- 15-06-2019 12:28
Coimbra, 15 jun 2019 (Lusa)
O projeto Aquamundam, que
visa a proteção do meio ambiente através da melhoria da gestão do ciclo
da água em espaços transfronteiriços de Portugal e Espanha, resultou num
documento conjunto de boas práticas, segundo uma das entidades
promotoras.
O projeto ibérico, liderado
pelo Instituto Tecnológico da Galiza, inclui ainda, do lado espanhol, a
entidade pública empresarial Águas de Galiza, a fundação Cartif e a
Confederação Hidrográfica do Douro, enquanto em Portugal participam a
Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho e o Instituto Pedro Nunes
(IPN).
Inserido no programa de cooperação
Interreg VA Espanha-Portugal (POCTEP), que visa o desenvolvimento da
maior fronteira da União Europeia, o Aquamundam tem a duração de dois
anos e termina no final de 2019.
“Foi
feita uma recolha de boas práticas na zona transfronteiriça e há um
manual português, um manual espanhol e depois um documento conjunto [um
estudo sobre a gestão da água na zona transfronteiriça de Portugal e
Espanha] que já estão disponíveis na página do projeto”, disse à agência
Gouveia Leal, coordenador do Aquamundam no IPN.
De
acordo com o responsável daquele organismo localizado em Coimbra, estão
ainda a ser desenvolvidos, em parceria entre o IPN e o Instituto
Tecnológico da Galiza, quatro projetos-piloto de utilização de um
sistema de gestão, que irão ser testados após as férias de verão - um em
Portugal, pela CIM do Alto Minho, e os três restantes em Espanha, na
Galiza e na zona do rio Douro.
O
Aquamundam, que pretende fomentar o uso racional da água, através do
desenvolvimento de novas metodologias e ferramentas e através da
valorização de soluções e técnicas existentes, terá um relatório final
apresentado no final do ano, que congrega toda a documentação produzida.
“Os trabalhos que competiam ao IPN estão
numa fase final. Só falta entregar um documento com indicadores e
recomendações para melhoria da gestão da rede”, adiantou Gouveia Leal.
Já
José Alfeu Marques, especialista em hidráulica, recursos hídricos e
ambiente do departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra, autor do manual português de boas
práticas, disse à Lusa que este resultou da sua experiência de “42 anos
de ensino, projeto e investigação”, contribuições das dissertações de
mestrado e doutoramento que tem orientado, e contributos de entidades
gestoras de água e saneamento.
Questionado
sobre os contributos que Portugal pode dar a Espanha, Alfeu Marques fez
um paralelo com a atividade dos órgãos de comunicação social: “Da mesma
maneira que os jornalistas têm de ter informação para terem notícia, no
setor da água temos de conhecer a rede para melhor a gerir, é
fundamental”.
“E estas infraestruturas [de
água e saneamento] são terríveis, porque estão enterradas, algumas com
40, 50, 100 anos. Nós temos redes de água com 100 anos e, portanto, a
primeira coisa é ter um cadastro, ter informação”, lembrou o
especialista.
Depois, indicou, há que
validar essa informação, hierarquizar as intervenções de reparação e
fazer uma monitorização em contínuo.
O
especialista argumentou que, com as novas tecnologias, uma simples
rotura em casa que resulte numa inundação poderá ser resolvida com um
sistema de telegestão.
“Essa informação
poderá ser passada imediatamente a uma empresa que faz a segurança da
habitação, que nos avisa com uma vulgar sms. E se a rotura ultrapassar
um certo valor, o sistema permite fechar a torneira de passagem de água
pelo contador. Isto é cada vez hoje mais acessível e quanto mais for
utilizado, como em tudo, mais barato vai ser fazer”, afirmou.
Estes
foram aspetos referenciados aos colegas espanhóis: “Eles têm um
problema de água muito grande por causa de terem uma agricultura como
têm, mas tratam menos bem do que nós a questão do ciclo urbano da água”,
enfatizou Alfeu Marques.
O presidente da
Águas do Centro Litoral, Nelson Geada, considera que o conhecimento
adquirido no setor da água em Portugal “está na vanguarda da Europa”.
Desde
a década de 1980, referiu à Lusa, existem em Portugal grupos de
técnicos com muita experiência adquirida e que Portugal já esteve
representado no comité principal da Associação Mundial da Água.
Por outro lado, notou, o problema da água em Espanha “é um problema económico de enorme dimensão”.
“Espanha
é um país agrícola por excelência, a agricultura é fundamental em
Espanha e aqui não é. Resultado: em Espanha, o enfoque principal da
investigação reside onde lhes dói mais, onde têm um problema mais agudo,
que é na agricultura. Na parte do consumo humano estão adiantados
também, têm trabalho feito desde os anos 80, mas já nessa altura a
sensibilidade de Espanha era virada para o problema que têm na
agricultura”, sublinhou.
Nelson Geada referiu que em Portugal há conhecimento, técnicos e vontade política, mas esta tem de ser maior.
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