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EUA, Donald Trump tenta a reeleição enquanto Joe Biden desponta nas
pesquisas. O que isso significa para o Brasil de Bolsonaro? A Sputnik
Brasil ouviu um pesquisador de História da América que explicou o que
podemos esperar no Brasil caso Biden vença as eleições.
As eleições presidenciais se avizinham nos Estados Unidos e devido à proximidade entre os governos do norte-americano Donald Trump e do brasileiro Jair Bolsonaro, o resultado do pleito pode trazer consequências para a política externa brasileira.
As eleições presidenciais se avizinham nos Estados Unidos e devido à proximidade entre os governos do norte-americano Donald Trump e do brasileiro Jair Bolsonaro, o resultado do pleito pode trazer consequências para a política externa brasileira.
Apesar do apoio de Bolsonaro a Trump, a situação, por enquanto, está desfavorável para o republicano na corrida eleitoral.
É o que aponta o professor Roberto Moll, que leciona História da
América no Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos da Defesa e
da Segurança na Universidade Federal Fluminense (UFF).
"Me parece que hoje a eleição está muito mais favorável para o Biden do que para o Trump, embora isso não esteja definido, não seja certo", avalia o professor em entrevista à Sputnik Brasil.
Moll
entente que Trump está em baixa devido ao avanço da pandemia do novo
coronavírus nos EUA e também devido aos protestos antirracistas que se
espalharam pelas ruas do país. O pesquisador alerta para o fato de que
as eleições dos EUA podem surpreender devido ao sistema de votos
norte-americano, no qual o presidente não é eleito pelo voto popular,
mas analisa as possíveis consequências para o Brasil e a América Latina
caso Biden saia vitorioso.
O 'erro básico' na política externa de Bolsonaro
Mesmo assim, o pesquisador explica que uma eventual derrota de Trump
pode ser um problema para Bolsonaro, que vive sua própria crise política
no Brasil e desde a campanha eleitoral declara alinhamento político com o atual ocupante da Casa Branca.
"O governo brasileiro cometeu um erro básico de política externa, que é fazer a política externa com base em amizades e inimizades pessoais - sobretudo, inimizades pessoais", aponta.
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AP Photo / Manuel Balce Ceneta
Em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (à esquerda), e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (à direita), conversam na Casa Branca em 19 de março de 2019.
Moll ressalta que o maior problema desse posicionamento é em relação
às inimizades, lembrando que Bolsonaro chegou "praticamente fazer
campanha" para presidentes de outros países. Exemplos dessa posição
ocorreram em relação à Argentina, ao Uruguai e também com os EUA, com Trump, a quem Bolsonaro dedica admiração.
"Vale lembrar que essa relação com base em pessoalidade e amizades ou inimizades pessoais, recentemente trouxe pouca ou nenhuma vantagem comercial para o Brasil. O Brasil, no ano de 2020, de janeiro a junho, tem tido um déficit comercial com os Estados Unidos", aponta o professor, que ressalta o quadro mesmo lembrando que o mundo vive uma crise econômica decorrente da pandemia da COVID-19.
Pragmatismo deve se impor
O pesquisador da UFF pondera, no entanto, que uma eventual eleição de Biden não significaria uma ruptura com o Brasil.
Para ele, há interesses de setores das sociedades civis de ambos os
países nessa relação bilateral, e essa dinâmica garante certa
estabilidade.
"Acredito que essas relações vão ser pautadas pelo pragmatismo desses interesses da sociedade civil e pelo próprio pragmatismo do governo estadunidense. É bom lembrar que Joe Biden não é Donald Trump, não vai se eleger com o discurso do Donald Trump, nem com a retórica de Donald Trump", avalia.
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AP Photo / Susan Walsh
Joe Biden, candidato à presidência dos Estados Unidos, pelo Partido Democrata.
O pesquisador Roberto Moll também expressa preocupação com o fato de
que Bolsonaro terá trabalho para buscar formas de legitimidade caso
ocorra uma derrota de Trump.
"O grande problema, na verdade, que eu percebo ou que a gente deveria estar se perguntando e que é decorrente dessa tensão um pouco maior – caso o Biden vença as eleições –, é de que o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, vai passar dois anos de mandato tendo que buscar outras formas de legitimidade interna e internacional", aponta Moll.
Outro aspecto problemático apontado pelo professor no quadro que pode
se desenhar com a vitória de Biden é que o democrata tem se apresentado
como um defensor do meio ambiente, o que pode agravar a crítica
internacional contra a política ambiental de Bolsonaro. Para Moll, a
questão para Biden tem também motivos eleitorais, mas trará
consequências para Bolsonaro.
China, América Latina e liderança regional
Devido à crescente influência e competição com a China na América
Latina, um eventual governo Biden nos EUA deve voltar esforços para o
continente em busca de garantir uma posição norte-americana na região. É
o que diz o professor Roberto Moll, que acredita que esse contexto fará
com que haja aproximação mesmo com governos progressistas, apesar das
limitações.
"Acho que a tendência com uma vitória do Biden é de que haja uma aproximação dos Estados Unidos com a América Latina nos próximos anos. Entretanto, uma aproximação com os governos progressistas da América Latina que vai ser muito menos tensa - mas não significa ausência de tensão, muito menos significa que o progressivismo na América Latina vai estar aí livre e ilimitado para tomar caminhos quase revolucionários", alerta o professor.
Roberto Stuckert Filho/PR
Presidenta Dilma Rousseff durante reunião de trabalho com o presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama. (Washington - EUA, 30/06/2015)
Moll aponta que um eventual governo Biden tentará, apesar da
aproximação, impor limites a governos progressistas na região, incluindo
a Venezuela. O pesquisador recorda que durante o governo de Barack
Obama, de quem Biden foi vice-presidente, o Brasil agiu como mediador
dessa relação dos EUA com governos progressistas na região, mas que não
espera essa posição de Bolsonaro.
"O Brasil não me parece nem um pouco
disposto a exercer essa função de mediador entre países progressistas e
os Estados Unidos. Então essa é uma incógnita.
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