Apesar do grande número de presidenciáveis, intensa polarização tende a dirigir escolha do eleitor.
Segundo diretor do Datafolha, brasileiros têm acompanhado pesquisas com mais intensidade
O eleitor brasileiro tem 13 candidatos a presidente para escolher nas eleições deste ano,
mas a dinâmica eleitoral tende a reduzir muito as opções na reta final
do primeiro turno. Os polos representados na campanha pelo deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, agora substituído por Fernando Haddad (PT),
prometem dirigir as escolhas de parte da população para um voto útil,
no qual o eleitor deixa de escolher seu candidato favorito para tentar
evitar o que identifica como o pior resultado possível.
A
escolha pelo candidato considerado menos pior deve começar a se
configurar nas próximas pesquisas de intenção de voto, aposta o diretor
do Datafolha, Mauro Paulino. "Como houve esse embolamento na disputa
pela segunda colocação, acho muito possível que essa prática do voto
útil aumente, seja maior do que em eleições anteriores e que os
eleitores já comecem a pensar nisso bem antes do que de costume, antes
da última semana [de eleição]", diz Paulino. O "embolamento" a que ele
se refere é o empate técnico entre Ciro Gomes (PDT), Marina Silva
(Rede), Alckmin e Haddad, identificado pelas últimas pesquisas de intenção de voto.
Na expectativa de se descolar desse grupo, Alckmin afirmou na última
quarta-feira, durante uma agenda de campanha em Betim (MG), que “Ciro
foi ministro do Lula, sempre apoiou o PT, até a Dilma", e seguiu: "O
Meirelles se vangloria de ter sido ministro e presidente do Banco
Central do PT, a Marina Silva foi 24 anos filiada ao PT e agora o
Haddad... é inacreditável você lançar uma candidatura na porta da
penitenciária”. Alckmin divide eleitorado com Henrique Meirelles (MDB),
Alvaro Dias (Podemos) e João Amoêdo (Novo), todos com cerca de 3% de
intenção de voto nas pesquisas.
A expectativa é de que o voto útil poderia atrair alguns desses
eleitores para o tucano. Apenas 35% dos eleitores de Meirelles se dizem
totalmente decididos a votar nele, segundo o Datafolha, enquanto 43% dos
votantes de Dias estão definidos. No caso de Amoêdo, a convicção é de
53%. Para rebater a estratégia, o partido Novo, em particular, tem feito
campanha contra o voto útil e críticas aos tucanos. “A prisão do ex-governador do Paraná
Beto Richa, atual candidato ao Senado pelo PSDB, e o mandado de busca e
apreensão na casa do governador do Mato Grosso do Sul, também do PSDB,
vai deixando claro como PT e PSDB são da mesma política, da velha
política", diz Amoêdo em vídeo divulgado por sua campanha no qual pede
renovação.
Os eleitores de Amôedo — e de Alvaro Dias — também têm sido alvo da
militância pró-Bolsonaro. Os apoiadores do capitão reformado do Exército
gostariam de terminar a disputa no primeiro turno, um cenário que neste
momento parece muito improvável, e tentam convencer nas redes sociais
os eleitores desses adversários a direcionarem seus votos para o
militar reformado. "Bolsonaro pode estar a um Amoedo ou a um Álvaro Dias
de vencer no 1° turno", afirmou o filho dele, Flávio Bolsonaro, em seu
Twitter. Pela última pesquisa Ibope, entretanto, o deputado do PSL teria
35% dos votos válidos.
Alckmin, por sua vez, segue mirando contra Bolsonaro, com quem
compete pelos votos anti-PT. "Vejo que o Bolsonaro é um passaporte para
voltar o PT. Isso é fato. É só olhar o segundo turno (...) Você vota em
um e elege o outro. Então vamos trabalhar muito para chegar no segundo
turno”, disse durante a passagem por Minas Gerais. O melhor cenário para
o tucano seria chegar à reta final de campanha com intenções de voto o
bastante para ser considerado viável, o que poderia lhe render votos
antes direcionados a outros candidatos de direita. Por isso, o destaque
dado pelo tucano ao segundo turno parece sua grande aposta para engrenar
uma campanha que evolui num ritmo devagar demais para o candidato com
mais tempo de exposição na televisão.
Segundo o diretor do Datafolha, diante dos números apontados pelas pesquisas, o eleitor já começa a pensar em seu plano B.
"A pesquisa é a ferramenta ideal para perceber esse voto calculado.
Elas têm ganhado mais repercussão e credibilidade a cada eleição. Os
próprios eleitores estão prestando mais atenção", comenta. A CEO do
Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, destaca, contudo, que "não temos
ainda nenhuma estimativa sobre qual é a proporção de eleitores que
pretendem votar de uma forma mais estratégica". "Desde 1994, as eleições
presidenciais sempre foram disputadas entre PT e PSDB, então não temos
histórico de voto útil nas últimas seis eleições presidenciais. Temos
observado que o eleitor decide o seu voto, cada vez mais tarde, nos
últimos dias que antecedem as eleições, vamos acompanhar esse processo
decisório e avaliar se há alguma movimentação no sentido do voto útil",
diz.
Esquerda
Pela esquerda do espectro político, Haddad tenta se colocar
no segundo turno, se contrapondo a Ciro Gomes, ex-ministro de Lula que
fez sua vida política no Nordeste, o que já o coloca em vantagem na
região, que é o segundo maior colégio eleitoral do país.
A vantagem de Haddad é conseguir assegurar uma parte do estoque de votos de Lula que lhe parece reservada
— o ex-prefeito de São Paulo, que hoje aparece com algo em torno de 8%
nas pesquisas, teria espaço para crescer a pelo menos 15%, afirmam
analistas. Já a vantagem de Ciro, segundo Paulino, é que ele tem
demonstrado mais indignação, algo que chama a atenção do eleitor no
momento. Os eleitores de esquerda também podem se reunir, nas últimas
semanas do primeiro turno, em torno da candidatura que estiver somando
mais votos, com a expectativa de conseguir colocar um candidato de seu
campo ideológico para enfrentar Bolsonaro em um segundo turno. Por isso,
Ciro busca se consolidar como candidato da esquerda não-radical,
para atrair, além dos votos progressistas desiludidos com o PT, os
votos mais ao centro, desiludidos com o PSDB, mas que jamais votariam em
um candidato mais radical, como o militar reformado.
Apesar das expectativas em relação ao voto estratégico, o
especialista em marketing eleitoral Victor Trujillo alerta para o risco
de "superestimar o discernimento do eleitor em relação a esses campos
políticos de centro, esquerda, direita". Segundo ele, ainda é cedo para
falar em voto útil. "O eleitor vai mudar de opinião até o dia das
eleições, mesmo aqueles que dizem que não vão mudar de opinião", diz o
professor da ESPM. Trujillo também chama atenção para o voto pragmático
do eleitorado. Em especial o das mulheres mais pobres, que dependem mais
dos serviços públicos e votam naqueles candidatos que mais conseguem
convencê-las de que a situação melhorará.
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