A
hipertensão arterial, chamada popularmente de pressão alta, é uma
doença que atinge cerca de 1/3 da população adulta. Atualmente definimos
a hipertensão arterial de dois modos, de acordo com suas causas:
hipertensão essencial (ou primária) e hipertensão secundaria.
Neste texto vamos abordar as causas e os fatores de risco para a hipertensão arterial.
Como foi dito na introdução, a hipertensão possui duas categorias: hipertensão essencial e hipertensão secundária.A
hipertensão essencial, também chamada de hipertensão primária, é aquela
que surge sem causa esclarecida, enquanto que a hipertensão secundária é
aquela que ocorre devido a uma doença identificável, como insuficiência
renal, apneia do sono, hipotireoidismo etc.
1) HIPERTENSÃO ARTERIAL PRIMÁRIA (HIPERTENSÃO ESSENCIAL)
A
hipertensão primária é a causa da pressão alta em 95% dos pacientes.
Sim, é isso mesmo, praticamente todos os casos de pressão alta são
causados pelo que definimos como hipertensão essencial.
Não se
sabe exatamente por que a hipertensão primária surge, mas sabe-se que
ela é causada por múltiplos fatores genéticos e de hábitos de vida.
Sabe-se que entre os mecanismos responsáveis pela elevação da pressão
arterial na hipertensão primária estão um aumento de absorção de sal
pelos rins, uma excessiva resposta dos vasos sanguíneos a estímulos
nervosos mediados por neurotransmissores, como a adrenalina, e uma perda
de elasticidade das artérias, tornando-as mais rígidas.
A
hipertensão essencial geralmente surge gradativamente, piorando ao longo
dos anos. O porquê destas alterações surgirem em determinadas pessoas
ainda é desconhecido, mas já conseguimos identificar alguns fatores de
risco para a hipertensão essencial.
Fatores de risco para hipertensão arterial
–
Afrodescendência:
ainda não se sabe bem por que negros têm uma incidência de hipertensão
essencial maior que outras etnias, mas o fato é que afrodescendentes não
só têm mais hipertensão, como ela inicia-se mais cedo e costuma causar
mais complicações. Acredita-se que haja uma interação de fatores
genéticos e econômicos por trás desta incidência maior. Negros costumam
ter uma pressão arterial mais sensível ao consumo de sal, e como na
nossa desigual sociedade há muitos negros pobres, a qualidade da
alimentação destes costuma ser ruim, havendo grande consumo de alimentos
hipercalóricos e ricos em sal.
–
História familiar: a
influência genética na hipertensão primária é muito conhecida. Quanto
mais parentes portadores de pressão alta você tiver, maiores são suas
chances de também desenvolver hipertensão arterial. Pessoas com pelo
menos um parente de primeiro grau hipertenso têm o dobro de chances de
desenvolver pressão alta quando comparado com pessoas sem história
familiar.
–
Consumo de sal: a hipertensão arterial
essencial é uma doença típica das sociedades do mundo ocidental que
habitualmente consomem muito sal. Pessoas que ingerem mais de 6g de sal
por dia (ou 2,3g de sódio) apresentam maior risco de terem pressão alta.
O sal aumenta a pressão arterial por induzir duas alterações nos vasos
sanguíneos: a.) o sal (cloreto de sódio) aumenta o volume de líquidos
dentro dos vasos, pois para o sangue não ficar com níveis altos de
sódio, os rins absorvem mais água para dilui-lo; b.) o sódio age
diretamente nas paredes das artérias causando uma constrição das mesmas,
Em Biologia, a vasoconstrição é o processo de
contração dos vasos sanguíneos(que são:artérias,veias e capilares), em
consequência da contração do músculo liso presente na parede desses
mesmos vasos. (É o processo oposto à vasodilatação)
levando a um aumento da resistência (pressão) à passagem do sangue e uma
menor capacidade de vasodilatação.
–
Obesidade: o excesso de peso é outro importante fator de risco para a hipertensão arterial. Pessoas obesas (IMC maior que 30) (leia: OBESIDADE | SÍNDROME METABÓLICA
para entender o conceito de IMC) apresentam até 6x mais chances de
apresentarem pressão alta do que indivíduos com IMC abaixo de 25. Além
do excesso de peso, o tamanho da circunferência abdominal também é um
fator de risco importante. A barriguinha (barrigona em muitos casos) não
é só esteticamente indesejável, ela é também um fator de risco para
diversas doenças, entre elas a hipertensão.
–
Consumo de álcool:
O consumo diário de mais de 2 copos de vinho ou 2 copos de cerveja, ou o
equivalente em álcool de qualquer outra bebida, aumenta em 2x o risco
de hipertensão. Quanto maior o volume regular de álcool ingerido, maior é
o risco. Por outro lado, o consumo moderado de álcool, isto é, consumo
não diário e não maior do que 2 drinks ao dia, não parece ter efeitos
maléficos sobre a pressão arterial (leia: EFEITOS DO ÁLCOOL | Tratamento do alcoolismo).
–
Idade: quanto mais velha é a pessoa, maior o
risco de desenvolver hipertensão. Isto ocorre porque com o passar dos
anos os vasos sanguíneos vão sofrendo um processo chamado de
arteriosclerose, que é o endurecimento da parede das artérias, fazendo
com que as mesmas percam elasticidade e capacidade de se acomodar de
acordo com as variações da pressão arterial. A hipertensão do idoso é
tipicamente sistólica, isto é, a pressão máxima (pressão sistólica) fica
alta e a pressão mínima (pressão diastólica) fica baixa.
–
Colesterol alto:
o colesterol elevado aumenta a deposição de gordura nas artérias, um
processo chamado de aterosclerose. A aterosclerose é uma das principais
causas de arteriosclerose, explicada no tópico acima (leia: COLESTEROL HDL | COLESTEROL LDL | TRIGLICERÍDEOS).
–
Sedentarismo:
a falta de exercício físico também é outro importante fator de risco
para hipertensão arterial. A prática regular de exercícios diminui os
níveis circulantes de adrenalina, que causa constrição das artérias, e
aumenta a liberação de endorfinas e óxido nítrico, que causam
vasodilatação. Além disso, o sedentarismo contribui para o sobrepeso e
aumento do colesterol.
–
Tabagismo: O cigarro não só causa
aumento imediato da pressão arterial por ação vasoconstritora da
nicotina, mas também acelera o mecanismo de arteriosclerose, deixando os
vasos duros e rígidos. O fumo passivo também é fator de risco para
hipertensão arterial (leia: MALEFÍCIOS DO CIGARRO | Tratamento do tabagismo).
–
Anticoncepcionais orais (ACO):
a pílula anticoncepcional costuma aumentar a pressão arterial de modo
discreto, porém, em algumas mulheres, principalmente as fumantes com
mais de 25 anos, os ACO podem levar à hipertensão (leia: EFEITOS COLATERAIS DOS ANTICONCEPCIONAIS).
O
que foi listado acima são apenas fatores de risco para hipertensão, ou
seja, fatores que aumentam a chances de um indivíduo apresentar pressão
alta. Nenhum dos fatores acima sozinho é capaz de causar hipertensão
arterial. Como já dito, os mecanismos de desenvolvimento da hipertensão
primária ainda não estão totalmente elucidados.
2) HIPERTENSÃO ARTERIAL SECUNDÁRIA
Ao
contrário da hipertensão essencial onde há fatores de risco
identificados, mas não há uma causa claramente estabelecida, a
hipertensão secundária é por definição aquela que tem uma causa bem
definida. O paciente tem uma doença que leva à hipertensão. São várias
as doenças que podem causar hipertensão secundária, mas todas juntas
representam apenas 5% do total de casos de hipertensão. Isto é
importante frisar: 95% dos casos de hipertensão arterial são primárias.
Ao
contrário da hipertensão essencial que costuma piorar progressivamente,
a hipertensão secundária costuma ter inicio abrupto, iniciando-se já
com níveis pressóricos altos.
Como o rim é o principal controlador
do volume de água e de sódio do organismo, as doenças renais são causas
comuns de hipertensão secundária. A seguir listarei as principais
causas de hipertensão secundária. Escreverei um texto especifico para
cada uma dessas doenças posteriormente.
–
Insuficiência renal crônica (leia: INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA | Sintomas e tratamento).
A
insuficiência renal é uma das principais causas de hipertensão
secundária. Quando os rins começam a falhar, o corpo passa a ter
dificuldade em excretar o excesso de sal e líquidos consumidos, levando a
um aumento da pressão arterial. Cerca de 85% dos pacientes com
insuficiência renal crônica têm hipertensão.
É importante salientar que a insuficiência renal causa
aumento da pressão arterial, mas também pode ser causada pela
hipertensão. Uma pressão constantemente elevada durante anos costuma
causar lesão dos vasos e dos glomérulos dos rins, podendo levar à
insuficiência renal. O paciente passa então a apresentar um mecanismo de
auto-alimentação: a hipertensão causa lesão nos rins que por sua vez
causa piora da pressão arterial. Quanto mais a insuficiência renal
progride, mais grave torna-se a hipertensão.
–
Glomerulonefrite (leia: GLOMERULONEFRITE | O que é, sintomas e tratamento)
O
glomérulo está para o rim como o neurônio está para o cérebro. São os
glomérulos que possuem os filtros responsáveis pela “limpeza” do sangue.
Chamamos de glomerulonefrite o grupo de doenças que causa inflamação
dos glomérulos. São várias as doenças que causam glomerulonefrite e
quase todas apresentam hipertensão como parte do seu quadro clínico.
–
Rins policísticos (leia: RINS POLICÍSTICOS | Doença policística renal)
A
doença policística renal é outra causa de hipertensão secundária. A
expansão dos cistos provoca um aumento da liberação de um hormônio
chamado renina, que causa maior absorção de sódio nos túbulos renais,
aumentando assim o risco de hipertensão. Pacientes com rins policísticos
podem ter hipertensão mesmo quando ainda não apresentam alterações
detectáveis da função renal.
–
Estenose da artéria renal
Estenose
é o termo que usamos para indicar um estreitamento em uma artéria. A
estenose da artéria renal causa uma diminuição no aporte e sangue para o
rim. Como a pressão do sangue que chega ao rim está muito baixa, este
imagina que a pressão está baixa em todo corpo e passa a reter mais sal e
líquidos para compensar esta falsa hipotensão.
–
Feocromocitoma
O
feocromocitoma é um tumor maligno da glândula supra-renal produtor de
adrenalina. Este excesso de adrenalina pode levar à hipertensão.
–
Aldosteronismo primário
Geralmente
causado por tumor benigno da supra-renal ou por um crescimento anormal
de toda a glândula, causa hipertensão devido a uma maior produção de um
hormônio chamado aldosterona, que age no rim aumentando a absorção de
sódio nos túbulos renais.
–
Síndrome de Cushing
A
síndrome de Cushing é uma doença causada por excesso de corticoides no
organismo, seja por produção exagerada da glândula supra-renal, seja por
ingestão excessiva de corticoides sintéticos para tratamento de algumas
doenças (leia: PREDNISONA E CORTICOIDES | Indicações e efeitos colaterais).
–
Apneia obstrutiva do sono
A
apneia obstrutiva do sono é uma doença que ocorre principalmente em
obesos e se caracteriza por períodos de apneia (ausência de respiração)
durante o sono. 50% dos pacientes apresentam hipertensão que costuma
estar mais elevada no período da manhã, ao contrário do que ocorre em
outras causas de hipertensão (leia: APNEIA DO SONO – Causas, Sintomas e Tratamento).
–
Doenças da tireoide (leia: DOENÇAS E SINTOMAS DA TIREOIDE)
Tanto o hipotireoidismo (leia: HIPOTIREOIDISMO (TIREOIDITE DE HASHIMOTO)) quanto o hipertireoidismo (leia: HIPERTIREOIDISMO | DOENÇA DE GRAVES | Sintomas e tratamento) podem cursar com hipertensão arterial.
Dr. Pedro Pinheiro
Médico especialista em Medicina Interna e Nefrologia
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Registros profissionais:
Ordem dos Médicos de Portugal: 47883
CRM RJ: 730092