DEZ DE JUNHO DIA DE CAMÕES DIA DA REFLEXÃO!



Neste tempo de pandemia em que o separatismo atinge sua escala mais elevada, a consciência humana tem que refletir para uma nova realidade. Por conta de um separatismo antigo, acrescido agora pelo coronavírus, estamos todos separados parados e amedrontados. O separatismo sempre existiu, mas as sociedades comandadas por minorias hipócritas e egoístas a serviço do grande capital sempre souberam disfarçá-lo! Agora, porém, inesperadamente uma sociedade que  corria e trabalhava sem tempo de respirar e sem saber para quem trabalhava está parada, oferecendo-nos uma oportunidade de pensar num outro modelo social onde as maiorias também participem da distribuição da renda por elas produzida, pois mesmo nos países mais industrializados, essa desigualdade se faz presente. Parece uma parada estratégica ou até mesmo Divina, pois as pessoas corriam e trabalhavam e viviam na pobreza sem sequer ter tempo para curtir seus familiares!

Mas que tem isto a ver com Camões?       

Ora, por mais que esse mesmo separatismo tente desunir os povos,  vai chegar o momento em que estes se revelarão, como já está acontecendo agora nas matrizes do mesmo, como é o caso dos EUA e da Inglaterra. E como vai acontecer em Portugal e no Brasil quando estes se conscientizarem da importância de sua cultura comum, formada por grandes acontecimentos históricos conforme Camões descreve em sua célebre obra "Os Lusíadas", mas até hoje minimizada e ridicularizada por esse vírus separatista que nos ataca há mais de 200 anos, o vírus da revolução industrial.

Aí sim, resgatando nossa raiz e nossa identidade, quem sabe, esse velho e novo separatismo não nos deixarão em paz e o Brasil lusófilo se torne a potência da justiça da paz e do amor que o mundo tanto precisa, pois trata-se de uma cultura humanista, integracionista e universalista que sabe conviver e respeitar as diferenças étnicas e culturais dos povos que habitam nosso Planeta. E o Brasil é bem um exemplo disso, pois aqui convivem minorias, que apesar de conviverem em permanentes conflitos sangrentos em seus países, como é o caso de Palestinos e israelenses, aqui vivem em perfeita harmonia entre si, dando grande contribuição ao desenvolvimento do Brasil. Poderia citar outros exemplos de separatismo a nível mundial como EUA, Europa, etc.
Enfim, a lusofilia é a  raiz desta frondosa árvore chamada Brasil que une e protege tantas etnias diferentes e neste momento de reflexão precisamos  muito dela! O separatismo provocado pelo coronavírus será erradicado pela ciência médica e poderá ter sido um sinal divino para repensarmos nossa passagem por este Planeta tão rico e tão lindo. O separatismo provocado pelos homens será erradicado pelo conhecimento de suas culturas e o florescer de uma sociedade
mais justa e humana  Então vamos pensar nisso? Vamos conhecer as nossas raízes?



Vida de Luís Vaz de Camões

Camões nasceu em 1524, foi notável em sua época e continua sendo. Escreveu várias obras, a mais famosa “Os Lusíadas”, poema épico que narra os grandes feitos dos portugueses nos mares nunca antes navegados

O local de nascimento de Luís Vaz de Camões é incerto, acredita-se que tenha sido em Lisboa, em 1524. Também não se tem certeza onde Camões estudou, mas em razão de sua erudição, é certo que teve uma excelente formação.

Camões teve uma vida bastante conturbada. Boêmio, teve muitas musas inspiradoras, entretanto, nenhuma se ligou oficialmente. Serviu Portugal no norte da África, onde foi ferido e perdeu o olho direito em batalha.  Em 1550, já estava de volta a Portugal, mas, em 1552, foi preso por ter agredido um oficial do rei. Sua “liberdade” veio em 1553, entretanto, não pôde ficar em Portugal, sendo exilado por 17 anos.

Em 1570, após a morte de D. João III, Camões voltou a Portugal. Durante o exílio, o poeta esteve nas colônias portuguesas da África e da Ásia e usou esse momento para produzir. Por isso, quando retornou, sua célebre obra “Os Lusíadas” já estava concluída e, em 1572, foi publicada pela primeira vez.

“Os Lusíadas” é um poema épico (que narra fatos heroicos) que foi dedicado a D. Sebastião, rei de Portugal, e narra os grandes feitos do povo português em suas navegações e guerras. Em gratidão, D. Sebastião concedeu uma pensão de 15 mil réis ao poeta.

Camões, sem dúvidas, foi o grande nome do Classicismo Português, suas obras são de grande valor literário. Compostas por peças teatrais, poesias líricas e épicas, além de, é claro, sua obra-prima, o soneto (14 versos com 10 sílabas, as duas primeiras estrofes com quatro versos e as duas últimas com três).
O poeta faleceu muito pobre, em Lisboa, no ano de 1580. Entretanto, sua obra segue inspirando poetas, músicos, cineastas. Acompanhe o poema lírico “Amor é fogo que arde sem ver” que foi publicado em 1595 e fala de um dos temas mais ricos da lírica camoniana, o amor.

“Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?”





O Amor de Camões e Catarina de Ataíde e a História Bíblica de Jacó e Raquel

Celso de Almeida Cini

Celso de Almeida Cini
Luís Vaz de Camões (1525 – 1580), português, Renascentista, estudioso de Coimbra, quando jovem, era irrequieto e dado a algumas demonstrações de valentia. Era uma presença gentil na Corte entre as damas sempre pronto a demonstrar sua admiração e galanteria poética. Mas, é certo que amava de paixão, a Catarina de Ataíde, filha de importante membro da administração do Império Português da época. A paixão do poeta era correspondida pelo coração da nobre e bela Catarina, linda jovem loura de olhos azuis, cuja beleza foi imortalizada pelo poeta em muitos de seus sonetos.
Entretanto, além do amor ardente, o jovem Camões era fidalgo (filho d´algo), mas de uma nobreza decaída e pobre, mas valente. E o poeta se contentava com ver sua amada no Paço do Palácio Imperial e com ela trocar juras às escondidas ou oferecer-lhe um carinho para, em troca, roubar-lhe um beijo. Aguardava uma oportunidade para pedir ao pai, austero, que lhe permitisse fazer a corte a Catarina… Queria tê-la como esposa, naturalmente. Catarina consentia e aguardava a oportuna e feliz ocasião.
Certo dia durante uma festa religiosa, uma Procissão, Camões meteu-se numa briga de rua ferindo, à espada, um funcionário, cavalariço, do Rei e foi preso.
Mais tarde, perdoado pelo Rei, prontificou-se a servir o Império e fazer o serviço militar obrigatório em Ceuta, na África. Era ainda muito jovem, o Rei aprovou sua proposta. Lá, longe da amada e de casa, ao enfrentar uma batalha de arco e flecha, Camões teve o olho direito vazado, perdendo-o. Ao retornar a Lisboa, visitou a Corte e no Palácio, ao vê-lo, uma das damas palacianas o saudou, com ironia, chamando-o “cara sem olhos“. Mas, o espirituoso vate, não deixou por menos: desfechou de improviso, com aquele mote, a seguinte resposta de gênio:
De longe vi o mal claro,
                                    Que dos olhos se seguiu,
                                    Pois cara sem olhos viu,
                                    Olhos que lhe custam caro;
                                    De olhos não faço menção,
                                    Pois quereis que olhos não sejam:
                                    Vendo-vos, olhos sobejam,
                                    Não vos vendo, olhos não são!!
Depois, decidiu-se a viajar novamente. E foi-se, como Servidor do Império, para a Índia, em Goa, passando, então, sete anos, sem ver a amada Catarina nem seu rico Portugal.

Ao retornar, coberto de algumas glórias e com importante cargo público, procurou logo saber de sua amada e prometida Catarina de Ataíde. Reunia, agora condições de levá-la ao altar. No entanto, qual não foi sua amarga surpresa ao saber que o pai, austero, a casara com um janota sem cultura, que também vivia no Paço Imperial. E, viu, que dessa forma lhe fora, assim, negada sua amada, embora contra a vontade dela! Mas, este, era também um sinal dos tempos: casamentos arranjados pelos pais, sem o conhecimento, nem o consentimento das filhas…
Luís de Camões, humilhado e defraudado, viu no gesto despótico do pai de Catarina, uma certa semelhança com o que ocorrera na bíblica história de amor entre Jacó e Raquel. De fato o Gênesis conta essa história – muito linda por sinal – que foi, em resumo, a seguinte:
O amor de Jacó,  filho de Isaac, pela prima, Raquel!
Depois de Jacó, pastor de ovelhas (que era gêmeo de Esaú), tirar de seu irmão a primogenitura (situação jurídica muito importante no direito judaico), de forma pouco amistosa (exigiu-a em troca de um prato de guisado de lentilhas, que Esaú pedira ao irmão), Esaú, que era caçador, furioso, queria matar Jacó. Rebeca, mãe dos gêmeos, aconselhou Jacó a fugir para onde vivia seu tio, Labão, irmão de Rebeca, criador de ovelhas. Lá encontrarás uma das filhas de Labão e com ela poderás casar-te, além de escapar à vingança de Esaú. Na verdade, Jacó fora concebido primeiro e, por Deus, era considerado o primogênito. Mas, os viventes não entendiam assim…
Jacó seguiu o conselho da mãe. Foi e enamorou-se da prima Raquel, porque era uma serrana muito bela, porém, mais jovem do que sua irmã, Lia. Jacó prontificou-se a trabalhar para seu tio, como pastor de seus rebanhos, por sete anos, desde que lhe fosse garantida a mão de Raquel, em casamento.

Labão, o tio, astuto pai de Lia e Raquel, concordou de pronto e assim ficou selado o pacto entre ambos. Durante esses longos sete anos, no pastoreio, Jacó cuidava e reproduzia os rebanhos, apenas contentando-se em namorar a beleza de Raquel, à distância, para vê-la sorridente e consentida, guardando para seu amado, toda a juventude e frescor,  no dia-a-dia, a espera de um só dia!

Passados os sete anos, Jacó reivindicou a Labão, o cumprimento da promessa. Ansiava pelas núpcias com Raquel, o longo amor correspondido. Grandes preparativos antecederam a grandiosa festa para o casamento de Jacó e Raquel. Muito novilho cevado, muito vinho, muita alegria, muita doçura do anfitrião, muitos convidados para o casamento, muitas esperanças dos noivos!

De forma ambiciosa e astuta, porém, Labão o pai de Raquel, planejou embriagar o inocente noivo, Jacó. Quando a festa ia alta, o noivo, já quase desacordado, foi levado à sua alcova nupcial, numa tenda especialmente preparada para os noivos. E lá, já no final da festa, pela madrugada, Labão introduziu, na tenda nupcial, a filha mais velha, Lia, que espontaneamente obedeceu ao pai, indo deitar-se com o noivo. E consumou-se então o casamento de Jacó e Lia, para tristeza de Raquel. É que o costume era casar primeiro as filhas mais velhas…

No dia seguinte, Jacó, furioso com a traição de Labão, pediu satisfações ao sogro que, de forma tão vil e humilhante, o enganara. Labão, muito esperto e gentil, não querendo perder seu eficiente Pastor, pediu-lhe calma, dizendo: Meu filho, o costume é casar primeiro as filhas mais velhas. Você terá também a sua amada Raquel. Para isso, para isso, deve servir-me por outros sete anos…!

E Jacó, muito magoado, mas ainda esperançoso, concordou em servir a Labão por outros sete anos, à espera de merecer também sua linda pastora, Raquel.

Passado esse logo período, que de fato aconteceu, recebeu, o Patriarca, Jacó, a posse de suas duas mulheres, Lia e Raquel e mais as duas respectivas amas, de suas mulheres, além de muitos rebanhos, que eram seus, por direito.

Era mister que se cumprisse o que  Deus destinara para Jacó: ser o Pai das Doze Tribos de Israel. Ele gerou doze filhos homens que, nascidos das quatro mulheres que lhe foram entregues por Labão, lideraram, cada um, sua respectiva tribo, além de receber riquezas e os  seus  imensos rebanhos de ovelhas! Raquel deu à luz dois filhos: José e Benjamim, líderes cada um de sua tribo. José foi grande no Egito, considerado Vice-Rei. O nascimento de Benjamim foi penoso e custou a vida de sua mãe, Raquel, enterrada com grande dor, por Jacó, em Belém da Judeia, cujo túmulo existe até hoje!
Então, pela semelhança de sua desdita amorosa com a bíblica história do amor entre Jacó e Raquel, Luís Vaz de Camões, decidiu contar essa história (a bíblica), como quem “bate na canga, pro burro entender” criando, para esse fim, este lindo soneto:

Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prêmio pretendia.
                       
Os dias,  na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém  o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel, lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
 lhe fora assim negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida,

começa de servir outros sete anos,
dizendo: — Mais servira se não fora
para longo amor, tão curta a vida!

Eis aí a riqueza literária de Luís Vaz de Camões
 
 

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