Por: Rodrigo Claudio “Bocão”, da Executiva Nacional do PSOL
Lula mantém liderança e rejeição não dispara
Apesar da condenação em segunda instância no TRF da quarta região e da
intensa campanha unificada da grande mídia e dos grandes grupos econômicos contra Lula, o ex-presidente manteve a liderança tanto no primeiro turno, quanto no segundo em todos os cenários eleitorais indicados pela pesquisa. Um outro dado fundamental é que sua rejeição se manteve estável com 40%, enquanto na outra pesquisa esteve com 39%.
As medidas antipopulares do governo Temer, através dos ataques e dos escândalos de corrupção recorrentes fazem uma parcela importante da população mais pobre manter as lembranças do crescimento econômico e das medidas compensatórias dos governos do PT, o que chamamos de “reformismo fraco”ou “reformismo quase sem reformas”. Lula e o PT seguem com a base em setores organizados, mas a força eleitoral do lulismo, que reflete nas pesquisas, é sobretudo as camadas mais empobrecidas e desorganizadas do povo pobre, parte importante delas nos pequenos e médios municípios.
A grande contradição é que a decisão do Tribunal Federal de Porto Alegre retira Lula das eleições de 2018. Apesar da narrativa do PT de dizer que Lula é candidato e vai até o fim, essa decisão não está mais nas mãos do PT. Na verdade, a grande burguesia brasileira e a Lava Jato não fizeram o que fizeram no Brasil, com o golpe parlamentar, para permitir a volta de Lula e do PT ao poder pela via democrática. Por isso, para manter suas política de ajuste rápido e o plano das reformas, a burguesia brasileira não aceita uma repactuação com Lula, apesar das intenções do petista que acenam permanentemente para ela.
Lula, mesmo não sendo candidato, terá um peso importante no próximo processo eleitoral. As pesquisas indicam, ainda, que Lula permanece sendo um “cabo eleitoral”com capacidade de transferir voto.
Uma outra questão aguardada era o índice do deputado federal Jair Bolsonaro depois da ofensiva de parte da mídia contra ele depois do vazamento de informações de enriquecimento da sua família e indícios de prática de corrupção com o emprego de funcionários fantasmas no seu gabinete.
O que presenciamos foi a manutenção dos seus índices de intenção de voto, mas fortes indícios de ter chegado ao seu teto e uma tendência à queda. O peso eleitoral que mantém Bolsonaro é identificado mundialmente para idéias conservadoras, machistas, racistas e com forte viés neofascista em vários países, como França e Estados Unidos. É um espaço eleitoral inédito para a extrema-direita no Brasil, mas apesar de Bolsonaro liderar as pesquisas sem presença de Lula, não está certo que chegue ao segundo turno. Até o presente momento, nenhum setor burguês importante demonstrou apoio à sua campanha, pelo contrário, a grande mídia e a burguesia brasileira é contra sua candidatura.
Candidatos de centro-direita estagnados
As candidaturas que buscam expressar o espaço de centro-direita e buscam apoio do setor mais importante da burguesia brasileira aparecem como estagnadas na última pesquisa Datafolha.
A principal candidatura é do governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), que aparece em terceiro ou quarto lugar em distintos cenários. O movimento atual do PSDB é buscar apoio do PSB (estão dispostos a ceder o governo de São Paulo) indo até o PMDB. Caso sejam vitoriosos na construção de uma ampla coligação e com a unificação dos setores mais importantes da burguesia e mídia na sua candidatura, têm forte tendência, ao começar a televisão, a crescer e chegar no segundo turno.
Marina Silva é uma incógnita
Ausente politicamente do cenário político desde as eleições de 2014, a ex-senadora do Acre parece, depois de duas candidaturas, ter conseguido construir um eleitorado. Apesar da pouca aparição no cenário político eleitoral, mantêm a terceira colocação e fica em segundo em cenário sem Lula. Nas últimas eleições, sua candidatura desidratou frente à polarização PT versus PSDB. Essa tendência se manterá, ou perante uma saída do PT, ela ganhará a maior parte do apoio popular de Lula. Esse cenário ainda está em aberto, mas o mais provável é mais uma vez sofrer o efeito da desidratação perante uma eventual polarização para o segundo turno.
Transferência de votos é tendência forte no Brasil
O padrão histórico desde a redemocratização do Brasil demonstrou o peso da transferência de votos em pelo menos três oportunidades históricas, quase sempre relacionado a ciclos econômicos que tiveram impacto sobre a população: 1) Após o sucesso do plano cruzado, em 1986, o PMDB varreu as eleições de governador do mesmo ano, elegendo 22 de 23 governadores possíveis e a maior parte dos senadores e deputados federais ; 2) O sucesso do plano real de 1993 incidiu diretamente nas eleições do ano seguinte. Lula começou as eleições em primeiro na pesquisa e FHC, candidato da ordem e ministro da fazenda de Itamar, acabou ganhando no primeiro turno; 3) O crescimento econômico que atravessou particularmente o segundo mandato de Lula foi decisivo para a eleição de Dilma Roussef, que, poucos meses antes da eleição, era uma desconhecida.
Apontamos aqui duas hipóteses a serem estudadas: 1) Lula como “cabo eleitoral” ainda é capaz de influenciar cerca de um terço dos eleitores que dizem na pesquisa que votariam em candidato indicado por ele, ou pensariam em votar. Se Lula conseguir transferir essa votação, eventual candidato do PT ou apoiado por ele pode chegar pela pesquisa entre 10 e 15% e disputaria o segundo turno; 2) Existe uma relativa melhora da situação econômica, os índices de crescimento na indústria, do consumo e o controle da inflação indicam a saída do Brasil do pior da crise, embora ainda mantenha um índice alto de desemprego de 12,7%. Essa pequena recuperação terá influência em favorecer os candidatos da ordem e do programa do ajuste? Caso isso aconteça, existe a tendência de favorecer a candidatura de Geraldo Alckmin.
Quais são os favoritos para o segundo turno?
As eleições presidenciais estão totalmente em aberto. Pode acontecer que os dois primeiros colocados nas pesquisas presidenciais até o momento não cheguem ao segundo turno. Essa possibilidade é uma realidade, seja pela condenação de Lula, seja por nenhum setor importante da burguesia e da grande mídia apoiar Bolsonaro.
No entanto, é possível apontar duas tendências mais prováveis: 1) um segundo turno entre o candidato de centro-direita, cujo favorito é Alckmin (PSDB), partido preferido da burguesia brasileira, com mais potencial de conseguir uma forte coligação e que estará comprometido com o programa do ajuste e das reformas e o candidato apoiado por Lula, que tem potencial, como vimos, de transferir ao menos um terço dos seus votos ao seu candidato; 2) Alckmin (PSDB) estará no segundo turno pelos motivos apontados no primeiro cenário e Bolsonaro sobrevive pelo espaço objetivo para as idéias de extrema-direita e o perfil outsider odiado pela mídia e pelos grandes grupos econômicos.
Por último, apesar do alto índice de votos nulos, brancos e indecisos no cenário sem a presença de Lula, que chega a 32%, ainda é cedo para apontar o cenário mais provável. Nas eleições de 2014, devido à polarização Dilma versus Aécio, a soma dos votos brancos e nulos chegou a cerca de 6% dos votos, somando nulos e brancos. Logo depois das jornadas de junho de 2013, os índices de brancos e nulos estavam altos nas pesquisas e diminuíram frente à polarização. Nas eleições municipais de 2016, os índices brancos e nulos chegaram a 13% no primeiro turno das eleições, o que indica um crescimento para cerca de o dobro das eleições presidenciais.
Foto: Tânia Rego/ABr)
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