A Batalha de Uruçumirim e o nascimento do Brasil





André Luiz dos Reis

Muitos historiadores, com certa perspectiva nordestina em sua abordagem do Brasil, fazem das Batalhas de Guararapes, 1648/1649, um evento fundador da brasilidade. É como se fosse a certidão de nascimento do povo brasileiro.
Eu tendo a partilhar dessa visão, mas com maior flexibilidade. Guararapes foi um dos acontecimentos mais importantes que testemunham o nascimento de um novo povo. Mas em 1567, 81 anos antes, a Batalha de Uruçumirim, com o desbaratamento da aliança franco-tamoia, coroava um conflito pelo controle da costa do Centro-Sul.

A aliança luso-tupi que lutou pelo domínio estratégico da Baía de Guanabara se iniciou quando o Governador Mem de Sá deu a seu sobrinho a missão de defenestrar a França Antártica. 

Estácio de Sá partiu da Bahia com mais de duzentos homens. No caminho, abordou e tomou posse de um navio francês e parou no Espírito Santo, e entrou em contato com o padre jesuíta Manuel da Nóbrega.

No Espírito Santo, jesuítas e soldados portugueses teceram um acordo fundamental com o líder temiminó Arariboia, que havia sido expulso de suas terras, na Ilha do Governador, pela coalizão franco-tamoia.

O Exército rumou para a província de São Vicente, cujos habitantes desejavam uma força que os auxiliasse na pacificação dos tamoios locais. Um grande contingente de ”brasilíndios” [caboclos ou mamelucos, portugueses indianizados, indígenas etc.] se juntou às tropas de Estácio de Sá, assim como também guerreiros vindos do Norte. 
Gradualmente, os luso-tupis partiram para a Bahia de Guanabara, contando já entre eles o padre José de Anchieta.

Em 1° de março de 1565 fundaram a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, fortaleza que serviria de base para a guerra e para a consolidação portuguesa na região. Estácio de Sá distribuiu sesmarias e iniciou escaramuças. Recebeu reforços de Lisboa em 1566. Quando da batalha decisiva, em 20 de janeiro de 1567, dezenas de milhares de homens se digladiaram na atual Glória e na praia do Flamengo.

O heroísmo de Arariboia, o sacrifício de Estácio de Sá e a aparição de São Sebastião combatendo ao lado dos luso-tupis marcaram a vitória dos nossos e são uma importante marca na formação histórica do nosso povo. Assim como em Guararapes, os calvinistas foram derrotados entre nós por uma aliança entre indígenas, brasilíndios de diversas regiões do país, nobres e guerreiros portugueses, jesuítas e a intervenção de um mártir e santo militar da Igreja.

O Rio de Janeiro se tornou Capitania Real, sob comando direto da Monarquia. A cidade se desenvolveu em importante praça comercial para todo centro-sul da América Portuguesa, acumulando funções econômicas [produção de açúcar, construção naval, tráfico de escravos], administrativas e militares.
O Brasil começava a nascer também nessas paragens.
Neste momento tão triste depressivo e entreguista porque passa nossa ex cidade maravilhosa e o Brasil, em que os calvinistas estão de volta, resta-nos ainda a certeza de que o sacrifício destes heróis não foi em vão e que muito em breve, tal como naquela tarde/noite de 20 de janeiro de 1567 o grito  estridente de Nóbrega, volte a ecoar nesta Terra de Santa Cruz expulsando de vez estes separatistas/entreguistas.   

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