Quais as causas do conflito entre Armênia e Azerbaijão

Internacional

Forças dos dois países se enfrentam na região de Nagorno Karabakh, reavivando uma das disputas mais antigas do mundo.

 Forças da Arménia e do Azerbaijão entraram em conflito no domingo (27) na província de Nagorno Karabakh, rompendo uma trégua que já durava quatro anos. Ao menos 16 pessoas morreram, mas há relatos indicando mais de trinta mortos.

Ao contrário das pequenas escaramuças e trocas de tiros registradas na região desde 2016, desta vez, o conflito mobilizou helicópteros, tanques e peças de artilharia. Autoridades dos dois lados fizeram declarações desafiadoras, escalando um conflito iniciado nos anos 1990, mas que permaneceu em baixa intensidade nos últimos anos.

O primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinyan, impôs lei marcial no país – o que aumenta o poder dos militares, impõe toque de recolher e suspende direitos civis em momentos de catástrofe e guerra. Pashinyan também publicou uma série de posts no Twitter conclamando à vitória: “Nós venceremos”, disse Pashinyan. “Não recuaremos um milímetro.”

O Ministério da Defesa do Azerbaijão, por sua vez, culpou os arménios pelo conflito, e anunciou a conquista de sete vilarejos dos inimigos, além da captura de um número não especificado de soldados arménios.

Qual o centro da questão

O Azerbaijão e a Arménia são dois países vizinhos que disputam a soberania sobre uma zona montanhosa chamada Nagorno Karabakh, num conflito descrito como “um dos mais antigos do mundo”. Os arménios preferem chamar a região por outro nome: Artsakh.

Ao longo de séculos, essa região foi parte do Império Persa, do Império Russo e do Império Britânico, sempre envolta em movimentos internos por soberania ou maior autonomia.

A fase contemporânea dessa sucessão de conflitos teve início em 1988, com movimentos separatistas locais. Em 1991, com o colapso da União Soviética, a região de Nagorno Karabakh passou a reivindicar soberania, mas nunca teve seu status de Estado-nação reconhecido. Desde então, a zona se converteu maioritariamente num enclave de maioria arménia dentro do território do Azerbaijão.

Um cessar-fogo foi alcançado em 1994, mas o arranjo precário foi quebrado diversas vezes por conflitos pontuais entre as duas partes, sendo o mais grave deles o de 2016. A região sempre manteve uma posição de autonomia, sustentada militarmente pelo apoio arménio, mesmo estando dentro do território do Azerbaijão.

A conexão entre a Arménia e os autonomistas de Nagorno Karabakh é, além de militar, étnica. Desta vez, ambos os lados trocam acusações sobre quem teria iniciado a troca de fogo. O Conselho de Segurança das Nações Unidas deve discutir o tema em sessão fechada na terça-feira (29).

O governo do Azerbaijão reivindica a manutenção de sua integridade territorial, repelindo a reivindicação autonomista de Nagorno Karabakh, enquanto o governo da Arménia apoia os independentistas.

O envolvimento de Turquia e Rússia

Formalmente, os governos da França, dos EUA e da Rússia desempenham o papel de intermediadores do diálogo entre Arménia e Azerbaijão na disputa por Nagorno Karabakh.

Extra-oficialmente, Turquia e Rússia desempenham os papéis mais preponderantes, num modelo de influência que pode exacerbar os conflitos.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, apoia o Azerbaijão e considera a Arménia “o maior fator de instabilidade na região”. O presidente russo, Vladimir Putin, por outro lado, apoia as pretensões arménias contra o Azerbaijão.

A divisão reproduz o que acontece no longo conflito da Síria, onde russos e turcos apoiam lados opostos. Putin tem bases militares na Arménia, mas, de acordo com o jornal americano The New York Times, vende armas e munições para os dois lados do conflito.


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