António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz nascido António Caetano de Abreu Freire de Resende, conhecido popularmente como António Egas Moniz GCSE • GCB (Avanca, Estarreja, 29 de novembro de 1874 — São Sebastião da Pedreira, Lisboa, 13 de dezembro de 1955) foi um médico, neurocirurgião, pesquisador, professor, político e escritor português.
Responsável pelo desenvolvimento da arteriografia, ou angiografia cerebral em 1927, descoberta que revolucionou a medicina e a neurocirurgia, permitindo o diagnóstico dos tumores cerebrais e o diagnóstico e tratamento do aneurisma cerebral e da MAV (malformação arteriovenosa)
. Foi três vezes indicado ao prémio Nobel por esta descoberta (1928,
1929, 1930). Inventor do procedimento neurocirúrgico denominado leucotomia pré-frontal, que possibilitou o surgimento da psicocirurgia, por esta última descoberta foi galardoado com o Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1949, partilhado com o fisiologista suíço Walter Rudolf Hess.
José Saramago e António Egas Moniz foram os únicos lusófonos detentores de Prémios Nobel.
Busto de Egas Moniz
em frente à Universidade de Lisboa
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O seu tio paterno e padrinho, o padre Caetano de Pina Resende Abreu e Sá Freire, insistiu que adoptasse o apelido Egas Moniz, em virtude de estar convencido de que a família Resende descenderia em linha directa de Egas Moniz, o aio de Dom Afonso Henriques.
Em Lobão da Beira conheceu Elvira de Macedo Dias (Rio de Janeiro,
Sacramento, 14 de julho de 1884 - 1965), filha de José Joaquim Dias e
de sua mulher Matilde Flora de Macedo, com quem se casou a 7 de
fevereiro de 1901, em Canas de Sabugosa. O casal não teve filhos.
A 14 de março de 1939, aos 64 anos, sofreu um atentado no seu
consultório, por parte de um doente mental, engenheiro agrónomo de 28
anos, que, no culminar de uma crise de paranóia, o alvejou com oito tiros, dos quais cinco o atingiram na mão direita, no tórax e na coluna vertebral.
Foram-lhe retiradas três balas, mas uma ficou alojada na coluna dorsal.
Apesar da gravidade dos ferimentos, Egas Moniz recuperou por completo,
sem qualquer sequela física, ao contrário do que algumas vezes se tem
escrito.
Formação e atividade académica
Completou a instrução primária na Escola do Padre José Ramos, em Pardilhó, e o Curso Liceal no Colégio de S. Fiel, dos Jesuítas, em Louriçal do Campo, concelho de Castelo Branco. Formou-se em Medicina na Universidade de Coimbra, onde começou por ser lente substituto, leccionando anatomia e fisiologia. Em 1911 foi transferido para a recém-criada Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa onde foi ocupar a cátedra de neurologia como professor catedrático. Jubilou-se em 1944.
Em 1950 é fundado, no Hospital Júlio de Matos,
o Centro de Estudos Egas Moniz, do qual é presidente. O Centro de
Estudos é, em 1957] transferido para o serviço de Neurologia do Hospital de Santa Maria onde existe ainda hoje compreendendo, entre outros, o Museu Egas Moniz (onde se encontra uma restituição do seu gabinete de trabalho com as peças originais, vários manuscritos, entre outros).
Egas Moniz contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da medicina ao conseguir pela primeira vez dar visibilidade às artérias do cérebro. A Angiografia Cerebral, que descobriu após longas experiências com raios X, tornou possível localizar neoplasias, aneurismas, hemorragias e outras mal-formações no cérebro humano e abriu novos caminhos para a cirurgia cerebral.
A 5 de Outubro de 1928 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Benemerência e a 3 de Março de 1945 com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada
Atividade política e literária
Egas Moniz teve também papel ativo na vida política. Foi fundador do Partido Republicano Centrista, dissidência do Partido Evolucionista; apoiou o breve regime de Sidónio Pais, durante o qual exerceu as funções de Embaixador de Portugal em Madrid (1917) e Ministro dos Negócios Estrangeiros (1918); viu entretanto o seu partido fundir-se com o Partido Sidonista.
Foi ainda um notável escritor e autor de uma notável obra literária, de
onde se destacam as obras "A nossa casa" e "Confidências de um
investigador científico". É também autor de um notável ensaio de crítica
literária, "Júlio Dinis e a sua obra" (1924), onde demonstra que o
escritor Júlio Dinis
se inspirou em personagens reais oriundas de Ovar na criação das
figuras principais dos seus romances "A Morgadinha dos Canaviais" e
"Pupilas do Senhor Reitor". Egas Moniz também escreveu sobre pintura e
reuniu uma notável colecção de pintura naturalista, atualmente aberta ao
público na Casa-Museu Egas Moniz, em Estarreja, onde se destacam obras de Silva Porto, José Malhoa
e Carlos Reis, além de peças de louça, prata e mobiliário de variada
proveniência, testemunho o seu grande interesse e apurado gosto pelas
artes plásticas e decorativas
Pacientes famosos
Fernando Pessoa,
consultou-o em 1907, queixando-se de neurastenia e de medo de
enlouquecer, à semelhança de Dionísia, a sua avó paterna. Egas Moniz,
não lhe encontrando nada de anormal, recomendou-lhe aulas de ginástica
sueca com Luís Furtado Coelho, treinador pessoal do infante D. Manuel.
«Para ser cadáver, só me faltava morrer. Em menos de três meses e três
lições por semana, Furtado Lima pôs-me em tal estado de
transformação que, diga-se com modéstia, ainda hoje existo - com
vantagem para a civilização europeia, não me compete a mim dizer.»,
diria Pessoa mais tarde.
Também Mário de Sá-Carneiro
consultou Egas Moniz, queixando-se de sofrer de desdobramento físico e
psicológico. Egas Moniz lembrou-se então de um poema que lera e que
descrevia aquele estado. E, surpreendentemente, respondeu-lhe
Sá-Carneiro ser ele precisamente o autor desse poema. Egas Moniz
confidenciaria a um aluno seu que o poema denotava ter sido escrito por
um esquizofrénico.
Obra
Atividade científica
Como investigador, Egas Moniz, contando com a preciosa colaboração de Pedro Almeida Lima, gizou duas técnicas: a leucotomia pré-frontal e a angiografia cerebral.
Deve-se ainda a este autor a descrição do trajeto da artéria carótida
interna no interior do osso temporal, tomando o mesmo a designação de
Sifão carotídeo ou Sifão de Egas Moniz.
Prémio Nobel
António Egas Moniz foi proposto cinco vezes (1928, 1933, 1937, 1944 e 1949) ao Nobel de Fisiologia ou Medicina,
sendo galardoado em 1949. A primeira delas acontece alguns meses depois
de ter publicado o primeiro artigo sobre a encefalografia arterial e,
subsequentemente, ter feito, no Hospital de Necker, em Paris, uma
demonstração da técnica encefalográfica. Este imediatismo não era uma
coisa absolutamente ridícula pois, na verdade, «a vontade de Alfred
Nobel era precisamente a de galardoar trabalhos desenvolvidos no ano
anterior ao da atribuição do Prémio».
Controvérsia
A
técnica desenvolvida por Egas Moniz foi a leucotomia pré-frontal –
correspondente a um corte controlado de ligações na massa branca
profunda de ambos os lados do córtex pré-frontal. Embora esta operação seja distinta da denominada lobotomia
(a operação concebida por Moniz provocava lesões cerebrais limitadas,
ao passo que a lobotomia frontal era normalmente um trabalho de talho
que provocava lesões extensas , a verdade é que foi muitas vezes com ela confundida. A lobotomia deixou de ser praticada na década de 1960,
após forte controvérsia. Devido à associação que frequentemente era
feita entre a lobotomia e o inventor da leucotomia pré-frontal,
familiares de pacientes que sofreram aquela intervenção cirúrgica
exigiram que fosse anulada a atribuição do Prémio Nobel feita a António
Egas Moniz.
Primeira
arteriografia publicada num artigo científico de 1931, mas desde 1927
que o Dr. Egas Moniz já a praticava tanto em Portugal como no
Brasil.
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