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O Morro do Castelo foi um acidente geográfico que existiu na cidade
do Rio de Janeiro, no Brasil. Como um acidente geográfico pode deixar
de existir? Assim foi feito no início do século XX. O Morro do Castelo,
considerado o berço do Rio, foi destruído. Hoje só existe em maquetes e
fotos antigas.
A história do Morro do Castelo começa no século 16, quando a cidade
se mudou do Morro Cara de Cão. A mudança ocorreu em 1567, dois anos
depois da sua fundação, quando os 120 portugueses, comandados por Mem de
Sá, derrotaram os franceses, comandados por Nicolau Durand de
Villegaignon. Como o Morro Cara de Cão era pequeno, a mudança foi
necessária.
O Morro do Castelo foi escolhido por razões de segurança. Os
portugueses tinham o costume de construir vilarejos em pontos elevados e
o Morro do Castelo era uma das quatro colinas existentes no Centro do
Rio. Do Castelo tinha-se uma visão privilegiada de boa parte da Baía de
Guanabara, o que facilitava a defesa. Além disso, era cercado por lagoas
e manguezais, que dificultavam um ataque. Os índios Tamoios, pouco
dóceis e inimigos naturais dos portugueses, tinham medo das colinas,
pois as associavam a coisas demoníacas.
Finalmente, a inclinação do
morro favorecia o escoamento dos detritos. Naquela época, como
atualmente em algumas favelas, jogava-se lixo na rua e a chuva tratava
de levá-lo encosta abaixo.
Assim nasceu a cidade, com cerca de 600 pessoas, entre elas os
fundadores que vieram com Estácio e Mem de Sá, jesuítas, índios
catequizados, alguns franceses e umas poucas mulheres. Esses pioneiros
ocupavam os 184 mil metros quadrados da colina, com limites nas atuais
Rua São José, Santa Luzia, México e Largo da Misericórdia.
De início, logo no primeiro ano de ocupação, o morro ganhou suas
primeiras construções. Em 1567 foi erguido o Forte de São Januário,
rebatizado mais tarde de São Sebastião. Ficava na parte posterior do
morro e foi feito, como as demais construções, de pedra e óleo de
baleia. As paredes internas tinham um metro de espessura e sua aparência
era a de um castelo, daí o nome do lugar. Meses antes o Morro do
Castelo chegou a ser chamado de “Morro do Descanço”.
Em seguida foi construída a Igreja de São Sebastião, o primeiro
templo do Rio, que se assemelhava a uma fortaleza. Tinha duas torres
sineiras, usadas na vigilância da costa.
No Morro do Castelo foram construídos o primeiro sobrado da cidade, a
Casa de Câmara e a Cadeia. A Igreja e o Colégio dos Jesuítas exerceram
intensa atividade no Castelo até a expulsão dos padres desta Ordem pelo
Marquês de Pombal, em 1759. Com a saída dos religiosos o colégio virou
Palácio São Sebastião, depois hospital militar e, em 1877, hospital
infantil São Zacarias.
As dificuldades do dia-a-dia não compensavam a segurança do
isolamento. Assim, a nobreza carioca do século 16 desceu a ladeira, a
Ladeira da Misericórdia, que era o único acesso ao Morro no início da
sua ocupação. Da Rua da Misericórdia, a mais antiga do Rio, sobrou
apenas uma via sem saída, com 40 metros e calçamento pé-de-moleque do
século 17, no Largo da Misericórdia, que poucos cariocas reverenciam em
meio ao corre-corre e a agitação do Centro.
Foi pela Ladeira da Misericórdia que a elite desceu os 64 metros do
Morro do Castelo e seguiu em direção à várzea, a partir de 1570. Apenas o
pessoal menos favorecido, principalmente pescadores, permaneceu no alto
do morro, pois não foi contemplado com a distribuição de sesmarias,
terras doadas pelo governador-geral, em nome da Coroa Portuguesa.
Com a mudança, veio a decadência e o local ficou marginalizado, evitado
pelos cariocas. Com as obras que mudaram o centro da cidade no início do
século passado, muitas famílias desalojadas encontraram abrigo no Morro
do Castelo. Mas isso só duraria até 1922, quando o Prefeito do Distrito
Federal, engenheiro Carlos Sampaio, decretou o fim do morro. Foram
muitas as justificativas, entre elas a falta de espaço para abrigar a
exposição comemorativa do centenário da Independência. Diziam, também,
que o Morro do Castelo prejudicava a ventilação da área central da
cidade. Assim, com jatos d’água, motores elétricos e máquinas a vapor,
acabaram com o berço da cidade.
Mesmo tendo o Rio um milhão e duzentos mil habitantes coube a um
paulista, Monteiro Lobato, reagir contra a obra. Foram demolidos 300
imóveis e retirados 66 mil metros cúbicos de terra. A população foi
removida para os subúrbios e os principais objetos de valor, como o
marco inaugural da cidade, pinturas e esculturas do século 17,
transferidos para vários pontos da cidade. No Colégio Santo Inácio estão
as imagens do Cristo Crucificado, de João Evangelista e da Virgem
Maria, além da Porta Principal da antiga Igreja dos Jesuítas. Na Igreja
dos Capuchinhos estão o Marco Inaugural e túmulo de Estácio de Sá.
A terra retirada do Castelo foi usada para aterrar parte da Urca,
Lagoa Rodrigo de Freitas, Jardim Botânico, área do Jóquei Clube, e
muitas áreas da baía de Guanabara. Vale lembrar que a Rua Santa Luzia,
onde estão a Igreja de Santa Luzia e a Santa Casa de Misericórdia,
ficava junto ao mar.
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