A VIAGEM DO MARINHEIRO FERNÃO DA CUNHA



Fernão da Cunha era um marinheiro da esquadra de Cabral. Embarcara em Lisboa com destino às Índias. Tinha muita esperança de ficar rico, mas, ao mesmo tempo, sentia muito medo. O almirante Vasco da Gama já havia feito essa viagem e voltara carregado de tesouros, mas, muitos dos seus homens não retornaram.
Durante a viagem, Fernão da Cunha sentia-se muito inseguro. Não fosse o trabalho duro, ele teria se apavorado em muitos momentos. O almirante Cabral não deixava ninguém ficar parado. Toda a marujada trabalhava em turnos de quatro horas, sem tempo para pensar.
A rotina era de matar; manter o convés molhado, pois quando este secava a madeira rachava, cuidar das velas, dos mastros, das escadas, dos canhões, da munição, das ferramentas, dos animais a bordo...
Quando acabavam, os marujos caíam desmaiados de cansaço, para acordar horas depois e começar tudo de novo. Dormia-se em qualquer canto do navio, já que as embarcações não possuíam cabines nem dormitórios para todos os marinheiros. Banheiros então nem se fala! A comida era terrível; carne salgada e bolachas, tudo cheio de bicho. A água era misturada com vinho para não fazer mal, pois água fresca não havia. Aliás, não havia alimento fresco nas viagens marítimas. Muitos marinheiros ficavam com escorbuto, devido à falta de vitamina C na alimentação. Mas, Fernando da Cunha não contraiu a doença. Tinha a certeza de que a medalha de santo, presenteada pela mãe antes da partida, era responsável por toda a sua boa saúde.
Fernão acreditava em milagres. Até, porque seria um milagre conseguir chegar ao fim daquela viagem. O Fernão achava, que o navio fosse cair num abismo a qualquer momento. E quem garantiria que não haveria monstros no mar?
Na região da linha do equador terrestre, a viagem tornou-se uma tortura; muito calor, pouca água para beber, nenhum vento. As naus pararam. O sol parecia cozinhar os miolos. Os navios não se moviam.
Acreditando que ia morrer, Fernão da Cunha procurou o padre para se confessar. Este lhe dissera para não se preocupar, pois os que passassem pelo equador, já teriam pago todos os pecados de uma vida.
Fernão já perdera as esperanças, quando surge um ventinho e as grandes naus se movimentaram vagarosamente. Mas Fernão espantou-se com o rumo tomado. Aí então, estas, navegavam no rumo sul para depois pegarem o rumo oeste. Será que o capitão enlouquecera, ou teria recebido instruções secretas do rei?
O fato é que quase no fim de abril – Fernão da Cunha não sabia o dia exato – chegaram a uma terra desconhecida, que parecia um paraíso. Mar azul, areia branca, matas verdejantes. Os nativos nus os receberam bem, mas o comandante ficara decepcionado: os habitantes da terra não tinham ouro nem sabiam comerciar. Talvez servissem como escravos...
Fernão da Cunha, ao contrário, ficou entusiasmado. Fora um dos que desceram à terra. Bebeu água fresca, comeu frutas estranhas e deliciosas. Andou descalço na areia fina da praia. Viu belas mulheres nuas, que sorriam para ele. Assistiu à missa sem prestar atenção às palavras do padre. Ficou olhando umas aves coloridas, que sobrevoavam o altar. Que lindas!
Após alguns dias investigando os recursos da nova terra e seus nativos, o comandante Cabral, ordenou a todos, que voltassem para os navios. Fernão da Cunha, porém, disse aos amigos: - não vou! Quero ficar nesta terra. Não volto mais ao navio. Não volto mais para Portugal.
Seus companheiros riram e o carregaram para um dos botes, que os levariam para as embarcações. Um deles disse: - vamos Fernão. Estás delirando. Vamos embora!... Outro companheiro completou: - Até parece que estás bêbado, homem de Deus!...

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