Europa
Grupos
de brasileiros que estão retidos em Portugal por causa dos
cancelamentos de voos internacionais criticam a postura do governo
federal na divulgação de informações relativas às viagens de retorno ao
país.
Até
o momento, nenhuma ação de repatriamento foi realizada pelo governo
brasileiro, confirma à Sputnik Brasil o presidente do Conselho de
Cidadãos Brasileiros em Lisboa, órgão que atua como ponto de contato
entre a comunidade brasileira e o Consulado. "Eu vi ontem o ministro
Ernesto Araújo falando em repatriação, isso a meu ver é brincar com as
pessoas", diz Ricardo Amaral.
Em entrevista
à CNN Brasil neste domingo (22), o titular do Ministério das Relações
Exteriores confirmou que Portugal é o país com o maior número de
brasileiros retidos, dois mil atualmente. O ministro afirmou que já
foram repatriados cerca de 1.500 através de negociações com várias
companhias aéreas. No entanto, Amaral explica que o que tem sido
realizado é um diálogo do governo brasileiro com o governo português e
com as empresas, para que abram mais voos de retorno e facilitem o
acesso dos brasileiros, e não ações de repatriamento custeadas com
recursos federais.
O representante do Conselho tem dado apoio aos brasileiros que vão ao aeroporto para tentar resolver a situação. "Infelizmente só consigo atuar junto à TAP, que tem sede no local. As demais companhias estão fechadas. Estou tentando ver se entro em contato com os responsáveis. Agora o problema maior é que não sou o mandatário do governo brasileiro, quem é mandatado do governo até agora não deu as caras, que é o embaixador e o cônsul", diz Ricardo Amaral.
Desde a semana passada, quando Portugal e União Europeia tomaram
medidas para fechar fronteiras aéreas, por causa da pandemia de
COVID-19, a Embaixada do Brasil em Portugal tem intensificado o uso das
redes sociais para repasse de informações. Os posts se limitam a
solicitar envio de dados por email, preenchimento de formulários e
repasse de links para que os prejudicados acionem diretamente as
companhias aéreas.
"Nossa hospedagem era só até hoje às 10 da manhã e nosso dinheiro já
acabou, porque a gente fez uma previsão certinho para ficar até hoje.
Agora estamos no aeroporto, sem saber o que fazer", conta à Sputnik
Brasil a auxiliar de enfermagem Karina Lisboa.
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Foto / Arquivo pessoal / Karina Lisboa
Karina Lisboa e Priscila Pereira no aeroporto, depois de terem o voo cancelado
Karina viaja com uma amiga. As duas deveriam ter embarcado nesta
segunda em um voo para São Paulo. Ao chegarem ao aeroporto, descobriram
que tinha sido cancelado. As amigas tentaram buscar informações com a
agência pela qual fizeram as reservas. Alterações ou compra de novas
passagens têm alto custo no momento. "As passagens são abusivas. R$ 14
mil, com conexão R$ 7 mil, R$ 8 mil. Então a gente não sabe mais o que
fazer. Estamos aqui paradas", diz Karina.
O jornalista baiano Gil Rocha também aguarda em Lisboa por uma
definição. "O que a gente tem acompanhado aqui, através das redes
sociais, site, jornais, é que está sendo passada uma imagem de que as
autoridades estão fazendo de tudo, quando na verdade quem embarcou até
agora teve que arcar com valores exorbitantes", afirma o jornalista à
Sputnik Brasil.
A repatriação é uma coisa organizada, que a gente vai pra um lugar e espera pelo transporte pra voltar ao Brasil. As operadoras estão se aproveitando desse momento de desespero de algumas pessoas, enquanto que a gente assiste a demora das autoridades em tomar uma atitude. Eu consultei uma passagem que estava 30 mil reais. As pessoas na verdade estão é se endividando para comprar uma coisa que já está paga. E ninguém nem quer ser repatriado, todo mundo já veio pra cá com tudo pago, valores todos certinhos, queremos uma definição", diz o jornalista.
A Sputnik Brasil questionou o Ministério das Relações Exteriores
sobre a situação dos brasileiros em Portugal e sobre ações de
repatriamento, mas, até a publicação desta reportagem, não houve
resposta. O site oficial
do Itamaraty reforça que foi criado um Grupo Consular de Crise para
atendimento dos viajantes que estão com situação indefinida e lista os
contatos disponíveis em vários países.
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Foto / Arquivo pessoal / Gil Rocha
O
aeroporto de Lisboa chegou a ter longas filas de espera do lado de
fora, de passageiros com voos cancelados que buscavam uma solução
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