Portugal/China: Relações diplomaticas marcaram primeiras páginas dos jornais há 40 anos.








Portugal e China anunciaram o estabelecimento de relações diplomáticas há exatamente 40 anos, uma notícia que fez as primeiras páginas da imprensa nacional, que dava ainda conta de que Macau continuaria sob administração portuguesa.

AG.Lusa de notícias

"O Governo da República Popular da China e o Governo da República Portuguesa decidiram estabelecer relações diplomáticas a nível de embaixador, a partir de 8 de fevereiro de 1979 e trocar embaixadores num prazo de três meses", anunciava o comunicado conjunto dos dois países, lido pelo primeiro-ministro da altura, Mota Pinto, e reproduzido em toda a imprensa nacional.

Nesse comunicado, Portugal reconhecia o Governo de Pequim como único legítimo e Taiwan -- com quem cortara relações diplomáticas desde janeiro de 1975 -- como parte integrante da China.

Mota Pinto considerou que o estabelecimento das relações era a tradução "do apreço e da interação multissecular dos dois povos" e justificou o passo diplomático como traduzindo a importância dos dois países no xadrez internacional.

O primeiro-ministro acrescentou ainda que aquele processo marcava também o desejo português de manter relações com todos os países, independentemente dos seus regimes político e económico, conforme foi noticiado pelos jornais.

A assinatura do documento oficial entre Portugal e China, e que culminou quatro anos de negociações, teve lugar na embaixada portuguesa em Paris, às 9:00 locais (8:00 em Lisboa) e foi divulgado quatro horas depois.

Em Portugal, toda a imprensa diária fez chamada de primeira página com o assunto, embora apenas três jornais o tenham noticiado no próprio dia: o Diário Popular, o Diário de Lisboa e o vespertino A Capital.

"Anunciado hoje em Lisboa e Pequim. Portugal e China estabeleceram relações", titulou o Diário Popular, que desenvolveu o tema no interior, destacando: "Abertas as relações Portugal -- China. Estatuto de Macau não será alterado".

Assinalando que o anúncio fora feito ao final da manhã em Lisboa e Pequim, o jornal noticiava que "na residência do primeiro-ministro, Mota Pinto leu aos representantes dos órgãos da informação o comunicado conjunto no qual se anunciava a troca de embaixadores num prazo de três meses".

No mesmo dia, o Diário de Lisboa escrevia em manchete "Anunciadas relações com Pequim", e desenvolvia: "Mota Pinto anunciou esta manhã aos jornalistas o estabelecimento de relações diplomáticas com a República Popular da China ao nível de embaixadores. A comunicação foi feita durante uma reunião à qual assistiu também o titular dos negócios estrangeiros".

O Diário de Lisboa dava ainda conta de que "ao mesmo tempo que esta comunicação era feita em Lisboa, a agência Nova China anunciava também o estabelecimento das relações num despacho enviado de Pequim".

A Capital fez meia primeira página com o título "Mota Pinto anuncia: Portugal e China estabelecem relações", e no interior desenvolvia: "o anúncio da resolução foi feito às 12 horas de hoje, pelo Primeiro-Ministro Mota Pinto, no seu gabinete, na presença do titular da pasta dos Negócios Estrangeiros", concluindo com a reprodução do comunicado.

No dia seguinte, o Jornal de Notícias chamava a primeira página: "Relações diplomáticas entre Portugal e a China. Macau: Estatuto não é alterado".
"Portugal e a República Popular da China estabeleceram ontem relações diplomáticas. A assinatura do documento, que culminou quatro anos de negociações, verificou-se na embaixada portuguesa em Paris. Algumas horas mais tarde, o prof. dr. Mota Pinto leu aos jornais o texto do acordo, que prevê a troca de embaixadores dentro do prazo de três meses", acrescentava.

O Comércio do Porto titulava "Portugal estabelece relações com a China. Mantém-se o estatuto de Macau" e continuava: "Portugal e a República Popular da China estabeleceram, a partir de ontem, relações diplomáticas, a nível de embaixadas. Foi o primeiro-ministro Mota Pinto quem, cerca do meio-dia, deu a conhecer ao País que, em Paris, tinha sido assinado, horas antes, um comunicado conjunto sino-português dando conta do histórico acontecimento".
"Portugal e China estabelecem relações diplomáticas normais", escreveu em manchete O Primeiro de Janeiro, que destacou também na primeira página que "assinaram pela parte portuguesa o embaixador Coimbra Martins e pela chinesa o embaixador Han Kehua".

O jornal O Dia fez título com a frase "Portugal e a China estabelecem relações", adiantando que "Portugal e a China Popular vão trocar embaixadores".

Já O Diário apresentava uma pequena notícia apenas de primeira página, cujo título era "Relações Portugal -- China".
Praticamente toda a imprensa deu conta também da aprovação de um voto de congratulação na Assembleia da República, de que as repercussões comerciais não seriam significativas no imediato e de que Moscovo não comentou a notícia.

A imprensa nacional noticiou ainda que o "Diário do Povo", órgão do Partido Comunista Chinês, deixou transparecer que a normalização das relações entre os dois países refletia o distanciamento de Lisboa de Moscovo.

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