Cem mil mortos não mudarão a postura de Bolsonaro com a pandemia, diz pesquisador

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A transparência com os dados sobre a pandemia do novo coronavírus tem sido ponto de críticas em relação ao governo de Jair Bolsonaro. Sobre isso, a Sputnik Brasil ouviu o cientista político Guilherme Carvalhido, que avalia que a falta de transparência reflete descompromisso do governo com a questão.
Um ranking divulgado pela ONG Transparência Internacional aponta que o governo federal é menos transparente em relação aos dados da pandemia da COVID-19 do que todos os entes da Federação. Para o cientista político Guilherme Carvalhido, professor da Universidade Veiga de Almeida, o governo federal tem sido "bastante errático" na condução da pandemia e a falta de transparência é uma prova dessa posição.
"Essa falta de transparência demonstra, no meu entender, uma lógica interna de como o governo está tratando essa pandemia. Ou seja, com um certo descaso e uma organização muito pequena, sobretudo com poucos recursos e pouco pessoal, ou seja, com pouco planejamento para executar o que deve ser feito para o combate adequado", afirma o pesquisador em entrevista à Sputnik Brasil.
Carvalhido destaca que essa postura do governo de Jair Bolsonaro aponta também para uma desorganização do combate ao novo coronavírus em escala nacional.
"E o principal, desarticulando os entes federativos, porque os entes federativos não conseguem ver no governo federal um planejamento, uma ação coordenada para esse combate, o que conduz a cada ente tomar atitudes isoladas", aponta.

'Aposta' política de Bolsonaro não deu certo e custou vidas, diz pesquisador

Apesar da alta taxa diária de mortes no Brasil devido à COVID-19, uma mudança na atual posição do governo não está no horizonte da administração Bolsonaro, segundo o cientista político. Conforme apontam os dados mais recentes publicados pelo Ministério da Saúde, o Brasil acumula 2.750.318 casos confirmados e 94.665 mortes causadas pela doença.
"Vejo o governo, já com mais de 90 mil mortes, ainda profundamente – vou usar uma palavra forte – desinteressado nessa coordenação", afirma o professor Guilherme Carvalhido, acrescentando ainda que mesmo que o número ultrapasse 130 mil mortos em breve, o governo não deve mudar seu posicionamento.
Em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (à esquerda), e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (à direita), conversam na Casa Branca em 19 de março de 2019.
© AP Photo / Manuel Balce Ceneta

Em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (à esquerda), e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (à direita), conversam na Casa Branca em 19 de março de 2019.
O cientista político aponta também que acredita que Bolsonaro busca apoio da parcela da população que é cética em relação à COVID-19. Em abril, próprio presidente chegou a dizer em pronunciamento à nação que a doença do novo coronavírus não passava de uma "gripezinha".
"Na verdade, como nós já estamos dizendo há algum tempo, o governo está muito preso a uma parcela da população brasileira que acha que essa pandemia não é muito significativa. Tão logo, ele [Bolsonaro] vendo isso ainda com essa força no governo brasileiro, dificilmente vejo o governo mudando de posicionamento", diz.
Carvalhido explica que a pandemia assumiu contornos políticos em alguns países, principalmente no Brasil e nos Estados Unidos. Para ele, os governos dos dois países tentaram se diferenciar politicamente de adversários e realizaram uma aposta política durante a pandemia. Porém, para o professor, essa aposta não deu certo.
"Isso mostra uma desarticulação e, eu diria, uma visão muito estreita do processo político em relação ao combate de determinadas ações que são necessárias. E nesse caso, para centralizar um país continental como o Brasil, era necessária, de fato, uma articulação. Todo governo precisa de uma articulação, principalmente um país como o Brasil que é dividido por entes federativos", avalia o cientista, que atribui o alto número de mortos na pandemia a essa posição do governo Bolsonaro.

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