Chefe da diplomacia venezuelana insiste, ao UOL, que Caracas não quer um conflito. Mas que, se atacada, terá de se defender
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Jorge Arreaza |
GENEBRA – Respondendo a uma pergunta da reportagem do UOL,
o chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, garantiu que Caracas não quer
uma guerra na região. Mas que, se atacada, terá de se defender e garante
que os 30 milhões de venezuelanos vão atuar pelo país . "Uma guerra
seria longa. Mas a Venezuela venceria", disse o ministro, em uma reunião
em Genebra.
Visitando a ONU para encontros sobre a crise no país
sul-americano, o chefe da diplomacia de Nicolas Maduro explicou que
exercícios militares foram convocados pelo governo desde ontem. Mas
repetiu pelo menos três vezes que seu país não quer um conflito.
Nesta
semana, os Estados Unidos e onze outros países americanos convocaram os
ministros das Relações Exteriores que fazem parte do tratado de defesa
do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) para uma
reunião. Na agenda está o "impacto desestabilizador" da crise na
Venezuela.
Arreaza
estima que a iniciativa não tem legitimidade, já que a reunião foi
chamada por uma delegação de Juan Guaidó, o presidente interino
venezuelano reconhecido pelo Brasil, EUA e outros governos. Mas admite
que o gesto "é perigoso, pois o espírito implica que ativaram mecanismos
para atacar militarmente".
O que significa isso tudo é que a ameaça militar contra a Venezuela não é apenas de Washington. Mas também da Colômbia e Brasil.
"Jamais
agrediríamos um país-irmão. Isso está descartado. Mas iremos nos
defender", garantiu. "O presidente Maduro anunciou exercícios militares,
que estão ocorrendo neste momento", disse.
"A Venezuela não quer
uma confrontação com ninguém. Vamos nos defender e sabemos nos defender.
Temos uma Força Armada bem equipada, profissional e temos 3 milhões de
homens. Em caso de agressão, seria uma catástrofe. Seria uma guerra
muito longa, e que venceríamos. Espero que esse erro nunca ocorra",
disse.
O chanceler lembrou que, dos 34 países da OEA, apenas doze
aprovaram a proposta, já que alguns se recusaram a aceitar a convocação
da reuniões e outros já tinham abandonado o mecanismo nos últimos anos.
30 milhões de venezuelanos
Horas depois de conversar com o
UOL,
o chefe da diplomacia venezuelana declarou à imprensa internacional na
ONU que o governo está "preparado para defender o território com nossas
armas, milícias e com os 30 milhões de venezuelanos". "Não vamos ficar
com os braços cruzados enquanto estão se preparando para nos atacar",
disse. "Temos a obrigação de defender nosso território e estamos
preparado para responder", garantiu.
[Os americanos] não entendem o patriotismo dos venezuelanos. Os reis da Espanha tampouco nos entenderam.
Arreaza
também rejeitou a tese de que, ao colocar 150 mil soldados nas regiões
mais próximas da fronteira da Colômbia, Caracas estaria "provocando"
Bogotá. "Quem é que está de provocação? Quem é que acionou o TIAR?",
atacou.
Segundo o chanceler, Caracas passou para a inteligência do
presidente Ivan Duque dados e endereços de locais no território
colombiano onde paramilitares e ex-soldados venezuelanos estariam
treinando para atacar a Venezuela. Mas nada foi feito.
Apesar dos
ataques e ameaças, o ministro insiste que continua disposto a negociar e
dialogar, inclusive com Duque, para evitar um conflito.
Maduro inicia manobra militares em fronteira com a Colômbia
Em Washington, o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, tentou descartar a hipótese de um conflito.
"Não
significa ação militar, de forma nenhuma, não é isso que nós queremos, o
Tiar não é simplesmente um acordo de ação militar, é um acordo para
ação coletiva diante de ameaças à segurança, como claramente é. O
chanceler da Colômbia, se não me engano, fez uma apresentação muito
clara nesse sentido, com o fato de o regime Maduro estar abrigando
terroristas", afirmou Araújo.
Arreaza, em Genebra, alertou que o
tratado jamais representou "uma proteção ao povo latino-americano".
"Esse é um instrumento para controlar todo o continente americano e para
que os EUA possam invadi-lo", declarou.
O venezuelano lembrou que
a Argentina foi o único país sul-americano a recorrer do tratado, em
1982 na Guerra das Malvinas. Mas apontou como Washington optou por
apoiar o Reino Unido.