Pelo menos 30 mil pessoas - de acordo com as organizadoras -
participaram hoje (29), em Brasília, do ato convocado pelo coletivo
"Mulheres Unidas contra Bolsonaro". Na última atualização da Polícia
Militar (PM), a mobilização tinha 7 mil pessoas. O protesto foi
pacífico. Além da capital federal, a manifestação ocorreu em várias
cidades brasileiras e no exterior. Houve atos também em várias cidades a
favor do candidato.
Manifestação reúne mulheres em Brasília - Antonio Cruz/ Agência Brasil
As manifestantes ocuparam três das cinco faixas da pista norte do
Eixo Monumental, saindo da altura da Rodoviária do Plano Piloto em
direção ao complexo cultural da Funarte, próximo à Torre de TV, zona
central da capital do país.
A assistente administrativa Socorro Paiva vestia uma camiseta colorida,
com frases contra o machismo. Para ela, o ato é uma forma de evitar que o
país mergulhe no que considera um retrocesso histórico.
"Não podemos compactuar com a intolerância. Quero que meus filhos e netos cresçam em um país sem machismo e homofobia", afirmou.
As amigas Luciene de Souza e Mônica Carvalho disseram estar no ato em
defesa da democracia. "Estamos lutando pela nossa democracia, mas também
em defesa do respeito, da paz e do amor", afirmou Luciene.
"Esse ato também nos ajuda a ter coragem de sair e se juntar contra a
intolerância. Se tem 10 mil pessoas aqui, sabemos que pelo menos outras
10 mil não vieram porque ainda estão com medo da violência, do
machismo", disse Mônica.
Além de palavras de ordem contra Jair Bolsonaro, que ressaltavam a
postura do candidato em relação às mulheres, à população negra e ao
movimento LGBT, centenas de manifestantes portavam cartazes, camisetas e
bandeiras com frases sobre a luta anti-homofobia e antirracismo.
A servidora pública Nara Kohlsdorf levou os filhos, um de 11 e outro de 9
anos. "Quero que eles vivenciem a história", afirmou. Para ela, o ato
não se centra apenas em uma postura relacionada às eleições, mas
expressa um movimento por direitos das mulheres. "Quando a gente se une
em torno de uma agenda de igualdade, a gente é mais forte".
Incidente
Durante a marcha, um contêiner com entulho, ao lado do Eixo
Monumental, pegou fogo e assustou os manifestantes. A PMDF e o Corpo de
Bombeiros tiveram que interferir, desviar o trânsito e os manifestantes,
para conter o incêndio. Pelo menos duas viaturas de combate a incêndio
foram usadas. Não houve registro de danos materiais, nem feridos. As
autoridades não souberam informar quem teria provocado o fogo.
Ainda segundo o Corpo de Bombeiros, uma mulher teve um mal súbito e foi
atendida pelos socorristas, mas não chegou a ser transportada para o
hospital. O incidente pode ter sido causado pelo excesso de calor.
Durante a marcha, a temperatura era de de pelo menos 33 graus Celsius.
Muitas pessoas usavam bonés, chapéus e até guarda-chuva para se proteger
do sol forte.
São Paulo
Na capital paulista, a concentração começou às 15h no Largo da Batata,
na zona oeste. A organização do ato estimou o número de participantes em
200 mil. A Polícia Militar não fez estimativa e informou que não foram
registradas ocorrências relevantes.
Manifestação Mulheres contra Bolsonaro no Largo da Batata, região oeste de São Paulo - Rovena Rosa/Agência Brasil
Participaram da manifestação representantes de partidos políticos,
movimentos sociais e ativistas de diversas áreas. Estiveram presentes
também alas das torcidas do Corinthians e Palmeiras.
Por volta das 17h30, a passeata começou a se movimentar pela Avenida
Faria Lima, em direção à Avenida Paulista. Um grupo de mulheres entoava
palavras de ordem contra o candidato do PSL.
Ana Silveira, 26 anos, era uma das responsáveis pela batucada. “Faço
parte do coletivo que pretende ocupar os espaços da cidades e estamos
hoje pedindo liberdade e felicidade. "Ele não”, disse ela.
Joana Brandão, 38 anos, também se manifestava. "Pelos direitos das minorias, por isso protestamos”, afirmou.
Rio de Janeiro
Atividades culturais marcaram o início da concentração, às 15h, na
Cinelândia, no centro do Rio. A mobilização contou a presença de homens e
mulheres. No carro de som, a organização foi liderada por elas. Músicas
e palavras de ordem falavam de machismo no comportamento do candidato
Jair Bolsonaro e lembravam o mote o ato: "Ele não".
Da Cinelândia, as manifestantes se dirigiram para a Praça XV, também
no centro da capital fluminense, onde um palco foi preparado para
apresentações teatrais e shows. A analista de contas Consuelo
Lardosa estava lá com a filha. "As palavras que têm sido ditas são de
muita violência contra as mulheres e agridem a todas as mães que lutam e
batalham por um pouco dignidade para seus filhos, em país tão difícil
como o nosso. Estamos aqui, assim como outras famílias, pais com suas
crianças, afinal é um movimento de paz e não de ódio", afirmou.
Mulheres protestam contra o candidato Jair Bolsonaro no centro do Rio - Tomaz Silva/Agência Brasil
Para a técnica em edificações Bárbara Ribeiro, é uma possibilidade de
discutir as propostas dos candidatos e mostrar como algumas delas
revelam posições machistas, homofóbicas e anti-trabalhistas. "Quando
você organiza um ato desse tamanho, você chama a atenção da sociedade
para a importância de analisar os planos de governo. É algo sério".
A psicóloga Júlia Pierezan destacou a importância de manter a
mobilização, mesmo após o primeiro turno e depois das eleições. "Antes
de tudo, é uma luta a favor da democracia", disse. Embora a mobilização
envolvesse jovens em sua maioria, havia representantes de todas as
faixas etárias.
Uma concentração de apoiadores de Bolsonaro ocorreu na praia de
Copacabana, na zona sul da cidade. Marcada para as 14h, a manifestação
foi na altura do Posto 5. Pouco antes das 19h, o Centro de Operações do
Rio informou, nas redes sociais, que as pistas estavam liberadas.
Datafolha: Bolsonaro tem 28% das intenções de voto; Haddad tem 22%
Edição: Graça Adjuto
Tags: mulheres marcha Bolsonaro - manifestação machismo homofobia
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