Tamanha a beleza do ataque do Sporting dos anos 40, o quinteto responsável por isso foi apelidado de "Os Cinco Violinos", numa das melhores (e menos lembradas) equipes do futebol português de todos os tempos. Tavares da Silva, um grande jornalista e posteriormente treinador português, encantado com o futebol do Sporting de Lisboa deu a alcunha de "Cinco Violinos" a uma das maiores e infelizmente menos afamadas frentes de ataque de todos os tempos do futebol português. Formado por Jesus Correia, Vasques, Albano, Peyroteo e José Travassos, o ataque do Sporting, entre 1946 e 1949, foi por três vezes campeão nacional, além de conquistar também a Taça de Portugal. Estes cinco marcaram pelo menos cem gols cada pelos leões sportinguistas, totalizando mais de mil gols pelo clube, contando apenas tentos marcados por eles. Posteriormente, este mesmo quinteto colecionou façanhas pela seleção lusitana e criou uma geração apaixonada pelo esporte, sendo os responsáveis pelo pontapé inicial da grande fase do futebol português da década de 1960.
Quem são os famosos Cinco Violinos? Uma das melhores linhas avançadas
de sempre, composta por Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e
Albano.
Juntos pelos leões realizaram apenas três épocas, entre 1946 e
1949. Mas, no total, acabaram as carreiras com números impressionantes:
1.211 golos em 1.545 jogos disputados. Foram números que ficaram para a história. Mas cada um dos Violinos também teve a sua história. E que história.
Jesus Correia
Jesus Correia era o mais paradoxal dos Cinco Violinos mas aquele que mais sentido deu à ideia do verdadeiro desportista: tão depressa se destacava com a velocidade de ponta e técnica nos relvados como brilhava nos rinques de stick na mão e uma habilidade anormal para o hóquei em patins; era um gentleman
fora de campo mas que ‘maltratava’ qualquer defesa esquerdo que
apanhasse pela frente; primava pelo sentido de humor apurado mas, em
qualquer das duas modalidades de eleição, colocava a chorar os
adversários diretos. ‘Necas’, como também era conhecido, foi um
dos melhores extremos direitos e, ao mesmo tempo, uma pessoa fascinante,
capaz de encantar qualquer um à primeira vista com meia dúzia de
palavras.
Nascido em Paço de Arcos, começou a jogar hóquei no clube local antes de tentar as primeiras experiências no futebol.
Aliás, a primeira ficou marcada por uma recusa, quando o Belenenses não
viu nele capacidade suficiente. Szabo, um homem astuto e um dos
melhores técnicos daquela geração, não passou ao lado do que viu e levou
o extremo para Alvalade. Ficou célebre também por ter marcado
os seis golos da vitória do Sporting frente ao Atl. Madrid na
inauguração do Estádio Metropolitano da capital espanhola. Aos 28 anos,
obrigado a escolher entre as duas grandes paixões, optou pelo hóquei em
patins. Deu o pontapé de saída da receção ao Manchester United
na inauguração do novo Estádio José Alvalade, em Agosto de 2003. Viria a
falecer no final desse mesmo ano, quando era o último Violino ainda
vivo.
Vasques
Muitos
se recordam dele como o ‘Malhoa’, alcunha atribuída pelo antigo
treinador e jornalista Tavares da Silva, em homenagem ao reputado pintor
da altura. Poucos se lembram que havia uma pessoa que não
gostava do epíteto – o próprio Vasques. “Diziam isso quando os jogos não
me corriam tão bem, a troçar”, confessou um dia aquele que foi
considerado o mais virtuoso de todos os Violinos. Nascido no Barreiro,
cedo se começou a destacar nas partidas de rua onde fazia questão de ser
chamado como o tio, Soeiro, grande figura do Sporting nos anos 30. Aos
12 anos, arriscou ter aulas noturnas na escola industrial mas acabou por
ir para aprendiz de carpinteiro na CUF. Ainda antes dos 18, passou para
os escritórios… e para os estádios.
Em 1946, e depois de não ter agradado ao Benfica, foi parar aos leões e lá ficou 13 anos,
tendo ganho 12 títulos entre os quais oito Campeonatos. É o terceiro
melhor marcador de sempre do Sporting, clube ao qual ficou ligado de
forma sentimental – nunca chegou a levantar os 18 contos que recebeu
quando passou a vestir de verde e branco – e profissional, sendo figura
reconhecida por todos no Museu e na Loja Verde do antigo Estádio onde
passava horas a recordar as histórias do melhor ataque de sempre.
Acabaria por falecer em 2003.
Peyroteo
Todas as orquestras têm o seu Stradivarius (a sua alcunha) e nos Cinco Violinos esse papel foi sempre de Fernando Peyroteo, um dos maiores goleadores de sempre com uma média de 1,6 golos por jogo. Era um predestinado para o desporto
que, em Angola, tão depressa marcava no futebol de rua como ganhava
títulos no ténis ou no ping-pong. Alto, largo mas com uma invulgar
capacidade de mobilidade, beneficiou da atenção de um professor em miúdo
que o colocou dois anos sem tocar numa bola apenas a fazer ginástica
sueca, para potenciar as aptidões físicas.
Chegado à Metrópole em 1937, apontou um total de 541 golos em 332 jogos.
“Fui soldado nas fileiras do desporto nacional e um soldado não foge ao
cumprimento do seu dever, seja qual for e em que circunstâncias for!
Mas de hoje em diante, reconheço que sou um soldado velho… Não posso
corresponder às exigências de preparação de um jogador de futebol que
queira manter-se em forma e ser útil ao seu clube e à modalidade que
pratica. Quando entro em campo, vou cheio de vontade de jogar
mas, depois de meia dúzia de pontapés na bola, apodera-se em mim um
enfastiamento inexplicável”, discursou no dia do jogo de despedida, com
31 anos. Foi um final prematuro para o avançado que viria a falecer aos 60 anos.
Travassos
Nasceu entre o Campo Grande e o Lumiar mas nem por isso teve facilidade em fazer o que mais gostava: jogar futebol. Talvez
por isso, e por ter um pai rendeiro, as couves das hortas foram muitas
vezes a bola que a família, avessa a esse desporto, tardava a comprar.
Aos 13 anos, fez-se à vida e, após uma experiência como aprendiz de
torneiro, tornou-se ajudante de mecânico automóveis, tendo começado a
jogar com apenas 16 anos na CUF. O FC Porto, em digressão pelo
Sul, tentou a sua contratação mas o jogador, mesmo depois de já ter sido
considerado “um atleta esguio a quem faltava bacalhau e batatas” pelos
leões, esperou e lá conseguiu jogar no seu clube, o Sporting.
Tecnicista, inteligente e capaz de ver o que muitos nem sonhavam, o
avançado ficou também na história por ter sido primeiro jogador
português convocado para a Selecção da Europa, em 1955, quando já se
encontrava de férias na Caparica (daí ser conhecido como o Zé da
Europa). Sempre próximo de Vasques, montou um negócio ligado a
arcas refrigerantes com o companheiro quando ainda jogava no Sporting,
mas foi na caça que encontrou o refúgio depois de ter deixado o futebol,
em 1959. Acabou por falecer em 2002, aos 75 anos.
Albano
Era
baixo, mas nem por isso deixava de inventar formas de ultrapassar os
opositores e, um dia, o ponta esquerda conseguiu fintar um escocês…
passando entre as suas pernas. O talento não se mede mesmo aos
palmos e o jogador que chegou ao Sporting em 1943 do Seixal, após ter
passado pela formação do Barreirense, revelou uma aptidão anormal de
drible que o distinguia dos demais. Foi internacional e, após a estreia
frente à Suíça, em 1947, soltou a célebre frase “Choveu tanto que
encolhi mais dois centímetros”.
O
facto de na altura ter custado 20 contos aos verde e brancos não caiu
bem junto dos adeptos, mas com o tempo conseguiu provar que valia a pena
e, até pelo físico franzino e a finta desconcertante,
tornou-se numa das coqueluches mais adoradas pelos sócios. Faleceu em
Março de 1990 com 67 anos, não deixando de ser ainda hoje recordado como
um dos melhores pontas esquerdas que o futebol nacional viu passar.
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