Rio de Janeiro e decidiu assumir o risco de pagar a multa e bancou a realização do jogo com a torcida presente
Apesar disso, o Juizado Especial do Torcedor no Maracanã determinou que a decisão fosse cumprida e a partida fosse mantida com portões fechados
O jogo começou com portões fechados e do lado de fora houve confusão e correria envolvendo torcedores e PM.
Por volta das 17h35, a Justiça liberou a entrada de torcedores.
Roma, 14 fev - O papa Francisco pediu hoje que a luta contra a
fome seja uma prioridade e não apenas um slogan considerando que é
preciso "colocar a tecnologia ao serviço dos pobres".
O papa
falava hoje na abertura do 42.º encontro anual do Conselho Diretivo do
Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD), das Nações
Unidas.
Na sua mensagem, publicada pela sala de imprensa do
Vaticano, o papa lembrou “a multitude de irmãos e irmãs”, de pessoas
carenciadas, que hoje “estão em sofrimento no Mundo”, sem verem
atendidos “os seus gritos e necessidades”.
Francisco descreveu um
Mundo em que "o ar é imperfeito, os recursos naturais estão esgotados,
os rios poluídos e os solos acidificados” e denunciou ainda a existência
de milhões de pessoas que “não têm água suficiente para si ou para suas
lavouras, com infraestruturas sanitárias muito deficientes e com casas
degradadas.
O papa defendeu que deve ser assumida "seriamente" a
batalha para vencer a fome e a miséria, considerando que esta luta não
pode ser apenas um slogan mas sim uma prioridade.
Para isso, acrescentou, "é necessário a ajuda da comunidade internacional, da sociedade civil e daqueles que possuem recursos".
Francisco realçou o paradoxo de que "boa parte dos mais de 820
milhões de pessoas que sofrem com a fome e a desnutrição no mundo vivem
em áreas rurais, dedicando-se à produção de alimentos”.
Na sua
intervenção, o papa exortou os que têm responsabilidade nas nações e
organizações intergovernamentais, bem como aqueles que podem contribuir
nos setores público e privado, "para desenvolver os canais necessários
para que medidas adequadas possam ser implementadas nas regiões rurais
da Terra, para que possam ser arquitetos responsáveis da sua produção e
progresso".
Para o papa, a ajuda não pode continuar a ser
entendida ocasionalmente com resoluções de emergência, pois essa ajuda
"pode gerar dependências".
Francisco indicou que "é preciso
apostar na inovação, na capacidade empreendedora, no protagonismo dos
atores locais" e "colocar realmente a tecnologia ao serviço dos pobres".
Segundo
um estudo das Nações Unidas hoje apresentado na Etiópia, A fome
aumentou na África Subsaariana em 2017, atingindo 237 milhões de
pessoas.
Entre os lusófonos, a maior prevalência da subnutrição
foi registada em Moçambique com 30% da população nesta condição,
seguindo-se a Guiné-Bissau (26%), Angola (12,9%), Cabo Verde (12,3%) e
São Tomé e Príncipe (10,2%).
O estudo da Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e da Comissão Económica das
Nações Unidas para África (ECA) coloca Angola entre os países que
“fizeram progressos substanciais” na redução da desnutrição, tendo
cortado 10 ou mais pontos percentuais desde 2004.
A FAO alerta
que a subnutrição continua a aumentar no continente após vários anos de
declínio, ameaçando a meta da erradicação da fome prevista para 2030 nos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, acordados pela comunidade
internacional.
Morreu a atriz e encenadora brasileira Bibi Ferreira
Morreu hoje à tarde em sua casa no Rio de Janeiro a atriz brasileira
Bibi Ferreira, de 96 anos
A atriz Bibi Ferreira, de ascendência portuguesa, estava acompanhada pela
sua única filha, Teresa Cristina, e pela sua cuidadora.
A atriz,
cantora, encenadora, compositora e produtora Bibi Ferreira, que atuou e
dirigiu espetáculos no Parque Mayer, em Lisboa, nos anos de 1950, e que
voltou repetidas vezes a Portugal, para celebrar Amália e o Ano do
Brasil, em 2012, afastou-se dos palcos no passado mês de setembro,
depois de 20 dias internada, num hospital do Rio de Janeiro.
“Nunca
pensei em parar, essa palavra nunca fez parte do meu vocabulário, mas
entender a vida é ser inteligente”, escreveu a atriz nas redes sociais,
quando anunciou o fim da carreira, acrescentando que se orgulhava muito
do que tinha feito e agradecendo a todos os que a acompanharam ao longo
de uma carreira de nove décadas.
A atriz deu nome a um teatro em S. Paulo e ao prêmio mais conceituado para teatro musical no Brasil.
Filha
do ator carioca Procópio Ferreira e da bailarina espanhola Aída
Izquierdo Ferreira, Bibi Ferreira subiu pela primeira vez a um palco com
24 dias, substituindo uma boneca que desaparecera dos adereços, pouco
antes do início da peça “Manhãs de Sol”, escrita por seu padrinho,
Oduvaldo Viana, e protagonizada pela cantora Abigail Maia, sua madrinha,
de quem herdara o nome. Não parou mais.
Musicais como “My Fair
Lady”, “O Homem de La Mancha”, “Alô, Dolly”, “Gota d’Água” destacam-se
no seu percurso. Edith Piaf, Amália Rodrigues e Frank Sinatra foram
personalidades com quem se cruzou e que homenageou.
Abigail
Izquierdo Ferreira nasceu no Rio de Janeiro, em 1922. Aos três anos
entrava já num espetáculo a cantar zarzuelas em espanhol, integrada na
companhia Revista Espanhola Velasco, onde a mãe trabalhava como
bailarina.
Bibi Ferreira cantou ainda em óperas e bailados e
chegou a fazer parte do Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio de
Janeiro, antes de ir estudar para Londres, onde se dedicou às artes
dramáticas.
Em 1936 estreou-se no cinema, no filme
“Cidade-Mulher”, de Humberto Mauro, em que cantava o samba “Na Bahia”,
de Noel Rosa e José Maria de Abreu.
A última participação de Bibi
Ferreira no grande ecrã, foi a fazer de si própria em “O teatro na
palma da mão” (2011), de Flávio Rangel.
Na televisão participou na
minissérie “Marquesa de Santos” (1987), de Wilson Aguiar Filho,
personificando a rainha Carlota Joaquina.
Em 1941, estreou no Brasil a peça cómica “La Locandiera”, de Carlo Goldoni, protagonizando Mirandolina.
Três anos depois fundou a sua própria companhia na qual fez “Sétimo céu”.
Bibi
Ferreira deu aulas de interpretação e direção no Teatro Duse e na
Fundação Brasileira de Teatro, no Rio de Janeiro, na década de 1950.
Em
1957, levou o seu repertório de revista para Portugal, apresentando-se
no Parque Mayer, com “Horas Felizes” e “Curvas perigosas”, no Teatro
Variedades e no Maria Vitória, respetivamente.
No ano seguinte,
continuou no Parque Mayer, em Lisboa, para protagonizar três comédias no
Teatro Maria Vitória, entre as quais “Com o amor não se brinca” e, em
1959, no mesmo teatro, protagonizou dois sucessos: “Encosta a cabecinha e
chora…” e “Tudo na Lua”.
“Taco a taco”, de novo no Maria Vitória, em 1960, foi a última peça que a atriz representou no Parque Mayer.
Bibi
voltou ao Brasil em 1960 e começou a trabalhar com a televisão, em
teleteatros como o que apresentava no programa Bibi ao Vivo, da TV Tupi.
Na
década seguinte, em plena ditadura, dirigiu Maria Bethânia e Ítalo
Rossi, Paulo Gracindo e Clara Nunes, no musical “Brasileiro, Profissão:
Esperança”, no Rio de Janeiro.
Em 1975, estreou “Gota d’Água”, de
Chico Buarque e Paulo Pontes, pelo qual recebeu os prémios Molière e
Associação Paulista dos Críticos de Artes (APCA), ao interpretar Joana.
“Deus
lhe pague”, onde contracenou com Walmor Chagas e Marília Pera, entre
outros, foi outro dos espetáculos que representou, mas foi “Piaf, a vida
de uma estrela de canção”, estreado em 1983, o espetáculo mais
coinhecido de Bibi Ferreira.
Na década de 1990, voltou ao palco com “Brasileiro, Profissão: Esperança” e a um musical dedicado à cantora francesa.
Em 1996, foi homenageada no Prémio Sharp de Teatro. Três anos depois dirigiu a “Carmen”, de Bizet.
“Bibi
vive Amália” foi a peça escrita pelo português Tiago Torres da Silva
que Bibi Ferreira protagonizou numa homenagem a Amália Rodrigues, em
2001, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, e numa digressão
pelo Brasil.
Em novembro de 2012, apresentou-se de novo em Lisboa,
num espetáculo integrado no "Ano do Brasil em Portugal", no qual
interpretou temas variados de repertório brasileiro, sem esquecer de
novo as canções de Amália.
Fez a digressão de despedida em 2017, "Bibi, por toda a minha vida".
Ao
longo da carreira Bibi Ferreira recebeu perto de 30 prêmios, entre os
quais, por quatro vezes, o principal galardão para teatro de imprensa do
Brasil e, por duas vezes, o prémio Molière, do seu país.
Após
passar 17 dias internado no Hospital Albert Einsten, em São Paulo, o
presidente Jair Bolsonaro recebeu alta no início desta quarta-feira
(13).
O
boletim médico divulgado pelo hospital afirma que Bolsonaro "recebeu
alta nesta manhã com o quadro pulmonar normalizado, sem dor, afebril,
com função intestinal restabelecida e dieta leve por via oral".
Bolsonaro
passou por uma cirurgia para retirar uma bolsa de colostomia e refazer a
ligação entre o intestino delgado e parte do intestino grosso no dia 28
de janeiro.
Ele deixou o hospital por volta das 12h20, e seguiu para o Aeroporto
de Congonhas, na Zona Sul de São Paulo, para pegar o avião de volta a
Brasília.
O boletim médico final foi assinado por uma equipe de seis
profissionais do hospital e fez um resumo de todo o quadro enfrentado
por Bolsonaro durante os 17 dias em que passou internado.
Eis o boletim na íntegra:
O excelentíssimo Presidente da República, Jair Bolsonaro,
permaneceu internado no Hospital Israelita Albert Einstein entre os dias
27 de janeiro e 13 de fevereiro.
A programação da cirurgia eletiva de reconstrução do trânsito
intestinal teve início inicio no dia 27 de janeiro com a avaliação clínica
préoperatória, exames laboratoriais e de imagem, encontrando-se apto
para o procedimento.
Na manhã seguinte, o paciente foi submetido a
uma cirurgia bemsucedida de reconstrução do trânsito intestinal e
extensa lise de aderências decorrentes das duas cirurgias anteriores.
Foi realizada anastomose do íleo com o cólon transverso, que é a união
do intestino delgado com o intestino grosso.
O procedimento teve duração de 7 horas, ocorreu sem
intercorrências e sem necessidade de transfusão de sangue. O resultado
final do anátomo-patológico evidenciou serosite crônica, sem outras
anormalidades.
Devido ao episódio de náusea e vômito em 2 de fevereiro, o
paciente passou a usar uma sonda nasogástrica. Apresentou na noite de 3
de fevereiro elevação da temperatura (37,3 °C) e alteração de alguns
exames laboratoriais. Foi iniciada antibioticoterapia de amplo espectro
empiricamente e realizados novos exames de imagem.
Identificou-se uma coleção líquida ao lado do intestino, na
região da antiga colostomia. Foi submetido à punção guiada por
ultrassonografia e um dreno foi colocado no local. O paciente se manteve
sem dor, afebril e em jejum oral. A coleção drenada era sero-hemática e
não houve crescimento bacteriano, não configurando infecção.
Nos dias seguintes, houve melhora do seu estado de saúde com
redução da coleção líquida no abdome e aumento da movimentação
intestinal. Isso possibilitou o início de ingestão de líquidos por
via oral em associação à nutrição parenteral.
Em 6 de fevereiro, teve episódio isolado de febre sem outros
sintomas associados, sendo submetido à tomografia de tórax e abdome que
evidenciou boa evolução do quadro intestinal e imagem compatível com
pneumonia. Essa pneumonia não era associada à ventilação mecânica e
possivelmente decorreu de microaspiração de conteúdo gástrico. Foi
realizado um ajuste na antibioticoterapia e mantidos os demais
tratamentos.
Nos dias posteriores, a evolução clínica foi considerada boa, sem
disfunções orgânicas e com melhora dos exames laboratoriais. O dreno
colocado no seu abdome foi retirado pela equipe de radiologia
intervencionista em 8 de fevereiro, quatro dias após sua introdução.
Devido à melhora do quadro intestinal e boa receptividade à dieta
líquida, a sonda nasogástrica também foi retirada.
O quadro pulmonar progrediu de forma positiva, assim como os
exames laboratoriais. Com a evolução da movimentação intestinal e
aceitação da dieta líquida, foi iniciada uma dieta cremosa. A nutrição
parenteral foi sendo reduzida gradativamente até sua suspensão em 11 de
fevereiro, quando foi iniciada uma dieta leve e mantido o suplemento
nutricional.
Durante o período de internação, realizou exercícios de
fisioterapia respiratória e motora, com períodos de caminhada fora do
quarto. Medidas de prevenção de trombose venosa também foram adotadas.
Recebeu alta nesta manhã com o quadro pulmonar normalizado, sem
dor, afebril, com função intestinal restabelecida e dieta leve por
via oral.
Dr. Antônio Luiz Macedo, cirurgião e médico titular Dr. Leandro Echenique, cardiologista Dr. Luis Fernando Aranha, infectologista Dra. Carmen Silvia Valente Barbas, pneumologista Dr. Celso Cukier, nutrólogo Dr. Miguel Cendoroglo, Diretor Superintendente do Hospital Israelita Albert Einstein
Menina com leucemia deixa carta para voluntária: 'Obrigada por vir me ver'
Antes
de morrer em decorrência da leucemia, a pequena Júlia, de 8 anos,
deixou uma carta para a voluntária Gabriella Pereira, que costumava
visitá-la quatro vezes por semana em um abrigo para crianças em
Carapicuíba, na Região Metropolitana de São Paulo. Nas páginas de uma
agenda de princesa, a menina esbanja amor e gratidão diante de todo o
carinho que recebeu da jovem. O conteúdo da mensagem foi divulgado em
uma rede social na última quinta-feira, um dia após a morte da menina, e
vem emocionando internautas. O post angariou cerca de 33 mil curtidas e
18 mil compartilhamentos.
A bacharel em Direito contou que
costuma realizar trabalhos sociais há seis anos e, em uma das ações, há
cerca de dois anos, conheceu Júlia, a espera de uma família para
adotá-la.
"Desde
então, não era mais um trabalho, era amor. Dia das crianças,
aniversário, Natal, entre outras datas, sempre tive comigo que precisava
dar uma passadinha pra ver a magrelinha, porque as outras crianças
tinham alguém que visitava e ela tinha apenas eu. Sua irmã foi adotada
quando tinha meses, mas a Júlia estava com 8 (anos) e tinha leucemia e
lutava pela cura todos os dias", afirmou a voluntária no post.
Em
entrevista ao EXTRA nesta terça-feira, Gabriella explicou que todo
domingo ocorre recreação no abrigo, contando com a presença das mães,
porque nem todas as crianças moram no local. Segundo a jovem, que também
visitava Júlia às segundas, quartas e sextas-feiras, há famílias que
não têm condições ou que são usuários de drogas.
— Quando melhoram, costumam ver os filhos e buscá-los, mas a Júlia realmente foi abandonada. Ela estava para adoção — disse.
A
voluntária afirmou que, em seu caso, seria difícil um juiz aceitar o
pedido de adoção, mas mesmo assim não desistiu e seguiu com um processo
com o apoio de sua família.
— Entrei com a documentação pra fazer a adoção, estava com um pedido em andamento, mas não deu tempo.
Gabriella, de 23 anos, ressaltou, porém, ter feito tudo ao seu alcance para atender as vontades da menina.
— O primeiro pedido dela foi que queria ter cabelo, então cortei o meu e doei pra ela — afirmou.
E esse amor entre as duas ficou bastante claro na carta escrita pela criança.
"Quero
pedir obrigado por me conhecer por vim (sic) me ver e por me dar o
video game que te pedi, eu sabia que era muito caro e pra comprar o
video game precisa vender uma casa, mesmo assim você me deu, obrigada
pela sandália de salto que me deu, e por trazer aquele lanche que eu
sempre vi na TV, obrigada por vim (sic) me ver no meu aniversário e
trazer o sorvete de morango", disse Júlia.
Ainda que emocionada
por ter tido a oportunidade de conhecer a menina no abrigo, Gabriella
destacou a importância de crianças terem uma família estruturada e com
amor.
"Só faço aqui um pedido às mães que colocam crianças no
mundo e abandonam, vocês não fazem ideia do que é uma criança crescer
sem ter um apoio fixo. É um funcionário do orfanato que dá um pouco de
atenção, depois um enfermeiro que pega amor, ou a mãe de um coleguinha
que leva um presente no Natal, ou às vezes, a mãe do coleguinha está em
uma viagem, o enfermeiro trocou de plantão e o funcionário trocou de
emprego, nessas horas ela está sozinha novamente. Não tem quem ensinar a
escrever, não tem quem ensinar a segurar o garfo nas refeições, não tem
quem fazer um penteado no cabelo, e nem passar o batom que ela tanto
gostava", afirmou. "Mas enfim, tudo isso acabou, agora a Júlia é uma
estrela e uma das mais lindas e guerreiras que podem existir, foi com o
Papai do Céu que ela tanto queria".
"Tia
Gabriela eu estou com muita dor e já quero ir morar com o papai do céu,
por isso pedi para a tia Marta escrever essa carta na agenda da Branca
de Neve que você me deu.
Pedi pra tia te ligar porque
estou com saudades, mais não conseguimos falar com você, ligamos no
Banco que você trabalha mais existe muitos e não sei o número do seu
trabalho, não sei se agente te esperar na visita do Domingo. Quero pedir
obrigado por me conhecer por vim me ver e por me dar o video game que
te pedi, eu sabia que era muito caro e pra comprar o video game precisa
vender uma casa, mesmo assim você me deu, obrigada pela sandália de
salto que me deu, e por trazer aquele lanche que eu sempre vi na TV,
obrigada por vim me ver no meu aniversário e trazer o sorvete de
morango.
Você é a minha melhor amiga e eu queria que você
fosse a minha mãe, pedi para o papai do céu me fazer sarar, porque ai
você ia arrumar os documentos e me adotar, você disse que ia ser difícil
mais eu ia pedir para o juiz deixar você ser a minha mãe, e ele ia
deixar, porque você já é grande e até dirige um carro.
Quando
eu crescer quero ser bonita igual você! Também quero dizer na sua carta
que eu amei que colocou bexigas no meu aniversario e levou até
brigadeiro.
Tia Gabi eu te amo e estou pintando as
bolinhas do calendario igual você disse e só falta duas fileiras para o
dia do seu aniversário, mais estou muito doente e com dor, por isso se
eu for morar com o papai do céu, não fica triste, porque eu te amo e só
você é a minha melhor amiga.
Jullia"
Esta carta desta menina realmente emociona os corações humanos, mas ao mesmo tempo nos desperta para a realidade da sociedade em que estamos inseridos. sociedade egoísta e consumista que gera todo este desamor, onde o "ter" é seu maior paradigma. São milhões de Júlias espalhadas por esse Brasil afora vítimas do abandono dos pais, que por sua vez também já foram vítimas do abandono de seus pais.
A esta esta nossa Júlia, inocente criança, agora no reino de Deus, deixo o meu pedido! Interceda junto a "Ele" pela paz no mundo, pelas crianças abandonadas, pelas crianças nos leitos dos hospitais, pelas crianças órfãs, pelas crianças vítimas da fome, da violência separatista dos casais imaturos e despreparados para uma vida a dois! Enfim, por todas as crianças do mundo!!
Que bom se o exemplo Rafaela servisse para humanizar os políticos do Brasil e do mundo!!!
Adélia Luzia Prado de Freitas (Divinópolis, 13 de dezembro de 1935), mais conhecida como Adélia Prado, é uma poetisa, professora, filósofa e contista brasileira ligada ao Modernismo.
Sua obra retrata o cotidiano com perplexidade e encanto,
norteados pela fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das
características de seu estilo único.Em 1976, enviou o manuscrito de Bagagem para Affonso Romano de Sant'Anna, que assinanava uma coluna de crítica literária no Jornal do Brasil. Admirado, acabou por repassar os manuscritos a Carlos Drummond de Andrade, que incentivou a publicação do livro pela Editora Imago em artigo do mesmo periódico.
Professora por formação, ela exerceu o magistério durante 24 anos, até que a carreira de escritora tornou-se a atividade central. Em termos de literatura brasileira,
o surgimento da escritora representou a revalorização do feminino nas
letras e da mulher como ser pensante, tendo-se em conta que Adélia
incorpora os papéis de intelectual e de mãe, esposa e dona-de-casa.
Biografia
Adélia Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935,
filha do ferroviário João do Prado Filho e de Ana Clotilde Corrêa. Leva
uma vida pacata naquela cidade do interior: inicia seus estudos no
Grupo Escolar Padre Matias Lobato e mora na rua Ceará.
No ano de 1950, falece sua mãe. Tal acontecimento faz com que a
autora escreva seus primeiros versos. Nessa época conclui o curso
ginasial no Ginásio Nossa Senhora do Sagrado Coração.
No ano seguinte, inicia o curso de Magistério na Escola Normal
Mário Casassanta, que conclui em 1953. Começa a lecionar no Ginásio
Estadual Luiz de Mello Viana Sobrinho em 1955.
Em 1958 casa-se, em Divinópolis, com José Assunção de Freitas,
funcionário do Banco do Brasil S.A. Dessa união nasceriam cinco filhos:
Eugênio (em 1959), Rubem (1961), Sarah (1962), Jordano (1963) e Ana
Beatriz (1966).
Antes do nascimento da última filha, a escritora e o marido
iniciam o curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Divinópolis.
Em 1972, morre seu pai e, em 1973, forma-se em Filosofia. Nessa
ocasião envia carta e originais de seus novos poemas ao poeta e crítico
literário Affonso Romano de Sant'Anna, que os submete à apreciação de Carlos Drummond de Andrade.
Em 1975, Drummond sugere a Pedro Paulo de Sena Madureira, da
Editora Imago, que publique o livro de Adélia, cujos poemas lhe pareciam
"fenomenais". O poeta envia os originais ao editor daquele que viria a
ser Bagagem. No dia 9 de outubro, Drummond publica uma crônica no Jornal do Brasil
chamando a atenção para o trabalho ainda inédito da escritora. O livro é
lançado no Rio, em 1976, com a presença de Antônio Houaiss, Raquel
Jardim, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Juscelino Kubitschek, Affonso Romano de Sant'Anna, Nélida Piñon e Alphonsus de Guimaraens Filho, entre outros.
O ano de 1978 marca o lançamento de O coração disparado, que é agraciado com o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro.
Estréia em prosa no ano seguinte, com "Soltem os cachorros". Com o
sucesso de sua carreira de escritora , vê-se obrigada a abandonar o
magistério, após 24 anos de trabalho. Nesse período ensinou no Instituto
Nossa Senhora do Sagrado Coração, Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Divinópolis, Fundação Geraldo Corrêa — Hospital São João de
Deus, Escola Estadual são Vicente e Escola Estadual Matias Cyprien,
lecionando Educação Religiosa, Moral e Cívica, Filosofia da Educação,
Relações Humanas e Introdução à Filosofia. Sua peça, O Clarão,um auto de
natal escrito em parceria com Lázaro Barreto, é encenada em
Divinópolis.
Em 1980, dirige o grupo teatral amador Cara e Coragem na montagem
de O "Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna. No ano seguinte, ainda
sob sua direção, o grupo encenaria A Invasão, de Dias Gomes. Publica
Cacos para um vitral. Lucy Ann Carter apresenta, no Departament of
Comparative Literature, da Princeton University, o primeiro de uma série
de estudos universitários sobre a obra de Adélia Prado.
Em 1981, lança Terra de Santa Cruz.
De 1983 a 1988, exerce as funções de Chefe da Divisão Cultural da
Secretaria Municipal de Educação e da Cultura de Divinópolis, a convite
do prefeito Aristides Salgado dos Santos.
"Os componentes da banda" é publicado em 1984.
Participa, em 1985, em Portugal, de um programa de intercâmbio
cultural entre autores brasileiros e portugueses, e em Havana, Cuba, do
II Encontro de Intelectuais pela Soberania dos Povos de Nossa América.
Fernanda Montenegro estréia, no Teatro Delfim - Rio de Janeiro,
em 1987, o espetáculo Dona Doida: um interlúdio, baseado em textos de
livros da autora. A montagem, sob a direção de Naum Alves de Souza, fez
grande sucesso, tendo sido apresentada em diversos estados brasileiros
e, também, nos EUA, Itália e Portugal.
Apresenta-se, em 1988, em Nova York, na Semana Brasileira de
Poesia, evento promovido pelo Comitê Internacional pela Poesia. É
publicado A faca no peito.
Participa, em Berlim, Alemanha, do Línea Colorada, um encontro entre escritores latino-americanos e alemães.
Em 1991 é publicada sua "Poesia Reunida".
Em 1993 volta à Secretaria Municipal de Educação e Cultura de
Divinópolis, integrando a equipe de orientação pedagógica na gestão da
secretária Teresinha Costa Rabelo.
Em 1994, após anos de silêncio poético, sem nenhuma palavra,
nenhum verso, ressurge Adélia Prado com o livro "O homem da mão seca".
Conta a autora que o livro foi iniciado em 1987, mas, depois de concluir
o primeiro capítulo, foi acometida de uma crise de depressão, que a
bloquearia literariamente por longo tempo. Disse que vê "a aridez como
uma experiência necessária" e que "essa temporada no deserto" lhe fez
bem. Nesse período, segundo afirmou, foi levada a procurar ajuda de um
psiquiatra.
Em 1996 estréia no Teatro Sesi Minas, em Belo Horizonte, a peça
Duas horas da tarde no Brasil, texto adaptado da obra da autora por
Kalluh Araújo e pela filha de Adélia, Ana Beatriz Prado.
São lançados Manuscritos de Felipa e Oráculos de maio. Participa,
em maio, da série "O escritor por ele mesmo", no ISM-São Paulo. Em Belo
Horizonte é apresentado, sob a direção de Rui Moreira, O sempre amor,
espetáculo de dança de Teresa Ricco baseado em poemas da escritora.
Adélia costuma dizer que o cotidiano é a própria condição da
literatura.
Morando na pequena Divinópolis, cidade com aproximadamente
200.000 habitantes, estão em sua prosa e em sua poesia temas recorrentes
da vida de província, a moça que arruma a cozinha, a missa, um certo
cheiro do mato, vizinhos, a gente de lá.
Cronologia
1950: Escreve os primeiros versos, após a morte da mãe.
1951: Inicia o curso de Magistério na Escola Normal Mário Casassanta.
1953: Conclui o Magistério
1955: Começa a lecionar no Ginásio Estadual Luiz de Mello Viana Sobrinho.
1958: Casa-se com José Assunção de Freitas.
1959: Nasce o primeiro filho, Eugênio
1961: Nasce o filho Rubem
1962: Nasce a filha Sarah
1963: Nasce o filho Jordano
1966: Nasce a filha Ana Beatriz
1972: Morre o pai
1973: Forma-se em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis e neste mesmo ano os poemas são lidos por Carlos Drummond de Andrade
1975: Publica o primeiro livro Bagagem, após indicação de Drummond à Editora Imago. Em seguida, Drummond publica uma crônica no Jornal do Brasil destacando o trabalho ainda inédito de Adélia.
1976: Lança Bagagem no Rio de Janeiro, com a presença de Juscelino Kubitschek, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Affonso Romano de Sant'Anna, Nélida Piñon, dentre outros.
1978: Lança O Coração Disparado, com o qual recebe o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro.
1979: Lança a primeira prosa, Soltem os Cachorros
1980: Dirige a montagem de Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna pelo grupo de teatro amador Cara e Coragem.
1981: Publica Cacos para um Vitral e Terra de Santa Cruz; neste mesmo ano é apresentado, no Departamento de Literatura Comparada da Universidade de Princeton, Estados Unidos, o primeiro de uma série de estudos sobre a obra.
1983-1988: Exerce as funções de Chefe da Divisão Cultural da Secretaria Municipal de Educação e da Cultura da cidade natal.
1984: Publica Os Componentes da Banda
1985: Partcipa de um programa de intercâmbio cultural entre autores brasileiros e portugueses, realizado em Portugal, e do II Encontro de Intelectuais pela Soberania dos Povos de Nossa América, em Cuba
1987: Estréia do espetáculo Dona Doida: um Interlúdio, baseado em textos de livros da autora, encenado por Fernanda Montenegro, no Teatro Delfim, no Rio de Janeiro.
1988: Publica A Faca no Peito e participação na Semana Brasileira de Poesia em Nova Iorque
1991: Publica Poesia Reunida
1994: Publica O Homem da Mão Seca
1996: Estréia da peça Duas Horas da Tarde no Brasil, adaptada da obra da autora pela filha Ana Beatriz Prado e por Kalluh Araújo, no Teatro Sesi Minas, em Belo Horizonte
1999: Publica Oráculos de Maio e Manuscritos de Felipa
2000: Estréia do monólogo Dona da Casa, adaptação de José Rubens Siqueira para Manuscritos de Felipa
2005: Publica Quero Minha Mãe
2006: Morre o irmão, Frei Antonio do Prado, OFM
2010: Lança A duração do dia
2011: Lança Carmela Vai à Escola
2014: É condecorada pelo governo brasileiro com a Ordem do Mérito Cultural.
Silêncio poético
A
literatura brasileira, além de ser fortemente marcada pela presença de
Adélia Prado, também foi marcada por um período de silêncio poético no
qual a escritora "emudeceu sua pena". Depois de O Homem da Mão Seca,
de 1994, Adélia ficou cinco anos sem publicar um novo título, fase
posteriormente explicada por ela mesma como "um período de desolação.
São estados psíquicos que acontecem, trazendo o bloqueio, a aridez, o
deserto". Oráculos de Maio, uma coletânea de poemas, e Manuscritos de Felipa, uma prosa curta, marcaram o retorno, ou a quebra do silêncio. Rubem Alves refere-se a esses silêncios em A Festa de Babette.
Influência
Citaram a autora como uma influência tanto o escritor brasileiro Rubem Alves como o moçambicano Mia Couto.
Lista de obras
No livro Cacos para um Vitral, Adélia Prado usa a metáfora do vitral para explicar a relação entre a vida e Deus.
Poesia
Bagagem, Imago - 1975
O Coração Disparado, Nova Fronteira - 1978
Terra de Santa Cruz, Nova Fronteira - 1981
O Pelicano, Rio de Janeiro - 1987
A Faca no Peito, Rocco - 1988
Oráculos de Maio, Siciliano - 1999
Louvação para uma Cor
A duração do dia, Record - 2010
Miserere, Record - 2013
Prosa
Solte os Cachorros, contos, Nova Fronteira - 1979
Cacos para um Vitral, Nova Fronteira - 1980
Os Componentes da Banda, Nova Fronteira 1987
O Homem da Mão Seca, Siciliano - 1990
Manuscritos de Filipa, Siciliano - 1994
Quero minha mãe - Record - 2000
Quando eu era pequena - 2009
Filandras, Record - 2018
Antologia
Mulheres & Mulheres, Nova Fronteira - 1978
Palavra de Mulher, Fontana - 1979
Contos Mineiros, Ática - 1984
Poesia Reunida, Siciliano - 1991 (Bagagem, O Coração Disparado, Terra de Santa Cruz, O Pelicano e A Faca no Peito).
Antologia da Poesia Brasileira, Embaixada do Brasil em Pequim - 1994.
Prosa Reunida, Siciliano - 1999
Balé
A Imagem Refletida - Ballet do Teatro Castro Alves
- Salvador - Bahia - Direção Artística de Antônio Carlos Cardoso. Poema
escrito especialmente para a composição homônima de Gil Jardim.
Cacos Para um Vitral - Rose Ballet Escola de Dança -
Divinópolis - MG - Direção Artística: Mírian Lopes e Yan Lopes.
Espetáculo baseado em referência dos poemas da escritora.
Em toda a obra de Adélia, fica evidente a fé católica.
Adélia Prado – Poemas
Adélia Prado – Poemas AMOR FEINHO
Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero um amor feinho. ( Adélia Prado ) (Do livro Bagagem. Rio de Janeiro: Record, 2011. p. 97)
Sedução (com vídeo)
A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.
( Adélia Prado ) (Do livro Bagagem. São Paulo: Siciliano, 1993. p. 60)
Contribuição do poema e vídeo com voz de Rebeca dos Anjos.
*
Lembrança de Maio
* AMOR VIOLETA
O amor me fere é debaixo do braço,
de um vão entre as costelas.
Atinge meu coração é por esta via inclinada.
Eu ponho o amor no pilão com cinza
e grão de roxo e soco. Macero ele,
faço dele cataplasma
e ponho sobre a ferida. ( Adélia Prado ) (Do livro Bagagem. Rio de Janeiro: Record, 2011. p. 83)
* Agora, ó José
É teu destino, ó José,
a esta hora da tarde,
se encostar na parede,
as mãos para trás.
Teu paletó abotoado
de outro frio te guarda,
enfeita com três botões
tua paciência dura.
A mulher que tens, tão histérica,
tão histórica, desanima.
Mas, ó José, o que fazes?
Passeias no quarteirão
o teu passeio maneiro
e olhas assim e pensas,
o modo de olhar tão pálido.
Por improvável não conta
O que tu sentes, José?
O que te salva da vida
é a vida mesma, ó José,
e o que sobre ela está escrito
a rogo de tua fé:
“No meio do caminho tinha uma pedra”
“Tu és pedra e sobre esta pedra”.
A pedra, ó José, a pedra.
Resiste, ó José. Deita, José,
Dorme com tua mulher,
gira a aldraba de ferro pesadíssima.
O reino do céu é semelhante a um homem
como você, José.
( Adélia Prado ) (Do livro Bagagem. São Paulo: Siciliano, 1993. p. 34)
* Para o Zé
Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor
o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe — os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. Teço as curvas, as mistas
e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela, desejando
as finuras, violoncelo, violino, menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo
o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os fios
de tua barba. Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo
pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:
“Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas
o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não
ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros”.
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama
fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam
uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como
o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece,
tira de mim o ar desnudo, me faz bonita
de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,
me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que
acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando
os panos, se alargando aquecido, dando
a volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Amo até a barata, quando descubro que assim te amo,
o que não queria dizer amo também, o piolho. Assim,
te amo do modo mais natural, vero-romântico,
homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles
eu beijo.
( Adélia Prado ) (Do livro Bagagem. São Paulo: Siciliano, 1993. p. 99)
* Parâmetro
Deus é mais belo que eu.
E não é jovem.
Isto sim, é consolo.
( Adélia Prado ) Contribuição de Cibele para A Magia da Poesia.
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
( Adélia Prado ) Do livro Bagagem. São Paulo: Siciliano, 1993. p. 11)
* Impressionista
Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.
( Adélia Prado ) (Do livro Bagagem. São Paulo: Siciliano, 1993. p. 36)
* Pranto Para Comover Jonathan
Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado
do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.
( Adélia Prado )
* Ensinamento
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
( Adélia Prado )
* Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
( Adélia Prado ) (Do livro: Terra de Santa Cruz, Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 25.)
* Antes do nome
Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”,
o “o”, o “porém” e o “que”, esta incompreensível
muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infrequentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.
Maduro rejeita ultimato europeu sobre novas eleições na Venezuela
O presidente da
Venezuela, Nicolás Maduro, rejeitou neste domingo (3) um ultimato de
países europeus para que se organizassem novas eleições presidenciais no
país sul-americano, segundo informa a AFP(Agence France-Presse ). A exigência europeia
sustenta a ameaça de reconhecimento do líder oposicionista, Juan Guaidó,
como presidente interino da Venezuela.
Vale se preocupa mais com lucro dos acionistas do que fiscalizar Barragens, diz engenheiro
Para
Olímpio Alves dos Santos, presidente do Sindicato dos Engenheiros no
Estado do Rio de Janeiro, a tragédia ocorrida em Brumadinho poderia ter
sido evitada se tivesse sido feito um monitoramento permanente pela
companhia Vale do Rio Doce e pelos órgãos dos governos.
"Eu acho que é uma falha da fiscalização, mas é
também uma cumplicidade das autoridades em relação a isso. Só isso
explica o que pode ter causado os acidentes", afirmou à ele à agência de notícias Sputnik Brasil.
Olímpio Alves dos Santos vai ainda mais longe e diz que, a partir do
momento em que foi privatizada, a Vale deixou de atender aos interesses
da população para atender somente aos interesses de grupos financeiros.
"A Vale do Rio Doce está muito preocupada em
obter lucro para os seus acionistas e não está fazendo o trabalho
adequado para fiscalizar as barragens. O objetivo não é a segurança,
nem a atividade econômica de exploração, mas sim a obtenção rápida do maior lucro possível. ", comentou ele.
O presidente do Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro acredita
que há um lobby entre as empresas e o poder público para "obter fortes
lucros e impedir a fiscalização".
"Parece que é isso que aconteceu: a compra de laudos para atestar
que a barragem está boa, dois engenheiros atestaram que a barragem
estava adequada", comentou.
Dados da Agência Nacional de Mineração (ANM), divulgados na última quarta-feira (30), mostram que o Brasil tem hoje quase 200 barragens de
mineração com potencial de dano considerado alto, mesma classificação da
barragem 1 da mineradora Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG).
A privatização da Vale do Rio Doce aconteceu em maio de 1997 sob o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Brumadinho
é um município brasileiro no estado de Minas Gerais, Região Sudeste do
país. Está localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte e sua
população estimada em 2018 era de 39 520 habitantes.
AMOR FEINHO
Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero um amor feinho.
( Adélia Prado )
(Do livro Bagagem. Rio de Janeiro: Record, 2011. p. 97)
A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.
( Adélia Prado )
(Do livro Bagagem. São Paulo: Siciliano, 1993. p. 60)
Contribuição do poema e vídeo com voz de Rebeca dos Anjos.
*
AMOR VIOLETA
O amor me fere é debaixo do braço,
de um vão entre as costelas.
Atinge meu coração é por esta via inclinada.
Eu ponho o amor no pilão com cinza
e grão de roxo e soco. Macero ele,
faço dele cataplasma
e ponho sobre a ferida.
( Adélia Prado )
(Do livro Bagagem. Rio de Janeiro: Record, 2011. p. 83)
*
Agora, ó José
É teu destino, ó José,
a esta hora da tarde,
se encostar na parede,
as mãos para trás.
Teu paletó abotoado
de outro frio te guarda,
enfeita com três botões
tua paciência dura.
A mulher que tens, tão histérica,
tão histórica, desanima.
Mas, ó José, o que fazes?
Passeias no quarteirão
o teu passeio maneiro
e olhas assim e pensas,
o modo de olhar tão pálido.
Por improvável não conta
O que tu sentes, José?
O que te salva da vida
é a vida mesma, ó José,
e o que sobre ela está escrito
a rogo de tua fé:
“No meio do caminho tinha uma pedra”
“Tu és pedra e sobre esta pedra”.
A pedra, ó José, a pedra.
Resiste, ó José. Deita, José,
Dorme com tua mulher,
gira a aldraba de ferro pesadíssima.
O reino do céu é semelhante a um homem
como você, José.
( Adélia Prado )
(Do livro Bagagem. São Paulo: Siciliano, 1993. p. 34)
*
Para o Zé
Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor
o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe — os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. Teço as curvas, as mistas
e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela, desejando
as finuras, violoncelo, violino, menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo
o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os fios
de tua barba. Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo
pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:
“Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas
o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não
ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros”.
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama
fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam
uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como
o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece,
tira de mim o ar desnudo, me faz bonita
de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,
me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que
acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando
os panos, se alargando aquecido, dando
a volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Amo até a barata, quando descubro que assim te amo,
o que não queria dizer amo também, o piolho. Assim,
te amo do modo mais natural, vero-romântico,
homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles
eu beijo.
( Adélia Prado )
(Do livro Bagagem. São Paulo: Siciliano, 1993. p. 99)
*
Parâmetro
Deus é mais belo que eu.
E não é jovem.
Isto sim, é consolo.
( Adélia Prado )
Contribuição de Cibele para A Magia da Poesia.
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
( Adélia Prado )
Do livro Bagagem. São Paulo: Siciliano, 1993. p. 11)
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Impressionista
Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.
( Adélia Prado )
(Do livro Bagagem. São Paulo: Siciliano, 1993. p. 36)
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Pranto Para Comover Jonathan
Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado
do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.
( Adélia Prado )
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Ensinamento
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
( Adélia Prado )
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Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
( Adélia Prado )
(Do livro: Terra de Santa Cruz, Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 25.)
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Antes do nome
Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”,
o “o”, o “porém” e o “que”, esta incompreensível
muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infrequentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.