O ministro dos Negócios Estrangeiros português visita a Venezuela a partir de sábado, 6/1/18, para conhecer a situação da comunidade portuguesa naquele país espano-americano e debater com as autoridades locais questões bilaterais, como interesses de empresas nacionais e o diálogo político em curso.
Augusto Santos Silva disse em entrevista à mídia que a visita tem como "objetivo principal" o contato com os portugueses e luso-descendentes residentes na Venezuela, mais ou menos 500 mil. Augusto Silva vai também liderar a delegação portuguesa à reunião da comissão mista entre Portugal e a Venezuela, marcada para segunda-feira, 8/1/18.
No encontro com os emigrantes, no Centro Cultural em Caracas, no domingo, Santos Silva pretende "manifestar o apoio do Governo português à comunidade portuguesa" e inteirar-se dos seus "problemas mais prementes", bem como falar com os seus representantes, conselheiros das comunidades e dirigentes associativos.
Outro objetivo da visita de três dias é "identificar e considerar as questões que hoje afligem ou interessam aos micro, pequenos e médios empresários da diáspora portuguesa na Venezuela". Santos Silva recordou que a larga maioria dos empresários portugueses ou lusodescendentes naquele país têm pequenos comércios e indústrias, e, como tal, trabalham "de porta aberta", estando por isso mais sujeitos a situações de "insegurança ou violência urbana".
"O principal problema, do ponto de vista português, que se passa hoje na Venezuela, diz respeito à situação e às perspectivas da comunidade portuguesa e lusodescendente residente na Venezuela, quer do ponto de vista das condições de segurança dessa comunidade quer das condições de vida e de acesso a bens básicos", sublinhou o ministro.
Para segunda-feira, está marcada a comissão mista bilateral, na qual os dois países devem procurar "tentar encontrar as melhores soluções" para as "questões identificadas pelas empresas portuguesas que têm relações contratuais com a Venezuela e pelas entidades venezuelanas que têm relações contratuais com empresas portuguesas".
Nesta reunião, Portugal deverá levar a situação de uma empresa portuguesa que fornece pernil de porco à Venezuela, depois de críticas, na semana passada, do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
"Temos a indicação por parte da empresa portuguesa fornecedora de pernil de porco à Venezuela de que gostariam que fosse tratado na comissão mista o problema que enfrentam, de prazos de pagamento e de fornecimento", referiu Santos Silva.
A empresa agroalimentar Raporal informou
que a Venezuela deve cerca de 40 milhões de euros às empresas
portuguesas fornecedoras de pernil de porco àquele país, dos quais 6,9
milhões lhe são devidos.
Nicolás Maduro acusou Portugal de
sabotar a importação de pernil de porco - prato típico das festividades
natalícias naquele país -, depois de Caracas ter feito um plano de
importação e acertado os pagamentos.
O Governo português rejeitou
as acusações, recordando que Portugal é uma economia de mercado em que o
executivo não interfere nas relações entre empresas.
Durante
a deslocação, Santos Silva vai também falar "com diferentes
responsáveis políticos e sociais da Venezuela, no sentido preciso em que
a União Europeia tem incentivado todos os processos de diálogo em
curso" entre Governo e oposição, com o objetivo de "chegar a um
compromisso político que permita normalizar a situação política".
Assim,
o ministro vai encontrar-se com o presidente da Assembleia Nacional
Venezuelana, Julio Borges (oposição); com o seu homólogo, Jorge Arreaza,
com a embaixadora da União Europeia na Venezuela, a portuguesa Isabel
Pedrosa, e com o arcebispo de Caracas, cardeal Jorge Urosa Savino.
"Evidentemente
que Portugal não é parte no processo político venezuelano, mas na
medida em que a nossa comunidade é muito numerosa na Venezuela e na
medida em que temos relações bilaterais com a Venezuela, a estabilidade
na Venezuela é também muito importante para nós", salientou Santos
Silva.
Está prevista para a próxima semana a segunda ronda de
negociações entre Governo e oposição venezuelana, a decorrer na
República Dominicana.
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