...E ASSIM NASCEU LUANDA


Os primeiros portugueses estabeleceram-se em Luanda, de fonte segura e indesmentível, em meados de (Junho ou Julho) de 1576. Mas chegaram à Ilha do Cabo no dia 11 de Fevereiro de 1575. Esta deve ser a data que marca a transformação da pequena aldeia já existente, com algumas dezenas de habitantes, numa das mais belas cidades da costa ocidental de África.
O almirante Paulo Dias de Novais saiu de Lisboa meio ano antes, com a incumbência de fundar uma grande cidade na costa marítima, já que existiam relações diplomáticas privilegiadas com o Reino do Congo, no interior.

Paulo Dias de Novais aportou à Ilha de Luanda, porque o rei do Congo se dizia proprietário desses domínios. Os Dembos, séculos mais tarde, provaram que essa "posse" não era pacífica e muito menos aceite. Mas vamos falar de Luanda, desde o seu nascimento como cidade, até aos anos 50 do século passado.
O padre Garcia Simões, companheiro de Paulo Dias de Novais, na sua crónica da viagem, descreve assim a Luanda dos primórdios: "já estamos em um sítio, um lugar, que no princípio se ofereceu a muitos ser mais cómodo para nossa povoação. Tem nele o Governador feito um forte de taipa e assentada artelharia e é num monte que entra com uma grande ponta pelo mar, no qual estamos por ser um bom sítio".
Esta é a descrição da bela cidade de Luanda, "mina de escravaria" e que venceu mil dificuldades para se afirmar. Elias da Silva Corrêa, na sua "História de Angola", dá uma breve pincelada sobre a Luanda dessa época: "o mais vezível, e constante, hé, e tem sido os direitos da escravaria; pois, hé inegável, que o giro dos escravos, fecunda grandes interesses à monarchia". É público, histórico e notório, que Luanda nasceu apenas como entreposto de escravos.
Em 1624, o governador Fernão de Sousa tenta mudar as coisas, mas sem sucesso. A situação manteve-se inalterada pelo menos até 25 de Agosto de 1802. O governador D. António Miguel de Melo dá para Lisboa o primeiro sinal de que a cidade e a colónia valem mais do que uma simples feitoria para vender escravos. Numa carta ao rei, é de uma dureza extrema: "não devemos emprehender mais conquistas, maiormente conservando as que temos indefezas e na lastimosa decadência que se observa, e que o nosso cuidado daqui em diante se deve encaminhar a tratarmos estes povos com suavidade e justiça, procurando fazer-lhes esquecer os danos, as violências e os males em que já por três séculos que os oprimimos e molestamos".
O tráfico ilícito de escravos a partir desta data, passou a ter os dias contados. Mas em 19 de Julho de 1877, a poderosa Associação Comercial de Loanda enviou um ofício ao governador no qual denunciava que "o comércio lícito continua a ser mais um acessório, tido como necessário, do que outra cousa. O negócio principal são os carregamentos de gente para a America". A escravatura tinha sido abolida 41 anos antes e Luanda continuava a ser um empório de escravaria. Os comerciantes voltaram à carga e num relatório do mesmo ano afirmam: "a exportação clandestina de escravos que se lhe seguiu depois do decreto de 10 de Dezembro de 1836, enfraqueceu de braços por tal forma esta província, que não podia deixar de manifestar-se uma crise enorme pela grande redução na afluência de produtos de agricultura indígena aos pontos de permutação".
O relatório da Associação Comercial de Loanda põe o dedo na imensa ferida: "para maior desgraça, as fortunas feitas com a escravatura, ainda que de origem ilegal, depois da sua proibição, não beneficiaram a província de forma alguma, pois nem se vincularam à terra, creando empresas agrícolas ou industriais, nem tam pouco vieram aumentar a circulação, foram todas para a Europa".
Em 1854, Luanda tinha cinco alfaiates, seis barbeiros, oito carpinteiros e marceneiros, cinco ferreiros e serralheiros, três funileiros, três ourives, cinco pintores, sete sapateiros e cinco tanoeiros, que abasteciam a população de barris para acarretar água.
Pyrard de Laval viveu em Luanda entre 1601 e 1611. No seu excelente livro de viagens descreve assim a cidade: "é a mais pobre terra do mundo e é nela mui caro o sustento da vida, por não produzir mais que alguns frutos. O único trato que ali se faz é o de escravos".
Cadornega tem um texto belíssimo sobre a Ilha de Luanda, também nessa época, do qual cito: “muita gente da cidade vai à Ilha por devoção e recreio por ser das boas saídas que há pela frescura e deleitação que nela acham, de frescas sombras, de coqueiros, tamarinheiros e tamareiras e serve aos romeiros para fazerem magustos sem serem de castanhas senão de muitos e bons presuntos e paios”. São outros olhos a ver a mesma realidade e outros afectos pela cidade. Os romeiros eram devotos de Nossa Senhora da Ilha do Cabo ou de Nossa Senhora da Flor da Rosa.

Os primeiros passos

Eis a cidade de Luanda, desde a sua fundação até ao último quartel do século XIX. Pelo caminho, temos a fase de estagnação, até 1763. Daí para a frente surge um período de forte expansão, sobretudo devido às políticas do Marquês de Pombal. A cidade ficou consolidada nos anos 30 do século XX.
Em Junho ou Julho de 1576, Paulo Dias de Novais saiu da Ilha de Luanda e montou arraial no sopé do morro de S. Miguel. Na época, Luanda tinha algumas ingombotas na zona do Bungo, afastadas das zonas pantanosas. Mais umas palhotas no morro de S. Paulo, que era "muito prazenteiro". E existiam outras tantas cubatas na zona onde estão hoje o palácio do Governo Provincial e a Igreja do Carmo. Na Cidade Alta existia o famoso Largo da Feira.
Os jesuítas que acompanhavam Paulo Dias de Novais fundaram uma igreja no Largo da Feira, a Igreja de Jesus, que ainda hoje existe mas sem a arquitetura original.

Os artífices, marinheiros e militares começaram a fixar-se ao longo das praias da Baía de Luanda, construindo casas "atarracadas" e inestéticas, entre a ermida da Nazaré e o morro da Fortaleza. Mais ou menos ao que hoje corresponde a Avenida 4 de Fevereiro (Marginal).
O pintor e gravador Nooms, Zeeman ou simplesmente o Homem do Mar criou várias gravuras de Luanda nessa época. Numa delas está desenhada a ermida do Espírito Santo, localizada nos Coqueiros e de campo aberto para a baía.
A cidade pouco ou nada cresceu desde a fixação dos colonos, porque a malária e outras doentes tropicais dizimavam os europeus e o negócio da escravatura fazia diminuir cada vez mais a população africana. A rainha D. Leonor, fundadora da Santa Casa da Misericórdia, em 12 de Maio de 1657, enviou para Luanda 15 donzelas da Casa Pia de Lisboa para "casarem com pessoas beneméritas". As tropas de ocupação eram servidas com prostitutas condenadas ou mulheres acusadas de bruxaria, enviadas à força de Lisboa para Luanda.

Garcia Mendes Castelo Branco, em 1721, envia uma carta ao rei onde dá conta que Luanda "tem 400 visinhos". Paulo Dias de Novais trouxe para a cidade sapateiros, alfaiates, pedreiros, cabouqueiros, taipeiros, um físico e um barbeiro. Estes "visinhos" eram os sobreviventes, seus descendentes e os habitantes autóctones. No século XVIII Luanda era pouco mais do que uma aldeia.
George Tams, médico alemão escreve em 1854: "às oito horas, todos nos reuníamos ao almoço, que geralmente se compunha de mãos de vitela cozidas, vagens de pimenta fervidas em água (jindungo); ou de caracóis cozidos e algumas espécies de mariscos. Vinho tinto de Lisboa acompanhava a comida e no final serviam o chá. Ao meio-dia, tomávamos outra refeição que consistia de queijo e cerveja. Às seis horas era servido um suculento e variado jantar". Aqui está a origem da nossa "sopa e almoço".
O negócio da escravatura em Luanda dava altíssimos rendimentos. O famoso historiador Zuchelli, que tão bem descreve a cidade da época, diz que "um português médio tem ao seu serviço 50 escravos".

A CIDADE DAS FESTAS

A Luanda da primeira metade do século XVII vivia na opulência. Eram festas permanentes, grandes banquetes, jogos de fortuna e azar. As senhoras só saíam à rua acompanhadas do seu séquito de escravos que envolviam a sua tipóia ou cadeirinha.
A 22 de Junho de 1620 houve uma festa tão grande que ficou gravada nos anais da cidade. Nesse dia foi beatificado S. Francisco Xavier, o "Apóstolo da Índia". A festa incluiu a representação de uma comédia com dezenas de actores e figurantes, vestidos com indumentárias vistosas e ricas. No fim do espectáculo houve fogo de artifício. As descrições (poucas) da época dão-nos a certeza que a festa foi deslumbrante. Só o fogo de artifício custou aos cofres da Câmara Municipal e aos bolsos dos beneméritos 3.000 cruzados, uma autêntica fortuna para a época.
Desse tempo de opulência, tudo os prazeres mundanos levaram. Poucas obras marcaram o corpo da bela Luanda. Mas ainda estão aí a Igreja da Misericórdia (1576), a Igreja de Jesus (1593), o Palácio da Cidade Alta (1607), a Casa da Câmara (1623), onde no tempo colonial funcionou o Tribunal da Relação de Luanda, na Cidade Alta. A Sé Episcopal (1583) foi demolida e no seu lugar construída uma fortaleza. Mais tarde foi também arrasada para dar lugar ao Observatório João Capelo, onde funcionaram os Serviços Meteorológicos de Angola e é hoje a Casa Militar da Presidência da República. O Convento de S. José (1604) também foi arrasado para dar lugar ao Hospital Maria Pia (Josina Machel).

Cem anos de solidão

Os holandeses ocuparam efectivamente Luanda entre 1641 e 1648. Começou a agonia da cidade, que se arrastou por "cem anos de solidão". Quando Salvador Correia de Sá e Benevides expulsou os holandeses, segundo o historiador Cadornega, que combateu a ocupação estrangeira como soldado, "Luanda estava praticamente destruída, as igrejas e casas desbaratadas, sem tectos e sem portas, tendo, a maioria dos seus habitantes, sido dizimados pelas guerras, pelo clima e pelas privações, apresentando-se os sobreviventes em penoso estado de esgotamento".
A cidade de Luanda já tinha, à época da ocupação holandesa, um elevado número de habitantes mestiços. Foram eles que na primeira linha se bateram até à morte pela sua "bem amada cidade". A História não regista essas belíssimas estórias de amor, em defesa de uma cidade moribunda.
Salvador Correia está perante ruínas mas não cruza os braços. Em 1651, começou a ser construída a Sé Arquiepiscopal e a ermida da Nazaré. A Igreja do Carmo começa a ser construída em 1661 e ao lado surge a urbanização das Ingombotas. E de obras públicas, mais nada se fez.
Socialmente, a cidade estava em farrapos. O senado da Câmara, em 15 de Novembro de 1664, manda uma carta ao rei e pede-lhe que não mande mais "recolhidas para aqui se casarem, por virtude de existirem, na cidade, muitas viúvas e donzelas cujos maridos e pais morreram nas lutas com os holandeses".
Luanda tinha em 1664, apenas "132 visinhos". A guerra e as doenças devastaram a população. O rei isentou os luandenses de participarem nas "guerras do sertão", num alvará de 1762. Ao mesmo tempo intimou a população da cidade "a cultivar a terra o mais possível" porque iam chegar colonos do Faial (Açores) e era preciso alimentá-los.
Em 4 de Maio de 1675, o Conselho Ultramarino decidiu mandar para Luanda criminosos de delito comum "desde que não tivessem sido condenados à pena capital".
A cidade fantasma foi pairando ao longo das décadas e só em 1764, no governo de D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho, Luanda saiu do nada. Foi então que começou a fase pombalina. O génio do Marquês de Pombal, salvou a bela Luanda.
Os arquitectos pombalinos começaram a desenhar a Baixa onde nada mais existia que ruínas e a chamada Quitanda Pequena, que era o seu maior mercado. Na Cidade Alta foi construído o Hospício de Santo António (1768) que mais tarde veio a ser demolido para dar lugar ao romântico Jardim da Cidade Alta, que ainda hoje existe.
Nascem na Baixa vários largos. A Cidade Alta fica ligada à nova zona urbanizada de Luanda através da Calçada do Pelourinho ou Calçada Nova e da Calçada Baltazar de Aragão, também chamada Calçada do Cagaço, que nasce no largo do Baleizão e acaba no acesso à Fortaleza de S. Miguel.
Apesar da renovação urbana, o esclavagismo continuava. Lopes de Lima resume assim a época do "renascimento" de Luanda: "todos delapidavam e traficavam dum modo escandaloso". Elias da Silva Côrrea dá um tom pitoresco da cidade na época pombalina: "o principal luxo das senhoras em visitas, funções de casamento ou baptisados, consiste em uma extensa comitiva de escravos que segue a tipóia ou a cadeirinha de braços. O público adereço, com que na rua se anunciam homens de bem, é uma rede, guarda-sol ou tipóia".
A Associação Comercial, no seu relatório para o governador de 19 de Julho de 1877 tem esta visão da cidade: "Luanda não tem atractivos nem cómodos de espécie alguma; não tem os grandes motores de permanência, os confortos do espírito e as comodidades do corpo".

As primeiras estatísticas

Lopes de Lima, em 1824 dá conta que Luanda tem 689 pessoas trabalhando nas artes e ofícios. Mas em 1846 esse número já era de 2.500. Em Dezembro de 1845 são reveladas as primeiras estatísticas sobre o comércio. A cidade tinha 33 casas comerciais que vendiam por atacado, 35 lojas de toda a espécie, 107 casas de mercearia e molhados (botequins), 113 quitandeiras com fazendas e pelas ruas, 16 casas de venda de água ao povo, sete padarias, cinco boticas e cinco talhos. É nesta época que nasce a primeira indústria tabaqueira.
Este crescimento meteórico deve-se às leis de Sá da Bandeira e a repressão da escravatura. O crescimento da cidade foi tal que em 28 de Dezembro de 1844 o Senado da Câmara discutiu uma proposta para atribuição de nome a 48 novas ruas de Luanda. Nasce o mercado da Kaponta (1874) e o Hospital Maria Pia em 1883. O serviço de distribuição de água à cidade é inaugurado em 1889. O sistema anterior vinha de Salvador Correia, que mandou abrir poços na Maianga num lugar chamado Lagoa dos Elefantes e que passou à história como a Maianga do Povo.

A Luanda moderna

Em 1884 é inaugurado em Luanda o serviço de telefones interurbanos. Mas o ano de 1886 foi bem mais rico. Começa a funcionar o Caminho-de-Ferro de Ambaca e é inaugurado o serviço de comunicações telegráficas com a Europa. A imprensa em Luanda ganha uma importância tal que se coloca ao mais alto nível entre os periódicos de língua portuguesa.
O jornal "O Mercantil" que foi o primeiro de cariz profissional, dava esta notícia de primeira página: "no sopé do morro de S. Miguel instalou-se a primeira estação telegráfica; aí, um pouco mais acima, na coroa desse outeiro, onde assenta as suas baterias a Fortaleza de S. Miguel, assinalou-se, em 15 de Agosto de 1648, a vitória gloriosa de poucos portugueses contra denodados invasores estrangeiros. Em verdade se trata de duas conquistas, ambas filhas do tempo, uma a fio de espada, a outra a fio eléctrico".
Luanda, no ano de 1800 tinha apenas 6.500 habitantes, dos quais 443 europeus. Em 1887 já eram 14.500 (2.000 europeus).
No último quartel do século XIX a Luanda social vivia à volta da Associação Comercial, que congregava todas as actividades económicas, a Associação 31 de Outubro, proprietária do Teatro Providência, onde eram representados dramas e comédias de autores luandenses e os poetas Cordeiro da Matta e José da Silva Maia Ferreira declamaram poemas dedicados às senhoras africanas, a Associação Harmonia, que promovia selectos bailes e "soirées" e o Clube Loandense, onde se jogavam cartas e bilhar. Era o antro do "vício do jogo".

A Luanda elegante do último quartel do século XIX, ainda com a burguesia negra com poder económico, da parte da manhã ia a banhos na baía, nas praias ao longo da Marginal. Quem queria frequentar as praias da Ilha do Cabo tinha de apanhar um escaler a vapor, no cais em frente à Alfândega. Cada bilhete custava 150 réis por viagem. Ida e volta, custava 200 réis.
À tarde, os luandenses desfrutavam as sombras frondosas nas quintas de recreio das Quipacas, onde estão hoje os armazéns do porto de Luanda e do Caminho-de-Ferro.

Revolucionários italianos

A quinta mais famosa na zona das Quipacas era de um italiano, António Paris. Veio para Luanda em data próxima de 1820 e morreu na cidade, a 23 de Dezembro de 1849. O rei português assinou uma convenção com o rei da Sicília segundo a qual os condenados podiam ir cumprir pena em Angola. Paris e mais 212 compatriotas foram condenados a "degredo perpétuo" pelo Tribunal de Nápoles, acusados de actos revolucionários. O Hotel Paris, nos Coqueiros, ao contrário do que se pensa, não era assim designado em homenagem à capital francesa, mas porque era propriedade do revolucionário italiano. Eis a justificação de ainda hoje existirem muitas famílias tradicionais luandenses com apelidos italianos.

As nossas Irmandades

O século XIX revela uma Luanda mais organizada, mais limpa e também mais devota, ainda que continuem a imperar aventureiros de toda a espécie e de várias origens. Em 1879 existiam na cidade a Irmandade do Santíssimo Sacramento, na Igreja de Nossa Senhora dos Remédios (Sé) a Irmandade da Santa Cruz dos Militares, na Igreja de São João e a Irmandade Terceiros de S. Francisco, na Igreja do Carmo. Eram elas que organizavam as procissões religiosas que levavam à frente o governador e o bispo e incluíam todos os luandenses, dos mais ricos aos mais humildes.
Pelo jornal "O Cruzeiro do Sul" sabemos que em 1874 Luanda tinha dois teatros, o União e o Providência. E ficámos a saber que os jogos de fortuna e azar desgraçavam muita gente, mas só os que tinham dinheiro para jogar.
Nas proximidades da Igreja da Nazaré existia um Passeio Público que durante décadas foi o centro cívico da cidade. A banda militar, única da cidade, dava concertos ao ar livre no passeio público e no largo do palácio, na Cidade Alta.
A banda militar, além dos concertos ao ar livre, animava os bailes de Luanda. E acompanhava os funerais, hábito que foi retomado mais tarde na cidade americana de New Orleans.
A Banda Militar de Caçadores tinha uma tabela de preços. Para bailes com a banda completa cobrava 40$000 reis. Só com 15 figuras, 30$000 reis. Acompanhamento de funerais, de casa para a igreja e da igreja para o cemitério, o preço era de 40$000 reis. Para tocar nas procissões, a banda cobrava 30$000 reis mas algumas Irmandades tinham desconto. O Te-Deum com instrumental custava 15$000 reis e cada voz custava 2$500 reis. Os funerais com a banda à frente, são originários de Luanda e não de New Orleans.

Água potável

Luanda teve sempre muita sede. Em 27 de Maio de 1813, o governador-geral tinha um plano para construção de um canal para transportar água do Kwanza para a cidade. O ousado projecto era de autoria de um condenado que cumpria pena de degredo, de seu nome Manuel Alcoforado. Ele próprio se encarregou da fazer a obra. O relatório do condenado ao degredo que convenceu o governador, dizia peremptoriamente: "hé verdade não de pura intuição; mas deduzida por 753 observações, as mais escrupulozas na pratica q. o sitio de Calumbo á superfície d’agoa do Coanza, aonde mandei fixar uma estaca de duração, apareceu no dia 8 de Fevereiro do prezente anno, ser de 163 palmos, sete pollegadas e duas linhas elevado sobre a Praia da Mayenga, donde eu havia começado a operação em 29 de Janeiro antecedente".
Havia muita e boa água e as obras do canal começaram. Mas três anos depois pouco tinham avançado em direcção a Luanda, apesar do trabalho penoso de dezenas de condenados ao degredo. O senado da Câmara mandou interromper o projecto sob a alegação de o "condenado Alcoforado" não ter competência técnica para semelhante empreitada. E Luanda continuou a morrer de sede.
Finalmente os técnicos descobriram que a água do Bengo estava bem mais perto e quem a bebe, nunca mais esquece Luanda.

As velhas ruas

Documentos do século XVIII citam o velho Largo da Katomba, que mais tarde passou a chamar-se Largo do Arsénio, em homenagem a Arsénio Pompílio Pompeu do Carpo, jornalista, dramaturgo, actor, correspondente comercial da Praça de Londres, político e revolucionário. Foi nesta condição que o rei de Portugal o enviou a ferros para Luanda.
Outro largo antigo é o da Mutamba (árvore) também conhecido por Calçada Velha ou Largo de Danja a Rosa ou ainda Calçada Grande. Textos antigos revelam que a areia do chão da praça não queimava o pé descalço, porque os raios de sol não passavam as copas frondosas das mutambas que ali existiam.
O Largo do Pelourinho recebeu a calçada que liga a Cidade Alta à Baixa de Luanda. Era a Calçada Nova. A Quitanda da Fazenda vendia tudo e mais alguma coisa. Mas no Largo do Bressane a quitanda era exclusivamente de frutas e as quitandeiras começavam a venda às cinco da manhã e às oito arrumavam a mercadoria e partiam, para o sol não estragar os produtos.
No século XIX os luandenses ainda eram dizimados pelas doenças e o escorbuto chegou a ser designado como "o mal de Loanda". A cidade ia ganhando belas formas mas o saneamento básico não existia e a higiene e limpeza deixavam muito a desejar. Apesar de tudo, os luandenses eram muito senhores do seu bem-estar. Alexandre da Silva Corrêa diz que "o Luandense detesta os sufrágios da miséria e prepara um trem de vida, tanto mais pomposo, quanto mais iníquo. Impõe respeito no seu trato doméstico; enche a sua mesa de bocados desusados na sua criação: adopta para vestuário o uso de custosas alfaias e ricas jóias". A vida são dois dias e um já passou. É preciso viver hoje, em grande.
Este é o percurso de Luanda, desde a sua fundação. No início dos anos 50 a cidade estava "madura" e tinha 165.000 habitantes. Essa urbe manteve mais ou menos os mesmos limites até 1974, ainda que se tenha expandido para as colinas dos Combatentes, da Avenida Brasil e do Prenda, no regime de propriedade horizontal, que até 1960, praticamente não existia.

A cerveja "Progresso"

A primeira fábrica de cerveja em Luanda nasceu no final do século XIX, mais precisamente em 1887. O maquinismo era do mais moderno que existia no mundo. A acta da Câmara Municipal de Luanda de 15 de Setembro de 1887 refere que "foi presente, e aprovado, um requerimento de Areas, Fonseca & Cª, proprietários de uma fábrica de cerveja na Travessa de Sousa Coutinho, pedindo à Câmara que mande colocar dois candeeiros na porta principal da dita fábrica para serem iluminados à sua custa todas as noites".
A fábrica foi inaugurada no dia 24 de Dezembro (véspera de Natal) de 1887. O jornal "O Mercantil" dá a notícia em grande estilo: "abre no dia 24 do corrente, sábado, como está anunciado na respectiva secção deste jornal, a fábrica de cerveja Progresso que é nesta província, e com especialidade em Luanda, mais um elemento de prosperidade e engrandecimento da nossa indústria".
O jornal revela a "excelência das máquinas" vindas do estrangeiro e que junto há fábrica existe um "pequeno jardim" com mesas "onde serão servidos os clientes, com prontidão e reconhecido asseio".
A fábrica produzia cerveja e vendia diretamente ao consumidor. Um dos sócios da fábrica era o proprietário da conhecida Pensão Areias, na Baixa de Luanda. São falsas as afirmações de que a primeira fábrica de cerveja em Angola foi a Cuca, ainda que tenha salvo os luandenses das caríssimas e importadas "laurentinas" que chegavam de Moçambique em garrafas de litro.
Artur Queiroz/Jornal de Angola

Luanda é a menor província de Angola, com 2.257 km² de área.

Sua população aproximada é de 5.000.000 habitantes. Sua capital é Luanda, a maior cidade e capital de Angola. Luanda é também a província de Angola mais industrializada e com o maior crescimento económico, que se deveu ao facto de praticamente não ter sofrido directamente os efeitos da guerra civil e também por se ter registado um êxodo das populações a partir das suas áreas de origem para Luanda. Actualmente, Luanda conta com novos investimentos em função do fim da guerra civil.

A província tem nove municípios que são:

* Cacuaco
* Cazenga
* Ingombota
* Kilamba Kiaxi
* Maianga
* Rangel
* Samba
* Sambizanga
* Viana

O centro da cidade está a sofrer transformações e arranha-céus muito sofisticados contrastam com os musseques dos arredores da cidade. Acredita-se que mais de 70% da população da capital viva nas zonas suburbanas.

Luanda tem uma baía e uma restinga (Ilha de Luanda) que se estende por mais de catorze quilómetros de praias, restaurantes e moradias de pescadores.

Luanda Sul é a zona de maior desenvolvimento habitacional e é o local onde foi construído o primeiro shopping center de Angola: o Belas Shopping.
[editar] Clima e vegetação

A província é semiárida de clima tropical quente e seco. A temperatura média anual da província situa-se entre os 25ºC e os 26ºC, com o máximo de 27ºC, coincidindo com o período das chuvas. Julho e Agosto são meses mais frescos, especialmente no litoral, onde a temperatura desce um pouco abaixo dos 25ºC. O clima da região é influenciado pela proximidade do mar — Corrente de Benguela — e, apesar de não ser demasiado quente, é húmido.
Nas zonas não urbanas, a vegetação mais comum é o capim e poucas árvores, com destaque para o imbondeiro (Adansonia digitata).


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