Fado no Brasil: Manoel Monteiro
Por Thais MatarazzoO primeiro cantor de fados no Rádio brasileiro foi Manoel Monteiro. Iniciou suas atividades artísticas por volta de 1931 na radiofonia carioca, sempre cantando em programas avulsos da Rádio Educadora do Rio de Janeiro.
Nascido aos 15 de maio de 1909, na freguesia de Cimbres, concelho de Armamar, distrito de Viseu. Filho de António dos Santos Monteiro e Carlota dos Santos Trindade Monteiro. Teve duas irmãs: Maria e Fernanda (que mais tarde se tornaria cantora de rádio no Brasil e participou dos coros das gravações de Manoel Monteiro na década de 1940).
Manoel Monteiro veio com seu pai e um tio para o Brasil em dezembro de 1923, aos 14 anos. Procuravam melhores condições de sobrevivência. Em 1927, seu pai ficou tuberculoso e precisou retornar a Portugal, Manoel ficou aos cuidados de alguns parentes que residiam na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro. Passou a trabalhar no comércio. Até que em 1929, resolveu tentar a sorte no Rio de Janeiro.
Já gostava de cantar desde menino, quando auxiliava os pais na lavoura, seu pai sempre repetia que a cantoria não o levaria a nada. Já na Cidade Maravilhosa ingressou na escola de balé do TeatroMunicipal, onde se manteve até 1930, quando foi proibido de dançar devido a problemas cardíacos.
Desde 1929, Monteiro assistia a todos os espetáculos que as companhias de revistas portuguesas apresentavam nos teatros cariocas, especialmente, no Teatro República. O rapaz aprendia os fados em voga e vivia a cantarolar para quem o quisesse ouvir. Certa tarde de 1933, Manoel, ao passar por uma Casa de Discos ouviu uma vitrola a tocar um disco de música portuguesa, parou e começou a cantar junto com o disco, naquele momento, também estavam na loja o guitarrista Manoel Caramês (já bastante afamado) e o compositor Carlos Campos, que ficaram impressionados com a bonita voz e interpretação do jovem e o convidaram para ele gravar um disco na etiqueta Odeon. Ainda em 1933 era lançado o primeiro disco 78 rotações do artista com os fados “O teu olhar” e “O último fado”, ambos compostos por Carlos Campos.
Seus primeiros sucessos aconteceram com as gravações dos fados “Santa Cruz”, “Minha bandeira” e “Fado Manoel Monteiro”. Nesta época, a comunidade portuguesa no Brasil era muito grande devido à maciça imigração lusa para o Brasil. Não foi difícil Monteiro conseguir patrocínio junto aos seus patrícios para ter seu próprio programa radiofônico, intitulado “Programa Manoel Monteiro”, que teve sua primeira emissão em 1934. Permaneceu no ar por mais de 15 anos.
Do seu vasto repertório musical destacamos que realizou mais de 100 gravações. Tendo gravado também obras de autores brasileiros, principalmente do gênero carnavalesco, como seu grande sucesso de 1935, “Salada Portuguesa” (também conhecida como “Caninha verde”), de Vicente Paiva e Paulo Barbosa, esta marcha foi por ele apresentada no filme “Alô, alô, Brasil”, da Cinédia, onde Monteiro aparece ao lado de grandes nomes da música popular brasileira como: Carmen Miranda, Francisco Alves e Elisinha Coelho.
Esteve em Portugal diversas vezes a cantar. Gozou de enorme prestígio no Rádio brasileiro. Excursionou por diversas cidades brasileiras, se apresentou em um sem-número de restaurantes típicos, em circos, em teatros, na Rádio e na televisão.
Auxiliou muitos colegas em início de carreira, como, por exemplo, a cantora e radialista paulista Irene Coelho. Foi Manoel Monteiro o responsável por abrir caminho para outros artistas lusos ingressarem no meio artístico, pois é considerado o primeiro cantor português a fazer sucesso no Brasil. Foi alvo de muitas homenagens durante sua trajetória artística.
Manoel Monteiro nunca se casou. Sempre residiu no Rio de Janeiro, cidade em que veio a falecer aos 81 anos em 26/11/1990. Em 1992, em Portugal, foi lançado um pequeno livro-biografia sobre o artista, escrito por J. Gonçalves Monteiro, com colaboração de Fernando Pinto, sobrinho de Manoel Monteiro.
Por Thais Matarazzo
Jornalista, escritora e pesquisadora musical. Autora do livro “Irene Coelho, uma brasileira de coração português”. Membro da UBE – União Brasileira de Escritores. E colunista do Mundo Lusíada Online.
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