Pequim, 29 ago 2019 (Lusa) - Pequim rejeitou hoje a proposta norte-americana de negociar um tratado trilateral para a eliminação de mísseis nucleares de médio e curto alcance, que incluiria ainda a Rússia, considerando que não é "justo ou razoável".

Washington decidiu este mês não renovar o Tratado de Armas Nucleares de Médio Alcance com a Rússia, que existia desde 1987, e convidou a China a integrar "uma nova era de controlo da corrida às armas", com a negociação de um acordo entre as três nações.

"A participação da China em negociações trilaterais não é justo nem razoável. Os EUA são o país com o maior arsenal nuclear, devem aceitar a sua responsabilidade no controlo do armamento e criar condições para que outros países participem do desarmamento, em vez de se retirarem dos tratados", afirmou o porta-voz do ministério chinês da Defesa, Ren Guoqiang.

Ren lembrou que "logo após os EUA se retirarem do tratado, começaram a testar mísseis, o que prova que as ações não correspondem às palavras.

Militares norte-americanos testaram, no domingo passado, um míssil de médio alcance na costa da Califórnia - um lançamento que seria ilegal caso o acordo com a Rússia ainda vigorasse.

"Pedimos aos EUA que abandonem a sua mentalidade da Guerra Fria, moderem o desenvolvimento de armamento e façam mais pela estabilidade no mundo", acrescentou.

O porta-voz realçou que "a China segue uma política militar defensiva" e que o seu desenvolvimento de armas nucleares "é muito restrito", mantendo-se num "nível mínimo", para garantir as necessidades de defesa.

Assinado em 1987 por Ronald Reagan e Mikhail Gorbachov, então presidentes dos Estados Unidos e da antiga União Soviética, respetivamente, o tratado aboliu o recurso a um conjunto de mísseis de alcance, entre os 500 e os 5 mil quilómetros, e pôs fim à crise desencadeada na década de 1980, com a instalação dos SS-20 soviéticos, visando capitais ocidentais.

Após a retirada do tratado, o secretário de Defesa dos Estados Unidos disse que quer instalar mísseis convencionais de médio alcance na região Ásia-Pacífico, "dentro de alguns meses".

O governo chinês disse então que "não vai ficar de braços cruzados" e que vai tomar contra-medidas, sem avançar mais detalhes.

Em abril de 2017, o então chefe do Comando do Pacífico das forças armadas dos EUA, Harry Harris, afirmou ao Senado norte-americano que a China, que não faz parte de nenhum tratado de desarmamento, possui a "maior e mais diversificada força de mísseis do mundo, com um inventário de mais de 2.000 mísseis balísticos e de cruzeiro".
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