Fronteira entre Brasil e Venezuela na cidade brasileira de Pacaraima no est. de Roraima |
© Sputnik / Renan Lúcio
Brasil enfrenta COVID-19
A
decisão do Brasil de fechar fronteiras e conter o fluxo de voos
internacionais foi bastante sensível, mas necessária. E não será a causa
dos prejuízos comerciais que o país deverá enfrentar no médio prazo,
acredita o especialista em Relações Internacionais Paulo Velasco.
A fim de conter a propagação do novo coronavírus, o governo brasileiro anunciou, na última quinta-feira, o fechamento de suas fronteiras
por 15 dias, medida que foi acompanhada por uma decisão de restringir,
por um mês, a entrada de passageiros estrangeiros que viriam para o país
em voos internacionais.
Embora a decisão seja considerada indicada para esse tipo de
situação, ela poderia ter sido tomada um pouco mais cedo, antes do
estágio atual de disseminação da COVID-19, como acredita o pesquisador
do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) Paulo Velasco,
também diretor do curso de Relações Internacionais da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
"A ideia era de que pudéssemos ter tomado esse tipo de decisão um
pouco antes, embora, é claro, seja uma decisão sempre um pouco
constrangedora.
Acho que a postura do Brasil, nesse sentido, foi esperar
a reunião que foi feita no início da semana, no âmbito do Prosul, que é
o Fórum para o Progresso e Desenvolvimento da América do Sul, que reúne
os principais países da América do Sul; a exceção feita é, claramente, à
Venezuela", disse o especialista em entrevista à Sputnik Brasil.
Segundo Velasco, nesse "encontro", feito por teleconferência, foi
decidido adotar um controle mais rigoroso das fronteiras. E, sendo
assim, o Brasil se valeu dessa coordenação mais multilateral no
subcontinente para levar a cabo essa política considerada extremamente
"sensível".
"As fronteiras do Brasil são muito difíceis de controlar. São 16 mil quilômetros de fronteira. Então, é muito difícil o Brasil realmente conseguir controlar, efetivamente. Nunca conseguimos. Boa parte das fronteiras são amazônicas inclusive, onde o controle é bastante precário, por motivos bastante óbvio."
Para ele, embora seja comum a presença das Forças Armadas
nesse tipo de atividade de controle e monitoramento, cabe questionar se
haverá realmente um interesse de cidadãos de outros países em tentar
entrar no Brasil nesse período, violando regimes de quarentena já
estabelecidos nos Estados vizinhos. Salvo para o caso de atividades
ilegais tradicionais, como o crime organizado internacional.
Seja como for, o professor não acredita que essa medida sensível, mas
necessária, será objeto de prejuízos econômicos significativos para o
país.
"A princípio, as mercadorias continuam circulando. Essa é uma restrição para as pessoas", destaca o especialista, explicando que, dessa forma, isso não deveria afetar diretamente o comércio regional. "Mas é claro que o impacto acabará acontecendo porque está havendo uma desaceleração da atividade econômica por toda a região."
Ainda sobre essa desaceleração, o professor sugere que ela terá muito
mais impacto do que o fechamento de fronteiras em si. E isso não apenas
na América do Sul, mas em todo o mundo, já que as quarentenas vêm
reduzindo as demandas por produtos e serviços de diversas áreas ao redor
do globo.
Nesse contexto, o acadêmico sublinha que qualquer prognóstico sobre
uma possível retomada da normalidade seria irresponsável neste momento.
Mas o consenso é de que isso não será resolvido de maneira imediata, no
curto prazo, e "pode, sim, levar a economia mundial a um cenário de recessão".
"Poderíamos voltar àquele contexto caótico de 2008, 2009. Agora, não por uma crise com epicentro em um país específico, como foi naquele caso, nos Estados Unidos, mas, sim, por uma crise de saúde pública. É quase certo que veremos, realmente, a economia mundial colapsando. Até porque o grande carro-chefe da economia mundial é a China, que ficou, durante três meses, absolutamente paralisada."
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