Bolsonaro: "já sabiam que eu era assim"
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO
O presidente Jair Bolsonaro disse em entrevista ao jornal O Estado de
S. Paulo, que, em seu entendimento, governadores do Nordeste agem para
"dividir o País", enquanto ele trabalharia para unir.
Bolsonaro deu uma carona para a reportagem enquanto se deslocava em
Sobradinho, na Bahia, na sua segunda viagem ao Estado em menos de um mês
após controvérsia com políticos da região.
Em um áudio captado pela TV Brasil, Bolsonaro diz que o governo federal
não devia dar "nada" para o governador do Maranhão, Flávio Dino
(PCdoB). Ele nega que na ocasião tenha usado o termo "paraíba" de forma
pejorativa.
Sobre as polêmicas causadas por declarações recentes, o presidente
disse que tenta ser um pouco mais polido, mas que o seu estilo é o mesmo
da época da campanha.
Aos que o criticam, afirmou: "Paciência. Já sabiam que eu era assim. A
gente procura se polir um pouco mais, mas acontece". Leia os principais
trechos da entrevista:
O sr. fez hoje (ontem) um discurso inflamado dizendo que o Brasil não pode se dividir. Pode explicar melhor?
O PT lançou a divisão entre nós. E nós temos de nos unir. Agora mesmo
estão tendo indícios de que, se não todos, a maioria dos nove
governadores do Nordeste quer começar a implementar a divisão do
Nordeste contra o resto do Brasil.
A sua vinda ao Nordeste é para sinalizar algo à população?
Não é para isso. Minha maneira de ser sempre foi essa. Unir este país, não desunir.
Boa parte do seu eleitorado diz que gosta do chamado "Bolsonaro
raiz". O sr. está voltando a ser "Bolsonaro raiz" depois das eleições
de outubro?
Não há diferença do que eu pensava na campanha e do que eu penso agora.
Eu quero implementar o que eu falei em campanha. Pela primeira vez na
história do Brasil um presidente está buscando honrar aquilo que
prometeu durante a campanha. Agora, palavrão sai de vez em quando, isso é
natural, pô. Agora, alguns falam que isso não é linguajar para um
presidente. Paciência. Já sabiam que eu era assim. A gente procura se
polir um pouco mais, mas acontece. Mas isso não vai me aborrecer, essas
conotações que dão, quando a gente fala um pouco mais com o coração do
que com razão.
O sr. participou da inauguração de uma usina de energia em
Sobradinho (BA). Foi a segunda viagem ao Nordeste desde o início do seu
mandato.
Essa obra efetivamente começou a andar no governo do (ex-presidente)
Michel Temer. Então, não é obra minha, para não achar que estou querendo
pegar obra de ninguém. Agora, também, a obra é feita com dinheiro
público. Não tem pai da criança. Todo o povo brasileiro é que é pai da
criança. Estou rodando o Brasil todo, para mostrar, ter espaço, junto à
imprensa e dizer que nossa união pode realmente fazer um Brasil melhor.
Como o sr. avalia as críticas em relação ao seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, ser embaixador nos Estados Unidos?
Num primeiro momento, por ser filho meu, foi bombardeado. O (Donald)
Trump mesmo, semana passada, falou que acompanha meu trabalho, me chamou
de "Trump dos Trópicos". E citou meu filho Eduardo Bolsonaro como uma
pessoa que ele conhece. E quer melhor referência do que essa?
Impossível? Agora, obviamente (a indicação) passa pelo Senado, por
comissão no Senado.
Com relação à Amazônia, o sr. acha que existe interesse
estrangeiro por trás dos dados que mostram aumento de 40% no
desmatamento da região?
Tinham interesse por essa área antes mesmo de o Brasil ser descoberto. E
aí, é uma loucura minha? 1492. Descobriram a América. O que aconteceu
em 1494, dois anos depois? Tratado de Tordesilhas. 1500, descobriram o
Brasil. Por coincidência ou não essa área não seria nossa.
O espírito aventureiro do brasileiro do português, é que fez com que
esse tratado não fosse respeitado e fosse revogado. Então, a conquista
vem daí. Agora, (a Amazônia) é a área mais rica do mundo.
Está sentado à sua esquerda aqui a pessoa que já comandou o Comando
Militar da Amazônia e conhece muito bem, melhor do que eu (aponta para o
ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno
Ribeiro).
É a área mais rica do mundo, sem comentários. São incalculáveis as riquezas minerais que têm por ali, a biodiversidade.
Na avaliação do sr., a divulgação desses dados é feita por algum tipo de interesse?
A esquerda usa as minorias para atingir seu objetivo. Ela pega as
minorias e usa. Procura um afrodescendente com a cabeça no lugar. Por
que ele foi beneficiado com as políticas de cotas do passado? Benefício
nenhum, zero.
A questão das comunidades indígenas, a mesma coisa. Usam o índio, usam o
negro, usam a comunidade LGBT para atingir seus objetivos. Usam o povo
do Nordeste muitas vezes.
O sr. faz críticas à imprensa, mas ao mesmo tempo tem atendido jornalistas com frequência. Como está essa relação?
Uma coisa é você que está na ponta da linha, o cara que opera uma câmera. A outra é lá em cima, o editor e o dono do jornal.
Eu gostaria que o que eu vou falar aqui não fosse verdade, e essas
palavras aqui não são minhas, mas eu assino embaixo: "Quem não lê
jornal, não está informado. Quem lê, está desinformado".
Eu queria que essa máxima deixasse de existir. (Nesse momento, o
presidente abre sites de notícias no celular e passa a comentar
notícias.)
E a relação do sr. com os demais Poderes da República?
Toffoli (ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal), por
exemplo, como ele está sob ataques, o pessoal (da imprensa) quer dizer
que eu seria um Toffoli do Executivo.
O que eu penso do Toffoli: ele é o chefe do Poder Judiciário. E tem de
ter respeito e consideração por parte do chefe do Executivo. E vou
tratá-lo com todo respeito e consideração, não interessa o que seja
discutido lá dentro do Supremo.
O que por ventura eu não goste, sou obrigado democraticamente a aceitar. E ponto final.
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